Pronunciamento de Eduardo Siqueira Campos em 03/09/2001
Discurso durante a 106ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Considerações sobre o anúncio pelo IBGE de uma produção agrícola brasileira de cem milhões de toneladas.
- Autor
- Eduardo Siqueira Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
- Nome completo: José Eduardo Siqueira Campos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA AGRICOLA.:
- Considerações sobre o anúncio pelo IBGE de uma produção agrícola brasileira de cem milhões de toneladas.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/09/2001 - Página 19671
- Assunto
- Outros > POLITICA AGRICOLA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, IMPORTANCIA, ANUNCIO, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), SUPERIORIDADE, PRODUÇÃO AGRICOLA, PAIS.
- QUESTIONAMENTO, INSUFICIENCIA, PRODUÇÃO AGRICOLA, AUSENCIA, APROVEITAMENTO, EXTENSÃO, TERRITORIO NACIONAL.
- DEFESA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, CONHECIMENTO, DESENVOLVIMENTO, TECNOLOGIA, PESQUISA, VIABILIDADE, INCENTIVO, PRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, NATUREZA, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS (PFL - TO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejo registrar, Sr. Presidente, nobres Senadores, as estimativas anunciadas pelo IBGE referentes ao mês de julho passado, de que a produção agrícola brasileira, pela primeira vez na história, deverá aproximar-se de cem milhões de toneladas - mais precisamente 98 milhões e 298 mil, segundo o Instituto.
Se o fato em si - e tomara que o número não seja frustrado por condições climáticas ou falta de políticas referentes ao crédito - é auspicioso, porque representaria um salto da ordem de 18% sobre os resultados obtidos no ano passado, na verdade é de lamentar que um País que dispõe de um território de 85 milhões de m² tenha uma produção agrícola ainda insignificante.
Um raciocínio aritmético dos mais simples nos mostraria que, se ocupássemos 20% desse território, disporíamos de uma área da ordem de 170 milhões de hectares, com uma produção média de 3 t/ha., e poderíamos produzir mais de 500 milhões de toneladas.
É o que ocorre, por exemplo, com os Estados Unidos.
No caso brasileiro, o Brasil concentrado - o que tenho chamado de Brasil do Tratado de Tordesilhas -, com um terço deste território será responsável por algo em torno de 67% da produção anunciada.
O Centro-Oeste deverá produzir cerca de 30% e a imensa região Norte, com metade do território nacional, produzirá menos de 2%.
Há consequentemente um desequilíbrio total na organização produtiva do País, com desperdício de seu território.
Não vale argumentar, Sr. Presidente, como se costuma fazer, que a Amazônia é intocável. Essa afirmação contém dois graves equívocos.
O primeiro: imagina-se, de forma quase infantil, que a Amazônia constitui um ecossistema único, homogêneo, quando, na verdade, é constituído de sistemas múltiplos, dos quais a mata tropical constitui apenas parcela, embora a mais significativa.
O segundo equívoco decorre da concepção errada de se confundir preservação com intocabilidade. Na verdade, não há contradição entre preservação e uso sustentável, isto é, formas de utilização que permitam, simultaneamente, produzir e manter a natureza, para o que, conforme tenho tantas vezes afirmado desta tribuna, é necessário investir em conhecimento, em desenvolvimento de tecnologias e em pesquisas que nos permitam utilizar essa estratégia em favor da produção e da preservação da natureza ou da sustentabilidade ambiental.
Isto posto, Sr. Presidente, quero dizer que, se ocupados apenas 30% das áreas Amazônicas, poderíamos dispor de mais de 100 milhões de hectares aptos para produção agrícola sustentável, o que por si permitiria, com níveis modestos de produção, mais que dobrar o volume anunciado para a safra de 2001.
Isto é possível. Mitos equivocados como os que se aplicam à região Norte ou a Amazônia aplicavam-se há 30 ou 40 anos aos cerrados e ao Centro-Oeste. Hoje esta região deverá produzir algo em torno de 30 milhões de toneladas.
É preciso que o Brasil comece a desmontar os mitos da Amazônia, que são históricos - o Eldorado, o inferno verde, o pulmão do mundo, e tantos outros -, que enquanto puderam, permitem o modelo concentrado brasileiro, o vazio de uma região planetária e o crescimento da ambição do mundo sobre esta área, na qual o Brasil não soube exercer sua soberania.
Eram essas as considerações que desejava fazer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, registrando minha satisfação pelos números anunciados, mas, juntamente, minha inconformidade por aquilo que poderíamos ser e produzir.
Muito obrigado.
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