Discurso durante a 107ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao fechamento da fábrica da Chrysler no Estado do Paraná. Críticas ao ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, a quem S.Exa. credita a perda de identidade do Partido dos Trabalhadores na capital do País.

Autor
Lauro Campos (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Comentários ao fechamento da fábrica da Chrysler no Estado do Paraná. Críticas ao ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, a quem S.Exa. credita a perda de identidade do Partido dos Trabalhadores na capital do País.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2001 - Página 20841
Assunto
Outros > ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, FECHAMENTO, EMPRESA ESTRANGEIRA, INDUSTRIA AUTOMOTIVA, ESTADO DO PARANA (PR), CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, LIBERALISMO, PERDA, INVESTIMENTO, GOVERNO ESTADUAL.
  • ANALISE, CRITICA, ATUAÇÃO, CRISTOVAM BUARQUE, EX GOVERNADOR, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), REFORMULAÇÃO, IDENTIDADE, POLITICA, ETICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REGISTRO, POSSIBILIDADE, IRREGULARIDADE, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, CONSTRUÇÃO, METRO, REPUDIO, TENTATIVA, PRIVATIZAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, logo hoje que o tempo é tão pródigo para mim - eu poderia falar por uma hora -, não poderei fazê-lo. Realmente, a esta hora, mais de 18 horas, estou bastante cansado.

            Mas, hoje pela manhã, na CAE - Comissão de Assuntos Econômicos -, deixei de entrar numa discussão que surgiu a respeito da montadora Chrysler, que fecha as suas portas e encerra as suas atividades no Paraná.

            Alguns Senadores trataram desse assunto com aquele açodamento a que somos obrigados, devido à escassez do tempo. Então, deixei de fazer algumas considerações.

            Sou vidrado no estudo e no acompanhamento da indústria automobilística. O carro, de acordo com o título de um livro bastante recente, é a máquina que abalou o século XX. Realmente, nada transformou mais a vida do indivíduo que a máquina individual de transportar, para lá e para cá, pessoas. Os meios de transporte, quando nasceram, eram um prolongamento da produção, transportando mercadorias produzidas. A partir de certo momento, o capitalismo fantástico começa a transportar coisas não produzidas, e não podendo desenvolver a produção nem transformar realmente e profundamente a vida e a sociedade, começa então a transportar coisas não produzidas; entre elas, o homem. Não fomos produzidos na linha de montagem e autotransportamo-nos no automóvel, que é um meio obviamente individualista como é individualista o capitalismo que produziu o automóvel.

            Assim também “o capitalismo” - expressão usada por Karl Marx - “sobreviverá a si mesmo, deixará de desenvolver as forças produtivas, de cumprir a sua missão histórica e passará a desenvolver as forças destrutivas”. É isso que está aí. Depois dizem que o homem errou tudo. Se eu tivesse escrito apenas isso, teria morrido tranqüilo ainda que morresse jovem.

            De modo que então, o automóvel foi-me essencial para entender o capitalismo. Em 1972, sem bola de cristal, mas com lápis e papel, vi o que ocorreria: no início dos anos 20, os Estados Unidos produziram 2,2 milhões de carros; em 1929, os Estados Unidos produziram 5,3 milhões de carros. Se tivesse continuado nessa progressão, os Estados Unidos estariam produzindo hoje mais de 300 milhões de carros por ano. (Risos.) É óbvio que o desastre automobilístico ocorreria novamente. Não é preciso bola de cristal para saber disso, apenas lápis e papel.

            Em 1929, os Estados Unidos produziram 5,3 milhões de carros. Em 1943 - 40 anos depois -, o país do carro produziu apenas 700 mil automóveis. O PIB cresceu, e os americanos andaram a pé, tiveram de abandonar seus carros, não puderam reformar as suas garagens como costumavam fazer. Apenas 700 mil carros foram produzidos em 1943, contra 5,3 milhões, 14 anos antes.

            O sistema capitalista segurou - isso é difícil de entender - a eficiência, a disparada da produção de carros de 2,2 milhões, no início dos anos 20, para 5,3 milhões, em 1929. Essa segurada fez, em 1980, com que os Estados Unidos produzissem pouquíssimo mais do que o fizeram em 1929.

            Com esse freio, com esse empecilho, o sistema capitalista contém a sua produção. Embora pareça ser o mais eficiente, o mais potente, o sistema social, econômico e político mais fantasticamente revolucionador, o capitalismo congelou, nos Estados Unidos, a produção de carros durante décadas. Em 1957, a produção de carros nos Estados Unidos tinha crescido de 700 mil, em 1943, para 7 milhões.

            Então, eles transplantaram as indústrias automobilísticas para o Brasil, para o México, para a Argentina, para o Canadá e para a África do Sul. Não fizemos nada. Não foi a simpatia de Juscelino que trouxe para o Brasil as indústrias automobilísticas. Não foi o fetichismo, o feitiço da taxa de câmbio que as atraiu. A indústria automobilística e a indústria da linha branca, ou seja, de bens duráveis, transplantaram-se, na mesma ocasião, para esses vários países do mundo e continuaram a crescer nas economias hospedeiras. A sociedade brasileira foi estuprada pelo transplante dessas indústrias de automóveis e de bens duráveis.

            Em 1952, meu pai comprou um carro Ford 0km em Belo Horizonte. Sabem quantos carros dessa marca, iguais ao de meu pai, havia em Belo Horizonte naquele ano? Três apenas, e até hoje sei quais eram seus proprietários. Havia ainda um Chevrolet, pertencente a um médico, e um Hudson, de outro conterrâneo.

            De modo que então, trata-se de algo espantoso! Transplantam-se para o Brasil as indústrias e monta-se neste País a Volkswagen com a mesma planta da indústria de carros alemã. A Ford também já se estava preparando, além de outras quatro indústrias automobilísticas. Elas foram inauguradas em 1959 e, em 1962, começaram a ir embora, como os casos da Hillman e da DKW.

            Naquela ocasião, já se percebia que aquele corpo estranho que penetrou na economia brasileira teve de criar o seu mercado. O Golpe de 64 ajudou muito: só com muita força para retirar o dinheiro dos assalariados de base, e criar uma classe média com renda bastante elevada para comprar carro, televisão, geladeira e artigos de luxo.

            O luxo veio transplantado para cá; as indústrias multinacionais vieram para cá transplantadas. Não foi o Governo brasileiro que conseguiu esse milagre do transplante, foi uma necessidade interna, para evitar uma outra crise de 1929. Em 1957, essas indústrias vieram transplantadas para a periferia.

            Aqui, há muito tempo, “governar é abrir estradas”. O Governo brasileiro passou então a preparar a casa: tinha que haver eletricidade doméstica, estradas, um sistema de financiamento, de obtenção de crédito - coisa que não existia no Brasil, e a Caixa Econômica Federal passou a financiar carro, para ver se ampliava um pouco aquele mercado estrangulado. Assim, é natural que se previsse aquilo que aconteceu.

            Em 1998, o Senador Esperidião Amin fez a gentileza de tirar uma xerox de um artigo que saiu no The Economist, cujo título era Car Crash Ahead - Desastre Automobilístico à Frente. Naquela ocasião, esse assunto, que está sempre sob a minha vigilância, voltou à tona. Car Crash Ahead, era óbvia a luta, a guerra fiscal que pretendia instalar indústrias automobilísticas em todos os Estados. Minas Gerais tinha a Fiat, a quem foi concedido terreno, a terraplanagem, isenção tributária durante 20 anos, tudo isso e o céu também, a Fiat se instalara nas cercanias de Belo Horizonte.

            Agora, vemos essa segunda onda de transplante mostrando que alguma coisa estava empurrando as mesmas indústrias automobilísticas que tiveram as suas sucursais, suas filiais transplantadas nos anos 50 para o Brasil. Por quê? Porque a produção mundial de carros havia atingido 70 milhões de unidades e só conseguia vender 50 milhões. Capacidade produtiva instalada: 70 milhões; venda: 50 milhões.

            O setor se encontrava em crise, e só o Brasil não notou. Só o Governo brasileiro não percebeu. Então, teve início a onda de estímulos e incentivos, doações de terreno, guerra fiscal, para ver onde as novas indústrias automobilísticas seriam instaladas. Naquela época, desta tribuna eu disse: “Parece que cada governo agora quer ter, no fundo do quintal, uma montadora”. E teve início a briga.

            Na Bahia, por exemplo, estava sendo instalada, pelo menos na promessa e no papel, a Kia, aquela que produz a Besta. Havia um contrato com o Governo da Bahia nos seguintes termos: o que a Kia investisse naquele Estado na construção de sua montadora teria direito de importar os carros da Coréia do Sul. Ocorre que a Kia importou, importou, importou, com todas as vantagens, e não colocou um tijolo sequer na Bahia, e faliu - agora, parece que está se recuperando. Isso era mais do que previsível. Não precisa de bola de cristal. Basta um lápis e um pedacinho de papel e fazer uma continha que qualquer criança sabe fazer.

            Hoje estamos vendo, de novo, mais incentivos, mais estímulos, para levar a Ford para a Bahia, que, saindo de São Paulo, desemprega lá, e talvez empregue até alguns trabalhadores na Bahia. Acontece que agora vivemos a globalização, e uma montadora Ford e uma montadora da General Motors faliram, fecharam as portas há um mês e quinze dias, nos Estados Unidos. Se já estivéssemos totalmente globalizados, dentro da Alca, em vez de fechar nos Estados Unidos, os Estados Unidos fechariam aqui as unidades de produção desses carros. É o perigo da Alca, o perigo desse mercado da Patagônia até o Alasca.

            Deveria ter feito essas considerações hoje pela manhã, na Comissão de Assuntos Econômicos, mas fiquei calado, para não interferir na discussão. Os nobres Senadores que falaram sobre o assunto, todos eles esqueceram de se referir a mim, referiram-se a outros debatedores do assunto. Talvez, por ser mais monótono e mais longo, meu discurso realmente voe facilmente das memórias privilegiadas dos nobres Colegas. Então, fiz aqui essas considerações.

            Mas há um assunto que não posso deixar de tratar e que já está ficando cediço, mofado e que, do meu ponto de vista, é muito importante.

            Para mim, não foi surpresa alguma. Eu tinha certeza de que coisas como essa e piores do que essa iriam ocorrer com algumas cabeças que entraram no Partido dos Trabalhadores quando eu lá me encontrava, para aumentar o meu sofrimento.

            Como eu conhecia essas cabeças desrealizadas há muitos anos, uma delas falou em público, pelo menos 15 vezes: “Tudo que eu sei aprendi com Lauro Campos”. Tudo que sei aprendi com Lauro Campos. E eu: “Por favor, companheiro, não repita essa inverdade. Você não aprendeu nada comigo. Nunca lhe ensinei absolutamente nada. A minha cabeça é totalmente diferente da sua. De modo que, por favor, não repita isso mais.” E, depois da 15ª vez, parece-me que ele parou de repetir isso.

            Nada me surpreende. Estive com ele em debates mais de 40 vezes. Então, conheço a peça. Conheço a peça. E realmente, quando ele entrou para o Partido dos Trabalhadores, dizia que seu objetivo era mudar, era transformar o Partido dos Trabalhadores. E não foi ele que conseguiu isso. Infelizmente, o PT mudou, mudou muito nos últimos anos. Foi, no meu ponto de vista, destruído, desarticulado, desnuclearizado, como diziam. Os núcleos do PT, que constituíam a sua grande novidade, foram desfeitos a partir da direção partidária. É um crime que a minha expressão numérica tão reduzida teve que agüentar.

            Essa pessoa a que me refiro foi Governador de Brasília e, durante os 4 anos em que esteve no Palácio do Buriti, encontrei-me com ele apenas 3 vezes. Eu, Senador pelo Distrito Federal, tive acesso ao Governador apenas 3 vezes. E logo ele, que dizia que tudo o que sabia aprendeu comigo; ficou 4 anos sem aprender, porque passou 4 anos sem conversar comigo.

            Eu dizia: “Isso são medidas neoliberais. Quer privatizar o metrô, esse desastre?” O primeiro desastre metroviário aconteceu no dia em que puseram a pedra inaugural para começar a obra. A revista Veja desta última semana mostra o que andou ocorrendo nesse metrô. O objetivo era o Governo construir o metrô e privatizá-lo. Declaradamente, o metrô destina-se à privatização. Eu até o apelidei de “trenzinho do Canhedo”, porque metrô não é; o custo é de metrô, mas metrô não é.

            O metrô é um sistema horizontal e vertical de transporte. Por exemplo, o metrô de Londres, cuja construção começou em 1865, tem 1.350km de malha metroviária. Depois de 8 anos, aqui em Brasília, o tal do metrô, o “trenzinho do Canhedo”, tem quase 40km, o de Londres, 1.350km.

            O metrô de Londres, tal como o de Paris, por exemplo, têm em alguns pontos 100m de profundidade, o nosso, na grande parte de seu trajeto, tem zero metro de profundidade. No metrô de Londres, agora, estão construindo o segundo túnel abaixo do rio Tâmisa; um debaixo do outro.

            Sem haver a possibilidade de se passar de uma linha para outra, cada uma delas passando a um nível de profundidade, a fim de permitir que um passageiro desça numa estação, suba ou desça pela escada rolante - até mesmo por um elevador, como em Montmartre -, a fim de tomar um outro trem de uma outra linha que cruza ali naquela altura do subsolo, isso não é metrô.

            Isso que aí está tem apelido de metrô. É como mudar o nome da Sudam, mas não conseguir mudar sua roubalheira; a Sudene muda o nome, mas não altera sua essência deletéria. Assim também pode se dar o nome que quiser.

            O que importa é importar; depois o que importa é exportar. As coisas e seu oposto são ambos verdadeiros e dignos de se gastar. Nessas mentiras, R$480 milhões, como o Governo gastou em propaganda no ano passado. Portanto, o que importa é a propaganda. Não é o que exporta nem o que importa. O que importa é a propaganda.

            Lutei, pedi dez vezes para que se fizesse uma investigação a respeito do metrô e sua execução suspeita. O último número da Veja mostra: três vigas custaram 20 e tantos milhões; depois, a fiscalização de uma parte do metrô custou não sei quantos milhões. O desastre metroviário começou junto com o metrô, que deveria ter ficado pronto há quase oito anos e que agora se encontra parcialmente em funcionamento.

            Mas se um Governo apura que as empreiteiras A, B e C roubaram do metrô, por exemplo, é óbvio que essas empreiteiras não vão financiar a campanha daquele que investigou e apurou os desvios de dinheiro. De modo que os políticos não podem apurar nada, não devem apurar nada se eles quiserem ter uma vida longa e tranqüila, porque, se apurar, mata a galinha dos ovos de ouro.

            Eu entendia muito bem o negócio. Mas o que eu ia fazer?

            De modo que, para mim, esse programa de privatização do metrô, de privatização dessas empresas estatais de Brasília, de desarticulação dos sindicatos, de não pagar reajustes devidos aos funcionários, esse programa do FMI, que o PT, no Distrito Federal, está cumprindo - e a “PTcracia” está encantada -, é o mesmo programa neoliberal que o FMI impõe ao Brasil, contra o qual deveríamos reagir. Mas reagir para quê? A “PTcracia” foi lá, no segundo turno da eleição, em São Paulo, pegou dinheiro da Odebrecht, pegou dinheiro dos empreiteiros e se igualou cada vez mais a qualquer Partido burguês. Não é absolutamente de se estranhar!

            O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges) - Senador Lauro Campos, comunico a V. Exª que o seu tempo já se exauriu.

            O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PDT - DF) - Acho que V. Exª está equivocado. O senhor sabe quanto tempo tenho?

            O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges) - Quanto?

            O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PDT - DF) - Estou perguntando a V. Exª se o senhor sabe quanto tempo tenho.

            O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges) - Senador Lauro Campos, é o tempo da sessão. A Mesa não discutirá com V. Exª, a não ser na defesa do Regimento.

            Quero prorrogar a sessão por mais 5 ou 10 minutos, o tempo de que V. Exª necessitar, considerando realmente o Parlamentar aplicado que é V. Exª.

            O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PDT - DF) - V. Exª tem razão. Quando eu vim para cá fui informado de que teria uma hora.

            O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges) - Uma hora?

            O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PDT - DF) - Sim, Exª, que eu teria uma hora. O senhor está estranhando. Nós dois estamos equivocados.

            O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges) - Uma hora não existe, Senador Lauro Campos. Estamos prorrogando a sessão para que V. Exª conclua. Quem ocupava anteriormente a Presidência provavelmente se equivocou e concedeu uma hora a V. Exª. Não existe isso no Regimento Interno. Sabe V. Exª que são 50 minutos após a Ordem do Dia e 5 minutos em qualquer fase da sessão.

            O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PDT - DF) - Então são 50 minutos. V. Exª não sabia, e eu também não, que eram apenas 50 minutos. Pensei que fossem 60 minutos.

            Já estou concluindo, Sr. Presidente, porque estou realmente bastante cansado e gostaria apenas de dizer o seguinte: é a segunda vez que leio uma biografia do Sr. George Soros. Ele é a última aquisição do Partido dos Trabalhadores; ele agora fez uma parceria com essa pessoa a que me referi até agora em meu discurso, parceria essa firmada em Nova Iorque, no valor de 7 milhões de dólares. Assim o recém-adquirido George Soros, que só trata de negócios, um ilustre especulador, o maior do mundo, não está entrando no Partido dos Trabalhadores. Não se deu isso.

            O Sr. Armínio Fraga, Presidente do Banco Central - de dupla nacionalidade, brasileiro e norte-americano ao mesmo tempo -, que governa o Banco Central mais de acordo com os interesses da matriz, dos Estados Unidos, da sua outra pátria, do que desta, foi ele, o Sr. Armínio Fraga, quem intermediou, costurou, arranjou essa parceria.

            Seria necessário que tivéssemos alguma informação a respeito desse Sr. George Soros. Será verdade que ele, por exemplo quando era criança, sempre achou que fosse Deus? No capítulo 2, está escrito: “Eu sou Deus”. Ele sempre achou que era Deus. Desde criança. E ao amadurecer, ao avançar na idade, teve certeza disso. O Sr. Soros teve umas aulas com um filósofo, em Londres, e a partir daí criou uma filosofia da especulação. Não se trata de uma filosofia especulativa no sentido que o termo deveria ter; é uma filosofia da jogatina. Ele se considera filósofo da jogatina, embora tenha perdido, em um lapso de tempo, com o auxílio do Sr. Fraga, cerca de US$13 bilhões - tinha US$24 bilhões e a sua fortuna caiu para apenas US$11 bilhões; um tombo foi em 1982; o outro foi mais recente. Mas ainda continua com alguns bilhões de dólares, o Sr. Soros, o parceiro do Partido dos Trabalhadores.

            Fiz tudo para evitar, não teve jeito. Sabia e escrevi umas trinta páginas sobre a ética dos trabalhadores e a ética do capital e que nós não deveríamos misturar as coisas, e que a ética é uma questão da prática. Se a nossa prática se aproxima do capital, nós deixaremos contaminar essa nossa ética, a ética da humildade, a ética do trabalho, a ética da divisão pela ética da concentração, pela ética da exclusão, pela ética da acumulação, pela ética do amor à riqueza.

            De modo que o Sr. Soros, nessa era do capitalismo financeiro internacional falido, é a expressão mais perfeita, mais pura e acabada.

            É realmente uma desigualdade enorme que se instaura na política do Distrito Federal. Nenhum capitalista, nem o Luiz Estevão, que tem uma fortuna incalculável - ele declarou aqui que “não poderia manter o retrato de santo na parede, tendo acumulado R$1 bilhão em tão pouco tempo” - nem ele poderia, realmente, concorrer - talvez não estivesse disposto a concorrer - com o dinheiro que escoa do capitalismo financeiro internacional falido, imperialista, pelas mãos do antigo funcionário de George Soros, o Sr. Armínio Fraga, para vir fazer parcerias no Distrito Federal.

            Agradeço à Presidência a compreensão. Sinto ter discutido a minha permanência aqui. Ela, realmente para mim, como falei no princípio, é realmente muito cansativa, muito penosa. Eu preferiria não ter de falar nem um minuto. Eu preferiria manter mais um dia de silêncio, como tantos dias que passo aqui, completamente silencioso. Agradeço a paciência e a doação do tempo que me foi concedido. Muito obrigado.


            Modelo17/27/243:39



Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2001 - Página 20841