Discurso durante a 102ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento da última matriarca da política brasileira, Maria do Carmo Mello Franco Nabuco de Araújo.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento da última matriarca da política brasileira, Maria do Carmo Mello Franco Nabuco de Araújo.
Publicação
Publicação no DSF de 29/08/2001 - Página 18701
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MARIA DO CARMO MELLO FRANCO NABUCO DE ARAUJO, RESPONSAVEL, RESTAURAÇÃO, OBRA PUBLICA, PATRIMONIO HISTORICO, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, morreu sexta-feira, no Rio, a última matriarca da política brasileira, Maria do Carmo Mello Franco Nabuco de Araújo, a Miminha de severa ternura, na definição de seu sobrinho, o jornalista Márcio Moreira Alves.

            Casada com José Nabuco, filho do abolicionista Joaquim Nabuco, Maria do Carmo é descendente de uma das mais tradicionais famílias mineiras, filha de Afrânio de Melo Franco e irmã do jurista e político Afonso Arinos.

            Toda a vida dessa notável filha de Minas foi dedicada à cultura brasileira e seu nome ficará perpetuado na cidade histórica de Tiradentes. Seu avô, Cesário Alvim, na época Presidente de Minas, foi quem, em 1889, determinou a mudança do nome da cidade para o atual, Tiradentes, em homenagem ao alferes Joaquim José da Silva Xavier.

            O primeiro nome dessa nossa bela cidade histórica era Santo Antônio do Rio das Mortes. Posteriormente, veio a se chamar Arraial Velho, para diferenciá-la do Arraial Novo do Rio das Mortes, hoje São João Del-Rei. Antes de receber a atual denominação, seu nome era São José, em homenagem ao príncipe D. José, futuro Rei de Portugal.

            É por essa encantadora cidade, hoje conduzida pelo Prefeito Élvio Garcia, meu prezado amigo, que Miminha se apaixonou e, por isso, decidiu-se a promover a restauração desse relicário mineiro que, mesmo tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1938, vinha aos poucos se transformando em quase ruínas.

            Maria do Carmo sempre dizia com carinho e o maior orgulho pessoal que o grande presente por ela recebido veio de Israel Pinheiro. Em 1968, o então Governador confiou-lhe a tarefa à qual se dedicou com a força inteira de sua alma: a reconstrução e restauração da Tiradentes.

            Muito mais do que simplesmente dar conta de uma tarefa, essa foi a sua missão de vida. De fato, restaurar Tiradentes, jóia do barroco mineiro que vinha se transformando em ruínas, foi seu grande desafio.

            Um desafio que lhe custou muito trabalho, anos de dedicação e, afinal, o grande legado que Maria do Carmo deixa a Minas e ao Brasil.

            Apenas essa obra seria o suficiente para consagrar o nome da mulher responsável pela verdadeira ressurreição de Tiradentes. Mas para ela, permanentemente apegada às coisas da cultura, era preciso ir mais além.

            E foi.

            Como dirigente da Fundação Rodrigo Mello Franco, criada em 1968 pelo Governo de Minas, e por meio da qual se tornou possível restaurar Tiradentes, Maria do Carmo concentrou-se também na tarefa de preservar documentos de valor histórico para Minas e o Brasil.

            Com essa disposição, ela conseguiu dos Governos de Portugal e da França autorização para microfilmar documentos históricos do séc. 18, com preciosos dados sobre as capitanias do Rio de Janeiro e da Bahia.

            Há cinco anos, Maria do Carmo desligou-se da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, confiando então seus projetos à Universidade Federal de Minas Gerais. Todavia, apesar de seus problemas de saúde, permaneceu como membro do Conselho Deliberativo da entidade.

            Ela lamentava, nos últimos anos de vida, já não poder se deslocar do Rio para Tiradentes, a cidade do seu coração, a obra maior de sua longa e profícua existência.

            Quando, na sexta-feira, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na Igreja de Nossa Senhora das Mercês e na Igreja de São João Evangelista, os sinos dobraram, dando voltas sobre seus eixos, certamente foi de tristeza, porque morrera Miminha, a madrinha da cidade.

            Mais do que madrinha, Miminha, Maria do Carmo Mello Franco Nabuco de Araújo, uma grande mulher mineira da atualidade, deu todo o seu amor a todos, mas, especialmente, a Tiradentes.

            Por isso, solicito à Mesa que faça constar nos Anais do Senado da República um voto de pesar pelo falecimento dessa valorosa mineira, amiga da arte, Maria do Carmo Mello Franco Nabuco de Araújo, em cuja vida descobrimos um pouco da História do Brasil independente.

            Muito obrigado.

 

            


            Modelo15/19/246:36



Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/08/2001 - Página 18701