Discurso durante a 110ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o resultado da Convenção do PMDB, realizada ontem, em Brasília.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Considerações sobre o resultado da Convenção do PMDB, realizada ontem, em Brasília.
Aparteantes
Casildo Maldaner, Nabor Júnior.
Publicação
Publicação no DSF de 11/09/2001 - Página 21564
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, REALIZAÇÃO, CONVENÇÃO NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMPOSIÇÃO, DIRETORIO NACIONAL, DEFINIÇÃO, PRAZO, CANDIDATURA, ELEIÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AFASTAMENTO, GOVERNO FEDERAL.
  • ELOGIO, REFORÇO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), SAUDAÇÃO, DECISÃO, ITAMAR FRANCO, GOVERNADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), MANUTENÇÃO, FILIAÇÃO PARTIDARIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem o PMDB realizou a sua convenção. Uma convenção que as cassandras diziam que seria uma guerra civil, um lavar de roupa suja. Sabíamos que, diferentemente, deveria ser uma convenção agitada, como é próprio de um Partido vivo, pujante, o maior Partido desta República.

            A convenção ocorreu sem maiores atropelos. Houve pequenos incidentes, incidentes naturais, como eu disse, em que a emoção humana vem à tona, e em que se discutem questões, seja da forma como proceder naquele momento, sejam algumas modificações solicitadas pelos diferentes grupos que visam ao poder. Na verdade, no geral - o Senador Casildo Maldaner estava lá e pode atestar - foi uma grande convenção que terminou com um resultado que não cria problemas, mas cria a necessidade de se consolidar agora uma chapa de união, que deverá ocorrer amanhã, da Executiva e das diretrizes.

            Hoje, já se fez a composição das duas chapas do Diretório Nacional. Com certeza, a lealdade de todos nós ao Partido e o instinto de sobrevivência que tem regido nosso Partido vão fazer com que busquemos o nosso espaço.

            Ficou patente que todos queremos a candidatura própria do PMDB ao cargo de Presidente da República. Algo que também ficou claro é que a data para se escolher esse candidato será no dia de vinte de janeiro.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, penso que tudo isso nos ensinou que o PMDB continua sendo o Partido que todos conhecemos, um Partido pujante e vibrante, um Partido que vai buscar o seu espaço. Hoje, pela manhã, vi o Presidente eleito do PMDB, na TV, dando as diretrizes que qualquer segmento do PMDB gostaria de ouvir. Vamos ter candidatura própria, sim. No momento certo, cumprindo a palavra anteriormente empenhada, deveremos ter o nosso afastamento do Governo ou a nossa composição, porque estamos abertos. Entretanto, com toda certeza, não deixaremos de ter o PMDB lutando pelo seu espaço, seja para Presidente da República, seja para Governadores de Estado, seja também para o maior número possível de Senadores e de Deputados Federais.

            O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - V. Exª tem a palavra, Senador Casildo Maldaner.

            O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Senador Ney Suassuna, embora eu tenha sido voto vencido ontem na eleição para Presidência Nacional do PMDB, democraticamente precisamos nos render à maioria. O Deputado Michel Temer teve 63% dos votos; foi uma decisão democrática. Também fui vencido nas prévias. Eu entendia - e ainda entendo - que, se escolhêssemos o candidato à Presidência da República pelo nosso Partido neste exercício, seria melhor. Ainda estou pensando em como equacionar essa questão, porque o Presidente da República tem alegado que no fim do ano fará uma reforma no seu Ministério e espera que quem quiser ser candidato entregue as funções. Sua Excelência tem anunciado isso. E eu tenho pensado: como o nosso Partido vai ficar? Realizará as prévias no dia 20 de janeiro, portanto, no ano que vem, sendo que antes disso o Presidente da República terá dado um ultimato aos nossos Ministros que participam do seu Governo. Sendo assim, vamos meio a reboque nessa questão. Creio que deveríamos tomar uma decisão soberana do Partido neste exercício, antes do fim do ano, sabendo que o Presidente tem essa orientação. Devemos apresentar ao Presidente a decisão do nosso Partido de seguir um projeto próprio, de inscrever-se no campeonato nacional, coisa que não fizemos em 1998. Ficamos sem a torcida, pois que ela se dividiu. Agora devemos entrar em campo com nosso time e inscrever-nos no campeonato, dizendo ao Presidente: “Senhor Presidente, estamos aqui para agradecer a Vossa Excelência a confiança que em nós depositou até agora, a confiança que depositou em companheiros ilustres nossos, e estamos entregando as funções. Vossa Excelência tem o seu projeto, e nós, o nosso. Vossa Excelência, naturalmente, vai-se inscrever e disputar o campeonato nacional com o seu Partido ou da melhor forma que entender. E nós, respeitosamente, resolvemos seguir o nosso projeto.” E ainda devemos acrescentar: “Senhor Presidente, o Partido, por uma questão de ética, vem entregar as funções. Apoiaremos aquilo que for enviado ao Congresso Nacional e que considerarmos bom para o Brasil - pois entendemos que o País está acima de campeonatos nacionais ou de partidos políticos. No entanto, diremos “não” àquilo que entendermos que não serve ao País, pois seguiremos o nosso caminho independente. E queremos que o Governo vá bem.” A disputa de um campeonato nacional entre times de primeira grandeza fica melhor, porque envolve melhor a Nação. Há um adágio que diz: “Quanto mais difícil a vitória, melhor”. Ganharmos de um governo fracassado não tem graça. Não é bom bater em alguém caído. Por isso, é preciso respeitosamente anunciar que decidimos o nosso projeto e que apoiaremos aquilo que for bom para o Brasil. Queremos que o Governo fique bem. Não queremos seguir o “quanto pior, melhor”. Não é isso que o nosso Partido deseja. Precisamos enfrentar a questão com dignidade e ética. Senador Ney Suassuna, parece-me que a grande convenção foi um extraordinário movimento. O nosso Partido - nas desavenças, nas dificuldades - ressurge das cinzas e envolve pessoas do Oiapoque ao Chuí, do Leste ao Ocidente. É eclético, místico. Vieram pessoas de todos os quadrantes. Havia padre, pastor, bispo, crianças, jovens, pessoas de mais idade. Isso é fantástico. Algumas questões deveríamos decidir antes, para dar seguimento ao nosso projeto. O nosso Partido é maravilhoso. O PMDB tem raízes. Nunca trocou de roupa; não fez tampouco uma plástica. Mostra seu próprio rosto nas alegrias e nas tristezas. Muitos partidos realizaram plásticas, trocaram de roupa e fizeram maquiagem. O PMDB nunca fez isso. Tem seu jeito de ser. Passou por trovoadas, tempestades e bonanças; caiu, levantou e continuou a atuar. E sempre foi o mesmo Partido. Nunca trocou de nome para disfarçar-se perante a Nação, como fazem alguns partidos. Torço para que o Presidente, na sua prudência, consiga administrar a manutenção dessa unidade, para levarmos a bom termo a nossa candidatura e a fim de que a Nação acredite que, de fato, disputaremos o campeonato nacional. Cumprimento V. Exª, acrescentando que o movimento ocorrido ontem foi fantástico. Mexeu com o Brasil; sacudiu o Brasil. Houve quem viajasse à noite por até 36 horas para prestigiar esse acontecimento nacional tão formidável.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - É verdade, nobre Senador Casildo Maldaner. Com muita alegria, incorporo as palavras de V. Exª ao meu discurso.

            Realmente, essa vibração não se vê nos demais partidos. Ontem, eu estava ao lado do Deputado Benito Gama, que dizia o seguinte: “Impressionante. Esta é a primeira convenção deste Partido que vejo e sinto um clima diferente de debate, um clima que acaba afunilando-se para uma solução.” Hoje, não existem vencedores nem vencidos. Há o PMDB e sua missão.

            Nesta segunda-feira, pela manhã, às 10 horas, estive conversando longamente com o Presidente da República, no Palácio da Alvorada. Sua Excelência dizia estar muito feliz com o desfecho, que vinha exatamente ao encontro do que Sua Excelência pensava. Deveriam mesmo reunir-se os três grandes Partidos, sem que o PSDB ou o PFL fossem cabeça de chapa. Que se entendessem os partidos. O importante, agora, é tentar encontrar uma unidade. É legítimo que o PMDB queira ser cabeça de chapa, ser o candidato. O Presidente da República disse que não via nenhum mal nisso. Que os grandes Partidos deveriam reunir-se e encontrar uma solução; senão, que cada Partido concorresse com suas forças. Sua Excelência afirmou que esse entendimento era vibrante, importante no espírito peemedebista.

            Ontem, estavam lá dois ex-Presidentes da República, muitos Ministros e ex-Ministros; e eu via como as pessoas da facção A ou da facção B - com alguns episódios emocionais normais - tentavam, no final, a conciliação. Isso foi importante. Orgulhei-me do meu Partido, da convenção e suas conclusões.

            O Sr. Nabor Júnior (PMDB - AC) - Senador Ney Suassuna, V. Exª me permite um aparte?

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Concedo a palavra a V. Exª, Senador Nabor Júnior.

            O Sr. Nabor Júnior (PMDB - AC) - Senador Ney Suassuna, participei, em 1965, da fundação do MDB - e, quando aquele glorioso partido foi extinto, integrei-me ao núcleo que criou seu legítimo sucessor, o PMDB. Em ambos os grêmios de resistência à ditadura, procurei seguir as diretrizes adotadas desde os tempos do antigo PTB de Getúlio Vargas, Oscar Passos e tantos outros grandes brasileiros. Neles, fui eleito Deputado Estadual três vezes; Deputado Federal em dois pleitos sucessivos; Governador do meu Estado do Acre; e, hoje, cumpro o segundo mandato de Senador da República.

            Desde 1967, quando o saudoso Senador pelo Estado do Acre, Oscar Passos, presidia o MDB, participo das convenções nacionais partidárias. E, baseado nessa vivência, posso afiançar que foram poucas as ocasiões em que houve disputa democrática como a de ontem, com a apresentação de duas chapas: uma, encabeçada pelo Deputado Michel Temer, que obteve a maioria dos votos dos convencionais, a chapa "Unidade do PMDB"; e outra, também muito consistente, encabeçada pelo Senador Maguito Vilela, que teve a denominação de "Chapa Unidade pela Candidatura Própria". Nas vésperas do encontro, multiplicavam-se as previsões sombrias, de incidentes seríssimos - entreveros físicos, choques, brigas, como, efetiva e lamentavelmente, ocorreu em outra convenção, quatro anos passados - mas, ao fim, assistimos a um espetáculo eminentemente democrático.

            Houve, de fato, uma acirrada disputa, pois não se chegou a um consenso para a formação de chapa única. Ora, a democracia prevê que, não havendo consenso, decide-se no voto quem vencerá as disputas; quando não se chega à situação de chapa única, cada um exerce o direito, cumpre o dever, de participar da decisão, aceitando, depois, o legítimo veredicto da maioria. Isso não diminuiu o Partido, ao contrário, o PMDB saiu engrandecido da convenção realizada no ginásio do Colégio Marista em Brasília!

            Foi, como disse, um espetáculo democrático, como poucas vezes eu havia presenciado; tivemos a disputa entre duas chapas, cada uma com valorosos companheiros. Por isso, acredito que o primeiro grande trabalho a ser feito pelo Presidente eleito do PMDB, Deputado Michel Temer, é buscar a unidade do Partido, prepará-lo para concorrer, com candidato próprio, em de 2002. Sim, porque aprovamos, quase por unanimidade, a apresentação de legítima candidatura peemedebista, nas eleições do próximo ano; realizaremos as prévias, a segunda etapa desse processo democrático, com os filiados do Partido. A futura Comissão Executiva Nacional ainda decidirá - com os Diretórios Municipais, Diretórios Regionais, vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, senadores e governadores - como escolher, dentre os candidatos, aquele que nos vai representar nas eleições de outubro do próximo ano.

            A fixação da data de 20 de janeiro para a realização das prévias foi proposta por este humilde Senador, a quem V. Exª concede o aparte, levando em conta o fato de que uma pesquisa séria, com o envolvimento de um universo tão grande de pessoas, não se prepara em quarenta dias, como pretendiam. Afinal, espera-se de cada candidato a apresentação do plano de trabalho com as metas que defenderá na campanha eleitoral e, mais tarde, em caso de vitória, no exercício da Presidência da República. E todos devem percorrer os Estados da Federação, levando suas metas, durante a campanha.

            Portanto, em pouco mais de quarenta dias, como queriam alguns, não teríamos tempo para um debate justo e produtivo, seguido da realização das prévias. Ciente disso tudo, sugeri a data de 20 de janeiro, inclusive considerando que, naquela oportunidade, o Congresso Nacional deverá estar em recesso - propiciando aos parlamentares acompanhar seus respectivos candidatos em suas visitas a todos os Estados, em busca do respaldo necessário para encabeçarem a chapa do PMDB às eleições presidenciais do próximo ano. Muito obrigado.

            O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Gostaria de dar meu testemunho de que realmente foi V. Exª que levantou a data e mostrou como seria prática e útil. Informo que fui um dos primeiros a aderir à data de V. Exª. E, para mostrar como somos democráticos, o Presidente eleito, Deputado Michel Temer, queria a data de 15 de novembro, mas mudamos, pela proposta de V. Exª, e terminamos fixando a data de 20 de janeiro.

            Como eu dizia, não há vencidos e não há vencedores. O que interessa agora é a união do Partido. E é nesse sentido que vamos trabalhar. Tive a honra de pertencer à Comissão Executiva que está vigendo até amanhã e, com certeza, eu que nunca pertenci a outro Partido na vida, darei o melhor de mim para que consolidemos essa união. Quero enfatizar a minha honra por estar nesse Partido, porque nunca pertenci a outro, e dizer também fiquei orgulhoso, ontem, quando vi o ex-Presidente Itamar, atual Governador Itamar, dizer que permaneceria no Partido.

            Teremos candidatos de nível e poderemos levar o nosso PMDB ao lugar que sempre teve na memória e no prestígio do povo, seja no passado, seja no presente, e, com toda certeza, no futuro, por meio de uma ação cada vez mais coordenada de todas as suas forças, para que o PMDB tenha candidatura própria, seja para valer, e que tenhamos no próximo ano, se Deus quiser, um candidato que nos leve à vitória na Presidência.

            Ao encerrar, quero dizer que muitas notícias fornecidas por jornalistas não trazem a veracidade que deveriam conter. Ontem, conversando com um amigo, fiquei surpreso ao ouvir um comentarista dizer que o Dr. Márcio Fortes, Secretário Executivo do Ministério da Agricultura, estava tramando e lutando contra o Ministro da Agricultura. Ora, há 40 anos eles convivem e são amigos. Sou amigo dos dois, sou um testemunho que mostra como a imprensa às vezes diz o que não é verdade. Quantos de nós aqui já não vivemos essa situação? E, com certeza, muito ainda será dito do PMDB, mas certamente a verdade prevalecerá. E a verdade é que o PMDB está vivo, forte, pujante. Ontem, houve uma disputa democrática. Agora, o que nos interessa é a união de todos em busca deste objetivo comum: o poder, razão pela qual os Partidos existem.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/09/2001 - Página 21564