Discurso durante a 113ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

NECESSIDADE DE REFLEXÃO ACERCA DOS MOTIVOS ECONOMICOS QUE RESULTARAM NOS ATENTADOS TERRORISTAS AOS EUA.

Autor
Lauro Campos (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Lauro Álvares da Silva Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL.:
  • NECESSIDADE DE REFLEXÃO ACERCA DOS MOTIVOS ECONOMICOS QUE RESULTARAM NOS ATENTADOS TERRORISTAS AOS EUA.
Publicação
Publicação no DSF de 15/09/2001 - Página 22118
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, CONFLITO, NATUREZA ECONOMICA, AMBITO INTERNACIONAL, EFEITO, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, GUERRA FRIA, CRITICA, PRIORIDADE, GASTOS PUBLICOS, EQUIPAMENTO MILITAR.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GEORGE BUSH, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), OMISSÃO, DECISÃO, NATUREZA POLITICA, PAIS.
  • CRITICA, IDEOLOGIA, SUPERIORIDADE, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DESEQUILIBRIO, NATUREZA ECONOMICA, MUNDO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. LAURO CAMPOS (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a cena que imagino tem tudo de real. A fumaça era negra, malcheirosa. O Presidente do Banco Central do Brasil se encontrava em seu lugar, no World Trade Center, o centro da especulação mundial. Ali, um banco japonês ocupava 25 andares. Era o centro nervoso e vital da especulação e, portanto, do capitalismo financeiro, completamente inútil, poderoso e destruidor.

            O Presidente do Banco Central do Brasil, o Sr. Armínio Fraga, também se enriqueceu, tal como seu chefe, o maior especulador do mundo, que chegou a empilhar US$24 bilhões e que, por maus conselhos, pelos tremores que sempre agitam os sistemas capitalistas em sua fase de imperialismo especulativo, reduziu tal quantia, em 1982, a apenas US$12 bilhões!

            Esse senhor, o maior especulador do mundo, ex-patrão do nosso Presidente do Banco Central, está agora associado ao candidato do Partido dos Trabalhadores Cristovam Buarque. Eles têm uma parceria - a especulação e a ingenuidade - de US$7 milhões.

            A confusão é muito grande. A fumaça preta, obviamente, impedia que se visse a Estátua da Liberdade. “Violência gera violência, só o amor constrói para a eternidade” é o que está escrito na Estátua da Liberdade, que foi um presente da França aos Estados Unidos e que pode ser vista daquele centro da especulação, símbolo do poder total e, agora, da destruição completa.

            É preciso que se compreenda que tudo que é sólido se desmancha no ar. Violência gera violência. Só o amor constrói para a eternidade.

            Desse modo, sob esse prisma, não há muita coisa de novo nesse tremendo acontecimento em que se misturam o poder do capital, da especulação de George Soros com o nosso Fraga, que é um braço de Soros no Banco Central, e alguns ingênuos que fazem parcerias com esses seres.

            Não estou dizendo nada de novo. O Sr. Soros, esse símbolo do capitalismo especulativo, lançou, um dia, uma guerra contra a libra inglesa e a destruiu. Já foi dito e escrito que o poder desse Sr. George Soros é muitas vezes maior do que o poder de muitos países do mundo. Quando pequeno, ele encaminhava aos judeus, seus amigos, seus consangüíneos, àqueles pertencentes à mesma cultura, os bilhetes que determinavam que os judeus, seus irmãos, fossem para os campos de concentração de Hitler. Naquela ocasião - os seus biógrafos são unânimes -, ele achava que era Deus. Ele achava que era Deus.

            Então, essa combinação é muito perigosa: muito dinheiro e fanatismo religioso, egoísmo exacerbado, megalomania incontida. E, obviamente, essas pulsões, essas extravagâncias exuberantes do ser humano, parece-me, em certo sentido, não têm muito que ver com o que se chama de utopia e ideologia, as posições que marcam o sonho ou os pesadelos que habitam os seres humanos.

            Soros, que se transformou nesse grande norte-americano cuja influência se faz sentir em vários países do mundo, inclusive, no Brasil, por meio de um processo de dominação há muito tempo preparado, organizou, custeou um exército. Não foi apenas Osama bin Laden, que, lá do Afeganistão, teria financiado e movido a agressão contra os Estados Unidos. Não. Também o Sr. George Soros, parceiro de Cristovam Buarque, financiou um exército para invadir a União Soviética, para lutar contra ela.

            De modo que os fanatismos estão presentes. Alguns já foram esquecidos e diluídos pelo tempo, outros estão aí. Não tenho dúvida alguma do maniqueísmo presente nas manifestações infelizes do Presidente George Bush, que passou dez horas voando, afastado do campo de batalha, enquanto lá se encontrava, canceroso, velho, sofrido, o Prefeito de Nova Iorque e, ao seu lado, a Senadora Hillary Clinton. O Prefeito de Nova Iorque desceu a um daqueles locais próximos e correu risco de vida, quase morreu com a destruição, a derrubada de um dos edifícios.

            Diante do choque, da dor, do sofrimento, do padecimento de grande parte da humanidade, de quase toda a humanidade, diante daquela agressão inédita na história do homem - inédita, sim, mas não tão letal quanto, por exemplo, o que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki, sob o comando dos Estados Unidos e dos aliados, que tinham a simpatia de um menino de Belo Horizonte, eu, que o tempo todo esteve, com brigas de papagaio, em discussões com vizinhos, contra o nazismo e era simpatizante exaltado da então chamada democracia -, percebemos o efeito das diferenças, da concentração de poder e de capital que se verificou principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, quando o poder da técnica, do capital, da política, das relações internacionais, todos os poderes se localizaram nos Estados Unidos da América do Norte. Eles tinham como contrapolo a União Soviética, até 1989, quando aquele contrapolo ruiu, caiu por terra, permanecendo a torre única norte-americana, a torre de sua grandeza, o símbolo do poderio total.

            Afinal, eu, que sempre fora contra o totalitarismo, agora via, na prática, o poder total se instalar no mundo. Quinze trilhões de dólares foram gastos apenas no período da Guerra Fria, enquanto a humanidade se acabava na África, destruía-se na América Latina empobrecida e marginalizada e sobrevivia onde a injustiça humana ainda permitia algum oxigênio, cada vez mais ralo.

            Em função desse totalitarismo, do poder total, mais de 40% da matéria-prima do mundo é consumida por 5% da população mundial, residente nos Estados Unidos. Pode-se falar em justiça em um mundo como esse? Pode-se falar em justiça quando só a Presidência da República dos Estados Unidos tem uma verba de US$1,4 trilhão, para gastar à vontade, e, agora, um reforço de US$20 bilhões para essas emergências?

            O Presidente George Bush não goza da minha simpatia. Jamais gozou. Uma pesquisa publicada recentemente mostra que o seu QI é de 91, o mais baixo dentre os de todos os presidentes dos Estados Unidos que foram medidos. É então natural que ele, como Presidente da República, tenha dito - está na revista ISTOÉ: “Eu não sabia que os Estados Unidos tinham um arsenal tão grande! Para que tantas armas?”

            Se ele soubesse que as armas e a produção bélica, que a destruição e a dissipação são absolutamente necessárias, não foram feitas em vão.

            W. W. Rostow, assessor de um presidente norte-americano, já dizia, há 40 anos: “A lógica que está por trás das despesas bélicas norte-americanas é obrigar a União Soviética a fazer o mesmo e, com isso, impedir que ela desenvolva as forças produtivas.”

            Os Estados Unidos, comandando o processo bélico armamentista e a carreira espacial dissipadora, fizeram com que, obviamente, se tornasse impossível qualquer experiência socialista em qualquer parte do mundo, principalmente na União Soviética. O que percebemos é que isso era essencial, não apenas para criar consumidores, não apenas para absorver a mão-de-obra desempregada pela tecnologia e pelo lucro capitalistas e não apenas para acalmar as populações - era de 44% o desemprego na Alemanha, em 1934; de 25%, nos Estados Unidos, em 1933. Somente o Estado podia emitir dinheiro, acabar com o ouro, que estava limitando os gastos do Governo, pintar papel e comprar armas, estimular o setor de armas, que passou a ser também a sede principal de R&D, Research and Development, pesquisa e desenvolvimento. A tecnologia passou a ser produzida nesse setor, o mais voraz, que consumia, até há pouco tempo, até o ano atrasado, a maior quantidade de recursos do mundo.

            Qual é a prioridade no mundo? Ensino, educação, amor? Não. A prioridade no mundo é aquela atividade que gasta mais recursos, emprega mais pessoas, desenvolve mais tecnologia. São os setores bélicos.

            Agora o Presidente Bush, QI 91, depois de dez horas sumido, volta e afirma, na sua linguagem maniqueísta, a necessidade da guerra do bem contra as hordas do mal: “Eu sou o bem! Gastamos US$15 trilhões em guerra, mas eu não sabia que havia tanta arma acumulada!”

            E para defender os Estados Unidos ele teve de viajar, de conhecer regiões onde ele nunca pensou estar antes e onde nunca havia estado antes em sua vida. Ele foi soprar a brasa na Rússia e na China, para criar um perigo que justificasse que os Estados Unidos gastassem entre US$250 bilhões e mais de US$1 trilhão fazendo o escudo antimíssil. O escudo antimíssil obviamente é uma arma. Mais uma arma. “Há as armas do bem, que são as nossas, e as do mal, que são as do resto do mundo.”

            Maniqueísmo perigosíssimo nesta hora, porque estamos vendo que alguns ingredientes, infelizmente presentes na cultura dos Estados Unidos, se acendem. Os Estados Unidos fizeram várias guerras. A dimensão do México foi reduzida à metade do que era inicialmente - uma parte passou para o norte do Rio Grande e foi incorporada aos Estados Unidos.

            Não vou tentar aqui, em curto espaço de tempo, lembrar todas as guerras, declaradas ou não, que os Estados Unidos moveram contra os seus vizinhos, contra os latinos e contra a humanidade. Mas é preciso que não esqueçamos que se existe um fanatismo lá, entre os povos árabes, se existe um fanatismo que move as hordas de Saddam Hussein e de Osama bin Laden, existe também um fanatismo presente na cultura norte-americana.

            Aqui o fanatismo se chama destino manifesto. Todos os americanos acreditam nisso: que eles são o povo eleito por Deus. Tal como os fanáticos do lado de lá. Que eles são o povo eleito por Deus. E essa idéia de que a acumulação de riqueza é um sinal da graça divina existe antes de os Estados Unidos se constituírem e foi um ingrediente que as seitas reformistas aportaram à cultura norte-americana.

            Por ser o país mais rico, mais concentrador de riqueza e de poder do mundo, os Estados Unidos se julgam o povo eleito por Deus. Eles são donos da verdade. Deus os escolheu. E esse destino se manifesta em sua grande riqueza, no seu poder acumulado.

            De modo que se aqui o grande poder, necessário para eles, para a sua reprodução e para as suas relações mundiais de dominação, existe, por outro lado, aqueles sem poder, igualmente destinados a salvar o mundo, criaram um outro impacto. Contra o arsenal atômico, contra o escudo antimíssil, usaram faquinhas de cozinha. E isso é insuportável! Se pelo menos tivessem usado armas decentes, eficientes, modernas, compradas talvez dos Estados Unidos, como os Estados Unidos fizeram com Saddam Hussein! O próprio Osama bin Laden foi aliado e protegido dos Estados Unidos! Os dois foram! Saddam Hussein também! Agora eles não fazem mais parte do império do bem, que se prepara para destruir os seus antigos aliados, do império do mal.

            Realmente, nós devemos repensar muita coisa. Eu considero a proposta que está ali, atrás da cortina de fumaça: “Violência gera violência. Só o amor constrói para a eternidade”. Se o revide aos antigos aliados Osama bin Laden e Saddan Hussein for também agressivo, bárbaro, selvagem, desumano, parece-me que o século XXI terá saudades do século XX, do brevíssimo século XX, a era dos extremos, que vai ser aprofundada no século XXI se essas tendências não forem contidas.

            A presença do Presidente George W. Bush é a presença de uma personalidade fraca, mal informada e ignorante naquilo que é essencial à frente do governo dos Estados Unidos. Ele é um Presidente que não sabe sequer se comportar como o prefeito de Nova Iorque. Se ele foi eleito, não foi eleito só para o bem, para o bem-estar, para as festas, comemorações e vitórias. Ele deveria estar lá, ao lado do prefeito de Nova Iorque. Ali era o seu lugar. Essa ausência mostra uma fraqueza que é muito perigosa. Os fracos, quando estão à frente dos exércitos, são dados, algumas vezes, a atos desesperados de afirmação e de heroísmo - de heroísmo que é quase sempre feito à custa de vidas alheias.

            Espero que essa terrível experiência ocorrida em Nova Iorque sirva para reflexões como essa que acaba de fazer da tribuna o nosso nobre companheiro, Senador José Fogaça, do Rio Grande do Sul. Espero que reflexões como essa possam influenciar o comportamento, a estrutura mental, emocional, a cabeça primária, maniqueísta, do Presidente dos Estados Unidos. Espero que ele não repita o que acabou de dizer: “É a luta entre o bem e o mal”.

            Outros presidentes daquele país disseram o mesmo da União Soviética. A União Soviética constituiu o mal, o perigo sem o qual os Estados Unidos não teriam encontrado emprego, desenvolvido tecnologia e capacidade de destruição do homem e da natureza.

            Para mim, não há nada mais antiético do que a destruição do homem e da natureza. E o país que possui a maior capacidade e que acumula a maior capacidade de destruir o homem e a natureza é o país menos ético do mundo, no meu ponto de vista, porque desrespeita o núcleo da ética, tida como uma espécie de organização da legítima defesa da vida pelo homem, da sua vida e da vida da natureza, sem a qual o homem não sobrevive.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Muito obrigado e desculpe-me por ter ultrapassado o tempo regimental.


            Modelo17/27/242:18



Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/09/2001 - Página 22118