Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que será realizado no segundo domingo de outubro de 2001.

Autor
Luiz Otavio (S/PARTIDO - Sem Partido/PA)
Nome completo: Luiz Otavio Oliveira Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que será realizado no segundo domingo de outubro de 2001.
Aparteantes
Bernardo Cabral, Jader Barbalho.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2001 - Página 22304
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, FESTA, IGREJA CATOLICA, IMPORTANCIA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, RELIGIÃO, POPULAÇÃO, ESTADO DO PARA (PA), REGISTRO, HISTORIA, COMEMORAÇÃO.
  • HOMENAGEM, ELOGIO, ATUAÇÃO, VICENTE JOAQUIM ZICO, ARCEBISPO, REGIÃO METROPOLITANA, MUNICIPIO, BELEM (PA), ESTADO DO PARA (PA).

O SR. LUIZ OTÁVIO (Sem Partido - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, primeiro quero agradecer a presença do representante do Governador de Brasília, Joaquim Roriz, o paraense e jornalista Luiz Solano.

Antes de falar sobre o tema desta sessão de homenagem, quero dizer da dificuldade que tivemos não só pelas várias mudanças de horário como também pela seqüência de votação de matérias importantes no Congresso Nacional, que foi convocado extraordinariamente hoje pela manhã.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a sessão que se realiza neste momento no Senado Federal assume feição especial. O tempo dos oradores está destinado a homenagear o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Coube também a mim e à Bancada Federal do meu Estado, por meio dos Senadores Jader Barbalho e Ademir Andrade, requerer tal honraria, a qual logo foi referendada por todos os nossos ilustres Pares do Senado da República.

Também registro a presença da Deputada Federal Alcione Barbalho, que vem também abrilhantar esta sessão.

Entendo tal homenagem como um tributo desta Casa e de seus lídimos representantes à devoção e religiosidade do povo paraense, que faz da romaria a expressão maior da sua fé àquela que é considerada a Mãe Soberana e Senhora de todos os cristãos.

Parece uma redundância ou um pleonasmo dizer que se inicia do início. Mas, na verdade, o que quero dizer é que o início de meu pronunciamento fala do início do Círio de Nazaré e como tudo começou. Para isso vou lhes contar uma história acontecida lá nos idos de 1700, nas proximidades do riacho que desaguava na estrada do Maranhão, em Belém do Pará.

Conta-se que um caboclo da região, de nome Plácido, estando a caçar nas imediações do igarapé Murucutu, premiado pelo cansaço e pelo calor, dirigiu-se às margens do igarapé onde atualmente se encontra uma travessa que passa por trás da atual Basílica de Nazaré. Debruçou-se para colher o frescor da água e viu, entre as pedras cheias de lodo, a imagem da Santa. Era uma réplica da estátua original que se encontra em Portugal, esculpida em madeira e com aproximadamente 28 cm de altura. Deslumbrado com o achado, levou a imagem para casa, improvisando um humilde altar para venerar a Santa. No dia seguinte, a imagem desaparecera de seu improvisado altar. Surpreso, Plácido pôs-se a andar pela estrada e quando deu por si estava na mesma beira de rio onde achara a imagem. E, surpresa maior, lá estava a Santa entre as mesmas pedras lodosas. O caboclo tornou a levá-la para a casa e assim por muitas outras vezes, e sempre no dia seguinte do ocorrido o fato se repetia: a estátua sempre aparecia no mesmo igarapé. Sabedor do fato, o governador mandou levar a imagem para o palácio, mantendo-a sob severa vigilância. Sem que se pudesse explicar, na manhã seguinte, a Santa voltara ao seu nicho primitivo. Os devotos, então, entenderam que o desejo da Santa era ficar às margens do Murucutu. E lá construíram a primeira ermida, sendo, depois, construída, no mesmo local, a atual Basílica de Nazaré. Desde então, o povo invoca as bênçãos da Santa e lhe atribui o recebimento de muitas graças.

Esse, na verdade, é o segundo milagre da Santa. O primeiro se deu em terras portuguesas, no longínquo século XII. Conta-se que, numa manhã de setembro de 1182, estava D. Fuas Roupinho, amigo de Rei Afonso Henrique, a caçar. Em perseguição a uma presa, perdeu o controle das rédeas de seu cavalo, que disparou descontrolado rumo a um abismo. Desesperado com a divisão da morte iminente, D. Fuas implorou à Virgem de Nazaré amparo e proteção, exclamando: “Senhora, valei-me!” No mesmo instante, o cavalo estancou com ímpeto, cravando as patas traseiras nas pedras e pondo a salvo o cavaleiro. A caça e os cachorros despencaram no precipício. A partir desse acontecimento, o fidalgo mandou erguer, no local, uma capela para a Virgem de Nazaré, elevada, séculos depois, à condição de matriz. Desde então, os portugueses reverenciam Nossa Senhora de Nazaré, sempre em 14 de setembro.

Serão essas histórias fundadas em fatos reais ou são mero fruto imaginário popular, sobrevivido com lendas e narrativas poéticas? A questão, Senhoras e Senhores, é de somenos importância para todos, para mim, especialmente neste momento. O que mais importa - e é real, visível e concreta - é a fé e a devoção que o povo paraense devota à sua Santa, não só na época do Círio de Nazaré, mas em todos os dias do ano.

Devo dizer, contudo, que é notável na história do caboclo Plácido o fato de ela ter cercado a gênese da devoção paraense à Virgem de Nazaré de uma aura de ternura e simplicidade. Lenda e fatos se entrelaçam, mesclam e constróem uma corrente de fé, que explode na paixão avassaladora do Círio, que envolve, domina e cativa corações e mentes. Digo isso porque, na verdade, foram os missionários jesuítas que trouxeram para o solo amazônico o culto a Nossa Senhora de Nazaré. Isso se deu quando ali se estabeleceram, por volta de 1653, e fundaram a cidade de Vigia, no Pará. Portanto, ao contrário de Vigia, onde a veneração à Santa foi inculcada pela catequese jesuíta, em Belém, ela nasce da singela história de Plácido e seu precioso achado. Isso demonstra que a fé, Sr. Presidente, não precisa de faustos e luxos para nascer no coração dos homens.

A romaria do Círio, por sua vez, tem início, segundo os relatos, em 1793. Nesse ano, o Bispo do Pará, D. João Evangelista, enviou a estátua para restauração em Portugal. Seu retorno ocorreu em outubro desse mesmo ano, e a Santa foi conduzida pelas ruas de Belém em romaria, acompanhada pelo Bispo, Governador, a tropa e os fiéis. Essa procissão é considerada como o primeiro Círio autêntico.

O Círio sofreu modificações ao longo do tempo, mas a movimentação da imagem por ocasião do Círio reproduz, de forma simbólica, o milagre de trezentos anos atrás quando a Santa trasladada do seu lugar de aparecimento sempre aparecia na mesma cavidade das pedras em que fora descoberta. Esse trajeto se repete todo ano, em três momentos: a Trasladação, o Círio e o Recírio.

Quero falar um pouco de cada uma dessas ocasiões como forma de exaltar, por minha fala, toda a grandiosidade da Romaria de Nossa Senhora de Nazaré. Meus destinatários preferenciais, neste momento, são todos aqueles que nunca tiveram oportunidade de comparecer ao Círio, que nunca viram imagens de sua ocorrência na televisão ou dele não tiveram notícias em jornais e revistas. Perdoem-me os que, neste plenário ou diante da nossa rádio e da nossa televisão, se enfadarem com o relato - por lhes ser por demais conhecida - a mais cara e mais ecumênica devoção religiosa amazônica. Prometo que o farei com a brevidade possível.

O Círio dura 15 dias e também é conhecido como o Natal do paraense, pois a festa de fé em homenagem à Virgem de Nazaré é também uma confraternização da família paraense, tendo em vista que, devido principalmente aos romeiros que chegam do interior para ficar em casas de parentes, no dia do Círio a população de Belém praticamente dobra!

A festa começa ainda antes das procissões, com a chegada desses romeiros, trazendo, muitas vezes, o pato, o tucupi e a folha da mandioca, que serão levados à mesa no tradicional e festivo almoço do Círio, sob as formas dos pratos típicos da deliciosa culinária paraense: o pato no tucupi e a maniçoba.

Na noite de sexta-feira, antevéspera da grande procissão, o arcebispo metropolitano de Belém promove a abertura oficial da quadra nazarena ao presidir a cerimônia que inaugura o ciclo da festividade. É inaugurada a iluminação da Basílica de Nazaré, que é enfeitada com todo o esplendor de luzes a lhe traçar o contorno, especialmente para o período do Círio, a iluminação dos arcos que delimitam o quadrilátero da Basílica e a feira do Círio.

Na noite de sábado, véspera do Círio, ocorre a Trasladação, sendo uma réplica da imagem achada por Plácido levada por milhares de fiéis da Capela do Colégio Gentil Bittencourt, em Nazaré, até a Catedral Metropolitana, na Cidade Velha. Essa é uma das mais belas procissões noturnas de que se tem notícia, com a berlinda da Virgem intensamente iluminada, destacando-se sobre a massa de fiéis que a conduzem, em meio a orações e cânticos. Reparem, Srªs e Srs. Senadores, que, ao fazer o caminho inverso ao do Círio, a procissão da Trasladação assume simbologia própria, que faz reviver a história do descobrimento da estátua da Santa e de seu retorno ao local do achado.

No dia seguinte, sempre no segundo domingo do mês de outubro, a cidade acorda antes do sol nascer e se prepara para o grande acontecimento religioso e festivo do povo paraense. Esse é o dia do Círio, da majestosa procissão que, saindo da Catedral, conduzirá a imagem da milagrosa Santa até o largo onde se situa a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré.

O percurso, com quatro quilômetros e meio de extensão, é percorrido em cerca de quatro a até nove horas e acompanhado por cerca de 1 milhão de fiéis. Bem cedo, as pessoas vão se dirigindo para as ruas do trajeto do Círio - umas orando, outras entoando hinos religiosos, outras ainda rezando terços... Formam-se pela cidade toda pequenos cortejos a verter para um mesmo sítio. Quem vê do alto essa movimentação do povo não pode deixar de compará-la a riachos e igarapés correndo para um mesmo rio, desaguando nele seu caudal de água ou gente.

Em pouco tempo, milhares de pessoas formam uma massa compacta a acompanhar a romaria, enquanto outras milhares se espalham pelas ruas de Belém, ao longo do trajeto da procissão, num espetáculo impressionante de fervor e devoção. Entoando cânticos e elevando preces aos céus, presos à corda que leva a berlinda com a Santa ou afastados dela, nas calçadas, janelas, sacadas dos edifícios, nos palanques e arquibancadas, ouvindo pelo rádio ou assistindo pela televisão, são todos tomados por um elevado sentimento de exaltação cristã que inunda seus corações de fé, caridade e amor ao próximo. É unânime, em todos eles, o desabrochar da esperança num amanhã mais venturoso e pleno das bênçãos que sobre ele derramará a Mãe Suprema, Nossa Senhora de Nazaré.

Na procissão, a imagem da Santa segue numa berlinda ricamente ornada com flores naturais. À sua passagem, devotos choram, erguem os braços, ajoelham-se, aplaudem como se quisessem transmitir seus sentimentos à Santa, com os sentidos da linguagem gestual e corporal.

Numa manifestação de magna grandeza como é o Círio, com contribuição popular de variada ordem, é de se esperar que a dimensão simbólica ocorra em alto grau. Vários são os objetos simbólicos presentes à romaria. Os carros de recolhimento de promessas levam objetos que simbolizam pedidos ou retratam o agradecimento por uma graça alcançada, como ex-votos. As velas, em grande número, simbolizam a luz da alma que se eleva aos céus. Centenas de romeiros acompanham a procissão pagando suas promessas, podendo ser observadas as representações das graças alcançadas, como: casinhas de madeira representando o sonho da casa própria realizado, moldes em cera de membros do corpo, representando a saúde recuperada, etc...

A forma de pagar promessas mais conhecida é acompanhar o Círio na corda. A corda é um grosso trançado de sisal, com quatrocentos metros de comprimento, à qual incrivelmente se agarram milhares de romeiros, numa disputa de fé que forma uma muralha humana ao redor da berlinda, onde a corda é atada, representando assim o contato do promesseiro com sua Santa.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. LUIZ OTÁVIO (Sem Partido - PA) - Pois não, Senador Bernardo Cabral. É uma honra para mim muito grande ouvir o representante do querido Estado do Amazonas.

O Sr. Bernardo Cabral (PFL - AM) - Senador Luiz Otávio, em primeiro lugar peço-lhe desculpas por estar interrompendo um discurso que, além de denso, tem uma linearidade histórica absolutamente correta. V. Exª demonstra que a peregrinação realizada no Círio de Nazaré transforma cada romeiro em mensageiro da fé. Veja a coincidência: V. Exª é do Estado do Pará, a Presidência da Casa está sendo exercida no momento por um Senador do Pará e, no plenário, encontra-se presente a Deputada Elcione Barbalho, também do Estado do Pará. Portanto, o Pará hoje presta uma homenagem, por intermédio da voz de V. Exª, que encurta a distância do extremo norte, para mostrar ao País o que é a fé, a religião de um povo. Gostaria de revestir este meu aparte de profunda solidariedade a V. Exª e dizer-lhe que, se me permite, gostaria de subscrever o seu discurso, aplaudi-lo pelo que ele está representando.

O SR. LUIZ OTÁVIO (Sem Partido - PA) - Agradeço a manifestação de V. Exª e insiro o seu aparte em meu pronunciamento.

Continuando, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vista do alto, a corda serpenteia num vai-e-vem ondulante, movimentando a grossa massa de pessoas agarradas nela, em espetáculo de grande força mística. Vista de perto, são pessoas coladas umas às outras, mãos crispadas, músculos retesados, pés descalços, os corpos banhados de suor. Alguém já viu nessa imagem a representação de um cordão umbilical a unir os filhos à Mãe Suprema. Para outros, é a representação pungente da solidariedade a unir milhares de anônimos numa mesma expressão de fé.

Para os devotos, creio que é o momento sublime em que se alcança o elevado significado da palavra “religião”, que vem do latim religare, que quer dizer “unir, atar de novo”. Os que seguram a corda sentem-se ligados, unidos, atados ao transcendental, ao santificado, ao divino. Aliás, o Círio, como festa religiosa, cumpre exatamente o sentido etimológico da palavra “religião”. Nesse sentido, a corda é objeto de maior valor simbólico.

O encerramento dos festejos ocorre após o quarto domingo do mês, quando se dá a procissão de retorno, chamada Recírio. A imagem da Santa é devolvida ao seu nicho na Capela do Colégio Gentil Bittencourt e ali fica até o próximo Círio.

Além da Trasladação, do Círio e do Recírio, ocorrem outras homenagens à Virgem de Nazaré.

Na sexta-feira, antevéspera do Círio, a imagem é levada em procissão para Ananindeua. No sábado pela manhã, acontece a procissão rodoviária, quando caminhoneiros acompanham a imagem até Icoaraci. Em seguida, após a celebração de missa no trapiche da vila, a imagem retorna em procissão fluvial ao porto de Belém, acompanhada por centenas de embarcações. Da escadinha do cais do porto de Belém a imagem é precedida por uma procissão de motoqueiros que servem de batedores ao carro que conduz a imagem até o Colégio Gentil Bittencourt, de onde, à noite, desloca-se para a Trasladação.

            Ainda na tarde de sábado ocorre um dos eventos mais marcantes, quando a diretoria da festa - paroquianos encarregados de toda a organização do Círio - realiza a descida da imagem achada por Plácido, de seu nicho para a berlinda no altar da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, ficando, assim, próxima aos fiéis durante a quinzena do Círio; no momento da descida da imagem da Santa de seu altar, todos os presentes são tomados por um profundo sentimento de reverência e adoração; com os corações contritos e a alma em júbilo, os fiéis dirigem preces a Nossa Senhora e invocam sua intercessão junto a Deus.

No terceiro domingo de outubro ocorre ainda o Círio das crianças.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Círio não deixa de ser uma grande expressão de cultura de um povo que valoriza a sua tradição revivendo os seus valores típicos, valorizando aquilo que é: uma mistura de povo da floresta guerreiro e valente com o povo de além-mar, religioso e perseverante.

Mas o Círio não é apenas cultura. Acima de tudo é religiosidade que aflora nas peregrinações de preparação, nas romarias e nas procissões nazarenas. É a fé que explode nos corações, alimentada todos os anos pelos festejos nazarenos e que é, de certa forma, expressa por símbolos que conduzem a reflexões das mais variadas.

As crianças vestidas de anjos representam a máxima cristã “só entra no céu quem for igual às criancinhas”, logo, manifestam a busca da humildade, da pureza e da pequenez. As ofertas de cera, de miriti, que representam casa, órgãos, barcos, graças alcançadas variáveis, simbolizam o poder de Deus e da própria Virgem Maria, mediadora das graças. Representam também as dificuldades de muitas pessoas em conseguir aquilo que lhes é de direito civil: moradia, acesso à saúde, de que não se beneficiam. A transubstanciação da corda, que deixa de ser apenas um cabo de fios unidos e trançados entre si para se tornar um imenso cordão umbilical, as penitências e sacrifícios, refletindo aquilo que de fato somos: peregrinos deste mundo, sucumbíveis a doenças, angústias e que, caminhantes, “tomamos nossa cruz”, brotando solidariedade e carinho com os outros irmãos caminhantes.

Por fim, a sublime visão da berlinda é a tão almejada e esplendorosa imagem que todo cristão pretende ter: nossa chegada ao paraíso, onde a Virgem nos receberá de braços abertos, gloriosa e radiante do poder de seu filho, com amor maternal. “No céu, no céu, com minha mãe estarei...” Daí o êxtase, a presença sensível de Maria, a comunhão espiritual, que dá novo alento à alma. Daí o mergulho em nós mesmos, do qual afloram as lágrimas.

O Círio de Nazaré traz ainda a cada paraense, e a todos aqueles que verdadeiramente o compreendem, a missão de construir um mundo em que todos seremos mais respeitadores e respeitados, por amor a Deus e à Virgem, seremos solidários com todos aqueles que estão nas “cordas da vida”, daremos água àqueles “que têm sede de justiça”, seremos hospitaleiros e caridosos como somos com os parentes que vêm para o Círio, não teremos medos nem fraquezas, porque sabemos que há uma mãe sempre conosco, e a presença de Maria será tão sentida como quando avistamos sua berlinda.

Nesse tempo, o Círio não ocorrerá mais apenas no segundo domingo de outubro; o Círio será todo dia e, continuamente, estará ocorrendo em nós.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos em meados de setembro. Em poucas semanas, chegaremos à abertura das festividades do Círio de 2001. Será o primeiro do novo século. No ano passado, as comemorações envolveram vários números redondos: os 2000 anos de nascimento de Jesus Cristo; os 500 anos de evangelização do Brasil; os 300 anos em que o caboclo Plácido encontrou a imagem de Nossa Senhora de Nazaré e, mais ainda, os 50 anos da ordenação sacerdotal de Dom Vicente Joaquim Zico, Arcebispo Metropolitano de Belém.

Ao mencionar o nome de Dom Vicente Zico, faço, com muita satisfação, um breve parêntese no rumo deste pronunciamento para lhe render homenagem, não apenas de um Senador da República, mas, de modo particular, de um paraense que o admira por tudo o que fez em seus 51 anos de vida sacerdotal, a serem completados no próximo dia 22 de outubro, em plena quinzena das festividades do nosso Círio.

Nosso Arcebispo é carinhosamente chamado pelo povo de Dom Zico. Não é difícil entender por quê. De fala fácil e mansa, a todos Dom Zico trata com a mesma cortesia, seja rico ou pobre, pessoa do povo ou autoridade, religioso ou ateu. Ele é o que se chama verdadeiramente de pastor, sempre afetuosamente cercado por suas ovelhas.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero registrar aqui também a presença no plenário do ilustre Senador Jader Barbalho, do meu querido Pará.

Dom Vicente Zico imprimiu à arquidiocese, quando assumiu seu posto, nova feição pastoral, na qual se destaca a descentralização que promoveu em seu território episcopal para dar fluxo mais livre às iniciativas pastorais. Em sua administração, Dom Zico criou várias paróquias; igrejas foram construídas e outras reformadas; foi criada a Fundação Nazaré de Comunicação; em parceria com o Estado, foi instituído o Museu de Arte Sacra; ele ainda incentivou a criação do Centro da Cultura e Formação Cristã, um moderno complexo para atender às várias necessidades da arquidiocese.

Enfim, Sr. Presidente, sei que é difícil afirmar, mas o Arcebispo Dom Zico é, em Belém, uma unanimidade; e não das burras, mas unanimidade das pessoas inteligentes, sensíveis e perspicazes.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, espero não ter cansado V. Exªs com as cenas que retratei do Círio de Nazaré de Belém. Foi inevitável ter sido eu tomado pelo entusiasmo e pelo arrebatamento ao falar das imagens do Círio. Apenas relembrar cenas dos Círios de que participei -- acreditem V. Exªs -- é o bastante para despertar em mim e fazer reviver a emoção daqueles momentos.

O Sr. Jader Barbalho (PMDB - PA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. LUIZ OTÁVIO (Sem Partido - PA) - Com muita honra, Senador Jader Barbalho.

O Sr. Jader Barbalho (PMDB - PA) - Senador Luiz Otávio, com este aparte eu gostaria de incorporar as minhas palavras à manifestação de V. Exª, que, com muita precisão, retrata o sentimento de fé, de devoção do povo paraense a Nossa Senhora de Nazaré. Somente os que são do Pará ou os que tiveram a oportunidade de testemunhar o que ocorre no segundo domingo de outubro é que podem entender a manifestação a que V. Exª se refere com tanto brilho, que é de fé e também de cultura do povo do nosso Estado. Por isso mesmo, vim ao plenário. Não vou à tribuna fazer um discurso também, porque entendo que o pronunciamento de V. Exª é completo e retrata efetivamente o que é aquela multidão. A impressão que se tem é a de que o povo todo saiu às ruas, seja do interior ou da capital, para se unir naquele momento de fé. Essa festa faz parte não apenas da fé do povo paraense, mas também da nossa história. Quem quiser tratar do Pará inevitavelmente terá que tratar da festa de Nossa Senhora de Nazaré. Os meus cumprimentos pelo pronunciamento de V. Exª neste momento em que o mundo todo se debate, depois do episódio ocorrido em Nova Iorque, que está relacionado à fé e a todas as desinteligências que ocorrem no mundo, inclusive vinculadas à fé. Assiste-se à violência na Irlanda do Norte, porque defendem um mesmo Deus, e aquele é um povo de estágio cultural considerado elevado. No entanto, ali cometem-se as maiores violências, como as que se anunciam para o Oriente Médio, com a continuidade de tanto desamor. A vinda de V. Exª à tribuna para falar dessa manifestação de fé do povo do Pará, creio que, acima de tudo, é uma convocação ao amor, é uma convocação à fé. Por isso, os meus cumprimentos a V. Exª, extensivos também às considerações que faz a Dom Vicente Joaquim Zico. Efetivamente é um privilégio para nós, do Pará, ter um Arcebispo com a sua qualidade intelectual e com o seu caráter. Portanto, Senador Luiz Otávio, no momento em que temos o privilégio de participar desta sessão, que está sendo presidida pelo nosso outro companheiro integrante da representação do Pará, que é o Senador Ademir Andrade, peço permissão a V. Exª e peço licença ao povo do Pará para que este meu aparte seja considerado um discurso, ao encampar as belas considerações que V. Exª estará fazendo.

O SR. LUIZ OTÁVIO (Sem Partido - PA) - Com certeza, Senador Jader Barbalho. Aceito a sua solidariedade, a sua consideração, o seu respeito por todos nós paraenses neste momento e insiro no meu pronunciamento o seu aparte.

Estarei em Belém, Sr. Presidente, no próximo mês, para participar do primeiro Círio do milênio. Estarei acompanhando a maior romaria do Brasil e, além de minhas preces particulares, estarei dirigindo à Nossa Senhora de Nazaré um fervoroso pedido para que continue iluminando a visão das autoridades paraenses e de seu atual Governador, Almir Gabriel, meu companheiro de longa data, para que conduzam os destinos do Pará e de seu povo pelo caminho da solidariedade, da justiça e da paz social.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado a todos. (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2001 - Página 22304