Discurso durante a 116ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração em Belém, no próximo mês, da festa religiosa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

Autor
Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • Comemoração em Belém, no próximo mês, da festa religiosa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré.
Publicação
Publicação no DSF de 20/09/2001 - Página 22391
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • ANUNCIO, FESTA, IGREJA CATOLICA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO PARA (PA), REUNIÃO, POPULAÇÃO, MANIFESTAÇÃO, CRENÇA RELIGIOSA.

O SR. ROMERO JUCÁ (PSDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no mês que vem, mais precisamente no segundo domingo, dia 14, a população de Belém, juntamente com centenas de milhares de brasileiros de outras cidades e até de outros Estados, estará participando da maior festa religiosa deste País - o Círio de Nossa Senhora de Nazaré.

Trata-se de um evento magnífico, que impressiona vivamente por seu significado religioso e por suas proporções, ao reunir mais de um milhão de fiéis na procissão - momento culminante dos festejos. A festa do Círio de Nazaré ocorre também em outras cidades brasileiras, inclusive na capital do meu Estado, Boa Vista, aonde acorrem milhares de peregrinos roraimenses, identificados pela fé e irmanados na mesma devoção.

Mas é na capital paraense que a devoção a Nossa Senhora encontra sua mais fantástica manifestação, restando lembrar que uma feliz coincidência reaviva uma proximidade geográfica, ao unir o nome da padroeira - Nazaré - e o topônimo da Capital - Belém; proximidade essa que foi destacada pelo Cardeal Dom Lucas Moreira Neves em bela mensagem publicada pela revista Círios de Nazaré, nos seguintes termos:

“Não o puro acaso (que não existe no plano da fé), mas um gesto delicado da Divina e amorável Providência fez com que no Norte do Brasil os nomes de Belém e de Nazaré se ligassem profundamente à figura da Mãe de Deus e nossa. Belém e Nazaré falam naturalmente do Verbo de Deus Encarnado e é em conexão com este inefável Mistério que a Virgem Maria é objeto de grande devoção no Grão-Pará”.

De fato, Srªs e Srs. Senadores, o Círio de Nazaré, que reúne mais de um milhão de fiéis em procissão nas ruas da Capital paraense, é um evento único, não havendo outro, em todo o mundo, que a ele se iguale como manifestação da fé e da religiosidade de um povo. Para o povo paraense, nenhum outro evento, mesmo aqueles de mais fácil apelo, como as festas carnavalescas e o futebol, se iguala ao Círio, indescritível espetáculo que se repete há mais de dois séculos.

As origens desse culto e dessa devoção, que têm seus antecedentes em terras portuguesas, são bastante conhecidos. No ano de 1700, um humilde morador da região encontrou, num igarapé - nas proximidades do local onde foi erigida a atual Basílica de Nazaré - uma imagem de Nossa Senhora. Essa imagem era semelhante à de Nossa Senhora de Nazaré, cultuada pelos portugueses desde o século XII, e que recebera essa denominação, por sua vez, por ser cópia fiel de uma outra imagem, existente em Nazaré, na Galiléia.

A imagem, contam os devotos, foi levada para casa por esse morador, mas sumiu inexplicavelmente, sendo encontrada posteriormente às margens do igarapé. Esse fato teria ocorrido diversas vezes, levando os fiéis a acreditarem que a santa não queria deixar o local onde fora encontrada - o que os levou a construírem uma ermida, a ela consagrada, naquele local.

Desde então, o culto a Nossa Senhora de Nazaré se expandiu, sendo atribuída a ela numerosas graças recebidas pelos devotos. Com o tempo, essa manifestação religiosa não apenas se popularizou como se tornou um ritual bem mais rico, revivendo aspectos históricos e incorporando elementos do folclore e do misticismo popular.

Os festejos, atualmente, se dividem basicamente em três partes: a Trasladação, na noite de véspera, a procissão do Círio, que é o momento culminante do evento, e o Recírio, que encerra a quinzena de devoção à Virgem; mas começam, a rigor, na manhã do sábado, com a romaria fluvial, quando a imagem da santa é transportada numa embarcação desde a Vila de Icoaraci até o porto de Belém, acompanhada por centenas de barcos ricamente ornamentados. Essa procissão marítima é uma homenagem que se presta à população ribeirinha, que, dessa forma, pode também louvar a Mãe de Deus.

À noite, à luz de velas, acontece a Trasladação, quando a imagem é levada, numa berlinda, do Colégio Gentil Bittencourt até a Catedral de Belém, na Cidade Velha. A procissão faz o trajeto oposto ao do Círio e tem o simbolismo de reviver o descobrimento da imagem e seu retorno às margens do igarapé onde fora encontrada.

O domingo, como se sabe, marca o ápice dessa festa religiosa. As comemorações começam às 6 horas, com a celebração da missa, já reunindo um grande número de fiéis. A procissão do Círio, logo a seguir, é um espetáculo que impressiona mesmo os que não abraçam qualquer fé religiosa. O fenômeno é descrito com admirável precisão na revista Círios de Nazaré:

            “Um turbilhão de fé arrasta mais de um milhão de pessoas pelas estreitas ruas de Belém no segundo domingo de outubro. Sociólogos, antropólogos, historiadores, escritores, já tentaram explicar esse fenômeno multicultural e religioso que desafia a lógica humana e confunde o entendimento daqueles que pretendem reduzir o mundo ao âmbito da razão. Mas o Círio de Nossa Senhora de Nazaré - acrescenta a revista - continua sendo um mistério que só pode ser compreendido pela linguagem da fé. Trata-se de uma paixão inexplicável, mas plenamente justificada pela graça redentora do Evangelho de Cristo, que veio ao mundo redimir o homem e pôde cumprir sua missão graças ao “sim” humilde e decisivo de Maria”.

Ao longo dos cinco quilômetros que separam a Catedral de Belém, na Cidade Velha, da Basílica de Nazaré, no centro da cidade, a devoção à Virgem Maria une uma multidão de fiéis, paraenses ou não. Nesse aspecto, o Círio exerce também a função religiosa na etimologia da palavra - religare - ao reunir a população em torno de uma crença e de objetivos comuns.

Não vou me estender, aqui, sobre os múltiplos e riquíssimos pormenores e significados do Círio, os quais são bastante difundidos pelos meios de comunicação e, por isso mesmo, conhecidos pelos colegas e pela maioria de nossa população. No entanto, Srªs e Srs. Senadores, não poderia deixar de salientar a pujança dessa manifestação, em que se sobressaem a fé, a perseverança e a fraternidade do povo brasileiro.

Os dias que se seguem, até o Recírio, são marcados por concentrações religiosas e romarias em que os fiéis renovam sua fé com orações e reflexões espirituais. Curiosamente, o dia efetivamente consagrado a Nossa Senhora de Nazaré não é o segundo, mas o quarto domingo de outubro, quando acontece a Procissão da Festa.

O Recírio encerra a quinzena de louvor à Virgem, num clima de despedida e de saudade. Para os mais devotos, a festa do Círio de Nazaré marca um tempo de renovação dos compromissos e de reafirmação da fé.

Esses, Srªs e Srs. Senadores, são os significados essenciais do Círio. Ao aproximar-se a realização de mais um evento dessa natureza, quero antecipar meus cumprimentos à comunidade paraense e a todos os visitantes que participam dessa extraordinária manifestação religiosa, buscando assim renovar seus compromissos de fraternidade e de crescimento espiritual.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/09/2001 - Página 22391