Discurso durante a 121ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a caminhada de trabalhadores rurais de Santa Catarina e Rio Grande do Sul até Brasília, pela definição de um programa agrícola no País.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA. AGRICULTURA.:
  • Comentários sobre a caminhada de trabalhadores rurais de Santa Catarina e Rio Grande do Sul até Brasília, pela definição de um programa agrícola no País.
Aparteantes
Iris Rezende.
Publicação
Publicação no DSF de 27/09/2001 - Página 22930
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA. AGRICULTURA.
Indexação
  • APOIO, MOVIMENTO TRABALHISTA, TRABALHADOR RURAL, ORIGEM, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), MANIFESTAÇÃO COLETIVA, CAPITAL FEDERAL, OBJETIVO, INTEGRAÇÃO, AMBITO NACIONAL, AGRICULTURA, NECESSIDADE, AUMENTO, PRODUÇÃO, GRÃO, BENEFICIO, EXPORTAÇÃO, COMBATE, FOME.

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            O SR. CASILDO MALDANER (PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, nobres Senadoras e Senadores, quero aproveitar este momento para registrar a minha preocupação em função de uma caminhada realizada por pessoas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul até Brasília. Eu diria que se tratava de uma caminhada de integração nacional pró-agricultura. Saíram de lá percorrendo praticamente o Extremo Sul e vindo até o Planalto Central em busca da integração nacional, um movimento para que nós e o Governo abramos os olhos para que sejam delineados caminhos mais perenes, mais seguros para a agropecuária brasileira.

            Trago o assunto porque eles estiveram aqui na Esplanada dos Ministérios, montaram acampamento organizado. Muitos vieram a cavalo. Foram vinte e poucos dias andando, numa demonstração de integração e organização, uma travessia em prol não somente da geração atual, mas também das futuras, pensando em nossos filhos e no País.

            Meditemos, Sr. Presidente, nobres colegas, sobre a proposta deles para que o Brasil defina-se, organize-se e, de uma vez por todas, tenha condições de marcar um tento e definir um programa no campo da agropecuária, da produção. Eles argumentam que produzimos, no Brasil, cerca de 82 milhões de toneladas de grãos por ano. Por que não se adotar como meta para o Brasil, para os próximos anos, a produção de uma tonelada de alimentos por habitante? Teríamos, em pouco tempo, a produção de 150 a 160 milhões de toneladas de alimentos. Se houver, no País, um programa que defina a produção de uma tonelada de alimentos por habitante - há espaço e condições para isso, basta haver vontade política -, teremos condições de, em cinco ou seis anos, matar a fome de mais de trinta milhões de brasileiros que ocupam a faixa da pobreza, que precisam de alimentação. Teremos, então, condições de dizer ao mundo que não temos dinheiro para oferecer ao Oriente, à Europa, aos Estados Unidos, mas temos alimentos, podemos negociar, podemos trocar por produtos os quais o Brasil necessita, tais como matéria-prima, equipamentos industriais, o que o País não tiver.

            Demonstraríamos um espírito arrojado no comércio externo, negociando com o mundo. Essa é uma saída. Eles apresentam essa proposta com tranqüilidade, com demonstrativos que nos comovem, Sr. Presidente, nobres colegas. Nesse campo, o Brasil tem condições de enfrentar, porque temos mão-de-obra, temos matéria-prima, temos a terra, e acredito que o resultado desse trabalho não demore, seja rápido. Poderíamos responder a essa demanda em pouco tempo.

            Registro desta tribuna a preocupação de segmentos importantes do País que estão nessa cruzada, na esperança de uma política definida, clara, aberta, de passarmos de uma produção de cerca de 82 milhões de toneladas de grãos para uma produção de uma tonelada de alimentos por habitante. Teremos, em pouco tempo, a produção de 150 a 160 milhões de toneladas de alimentos, para matar a fome dos 30 milhões de pobres do Brasil e dizer ao mundo que não dispomos de armamentos, mas temos alimentos para negociar, para fazer um intercâmbio.

            O Sr. Iris Resende (PMDB - GO) - Concede-me V. Exª um aparte?

            O SR. CASILDO MALDANER (PMDB - SC) - O Presidente assinala, Senador Iris Resende, que meu tempo está se esgotando, mas, se S. Exª permitir, eu gostaria de ouvir V. Ex.ª, que foi Ministro da Agricultura e conhece o setor com uma profundidade enorme.

            O SR. PRESIDENTE (Carlos Wilson) - A Mesa concede o tempo necessário para que o Senador Iris Resende faça o aparte, mas pede a S. Exª que seja breve, porque ainda temos sobre a mesa expedientes a serem lidos.

            O Sr. Iris Resende (PMDB - GO) - Muito obrigado, Sr. Presidente, pela generosidade de V. Ex.ª. Agradeço o aparte concedido pelo Senador Casildo Maldaner. Toda vez que vejo um colega ocupar a tribuna para discutir a agricultura brasileira, sinto-me realizado, uma vez que sou profundamente ligado ao setor desde a minha meninice até hoje, como Senador da República. E se aqui estou, há pouco mais de seis anos, é também com o apoio de milhares de agricultores do meu Estado de Goiás, que tem nessa área um dos pontos fortes da sua economia, respondendo hoje por praticamente 10% da produção de grãos do País. Quero solidarizar-me com V. Exª, que também representa um Estado onde a agricultura é forte, digamos assim, uma tecnologia de ponta na área da agricultura. Acredito até que, se o Brasil inteiro se espelhasse no Sul, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, onde se observa, em cada propriedade, a diversificação da produção, já teríamos, talvez, uma posição bem mais destacada. V. Exª está credenciado para falar sobre agricultura, para gritar, para reclamar a ação das autoridades responsáveis por este setor no País. Quando se fala em agricultura, não se fala simplesmente no Ministério da Agricultura, mas também no Ministério do Planejamento, no Ministério da Fazenda, os quais, muitas vezes, até por desconhecimento de sua importância, impedem um desenvolvimento mais acentuado da agricultura em nosso País. V. Exª tem absoluta razão: o Brasil tem clima, tem terras férteis e um povo trabalhador, mas não tem o apoio devido para desenvolver a agricultura. O mundo inteiro, principalmente os países desenvolvidos, gasta uma fortuna com agricultura; aqui praticamente não se gasta nada. Os Estados Unidos têm apoiado nosso grito contra os países que concedem subsídios. Mas o que fizeram os Estados Unidos há poucos dias? Simplesmente perdoaram todas as dívidas dos seus agricultores, enquanto os nossos continuam perdendo suas propriedades, outros renegociam suas dívidas, “empurrando o problema com a barriga”, sem nunca conseguirem pagar o que devem. De um lado, distribuem-se terras - não vamos negar -, mas, de outro, os pequenos proprietários de terra são expulsos. Solidarizo-me com V. Exª, juntando ao seu grito o nosso, porque tenho certeza de que, no dia em que o Governo destacar convenientemente recursos para a agricultura no Brasil, o País não irá cuidar apenas dos 30 milhões de brasileiros famintos, ele irá abastecer o mundo, porque pode fazê-lo. Meus cumprimentos, Senador Casildo Maldaner.

            O SR. CASILDO MALDANER (PMDB - SC) - Recolho com muita honra, Senador Iris Rezende, o seu aparte, até mesmo pela experiência de V. Exª.

            O SR. PRESIDENTE (Carlos Wilson) - Senador Casildo Maldaner, a Mesa pede a compreensão de V. Exª.

            O SR. CASILDO MALDANER (PMDB - SC) - Estou por encerrar o meu pronunciamento, Sr. Presidente.

            Recolho, Senador Iris Rezende, o seu aparte, pela experiência de V. Exª, que administrou, como Ministro, a agricultura no Brasil.

            Concluo, Sr. Presidente, dizendo que é nesse caminho que iremos encontrar as saídas, porque, produzindo mais, ajudaremos a realizar a reforma agrária, vamos ajudar a fazer com que os pequenos que ainda têm um pedaço de terra não o abandonem, porque assim acabarão apenas engrossando as fileiras dos sem-terra, evitando, dessa forma, que haja maior acúmulo de pessoas nas periferias das grandes metrópoles, e ajudaremos a descentralizar ou interiorizar o desenvolvimento do Brasil. Sempre digo que precisamos descentralizar, porque as grandes metrópoles têm três problemas sérios: a habitação, o saneamento básico e a segurança pública.

            Sr. Presidente, agradeço a benevolência de V. Exª por ter permitido que nos estendêssemos um pouco no tempo.

            Muito obrigado.


            Modelo15/19/246:37



Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/09/2001 - Página 22930