Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS QUINHENTOS ANOS DO RIO SÃO FRANCISCO, REGISTRADO POR OCASIÃO DA PASSAGEM PELO RIO DO NAVEGADOR AMERICO VESPUCIO, EM 04 DE OUTUBRO DE 1501.

Autor
Arlindo Porto (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MG)
Nome completo: Arlindo Porto Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • COMEMORAÇÃO DOS QUINHENTOS ANOS DO RIO SÃO FRANCISCO, REGISTRADO POR OCASIÃO DA PASSAGEM PELO RIO DO NAVEGADOR AMERICO VESPUCIO, EM 04 DE OUTUBRO DE 1501.
Publicação
Publicação no DSF de 03/10/2001 - Página 23678
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, RIO SÃO FRANCISCO.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, RIO SÃO FRANCISCO, ECONOMIA, SOCIEDADE, BRASIL.
  • CRITICA, FALTA, POLITICA SANITARIA, PRESERVAÇÃO, COMBATE, DESMATAMENTO, POLUIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO.
  • DEFESA, CRIAÇÃO, PROJETO, REVIGORAÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ARLINDO PORTO (PTB - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. Deputados, gostaria de cumprimentar os oradores que me antecederam. Todos foram brilhantes, didáticos ao enfatizarem a importância do São Francisco.

            Quero aqui falar na condição de mineiro, como mineiro é o rio São Francisco que nasce na Serra da Canastra, na cidade de São Roque de Minas. O Município de São Roque de Minas, nesta quinta-feira, estará promovendo inúmeras manifestações, estará movimentando a sua comunidade, conscientizando-a, orientando-a e despertando-a para a importância do rio São Francisco, que lá nasce e que naturalmente, por 2.776 quilômetros, caminha em direção ao Nordeste brasileiro.

            O rio São Francisco banha Minas Gerais, Sergipe, Alagoas, Bahia, Pernambuco, com afluentes vários nesses Estados, além do Distrito Federal e Goiás. O São Francisco já teve 1.520 quilômetros navegáveis, mas hoje, lamentavelmente, isso não acontece. O rio está ameaçado. Mais do que ameaçado; é uma realidade o assoreamento. E a principal preocupação é a redução de suas águas. Falta uma política de preservação, de conscientização e de melhor aproveitamento. É desnecessário dizer - e não enfatizarei aqui - a importância econômica e social do rio São Francisco.

            Ao longo de 500 anos, o desbravamento foi acontecendo, a navegação começou e, para dar suporte a ela, o desmatamento caminhava na mesma proporção. Porque era um instrumento necessário, a madeira era usada àquela época para alimentar os vapores. E não tiveram a preocupação de recuperar aquilo que estava sendo destruído. Depois do processo de privatização, foi o desenvolvimento econômico. Veio a soja na Bahia, o carvão das siderúrgicas para Minas Gerais - da mesma forma o processo de desmatamento ocorria sem um programa de recuperação.

            Além disso, não podemos nos esquecer do assoreamento. Dezoito milhões de toneladas de terra - ou dois milhões de caminhões - são despejados anualmente no rio. A Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), cuja vazão era de 2.300m³/s em 2000, hoje tem 1.100m³/s - sua maior seca em 70 anos. O fato demonstra a necessidade de um trabalho que precisa ser analisado.

            O “Velho Chico” comemora 500 anos. Aparece no primeiro mapa do Brasil de que se tem conhecimento em 1502. Era chamado de Cará pelos índios. A partir da sua primeira visita, na primeira oportunidade do seu desbravamento, foi denominado, por Américo Vespúcio, no dia 4 de outubro de 1501, de São Francisco, em homenagem ao santo padroeiro São Francisco de Assis.

            Enfim, o São Francisco é mais do que o rio da integração; foi o rio da interiorização, o rio do desenvolvimento, que ocorreu com a ajuda dos bandeirantes.

            Não podemos esquecer que o Velho Chico está doente. O desmatamento, o assoreamento, a poluição, dejetos humanos, o mercúrio dos garimpos, agrotóxicos e o desvio das águas para irrigação - importante no processo de desenvolvimento - têm ocasionado a morte repentina ou por etapas. Os peixes estão acabando. Já não se pesca mais com o mesmo resultado no rio São Francisco. As empresas responsáveis por construir as nossas barragens, as hidrelétricas não se lembraram da piracema.

            O rio São Francisco fornece 95% da energia da nossa região, mas os reservatórios estão com pouco mais de 10%, o que mostra que a situação é mais do que crítica. Hoje, 95% dos 504 municípios da Bacia Hidrográfica do São Francisco não têm rede de esgoto. Como preservar com recursos tão parcos colocados à disposição desse processo? Não há como imaginar que um rio possa ter resultado econômico e social sem uma política de saneamento, pois cresce cada vez mais a população urbana e, conseqüentemente, aumenta o processo de deterioração da qualidade de vida. Dezesseis milhões de brasileiros vivem na região do rio São Francisco, em uma área correspondente a 7,2% do território brasileiro.

            Temos de ter, sim, essa preocupação. Em muitos Estados, Lideranças as mais variadas estão buscando chamar atenção para este momento. Quero aqui cumprimentar a Federaminas e a Associação Comercial de Minas Gerais, na pessoa do seu Presidente, Sr. Arthur Lopes Filho, que desencadeou esse movimento com os jornais Hoje em Dia e O Estado de Minas. Essa é uma forma de sensibilizar as autoridades e a população para a necessidade de obras de revitalização, como as que foram anunciadas recentemente, no valor de 01 bilhão de reais; valor que, depois de 10 anos, tem de ser revisto e reavaliado.

            O São Francisco tem mostrado um grande potencial na fruticultura, na piscicultura, na implantação de perímetros de irrigação - há 25 perímetros de irrigação ao longo do rio São Francisco.

            O “Velho Chico” está, portanto, precisando de transfusão, e, doente, não pode doar seu próprio sangue. Algo tem de ser feito de maneira rápida, célere e responsável.

            A natureza é lenta, e talvez por isso seja sábia; o homem destrói rápido. Eu espero, quem sabe possa isso tornar-se realidade, que o homem use sua capacidade tão célere de destruir para, no sentido oposto, reduzir o tempo de revitalização do rio. E isso só acontecerá, se todos nós fizermos um grande mutirão, de consciência, de presença, de participação. Com a união de todos, inclusive o Governo, poderemos fazer um grande programa que venha traçar para a sociedade seus verdadeiros caminhos, os seus verdadeiros resultados.

            Sr. Presidente, muito obrigado.

 

            


            Modelo14/30/2410:46



Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/10/2001 - Página 23678