Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a legitimidade de troca de partido pelos parlamentares. (como lider)

Autor
Roberto Freire (PPS - CIDADANIA/PE)
Nome completo: Roberto João Pereira Freire
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. IMPRENSA.:
  • Considerações sobre a legitimidade de troca de partido pelos parlamentares. (como lider)
Publicação
Publicação no DSF de 04/10/2001 - Página 23908
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. IMPRENSA.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, TROCA, PARTIDO POLITICO, REPUDIO, CRITICA, IMPRENSA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), TENTATIVA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RESTRIÇÃO, CRESCIMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS), MOTIVO, CANDIDATURA, CIRO GOMES, POLITICO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • CRITICA, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), NOTICIA FALSA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), APOIO, IMPEDIMENTO, UNIÃO EUROPEIA, IMPORTAÇÃO, PRODUTO, BRASIL.
  • APOIO, UNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB), PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS).

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            O SR. ROBERTO FREIRE (Bloco/PPS - PE. Como Líder, pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos vivendo momento de término de prazo, há um claro realinhamento político, mas não participo do reducionismo utilizado pela imprensa, que muitas vezes tacha de troca-troca partidário o que está ocorrendo. Penso que há muito mais do que isso. Há escolhas e opções feitas em função de formação de blocos, de integração em blocos. Tanto é verdade que esse movimento acontece em todos os partidos. Portanto, é necessária uma compreensão mais séria e menos alegórica do processo, que não se desenvolve como se fosse trocar de camisas de times de futebol. Trata-se da busca de blocos políticos, que têm questões locais, mas também nacionais.

            Tanto é verdade que, hoje, a Folha de S.Paulo publicou uma matéria - e este é um dos assuntos que eu gostaria de tratar -, dizendo que o Presidente Fernando Henrique Cardoso tenta barrar o aumento da sigla de Ciro Gomes, ou seja, tenta barrar tanto o aumento da bancada do PPS quanto o crescimento da liderança.

            Dois sentimentos atingem-me neste momento: o primeiro, certo constrangimento, porque o Presidente Fernando Henrique Cardoso sempre mereceu da minha parte não só amizade, como respeito. Contudo, não creio que esteja sendo tratado por Sua Excelência da mesma forma. Somos oposição, mas tivemos sempre um relacionamento fraterno - eu diria até de amizade. Por isso, não esperava da parte de Sua Excelência uma perseguição clara - que sentimos em todo o Brasil - para tentar deter o crescimento do PPS, a ponto de fazer uma opção que ninguém imaginaria há algum tempo e nem hoje. O Presidente da República diz: “Podem ir até para o PT”. Ora, o PT já fez campanha em alguns momentos e tem setores que querem vê-lo fora da Presidência da República, mas Sua Excelência prefere esse partido ao crescimento do Ciro. É evidente que isso me traz, no relacionamento pessoal, certo constrangimento. Não sei o que Sua Excelência pensa, não sei se isso ajuda ou não. Acredito que não ajuda inclusive à sua biografia.

            Por outro lado, também tenho outro sentimento meio paradoxal quanto ao reconhecimento de Sua Excelência - e isso nos conforta - de que é o PPS, é a candidatura Ciro Gomes que o Presidente teme. Fica evidenciado que, mais uma vez, Sua Excelência imagina que vai reeditar a tese de 1998, de que o adversário bom é aquele que pode ser derrotado com mais facilidade - no caso o PT, a candidatura Lula. Por isso, Sua Excelência tenta barrar Ciro Gomes, aquele que pode fazer frente ao seu candidato, ao seu bloco de poder. E talvez o Presidente pense assim devido a declarações como a de Lula, publicada pelo jornal O Globo - e esta é a segunda matéria que eu gostaria de tratar. Acredito que Lula desmentirá tal afirmação; não creio que ele tenha dito isto, mas o Globo publicou que Lula defende a barreira imposta pela União Européia aos produtos brasileiros.

            Ora, Lula é candidato à Presidência da República do Brasil, não é de representante da União Européia no Brasil! Isso é abuso, isso é absurdo nas relações do comércio internacional. Certos países estabelecem barreiras tarifárias, fitossanitárias e outros tipos de barreiras contra os produtos brasileiros, com vistas a garantir aquilo que não tem competitividade, que é atrasado, produzido pela economia agrícola de grande parte dos países europeus. E é de se estranhar que alguém, candidato à Presidência da República do Brasil, vá à Europa e reconheça uma relação atrasada, equivocada, que só sobrevive por conta da força política. Não vou chamar essa força de imperialismo, porque não é, mas é uma visão de prepotência, de arrogância, que faz com que eles promovam toda sorte de protecionismo, barrando os produtos agrícolas do Brasil e, em geral, dos países emergentes, do Terceiro Mundo ou outro nome que se queira dar, desde que não sejam países centrais europeus.

            Enfim, acredito que Lula terá que desmentir a afirmação publicada no jornal, até porque, se confirmadas declarações como essa, talvez Fernando Henrique Cardoso tente barrar o crescimento da candidatura de Ciro Gomes e tente fortalecer a candidatura do PT, de Luiz Inácio Lula da Silva.

            Por último, em nome da Presidência do PPS, quero dizer que nosso Partido espera que o episódio do Rio Grande do Sul, que nos gratifica, não seja motivo para que se perca a discussão de um projeto nacional que encantava a tantos - e acredito encanta ainda - a muitos dos que fazem parte do PDT, seja na Câmara dos Deputados, seja no Senado. Muitos não concordam com o rompimento desse diálogo por uma questão regional, por mais importante e significativo que seja o Rio Grande do Sul.

            Esperamos que isso seja superado e que retomemos o diálogo, que muito nos ajudaria, como por exemplo saudando o Senador Carlos Patrocínio pela sua opção partidária pelo PTB. Penso que seria viável uma aliança com o PPS, cuja origem está ligada à vertente comunista do PCB. É preciso resgatar a aliança histórica com os trabalhistas, hoje nas duas vertentes - o PTB e o PDT. Espero que isso volte a acontecer e acredito que setores do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e Lideranças do PDT admitem que esse, talvez, seja o caminho a ser retomado.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

            


            Modelo15/2/246:03



Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/10/2001 - Página 23908