Pronunciamento de Lúcio Alcântara em 03/10/2001
Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
COMEMORAÇÃO AO CENTENARIO DE NASCIMENTO DO EX MINISTRO CEARENSE JOSE MARTINS.
- Autor
- Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
- Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- COMEMORAÇÃO AO CENTENARIO DE NASCIMENTO DO EX MINISTRO CEARENSE JOSE MARTINS.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/10/2001 - Página 23936
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, JOSE MARTINS RODRIGUES, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), POLITICO, LUTA, DEFESA, DEMOCRACIA, COMBATE, REGIME MILITAR.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB - CE) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fruto de nossa juventude como País e Nação, nós brasileiros temos, como perspectiva do mundo, aquele que ainda virá, aquele que ainda não alcançamos. Muito pouca importância damos ao mundo que passou, à história que já vivemos. Pensamos algo como o adolescente rebelde que se recusa a ouvir a voz da sabedoria dos mais velhos, pleno de confiança em sua energia jovem e intrépida, muitas vezes temerária.
Todavia, Sr. Presidente, nós, que já vimos o quanto a falta de memória do passado pode ser prejudicial para os indivíduos e para os grupos sociais, sabemos a importância de cultuar os exemplos que nossa gen te deixou ao longo da construção deste nosso Brasil.
Nessa linha de pensamento, Senhoras e Senhores Senadores, eu gostaria de lembrar, hoje, uma figura da História da República brasileira - José Martins Rodrigues, cearense de Quixadá, que, se vivo fosse, teria completado cem anos de idade no último dia 2 de setembro.
Não sei se a memória do povo brasileiro haverá de, em futuro mais longínquo, confinar a lembrança de Martins Rodrigues aos compêndios de história e aos anais do Parlamento brasileiro. Contudo, qualquer que seja o lugar que lhe será reservado, importante hoje é registrar que ele foi um dos defensores da democracia nos anos 60 e que hoje podemos respirar e praticar.
Bacharel, em 1922, pela Faculdade de Direito do Ceará, logo ingressou na política, tornando-se Deputado Estadual, em 1925. Em 1930, perde o mandato, só retornando em 1935, quando ocupa as funções de Secretário do Interior e da Fazenda do Estado do Ceará, no período até 1943.
Em 1945, filia-se ao PSD, mas vai para o Rio de Janeiro advogar, não se candidatando a cargo eletivo. De 1947 a 1955, ocupa as funções de membro do Conselho Nacional de Educação e de consultor jurídico do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica.
Em 1955 inicia sua brilhante trajetória no Parlamento Nacional, elegendo-se Deputado Federal pelo Ceará. Desde logo demonstra sua vocação para a liderança, tomando parte ativa na campanha presidencial de JK e tornando-se secretário-geral do PSD, cargo que ocupa de 1958 a 1961, quando irrompe a crise institucional com a renúncia de Jânio Quadros.
Em meio à forte instabilidade que se criou, Martins Rodrigues, nomeado Ministro da Justiça pelo Presidente interino Ranieri Mazilli, foi um dos principais articuladores do PSD junto aos Ministros militares e dentro do Congresso Nacional para que a saída parlamentarista viabilizasse a posse de João Goulart, evitando uma ruptura institucional, que, tovadia, acabaria acontecendo três anos após.
Assumindo João Goulart, Martins Rodrigues retorna à Câmara dos Deputados, onde acabaria por entrar em choque com o Presidente da República. Após a queda do Presidente, em 1964, Martins Rodrigues torna-se o líder do PSD na Câmara, então, o partido majoritário na duas Casas do Congresso Nacional.
Articulador refinado, homem de princípios, não teme investir-se de missões difíceis ou delicadas, como a defesa do mandato do então Senador Juscelino Kubitschek. Consumada a cassação do ex-Presidente, a 3 de junho de 1965, Martins Rodrigues posiciona-se pelo afastamento do PSD da base de sustentação do Governo.
Com a crise criada pela extinção dos partidos políticos do regime de 46, Martins Rodrigues torna-se líder do Bloco Social Democrático e secretário-geral do MDB, partido que surgiria do Bloco em dezembro de 1965.
Na luta pela preservação do exercício democrático, Martins Rodrigues defende que enquanto houver uma porta aberta para a mobilização da opinião pública, todo esforço deveria ser tentado.
Torna-se um crítico do Governo Costa e Silva e, em 1967, é um dos redatores do Manifesto da Frente Ampla. Com o endurecimento do regime, Martins Rodrigues assume posições que se chocam cada vez mais com os setores radicais do governo, tendo seu mandato cassado a 16 de janeiro de 1969. Encerra-se ali a carreira política de um dos mais bem equipados homens públicos que o Brasil conheceu nas décadas de 30 a 60.
Por mais de trinta anos Martins Rodrigues foi um dos mais combativos políticos na defesa da democracia e das liberdades públicas. Seu nome seria por muito tempo referência obrigatória da famosíssima Coluna do Castelo, no Jornal do Brasil.
Personagem voluntarioso, partilhou a mesma cela com Carlos Castello Branco e Sobral Pinto, ao final de 1968. Não cede à tentação da acomodação para preservar posições de destaque, deixando a vida pública e retornando à defesa do Direito em sua banca de advogado no Rio de Janeiro.
Foi Castello que, no dia seguinte ao enterro do velho amigo, escreveu em sua coluna a frase que utilizo para concluir este registro em memória de um de nossos maiores vultos da história recente da democracia brasileira.
Disse, pois, Castello, a respeito de Martins Rodrigues: Pobre, íntegro, com o dom de aperfeiçoar-se na adversidade e no sofrimento, cumpriu José Martins (Rodrigues) um destino digno de ser cultuado pelos que insistem em dedicar-se à vida pública deste País.
Eram essas as minhas palavras de saudação à memória de Martins Rodrigues.
Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.
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