Pronunciamento de Ramez Tebet em 20/09/2001
Fala da Presidência durante a 117ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal
Pronunciamento do orador ao assumir a Presidência do Senado Federal.
- Autor
- Ramez Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
- Nome completo: Ramez Tebet
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Fala da Presidência
- Resumo por assunto
-
SENADO.:
- Pronunciamento do orador ao assumir a Presidência do Senado Federal.
- Publicação
- Publicação no DSF de 21/09/2001 - Página 22520
- Assunto
- Outros > SENADO.
- Indexação
-
- RESUMO, ATIVIDADE POLITICA, ORADOR, HONRA, POSSE, PRESIDENCIA, SENADO.
- ANALISE, POLITICA NACIONAL, EVOLUÇÃO, DEMOCRACIA, ETICA, AUMENTO, CONSCIENTIZAÇÃO, POPULAÇÃO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, SENADO, DEBATE, PROBLEMAS BRASILEIROS, ESPECIFICAÇÃO, REFORMA TRIBUTARIA, POLITICA SOCIO ECONOMICA, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, minhas senhoras e meus senhores, tenho mais de 40 anos de atividade política. Sou, portanto, testemunha da história recente do Brasil. Do tempo em que o então MDB, liderado por Ulysses Guimarães, enfrentava os cães de um regime autoritário. Do tempo em que se lutava pela liberdade de expressão e pelos direitos políticos.
Devo dizer aos senhores e às senhoras que Deus me deu muito mais do que pedi na vida. Certa vez, pedi ao povo de minha cidade, Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, que me fizesse prefeito da cidade. E Deus permitiu, com o beneplácito daquele povo bom e generoso, que eu pudesse administrar o Município que me serviu de berço. Depois, pedi ao povo que me fizesse deputado estadual e obtive a maior votação do Estado. Quis passar pela Câmara Federal, porque sonhei ser Constituinte, mas os meus companheiros me indicaram para Vice-Governador, e então eu fui às praças públicas nessa qualidade. Fui Governador por dez meses, e então pedi ao povo que me fizesse Senador, e, mais uma vez, esse povo, com a ajuda de Deus, me atendeu.
Recentemente, fui Ministro da Integração Nacional, por pouco tempo, é verdade, mas tempo suficiente para robustecer a reflexão sobre a imensidão do nosso País, sobre as suas diferenças e desigualdades, sobre sua multiplicidade e diversidade e sobre o imenso desafio que nós, políticos, temos: o de diminuir as distâncias entre os brasileiros. Distâncias que não se medem apenas em quilômetros, mas que só se podem mensurar olhando fundo as feridas que se abriram em séculos de injustiças sociais e econômicas, e que nós, a muito custo, estamos enfrentando.
Recebo agora a missão de ser Presidente do Senado, que eu considero uma benção, porque me coloca certamente diante do maior desafio da minha vida.
Posso afirmar com certeza: os homens passam, seu trabalho permanece. Permanecem, senhoras e senhores, todas as marcas que nós deixamos, através do nosso trabalho, sobre a Terra. Quando nós trabalhamos em conjunto, nos ligando ou nos unindo a outras pessoas, nós criamos instituições. Quando mais forte for a ligação entre as pessoas, mais fortes serão as instituições. Os homens passam, as instituições ficam.
Depois de cumprir diversas missões, como a de relatar a CPI do Sivam, de presidir a CPI do Judiciário, de ser o relator do Orçamento da União, de presidir o Conselho de Ética, recebo a honra e a benção de poder dirigir esta Casa, certamente a maior instituição do povo brasileiro. Porque é aqui, nesta Casa, que se defende a liberdade, a democracia, o direito e o cumprimento das leis. E, como dizia Joaquim Maria Machado de Assis, o cumprimento às leis é a primeira expressão da liberdade!
Sras e Srs. Senadores, é com profunda satisfação, muita emoção mesmo, que assumo hoje a Presidência do Senado Federal. A história, os grandes debates que se travaram aqui e a contribuição desta Casa à formulação do processo político brasileiro fazem do Senado uma instituição singular. A satisfação de presidir o Senado vem, em parte, pela importância da instituição. Mas também é motivo de imensa honra merecer o voto da maioria das senhoras e dos senhores Senadores para presidir esta Casa no momento em que ela passa por um questionamento de seus valores.
É inegável que muitos outros colegas reúnem qualificações extraordinárias e poderiam estar aqui ocupando esta Presidência. Também por isso, ocupar esta posição é uma imensa honra. Ser lembrado num momento difícil como este pelo qual passa o Senado aumenta minha responsabilidade e, ao mesmo tempo, multiplica a minha disposição para trabalhar de forma incansável e dar a minha contribuição para que o Senado volte a merecer a aprovação da sociedade brasileira.
Estamos vivendo um dos momentos mais ricos da história da política brasileira. É sempre difícil avaliar os fatos sem o distanciamento do tempo, mas o que se assistiu na política brasileira, no curto período de 15 anos, representa um impressionante processo de amadurecimento político. Algumas vezes, seria incorreto deixar de reconhecer que a sociedade andou à frente de seus representantes, evoluiu mais rápido do que nós, homens públicos.
A sociedade não tolera mais certos comportamentos que, no passado, eram deixados de lado. Essa mudança de comportamento vai além da política e pode ser percebida em diversos segmentos sociais. Nas empresas, por exemplo, passou-se a exigir uma maior participação na solução de problemas sociais, antes debitados apenas ao Estado. As empresas adquiriram, portanto, uma responsabilidade social antes desconhecida. O crescimento do voluntariado é sensível e emocionante. As pessoas têm assumido compromissos sociais, têm demonstrado o desejo de participar, de forma atuante, da solução de problemas sociais, têm demonstrado o desejo de ajudar o próximo.
Individual ou coletivamente, os brasileiros mostram amadurecimento e tomam consciência da importância de estar participando ativamente de cada movimento da vida nacional.
O mundo político acompanha essa evolução e essa exigência de uma nova conduta ética. No processo de depuração política, cujo marco foi a cassação de um presidente da República, seguiram-se diversas ações nos Municípios brasileiros, e outro marco desse processo foi a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
O Congresso Nacional e os legislativos estaduais e municipais se mostram sintonizados com este novo momento político. Atendendo à vontade da sociedade, tornaram-se mais rígidos e menos tolerantes com práticas políticas indesejáveis.
Srªs e Srs. Senadores, Srs. Deputados e demais autoridades, se podemos nos orgulhar da imparcialidade com que temos tratado nossos Pares, não podemos dizer o mesmo quanto à forma como temos nos comportado nos debates políticos. E, mais do que por qualquer outro motivo, foi dessa intolerância política que resultou o desgaste da imagem desta Casa. O Senado é e haverá de ser a Casa dos grandes debates políticos, dos grandes oradores, da discussão das grandes idéias com respeito ao contraditório, sempre pensando em minimizar as desigualdades sociais no imenso e rico território brasileiro.
É isto, Sras e Srs. Senadores, que me parece essencial retomarmos no Senado: a capacidade de discutir os grandes temas nacionais, livres das diferenças políticas e preocupados, primordialmente, com os interesses nacionais e os dos nossos Estados.
Há questões fundamentais ao País. A reforma política, por exemplo, essencial para que estejamos em sintonia com as exigências da sociedade, anda lentamente. A reforma tributária, essencial para desafogar as empresas dessa penosa burocracia, sem falar na sufocante carga dos tributos. E essa reforma tributária não tem saído do papel.
É mais do que hora de trocarmos a intolerância pela harmonia. É mais do que hora de trocarmos as inócuas disputas pessoais pelo entendimento, pela solidariedade e pela fraternidade. Isso não é essencial apenas para o Senado da República; é essencial para o Brasil.
Em que pese o amadurecimento político da sociedade brasileira, o Brasil vive praticamente uma guerra social. O número de homicídios nas grandes cidades e dos casos de seqüestro, o crescimento do tráfico de drogas, as explosões de violência nos presídios são prova inconteste do quadro que permeia o nosso País.
O modelo econômico adotado, que tem o mérito da estabilidade da moeda e da maior eficiência na prestação de serviços à população, ainda não se mostrou eficaz no combate às desigualdades sociais que todos desejamos. Por isso, na minha rápida passagem pelo Ministério da Integração Nacional, adotamos o conceito “Igualdade para o desenvolvimento”. Tenho a convicção de que o Brasil só será um País desenvolvido, quando os brasileiros de todas as regiões tiverem iguais oportunidades de crescimento social e econômico. Esse é o nosso desafio e é o desafio das próximas gerações.
O Senado da República não tem o direito de manter disputas de ego, enquanto o País vive numa situação dessas, enquanto a igualdade de oportunidades ainda é apenas um objetivo e uma meta a ser alcançada.
É isso, mais do que qualquer outra coisa, que se pede, pelo entendimento entre os Partidos, entre os homens públicos e entre as diversas correntes de pensamento. Isso porque o Brasil - repito - não aceita mais conviver com suas desigualdades sociais. E é essa a resposta que toda a sociedade brasileira espera da classe política.
A intolerância e a falta de entendimento estão prestes a jogar o mundo numa nova guerra. O Brasil deve estar preparado para enfrentar as conseqüências disso, mesmo sem estar diretamente envolvido no conflito. A guerra que infelizmente se anuncia terá reflexos na economia brasileira. E, com isso, exigir-se-á ainda mais esforços e criatividade para enfrentar as nossas desigualdades. Também por isso, o diálogo e o entendimento são fundamentais.
É mais do que hora de trocarmos a intolerância pela harmonia. É mais do que hora de trocarmos as inócuas disputas sociais pelo entendimento e pelo interesse público.
O povo brasileiro espera de nós uma resposta à desigualdade social; espera de nós a manutenção do ordenamento político e econômico, a predominância da ética, o respeito às instituições. Esse é o nosso desafio. Todo o resto é vaidade, é vento que passa.
Sras Senadoras e Srs. Senadores, estejam certos de que não assumo a Presidência do Senado induzido. Assumo convencido das minhas responsabilidades, assumo convencido de que a hora é de paz, assumo convencido de que a hora é de entendimento, assumo convencido de que a hora é de respeito ao direito das minorias, assumo num momento grave pelo qual passam os destinos de toda a humanidade.
Quero e haverei de honrar o Senado da República de uma só forma, da forma como sei fazer: trabalhando incansavelmente, lutando bravamente para atingir esses objetivos, para fazer desta Casa verdadeiramente uma Casa da Federação brasileira, uma Casa de reflexão. Vamos fazer desta Casa uma Casa onde possamos conciliar os diversos interesses, desde que tenhamos uma meta, qual seja, a consecução do bem comum, pelo qual todos temos de lutar, em favor da grandeza e do progresso da nossa Pátria.
Srªs e Srs. Senadores, sei que o tempo já vai longe. Não sei fazer outra coisa em minha vida que não trabalhar. Recebo, portanto, esta missão com a mais profunda humildade, estejam certos. Vou honrar esta cadeira do Senado da República; vou lutar em defesa do Senado da República, independentemente de coloração partidária. A instituição está acima de quaisquer Partidos Políticos.
Vou pedir licença para concluir este breve pronunciamento. Mas permitam-me iniciar esta Presidência como o Senhor do Céu nos ensinou: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Peço a Deus que nos abençoe; peço a Deus que nos dê força e união.
Muito obrigado, Srªs e Srs. Senadores.
Brasil, aqui está um filho seu que não vai decepcioná-lo. Brasil, aqui está um filho seu que tem espírito cívico, que tem espírito de brasilidade, que irá trabalhar com todo os nossos irmãos brasileiros. Brasil, aqui está um filho seu que está olhando a tragédia lá fora, tirando exemplos para dizer que, apesar de tudo isso que falamos, esta é uma Pátria maravilhosa, que não tem vulcões ou terremotos; nesta Pátria nós temos algumas diferenças, mas essas diferenças não são insuportáveis. Esta é uma terra da esperança.
Tenho fé no futuro, confio em Deus. Confio em cada Senador. Aqueles que votaram em branco talvez quisessem simbolizar que o momento é de paz. Recebo os votos em branco como se dissessem que queremos paz nesta Casa.
Agradeço tanto àqueles que votaram em mim como aos que votaram em branco, porque esse também deram uma mensagem. Não recebo esses votos com outro sentido senão com o de uma mensagem de paz, de harmonia, porque é isso que o branco significa.
A todos nós que estamos juntos, vamos para a frente, Srªs e Srs. Senadores.
Muito obrigado a todos os que me honraram e a todos os que confiaram em mim.
Muito obrigado ao meu Partido.
Muito obrigado àqueles que somaram comigo.
Estou aqui no Senado da República, onde cada um de nós representa o seu Estado.
Permitam-me, eu quis encerrar, mas Deus sabe que eu falo do fundo do meu coração e não posso encerrar sem render uma homenagem ao povo do Estado de Mato Grosso do Sul, que, sei, está lá torcendo pelo seu filho, que, sei, está lá orando pelo seu filho. Quero dirigir umas palavras ao meu Mato Grosso. Quero dirigir umas palavras à minha família, aos meus amigos mais fraternos, àqueles que acreditaram e me conhecem de perto. E quero dizer àqueles outros que não me conhecem que esta Presidência vai fazer com que eu seja conhecido pelo caminho da retidão, da honestidade e do serviço à Pátria brasileira.
Muito obrigado.
Cumprida a finalidade da sessão, declaro-a encerrada.
Muito obrigado.
Modelo111/23/2411:49