Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

INTERPELAÇÃO AO MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, SR. CELSO LAFER.

Autor
Roberto Saturnino (PSB - Partido Socialista Brasileiro/RJ)
Nome completo: Roberto Saturnino Braga
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • INTERPELAÇÃO AO MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, SR. CELSO LAFER.
Publicação
Publicação no DSF de 04/10/2001 - Página 23966
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, TERRORISMO, QUESTIONAMENTO, FUTURO, POLITICA INTERNACIONAL, POSSIBILIDADE, ACORDO, PAZ, PAISES ARABES.
  • REGISTRO, NECESSIDADE, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), COMBATE, TERRORISMO, DEFESA, PAZ, MUNDO.

            O SR. ROBERTO SATURNINO (PSB - RJ. Sem revisão do orador.) - Sr. Ministro, as questões e indagações que eu havia anotado todas já foram feitas e muito bem respondidas por V. Exª, razão pela qual aproveito esta oportunidade e o ensejo para brevemente tecer uma consideração e pedir que V. Exª, em contraponto, diga algo a respeito desta minha expectativa.

            Freqüentemente tragédias produzem frutos. É possível que, dessa tragédia, desse episódio inominável, condenável, repudiável sob todos os pontos de vista, com perda de milhares de vidas humanas, resulte, por exemplo, um acordo definitivo de paz no Oriente Médio, entre Israel e Palestina. Esse acordo, a meu juízo, poderia ter resultado de uma ação mais eficaz, mais frontal de manifestação de vontade política por parte do Governo americano, que esteve próximo, mas recuou. Mas é possível que, desse episódio trágico, condenável, resulte em algo pelo qual a humanidade esperou tanto tempo.

            Ao mesmo tempo, é possível que resulte também uma revitalização da Organização das Nações Unidas - ONU. Pode ser que eu esteja equivocado - e pediria, então, a V. Exª a apreciação -, mas, a meu juízo, os Estados Unidos, mesmo fiados no seu poderio, na sua hegemonia incontestável e incontrastável, estavam colocando em um certo desapreço a ONU, que constituiu-se em grande esperança da humanidade. Ela via definhando - não sei se seria essa a expressão - vinha perdendo substância em face do significado que representou.

            E é possível que, agora, a ONU seja revitalizada. Só pode ser a ONU. O combate ao terrorismo é uma questão da humanidade e tem de ser tratada pela única entidade que pretende representar politicamente a humanidade, que é a Organização das Nações Unidas. Tenho até um certo receio da ocidentalização desse problema, na medida em que se invoca, por exemplo, o TIAR. Essa questão não é ocidental, e sim de toda humanidade; ela é mundial, e só a ONU tem credenciais e possibilidades de resolvê-la.

            Eu vou lembrar aqui um pequeno texto de Kant, que V. Exª certamente conhece muito bem, em que ele diz acreditar na paz perpétua, aquela que chega como fruto do desespero, do horror, da inviabilidade da continuidade da guerra. Ou seja, chega-se a um ponto em que a continuidade da guerra é inviável. Então, o ser humano entende que a paz é a única saída.

            Pode ser que, exatamente, nós estejamos atingindo esse ponto ou estejamos próximos dele. Se um poderio da dimensão militar e econômica do norte-americano não foi capaz de evitar o que aconteceu, então, que escudo é esse?

            Não há mais possibilidade de escudo nenhum. O que precisa haver é a paz, mesmo! A paz precisa ser concertada em um organismo internacional multilateral; mas internacional, mundial, não apenas ocidental. Isso requer, enfim, uma revitalização da Organização das Nações Unidas.

            Eu não vou me estender mais. V. Exª certamente captou o meu pensamento. Eu gostaria de ouvir V. Exª sobre, enfim, essas reflexões e, quem sabe, essas esperanças de se acreditar mais na razão concertada diante dos fatos incontrastáveis.

O SR. ROBERTO SATURNINO (PSB - RJ) - Muito obrigado, Sr. Ministro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/10/2001 - Página 23966