Pronunciamento de Nabor Júnior em 15/10/2001
Discurso durante a 134ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Apelo às autoridades no sentido da agilização do acordo de construção da rota que ligará o Brasil ao Pacífico, pelo Estado do Acre.
- Autor
- Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
- Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA DE TRANSPORTES.:
- Apelo às autoridades no sentido da agilização do acordo de construção da rota que ligará o Brasil ao Pacífico, pelo Estado do Acre.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/10/2001 - Página 24759
- Assunto
- Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
- Indexação
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- COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DESCRIÇÃO, VIAGEM, EMPRESA, TRANSPORTE DE CARGA, CAMINHÃO, REGIÃO SUDESTE, DESTINO, PORTO, PAIS ESTRANGEIRO, PERU, OBJETIVO, EXPORTAÇÃO, ASIA, PRODUTO NACIONAL.
- DEFESA, LIGAÇÃO, VIA TERRESTRE, BRASIL, OCEANO PACIFICO, NECESSIDADE, DEFINIÇÃO, ITINERARIO, REGISTRO, ACORDO, GOVERNO BRASILEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, PERU, CONTINUAÇÃO, RODOVIA, MUNICIPIO, RIO BRANCO (AC), ESTADO DO ACRE (AC), DIREÇÃO, FRONTEIRA, BENEFICIO, COMERCIO EXTERIOR.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o jornal O Estado de S.Paulo, em sua edição de ontem, dia 14 de outubro de 2001, estampou uma longa e bem fundamentada matéria sobre a viagem feita por um comboio de caminhões da transportadora Expresso Araçatura que, ao longo de 13 dias, foi de Americana, no interior paulista, até o Porto de Callao, no Peru.
É uma leitura que se recomenda a todos os interessados em realmente compreender o contexto em que vivemos: a necessidade de fazer chegar os produtos brasileiros aos portos sul-americanos do Pacífico e, de lá, atingir os países asiáticos. No retorno, os grandes caminhões trarão produtos consignados a nossos importadores.
O dirigente da empresa, Sr. Oswaldo Dias de Castro Júnior, afirmou que, ao estabelecer um caminho terrestre para portos peruanos, seu objetivo é “facilitar as exportações brasileiras para países do Extremo Oriente, como Japão, China e Coréia”. E, com números concretos, prova que isso é realmente possível. A rota utilizada por seus veículos diminui em cerca de quatro mil milhas marítimas, 7.408 km, o percurso das ligações tradicionais entre o Brasil e o mercado asiático. E acentua:
A distância média entre os portos brasileiros no Atlântico e o porto de Yokohama, no Japão, é de 12 mil milhas. Desse porto japonês até os portos do Chile e do Peru, no Pacífico, a distância é de cerca de 8.700 milhas. A ligação com o Pacífico, saindo de Santos, é feita atualmente pelo Canal do Panamá ou pelo Cabo Horn [o que agora se promete, segundo a empresa, é um considerável barateamento do frete, em cargas como a citada na reportagem, entre outros itens, tecidos fabricados no interior paulista].
A rota seguida pelo comboio do Expresso Araçatuba cortou três Estados brasileiros e dois países vizinhos: Bolívia e Peru. Saiu de Americana, em São Paulo, passou por Mato Grosso do Sul e atingiu Mato Grosso; de Cáceres, na divisa com a Bolívia, cruzou a fronteira e entrou na cidade de San Vicente, no rumo dos Andes, atravessados com grandes sacrifícios físicos para seus motoristas e ajudantes. O primeiro grande porto alcançado foi Matarani, já no Peru.
Antes de qualquer outra consideração, quero expressar meus cumprimentos aos dirigentes do Expresso Araçatuba, pela corajosa e lúcida iniciativa. É de pioneiros assim que o Brasil está precisando se, realmente, estamos dispostos a construir a grande Nação que nossos filhos merecem e nos cobrarão. Há várias décadas venho lutando pela abertura dessa ligação terrestre entre os dois grandes oceanos, defendendo a sua viabilidade técnica e mostrando os benefícios econômicos que dela advirão para o País.
O Brasil tem, realmente, dimensões continentais; embora, fundamentalmente, voltado para o Leste, está a uma distância relativamente pequena do litoral oeste da América do Sul, das praias do Oceano Pacífico. Que a ligação rodoviária para o Pacífico será realidade, a médio prazo, ninguém pode duvidar. A questão, porém, é definir o traçado mais realista, que seja também o mais rentável e o mais importante para o desenvolvimento e a integração nacionais.
Tal decisão, na realidade, já foi consagrada em acordos bilaterais entre os Governos do Brasil e Peru. Ela segue, em essência, o traçado da rodovia BR-364 até Rio Branco, no Acre; daquela capital, passa para a BR-317 até Assis Brasil; cruza a fronteira peruana em Inapari e, de lá, cruza os Andes em direção ao porto de Callao, capaz de receber navios de grande calado e a uma distância vantajosa dos chamados “Tigres Asiáticos”, as grandes potências econômicas do Extremo Oriente.
Além disso, esse traçado permitirá o acesso racional e coerente a toda a costa ocidental das Américas, inclusive à Califórnia, nos Estados Unidos, e à Vancouver, no Canadá.
O Brasil, praticamente, já cumpriu sua parte - e o Ministério dos Transportes, comandando com firmeza e bom senso por Eliseu Padilha, está fornecendo os recursos e todo o apoio para que se faça o pouco ainda por fazer, com presteza e qualidade técnica.
O asfalto já cobre todo o traçado, desde o leste do País até Brasiléia, no Acre. Dos 110 km, dali até Assis Brasil, última cidade antes da fronteira, faltam pavimentar apenas 60 km, cujas obras seguem em ritmo acelerado. Se for mantido esse ritmo, até o final do próximo ano o tapete betuminoso estará implantado em 100% do traçado, no que concerne ao nosso País.
Os peruanos estão pagando o preço de seus conflitos internos, principalmente da recente crise, que levou à destituição do ex-Presidente. O Sr. Alberto Fujimori, aliás, prometera-me, pessoalmente, mandar construir, com urgência, uma ponte, de cerca de mil metros, sobre o Rio Madre de Diós, em Puerto Maldonado; se isso já tivesse sido efetivamente feito, estaria eliminado o principal obstáculo para a implantação de todo o sistema rodoviário transcontinental.
Por que dou tanta ênfase ao traçado através do Acre?
Basta olhar o mapa da América do Sul. Basta ler com atenção reportagens sérias, como a publicada ontem no consagrado Estadão, retratando a epopéia da travessia dos Andes e do acesso ao Pacífico através da Bolívia e, depois, percorrendo terras peruanas. Diz a matéria:
Poeirentas estradas de terra, altitude de 4.755 m acima do nível do mar, calor de até 34 graus positivos e frio de 2 graus negativos: a Cordilheira dos Andes, o deserto de Atacama. Esses foram os principais obstáculos enfrentados pelo comboio de três carretas e duas caminhonetes, levando 15 pessoas a bordo, ao longo dos 3.288 km que separam Cáceres, no Mato Grosso, a Lima, no Peru. A viagem, que inaugurou a rota terrestre do Expresso Araçatuba entre São Paulo e a capital peruana, começou às 3 horas e 55 minutos da madrugada do dia 19 de setembro, quando o grupo, sonolento, deixou Cáceres, a 215 km de Cuiabá.
As dificuldades descritas pelo repórter que acompanhou a viagem, Evanildo da Silveira, estavam apenas começando, como ele mesmo narrou: “Os primeiros 550 km, até San Xavier, na Bolívia, são só de terra”. As coisas começaram a melhorar, um pouco, nas proximidades de Santa Cruz de La Sierra, onde foi entregue aos importadores locais a primeira parte da carga transportada pelo comboio: pirulitos. Cinqüenta e duas toneladas de pirulitos!
Sr. Presidente, Sras e Srs Senadores, permitam-me V. Exas recomendar, mais uma vez, a leitura da reportagem publicada ontem no Estado de S.Paulo, sob o título “Caminhão já liga Brasil ao Peru”, destacando que “são 5.300 km percorridos em terra” e que o comboio pioneiro atravessou os Andes em direção ao Oceano Pacífico. Mas todos temos a responsabilidade de tirar, dessa atividade econômica, o caráter de aventura enfatizado pelo repórter. Estamos falando de uma perspectiva concreta, madura, verdadeira: o empresário Oswaldo Dias de Castro Júnior, diretor da empresa transportadora, afirma que as cargas transportadas em seus caminhões, nos dois sentidos, poderão somar US$15 bilhões anuais, propiciando fretes de 10 mil toneladas, com faturamento acima de US$2 milhões.
Isso - é importante explicitar - se continuar sendo usada a rota através da Bolívia, que consome 13 dias de viagem, em condições normais. Porque se passarmos a usar o percurso através do Acre, diretamente para os portos peruanos de Matarani e Callao, poderemos cortar em até 05 dos 13 dias. Quando o fizermos, estaremos promovendo uma considerável economia de tempo, de dinheiro e de combustível, que tanto pesa nas dificuldades financeiras do País.
O Governo do Brasil, através do Ministério dos Transportes, está fazendo a sua parte. É hora de nossa diplomacia entrar com firmeza e determinação nesse jogo, encaminhando com os peruanos o cumprimento da parte que lhes cabe. Inclusive, porque tudo é do interesse deles, pois o acesso que teremos ao Pacífico e ao Oriente, eles terão à costa leste das Américas, à Europa e à África.
No início do século passado, já se dizia que “governar é abrir estradas”.
Hoje, essa verdade se afigura ainda mais comprovada, exigindo dos administradores públicos e dos representantes da sociedade uma tomada de consciência para a necessidade de tornar mais confiáveis, perenes, objetivas e econômicas as ligações rodoviárias; a globalização acelerada das atividades exige o desenvolvimento de ações múltiplas voltadas para a circulação de riquezas e de pessoas.
Por seu simbolismo prosaico, os pirulitos deixados na Bolívia pelo comboio pioneiro do Expresso Araçatuba atestam o que poderemos conquistar, em diversidade e em extensão, através das rodovias que nos levam aos países vizinhos e aos portos do Pacífico, neste início de milênio: estaremos enriquecendo as exportações e dando novo fôlego ao nosso parque industrial, além de permitir aos cidadãos o acesso a produtos e serviços mais baratos.
E essa escalada favorável ao Brasil receberá um poderoso incentivo no dia em que os caminhões circularem, rotineira e eficazmente, pelo Estado do Acre. É a mais segura, rentável e racional de todas as rotas disponíveis - e falta pouco para tornar-se a realidade com que sonhamos há tantas décadas.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
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