Discurso durante a 135ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

COMENTARIOS AO AUMENTO DA PRODUTIVIDADE AGRICOLA NAS PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO OESTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA, RESULTADO DA ATUAÇÃO DAS COOPERATIVAS ASSOCIADAS A TECNOLOGIA DA EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA - EMBRAPA.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PECUARIA.:
  • COMENTARIOS AO AUMENTO DA PRODUTIVIDADE AGRICOLA NAS PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO OESTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA, RESULTADO DA ATUAÇÃO DAS COOPERATIVAS ASSOCIADAS A TECNOLOGIA DA EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUARIA - EMBRAPA.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2001 - Página 24903
Assunto
Outros > PECUARIA.
Indexação
  • ELOGIO, MELHORIA, PRODUTIVIDADE, PRODUTOR RURAL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), CRIAÇÃO, COOPERATIVA AGRICOLA, PRESERVAÇÃO, PEQUENO PRODUTOR RURAL, INCENTIVO, CONCORRENCIA, AUMENTO, QUANTIDADE, QUALIDADE, SUINOCULTURA, UTILIZAÇÃO, INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL, APOIO, ORIENTAÇÃO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CASILDO MALDANER (PMDB - SC) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, nem sempre os deveres da função parlamentar nos fazem subir a esta tribuna para trazer-lhes boas notícias. De fato, com freqüência maior que a desejável, vemo-nos premidos a vir aqui fazer denúncias, apontar para pequenos e grandes erros do Poder Executivo ou para necessidades urgentes das populações de nossos Estados, quando atingidas por catástrofes naturais ou provocadas pelo homem. Por isso, com grande satisfação, exponho hoje fatos alvissareiros originários lá de longe, de um canto quase esquecido de nosso País, o Oeste de meu Estado de Santa Catarina.

            Trata-se de uma verdadeira revolução produtiva que está a ocorrer nos diversos setores da atividade agrária daquela região. Revolução, Srs. Senadores, apoiada em dois pilares fundamentais: o cooperativismo e a tecnologia. Esses dois vetores vêm demonstrando uma sinergia extraordinária, com resultados que deveriam servir de exemplo para outras regiões.

            Por um lado, o cooperativismo tem propiciado a preservação da competitividade da pequena propriedade agrícola, evitando a falência dos produtores e reduzindo o êxodo rural, que sufoca as cidades além de sua capacidade de absorver a população que deixa o campo.

            Uma das cooperativas mais dinâmicas e atuantes do País, a Cooperativa Central do Oeste Catarinense Aurora, que tem cerca de 40 mil associados e apresentou um faturamento de 766 milhões de reais no ano passado, é fator fundamental do desenvolvimento da região. Fundada e presidida pelo agricultor Aury Luiz Bodanese, a Cooperativa Aurora conseguiu, com sua associação aos grandes frigoríficos Sadia e Chapecó, transformar o Oeste catarinense de produtor primário a pólo industrializador e exportador.

            Do alto de sua experiência, Bodanese, em entrevista ao Diário Catarinense, diz que o caminho para o agricultor poder se manter na atividade passa pela administração de sua propriedade como verdadeiro empreendimento, com uma escolha cuidadosa do foco de sua atividade, no qual deve se especializar. Não há, segundo Bodanese, lugar para o amadorismo no campo. Do mesmo modo, em sua opinião, as cooperativas devem atingir um nível de eficiência e competitividade igual ou superior ao das empresas privadas, pois sem sucesso comercial, sem retorno aos associados, as cooperativas sucumbem e deixam de cumprir sua função social.

            No entanto, ao lado de sua confiança na força do cooperativismo, Bodanese adverte para a necessidade da atuação dos governos no investimento em infra-estrutura de transporte e nas áreas sociais do ensino e da saúde, provendo estradas, escolas e postos médicos. A ação social do Governo, segundo Bodanese, é imprescindível para o aumento do conforto das famílias rurais e para a contenção do êxodo rural.

            A tecnologia vem sendo obtida por meio de parcerias dos agricultores e de suas cooperativas com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Alguns exemplos dessas parcerias merecem menção neste pronunciamento, pelo que representam do sucesso da pesquisa científica e tecnológica nacional, aplicada na prática produtiva. Citarei os casos da melhoria genética dos suínos, da criação do frango “verde”, das inovações no tratamento dos dejetos dos animais e do mercado de sêmen para inseminação artificial.

            Desde 1996, a parceria da Embrapa com a Cooperativa Aurora vem propiciando a modernização da produção de suínos nas pequenas propriedades rurais. Antes da introdução do porco MS-58, desenvolvido pela Embrapa, somente os grandes conglomerados internacionais tinham acesso a animais geneticamente melhorados. Ano passado, nada menos que 1 milhão e 400 mil suínos descendentes de animais com melhoria genética foram entregues às agroindústrias por pequenos proprietários rurais. Agora, com a introdução do MS-60, uma variante nova, de maior produtividade e menor teor de gordura, a lucratividade desses criadores será ainda maior, pois estarão trabalhando com um animal com maior percentual de carne por carcaça, que alcança melhor preço.

            Com o emprego dos animais geneticamente melhorados, o número de porcos machos vendidos passou de 195, em 1996, para 2,7 mil, no ano passado, e o de fêmeas passou, no mesmo período, de 2,9 mil para mais de 40 mil.

            Na avicultura, um grande desenvolvimento da Embrapa em sua parceria com os agricultores do Oeste catarinense é a criação do frango “verde”, ou “orgânico”, que pode ser criado solto, sem o estresse dos aviários e sem necessidade de agrotóxicos nem de antibióticos ou hormônios. Trata-se de um produto cujo mercado, embora praticamente inexistente no Brasil, vem crescendo rapidamente nos Estados Unidos e na Europa, em decorrência da busca, por parte de consumidores de consciência ambiental mais refinada, por um alimento “natural” e saudável. Isso implica melhores preços e maiores lucros com a exportação.

            A parceria da Embrapa com o frigorífico Chapecó produziu um sistema de separação dos resíduos suínos sólido e líquido, o Sidal, que reduz a poluição. Mas é um outro projeto que a Embrapa vem desenvolvendo na granja do produtor Nélson Riva que chama a atenção pela novidade. Ali, os porcos estão sendo criados sobre camas sobrepostas de 50 centímetros de maravalha, um tipo de serragem grosseira. Três lotes de animais são criados sucessivamente sobre o mesmo leito de maravalha, que é apenas revolvido após a venda de cada lote. Após a saída do terceiro lote, ao final de um ano, a maravalha com os dejetos fermentados é retirada e vendida como fertilizante para os olericultores da região, aumentando o lucro dos suinocultores.

            Segundo Riva, há ainda a vantagem de que os porcos criados sobre a maravalha sofrem menos estresse, pois sentem-se em um ambiente mais natural.

            O já mencionado aprimoramento genético dos rebanhos suínos vem recebendo um grande impulso com o emprego da inseminação artificial. Nos seis primeiros meses de 2001, para se ter uma idéia, houve um crescimento de 61,5 % na utilização da inseminação artificial pela Cooperativa Aurora em relação ao mesmo período do ano passado. Em uma parceria da Aurora com a Cooperativa de Rio do Peixe (Coperio), uma unidade de produção de sêmen funciona em Joaçaba, fornecendo 3 mil das 10 mil doses de sêmen produzidas em um total de quatro centrais existentes no Estado.

            Por meio da substituição da cobertura pela inseminação artificial, a capacidade de fecundação de um macho passa de 20 para 150 fêmeas. Com isso, os machos selecionados na Aurora, com mais de 60 por cento de carne magra e ganho de peso de mais de 860 gramas por dia, podem transmitir suas características aos animais dos cooperados, que vêm, um por um, gradativamente optando pela inseminação artificial.

            Essas são, Sras. e Srs. Senadores, algumas das conquistas do agricultor do Oeste catarinense, obtidas com sua associação em cooperativas e sua parceria com esse órgão imprescindível de pesquisa que é a Embrapa. Trata-se de um desenvolvimento que tem grande alcance social, pois aumenta a renda do pequeno proprietário rural, fixando o homem ao campo e prevenindo a continuação do processo de inchamento das cidades. Mais que isso: promove o desenvolvimento do País todo ao produzir mercadoria exportável, o que alivia nosso balanço de pagamentos e dá emprego a milhares de brasileiros.

            O exemplo do Oeste catarinense, Sr. Presidente, é a boa notícia que venho trazer ao conhecimento dos membros desta Casa, e da população em geral, para que seja imitado e para que se promova o desenvolvimento com justiça social de que o Brasil necessita.

            Muito obrigado.


            Modelo112/27/247:31



Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2001 - Página 24903