Discurso durante a 143ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Realização, na próxima semana, da XXIV Feira Internacional do Pacífico, na cidade de Lima, Peru. Perspectiva de ligação da BR 317 com o sistema rodoviário peruano.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Realização, na próxima semana, da XXIV Feira Internacional do Pacífico, na cidade de Lima, Peru. Perspectiva de ligação da BR 317 com o sistema rodoviário peruano.
Publicação
Publicação no DSF de 27/10/2001 - Página 26135
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • ANUNCIO, REALIZAÇÃO, FEIRA INTERNACIONAL DO PACIFICO, DEBATE, COMERCIO EXTERIOR, IMPLANTAÇÃO, RODOVIA, LIGAÇÃO, ESTADO DO ACRE (AC), PAIS ESTRANGEIRO, PERU, OCEANO PACIFICO, BENEFICIO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, REGIÃO NORTE, REDUÇÃO, CUSTO, EXPORTAÇÃO, ASIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a primeira grande luta vitoriosa de minha vida pública foi contra a ditadura, o arbítrio, as perseguições fundadas em questões ideológicas ou partidárias. O Brasil, hoje vive uma das páginas mais democráticas de sua História, mostrando, assim, que o esforço de tantas gerações sucessivas não foi em vão.

            Temos, agora, de consolidar esse avanço. É imperioso que superemos o drama da miséria, do desemprego, da falta de incentivos para quem quer trabalhar, produzir, gerar riquezas e ganhar o suficiente para nutrir e educar os filhos. Se quiser chegar lá, nosso País terá que superar alguns obstáculos e encontrar soluções inovadoras para velhos problemas.

            Nos últimos anos, venho levantando, com obstinação, a tese de que o Brasil só terá condições efetivas de avanços integrados e justos se abrir braços e portas para a fronteira ocidental, galgar os Andes e chegar com seus produtos aos portos do Oceano Pacífico. Não que as perspectivas do Atlântico estejam esgotadas, apenas precisamos ganhar novos horizontes de progresso social e desenvolvimento econômico.

            Essa é uma convicção que norteou, inclusive, diversos momentos de minha trajetória como Governador do Estado do Acre, nos primeiros anos da década de 80. Naquela oportunidade, formei e levei ao Peru uma comitiva de empresários e homens públicos acreanos, para ali discutirmos com o Governo e as classes produtoras os mecanismos capazes de transformar o hiato das fronteiras em positivos traços de união, capazes de propiciar aos nossos povos a certeza de melhores dias.

            Na mesma ocasião, diplomatas e governantes de ambos os países davam um passo decisivo para se franquearem mutuamente novas alternativas de expansão e transporte global: a implantação de uma rodovia transcontinental, a ligação por terra dos dois grandes oceanos, o Pacífico e o Atlântico, abrindo as portas da Europa aos peruanos e franqueando as rotas do Extremo Oriente para o Brasil.

            Por que transportar em carroceira de caminhão aquilo que, teoricamente, sairia mais barato por via marítima? Ora, basta olharmos os mapas e encontraremos, facilmente, a resposta esclarecedora: para ir dos portos de Santos ou Paranaguá até Ilo ou Callao, tem-se de enfrentar distâncias portentosas, contornar o litoral sul-americano pelo Estreito de Magalhães, ou subir rumo ao Norte, até os pés do Caribe, e singrar as águas do Canal do Panamá.

            Unir por terra as regiões produtoras brasileiras e os portos peruanos representaria uma considerável economia de tempo e de dinheiro, eliminando os dois grandes contornos continentais que hoje tanto encarecem as operações mercantis. Fazê-lo através do Acre, como sempre defendi e os dois países proclamaram oficialmente, significará um gigantesco salto para o futuro promissor que todos buscamos.

            Tudo isso estará em foco daqui a trinta dias, durante a 24ª Feira Internacional do Pacífico, que reunirá na capital peruana alguns dos mais importantes setores da economia ocidental das Américas. O Governo do Brasil, sentindo a importância do evento, tomou a iniciativa de ali instalar um pavilhão próprio, mesmo não tendo portos naquele litoral. Não foi o único nessa situação, porque a lista de países inscritos chega a trinta e um, com quatrocentos expositores cadastrados e a perspectiva de trinta mil pessoas percorrendo os estandes e participando das atividades institucionais simultâneas.

            Na área designada, de 22.000 m², os negócios e entendimentos envolverão setores como agroindústria, piscicultura, alimentício, cosmético, farmacêutico, químico, têxtil, moveleiro, automotivo, de papel, borracha e muitos outros que gostaria de relacionar nesta oportunidade, mas não o faço devido às limitações do tempo a nós impostas pelo Regimento Interno.

            Todos os detalhes desse importante evento estão disponíveis na Internet e, decerto, poderão ser também colhidos junto ao Itamaraty, cujo Departamento de Promoção Comercial está-lhe dando o mais decidido apoio no âmbito do convênio firmado com a Agência de Promoção de Exportações (Apex). O site que contém as informações sobre a FIP/2001 é www.feria.com.pe, acessível a qualquer pessoa interessada em acompanhar os seus preparativos.

            O Sr. Carlos Patrocínio (PTB - TO) - Permite-me V. Exª um aparte, eminente Senador Nabor Júnior?

            O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC) - Com muito prazer, Senador Carlos Patrocínio.

            O Sr. Carlos Patrocínio (PTB - TO) - Nobre Senador Nabor Júnior, eu gostaria de me congratular com V. Exª e também com o nobre Senador Carlos Wilson. V. Exªs demonstraram repúdio e inconformismo com a situação de pobreza em nosso País e com essa distribuição de renda que não melhora nunca; muito pelo contrário, cada vez mais se complica, colocando o Brasil no topo daqueles países mais injustos no que concerne à distribuição de renda. V. Exª está mostrando o caminho para o desenvolvimento nacional desde a década de 1980 e já tive a oportunidade de vê-lo defendendo essa mesma posição no Senado Federal. É necessário, eminente Senador Nabor Júnior, que os governantes brasileiros olhem para essa saída do Pacífico. É aí que o Brasil haverá de ter a competitividade de que tanto necessita para produzir e exportar os seus produtos. V. Exª fala dessa rodovia transcontinental ligando o Atlântico ao Pacífico. Não sei se seria melhor uma ferrovia, talvez até para diminuir os custos, porque estaríamos de frente para os populosos países asiáticos e para o Oriente Médio. De qualquer maneira, a idéia é essa. Isso já era para estar funcionando há muitos e muitos anos: essa rodovia, ou essa ferrovia 364, ou outra que passe pelo Acre e que ganhe o Oceano Pacífico, por intermédio do país amigo e vizinho, o Peru. Portanto, V. Exª faz muito bem ao enaltecer a realização dessa feira, brevemente. Congratulo-me com V. Exª e chamo a atenção das autoridades para a omissão no que diz respeito à colocação do Brasil em condições de competir com os demais países, os grandes exportadores do mundo, sobretudo para gerar mais trabalho para o nosso povo, porque essa região que V. Exª cita poderá ser a fronteira agrícola e de produção mais importante do nosso País.

            O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC) - Agradeço, Senador Carlos Patrocínio, o oportuno aparte que V. Exª trouxe ao meu modesto pronunciamento.

            Creio ainda que temos condições de desviar o eixo do País hoje localizado no Centro-Sul, para o seu Centro-Oeste e a Região Norte. O Centro-Oeste já foi, de certo modo, alavancado pela construção de Brasília, no governo do saudoso Presidente Juscelino Kubitschek.

            Antes da existência de Brasília, o Centro-Oeste era uma região de uma imensidão geográfica muito grande, excluída de todos os surtos de progresso. Com a vinda da Capital para o planalto goiano, ocupando o vazio demográfico ali existente, vários Estados alcançaram um desenvolvimento bastante acentuado, como é o caso de Goiás, Mato Grosso e Tocantins, que V. Exª representa com muita competência aqui no Senado Federal. Falta, agora, voltarmos os olhos para a Região Norte, a maior reserva territorial do Brasil, que ainda está com praticamente 50 anos de atraso em relação aos Estados mais desenvolvidos.

            Essa rodovia, ou até mesmo uma ferrovia, como V. Exª sugeriu, pode promover esse desenvolvimento e, sobretudo, a integração do Norte ao restante do Brasil. E mais ainda, Senador Carlos Patrocínio: temos condições de, por meio dessa rodovia transcontinental, que já é objeto de um tratado internacional entre o Brasil e o Peru, conquistar todo o mercado andino para os nossos produtos, que lá encontram a melhor acolhida.

            O Peru tem cerca de 25 a 30- milhões de consumidores, que não produzem praticamente nada em termos de gêneros alimentícios, importando-os dos Estados Unidos e da Europa. Podemos vender lá o excedente da nossa produção agropecuária e de grãos, e, ao mesmo tempo, comprar seus produtos. Eles são grandes exportadores de pescado e podem nos vender a preços módicos.

            Quando era Governador do Acre, fui ao Peru, como disse há pouco, levando uma delegação de empresários e políticos da Região para iniciar um intercâmbio comercial, tendo em vista a perspectiva de ligação da nossa BR-317 com o sistema rodoviário peruano. Quase todo final de semana, eu recebia a visita de empresários do Peru, lá em Rio Branco. Eles nos ofereciam peixes a preços baixíssimos. No entanto, não se podia concretizar aquele negócio porque o pescado tinha de ser trazido de avião, já que não havia estradas para fazer o transporte. Agora, estamos nos aproximando da realização desse grande sonho dos acreanos, de brasileiros daquela região Norte do País e também do Peru, porque eles querem ter acesso aos portos do Atlântico, e queremos ter acesso aos do Pacífico, para colocar a nossa produção não só no mercado peruano mas também em toda a costa oeste das três Américas e nos países da Ásia, do Extremo Oriente, como disse V. Exª, e assim aumentar as exportações nacionais, já que a nossa balança comercial, de certo modo e de um certo tempo para cá, tem sido deficitária.

            Estamos importando mais do que exportando!

            Então, há a necessidade de incrementar as nossas exportações, oferecendo os nossos produtos em condições de competitividade com outros países exportadores, e isso só será possível quando estiver pronta a rodovia transcontinental encurtando em quatro mil milhas marítimas a distância entre o Brasil e os países da Ásia e do Extremo Oriente.

            De modo que a solução já está perto de se concretizar, porque a parte que o Brasil prometeu pavimentar está praticamente concluída. Estaremos chegando, talvez no próximo ano, ao Município de Assis Brasil, no Estado do Acre, que é fronteira com o Peru e a Bolívia. Aí, então, é só ingressar no território peruano até o porto de Callao ou o de Ilo.

            No entanto, o trecho peruano é o de maior dificuldade, porque são mil e tantos quilômetros, a maioria dos quais ainda não pavimentada. Existe, sobretudo, a Cordilheira dos Andes, que se apresenta como um transtorno, com aquelas altitudes de mais de quatro mil metros. O Peru está realmente interessado na concretização dessa rodovia, devidamente pavimentada, oferecendo ao Brasil a oportunidade de utilizar-se dos portos do Pacífico no seu território, para exportação dos nossos produtos, e também para estabelecer um intercâmbio comercial, cultural, científico e tecnológico. Aquele país andino tem, realmente, grande interesse na promoção de um sistema acentuado de trocas com o Brasil.

            O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC) - Concedo o aparte, com muita honra, ao Senador Gilvam Borges.

            O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Nabor Júnior, acompanho a sua trajetória, embora V. Exª não observe, porque não deve. Mas, desde cedo, todos os dias, vejo V. Exª caminhando ali, próximo à ESAF, com seu andar característico, miudinho, cabeça erguida, e eu digo: lá vai o Senador Nabor Júnior. Sei que V. Exª está pensando em seu Estado, arrumando suas idéias. E o seu pensamento incorpora todo o povo e o Brasil. Quando V. Exª chega a essa tribuna, o seu pensamento se transforma em palavras e V. Exª realmente brilha a partir do momento em que faz uma avaliação profunda da integração. Essa integração se dá por meio de estradas, de hidrovias, de ferrovias, da busca do comércio, da implementação de estratégias, em que o povo possa se integrar e dela obter os resultados e as riquezas. Como Governador, V. Exª mesmo diz que não foi só um exemplo de democracia na boa convivência com as instituições em que deixou história - não pelas armas que Plácido de Castro, em certos momentos, teve de empunhar para garantir nosso território. Mas V. Exª deu exemplo como um bom democrata, que abria, dava os primeiros passos rumo ao Peru, buscando esses intercâmbios. Lamentavelmente, nem sempre se faz tudo o que se quer, porque, muitas vezes, as circunstâncias impedem, mas V. Exª deu grandes passos, grandes avanços. V. Exª vem falando da abertura do Acre para o Atlântico. As estradas já começam. V. Exª diz que a economia com a utilização da hidrovia é de 60%. Como o Estado do Amapá faz fronteira com a Guiana Francesa e com os países do Caribe, estamos na cabeceira e vivemos numa região fabulosa e fantástica, com recursos naturais e com todas as condições para ajudarmos este País a crescer. Infelizmente, as autoridades não têm a sensibilidade do planejamento estratégico. Na década de 70, o Presidente Médici abriu a fabulosa Transamazônica, para garantir a comunicação entre países que existem, um dentro do outro. Na verdade, pela distância, pela exuberância e pelas dimensões, a região Norte é realmente um país dentro do Brasil. Como brasileiros, temos a expectativa e o direito da reivindicação. É o que V. Exª faz agora da tribuna do Senado. A região Norte, nos planejamentos federais dos seus governantes, nunca teve a atenção devida. Juscelino Kubitschek dizia que, para se desenvolver, um país precisa de estradas, pontes e aberturas da busca do comércio. Os ingleses, na época áurea da Rainha Vitória, alavancaram a abertura dos seus portos com a Revolução Industrial. Com a primeira exposição das grandes invenções, os ingleses, há muitos anos, sabiam que podiam levar não só a democracia, mas a integração, a liberdade e a independência econômica pelo comércio. E V. Exª hoje fala disso. É impressionante todo esse acervo de conhecimento e de experiências que tem V. Exª para contribuir no Senado Federal. V. Exª honra esta Casa quando assume a tribuna. Quando V. Exª caminha todos os dias, penso “lá vai o Nabor, andar miudinho, cabeça erguida, juntando idéias, articulando-se, organizando-se, pensando no seu povo”. Permita-me chamá-lo de Nabor, pois deveria chamá-lo de Sr. Nabor ou de Dom Nabor, mas prefiro chamá-lo de Nabor por ser uma pessoa querida. Não se trata de um desrespeito, mas da busca da intimidade, da aproximação com essa sabedoria que é V. Exª. Vejo o Acre na figura de V. Exª, Governador, Deputado Federal, homem de um equilíbrio fabuloso e que combate hoje, como bom peemedebista, os arbítrios, a deselegância do Governador Acre, que implantou uma “ditadura democrática” naquele Estado. V. Exª, com toda a sabedoria, faz o bom combate, na elegância dos passos do Nabor que caminha, que pensa e que fala. Parabéns, Nabor.

            O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador Gilvam Borges, tendo em vista que o meu tempo já está esgotado e estou sendo observado pelo Presidente da nossa sessão, essa figura querida e respeitada por todos, na Casa, o Senador Edison Lobão, apenas manifesto meus sinceros agradecimentos pelo aparte que V. Exª acaba de me conceder, inserindo-o, com muita honra, no meu discurso.

            Algumas informações detalhadas, todavia, posso antecipar neste momento: a Feira Internacional do Pacífico será aberta em 19 de novembro e será encerrada no dia 26; a área promovida pelo Itamaraty aos exportadores nacionais é de 600 metros quadrados, sendo 360 metros quadrados de área útil. Além do aspecto essencialmente mercantil, haverá também um importante lado político-institucional, com programas acadêmicos, seminários, simpósios e palestras.

            A FIP 2001, tendo como ponto de partida o mercado peruano, alcançará uma dimensão positiva para a integração pan-americana - o que para nós brasileiros avulta a importância, mostrando que, nas trilhas para o Pacífico, estarão as melhores rotas para promover efetivos ganhos econômicos e sociais.

            Era o que tinha a dizer Sr. Presidente. Muito obrigado.


            Modelo15/16/241:41



Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/10/2001 - Página 26135