Pronunciamento de Mauro Miranda em 31/10/2001
Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Questionamentos à execução dos planos nacionais de segurança pública lançados pelo governo federal. Falta de consenso para apreciação de matérias que regulem sobre segurança pública no Congresso Nacional.
- Autor
- Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
- Nome completo: Mauro Miranda Soares
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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SEGURANÇA PUBLICA.:
- Questionamentos à execução dos planos nacionais de segurança pública lançados pelo governo federal. Falta de consenso para apreciação de matérias que regulem sobre segurança pública no Congresso Nacional.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/11/2001 - Página 26947
- Assunto
- Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
- Indexação
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- COMENTARIO, GUERRA, TERRORISMO, DESVIO, ATENÇÃO, PROBLEMA, VIOLENCIA, CRISE, SEGURANÇA PUBLICA, BRASIL, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, PROVIDENCIA, SOLUÇÃO, SITUAÇÃO.
- NECESSIDADE, DEFINIÇÃO, POLITICA, SEGURANÇA PUBLICA, AUMENTO, RECURSOS, MELHORIA, ORGANIZAÇÃO, OBJETIVO, COMBATE, CRIME.
- REGISTRO, DESENVOLVIMENTO, TRABALHO, CONGRESSO NACIONAL, MELHORIA, SEGURANÇA PUBLICA, DEFESA, IGUALDADE, ACESSO, SEGURANÇA, POPULAÇÃO, REPUDIO, DISCRIMINAÇÃO.
- ELOGIO, POPULAÇÃO, ESTADO DE GOIAS (GO), CRIATIVIDADE, ORGANIZAÇÃO, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, COMUNIDADE, VIGILANCIA, COMBATE, CRIME.
O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é provável que a concentração quase absoluta da mídia nos ataques terroristas aos Estados Unidos e nos seus inúmeros e graves desdobramentos internacionais tenha tirado momentaneamente de foco os problemas mais crônicos da vida brasileira.
Um dos maiores, se não o maior, sem dúvida, é o da segurança pública, diante de uma escalada de violência e criminalidade onipresente e desenfreada.
Os Poderes Públicos parecem paralisados em sua capacidade de decisão e ação efetiva.
É certo que, no curto espaço de um ano, o Executivo Federal apresentou dois planos nacionais de segurança pública. No entanto, considero problemático até chamar esses documentos de planos. A mais superficial das análises revela que ambos não passam de esperançosas listas de intenções montadas às pressas em reação a acontecimentos trágicos que, amplamente noticiados nos meios de comunicação, mobilizaram a indignação da opinião pública nacional: primeiro, foi o bárbaro assassinato de uma jovem professora em um ônibus seqüestrado no Rio de Janeiro; depois, vieram as incendiárias rebeliões nos presídios paulistas.
Ora, para ser digno desse título, um plano, além da meticulosa e clara definição de objetivos, precisa fixar metas quantificáveis; alocar adequados recursos financeiros, materiais, organizacionais e humanos; especificar mecanismos para o permanente acompanhamento de resultados e a oportuna correção de rumos. Infelizmente, nenhuma dessas condições foi preenchida, e o País continua sem um norte para equacionar a questão da segurança pública.
Essa perplexidade se estende ao Legislativo. Há seis longos anos, a Câmara debate um amplo conjunto de propostas de emendas à Constituição no âmbito de uma Comissão Especial de Segurança Pública, presidida pelo Deputado carioca e Delegado da Polícia Federal Aldir Cabral, do PFL, e relatada pelo seu colega do PMDB do Distrito Federal, o Coronel da Polícia Militar Alberto Fraga.
Até chegar à atual etapa de votação de destaques, o relatório de Fraga sofreu um verdadeiro fogo de barragem de pressões corporativas. Oficiais e praças policiais militares, delegados federais e das polícias civis, escrivães, agentes, investigadores, peritos, advogados criminalistas e até bombeiros, todos acorreram aos Deputados da Comissão para defender ou ampliar vantagens profissionais e cristalizá-las no texto da nossa Lei Maior.
Sem dúvida, Sr. Presidente, nada mais democrático que esse exercício transparente da defesa de interesses legítimos por parte de corporações, todas igualmente respeitáveis e merecedoras do nosso apreço.
O grande perigo, porém, é o da disputa entre as partes comprometer a eficácia do todo e obscurecer a visão de conjunto em um desafio que exige respostas sistêmicas. O povo, cada vez mais inseguro e alarmado com a onda de assaltos, assassinatos, estupros e seqüestros-relâmpagos, não compreende nem aceita que categorias de profissionais pagos para zelar pela tranqüilidade coletiva invistam suas energias exclusivamente na salvaguarda de prerrogativas e privilégios, enquanto o crime avança sem parar e as polícias civis e militares mantêm-se incapazes de compartilhar suas bases de dados.
Devemos ficar alertas para evitar e neutralizar articulações que comprometam o bem comum quando chegar a vez, Sr. Presidente, de o Senado apreciar essas PECs da Segurança Pública.
Eu, particularmente, que me tenho dedicado, aqui, nesta Casa, à causa da democratização e humanização do espaço urbano, como Relator do Estatuto da Cidade e autor da emenda constitucional da moradia, sinto-me pesaroso e inconformado com a proliferação de muralhas, grades e cercas eletrificadas nos bairros e nas cidades de todo o Brasil. Temendo pela sua vida e pela integridade de sua família, o cidadão se transforma em prisioneiro do próprio lar.
Diante da omissão governamental e da inércia parlamentar no combate à criminalidade, o povo, sempre sábio, atuante e determinado, parte para soluções informais na tentativa de minimizar o seu desespero.
Um exemplo impressionante desse poder criativo da comunidade nos vem de Goiás, meu Estado. Na Capital e nos Municípios da Grande Goiânia, grupos formados por jovens trabalhadores idealistas e por experientes policiais, alguns aposentados e a grande maioria atuando nas horas de folga, estão-se organizando para prestar à população um inovador serviço de vigilância em motocicletas.
Com sacrifício, esses profissionais investem na montagem de pequenas centrais telefônicas, cada qual em um bairro, e estão sempre prontos a atender chamados dos moradores, que, em troca de R$10,00 mensais por residência, são transportados e acompanhados, com toda a segurança, pelas ruas mais desertas e nos horários mais perigosos.
A iniciativa, coordenada pelo Sindivigimotos, já é um absoluto sucesso em bairros goianienses como o Jardim Nova Esperança, Jardim Curitiba, Novo Mundo, Finsocial, Campinas, Fama e Parque Tremendão, estendendo-se a Municípios adjacentes, como Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Goianira.
A credibilidade conquistada pelos vigimotoqueiros é tamanha, que até mesmo os policiais que constituem a maioria dos moradores do conjunto habitacional Parque Atheneu, na Capital, confiam a segurança de suas próprias famílias e de seus imóveis aos associados do Sindivigimotos, podendo sair tranqüilos para o seu trabalho perigoso e difícil.
O Presidente da entidade, Sr. Marcos Luiz Moreira, esclarece que, mesmo ainda sem contar com a devida regulamentação da Prefeitura de Goiânia e do Governo do Estado, o serviço obedece a um contrato dentro de rigorosos padrões de qualidade. Isso inclui cursos obrigatórios para o associado, nos mesmos moldes daqueles que são ministrados aos vigilantes de empresas de segurança patrimonial.
Aliás, aproveito o ensejo para reivindicar à Prefeitura de Goiânia e às Prefeituras de todas as outras cidades por este Brasil afora, onde já existe esse tipo de serviço, para que abram um guichê, a fim de regulamentar as atividades desses profissionais devotados e sérios que não querem, muito menos merecem, a informalidade.
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pergunto: quem, em sã consciência, terá coragem de condenar os motovigilantes e seus usuários? Ninguém, pois essa iniciativa comunitária é a única solução frente ao completo desamparo a que as autoridades - sejam elas federais, estaduais ou municipais - relegam ao povo na área da segurança pública.
Afinal, a Constituição da República atribui a todos - começando, é claro, pelos três níveis de Governo - o dever de zelar pela segurança.
A comunidade faz o que pode e ainda dá uma lição de eficiência e seriedade àqueles que não cumprem seu dever!
Diante do que foi aqui relatado e exemplificado, restam apenas dois caminhos aos governantes e a nós, parlamentares: assumir, de uma vez por todas, o quinhão de responsabilidade perante a crise na segurança pública em todo o País ou, na mais realista das hipóteses, apoiar firmemente iniciativas que combatam os crescentes índices de criminalidade, entre elas o serviço de vigilância em motocicletas.
Agindo em qualquer uma dessas direções, estaremos automaticamente nos livrando da pecha de omissão pública, que é constantemente imputada à classe política pela sociedade em geral.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado.