Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Consideração acerca do discurso de Fernando Henrique Cardoso, ontem na Assembléia Nacional da França. (como lider)

Autor
Hugo Napoleão (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Hugo Napoleão do Rego Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Consideração acerca do discurso de Fernando Henrique Cardoso, ontem na Assembléia Nacional da França. (como lider)
Publicação
Publicação no DSF de 01/11/2001 - Página 26968
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, DISCURSO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VISITA OFICIAL, PARLAMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, CRITICA, PROTECIONISMO, SUBSIDIOS, PRODUTO AGRICOLA, COMENTARIO, EXILIO, POLITICO.

O SR. HUGO NAPOLEÃO (PFL - PI. Como Líder.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, também eu assomo à tribuna, na tarde de hoje, para, em nome do meu partido, o Partido da Frente Liberal, tecer considerações acerca do discurso do Presidente Fernando Henrique Cardoso na Assembléia Nacional em Paris, na França.

Antes de mais nada, convém salientar que Sua Excelência foi, exatamente, dentre os Chefes de Estado e de Governo que freqüentaram e assomaram àquela tribuna, o décimo, tendo sido o primeiro Presidente latino-americano a falar da tribuna daquela Casa Legislativa francesa. Usaram-na, também, o Primeiro-Ministro britânico, Tony Blair, há um ano, e, anteriormente, o ex-Presidente Bill Clinton, dos Estados Unidos. Não é todo dia que um Chefe de Estado vai à tribuna daquela Assembléia que tive oportunidade conhecer nos idos de 1978, durante o 14 de julho, La Chute de la Bastille, data da independência da França, da Tomada da Bastilha.

Na realidade, pensando bem, se ele é o primeiro Chefe de Governo e de Estado latino-americano a falar da tribuna francesa é porque outro não houve, inclusive e, sobretudo, do Brasil. Então, há que se louvar, há que se elogiar, há que se admirar aquele Presidente que falou em nome daqueles que o influenciaram, de Roger Bastide, Claude Lévi-Strauss, Fernand Braudel, George Friedmann, Alain Touraine.

Alain Touraine presente estava e disse, a respeito do discurso do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi um discurso de esquerda, elogiando aquele que lhe seguiu muitos dos passos nas trilhas da sociologia. Ele mesmo lembrou aqueles dias de sofrimento no exílio em que obrigado se viu a ir à França ministrar aulas e ensinar, até como meio de vida.

Sr. Presidente, é preciso que todos tenhamos a grandeza e a elevação de espírito de saber que o Presidente do Brasil, quando está no exterior, representa todos os brasileiros, independentemente de cores partidárias.

O Senhor Presidente da República demonstrou grande elevação de espírito no discurso que proferiu na reunião da Alca. Nesse dia, estava em Quebec, no Canadá, ao lado do Deputado Aloizio Mercadante, que me disse que o Presidente da República fez um grande discurso. Evidentemente, essa deve ser a ótica de um humanista, de um homem que cultua, profundamente, a cultura, as artes, as letras, que, enfim, sabe o que diz, conhece os assuntos com profundidade e representa o Brasil com grandeza.

O Presidente criticou a questão dos subsídios agrícolas, no altivo discurso de Quebec, que tive a ventura de assistir pessoalmente. Fez críticas à França, dizendo que não era justo que suportasse sozinha qualquer ônus com relação ao alívio dos subsídios, referindo-se, evidentemente, à hegemonia dos Estados Unidos, que têm uma proteção global, impõem barreiras não tarifárias e fazem exigências fitossanitárias. Para importar mangas, por exemplo, exigem do Brasil caixas especialíssimas, cheias de detalhes, o que encarece o produto.

Mais uma vez, o Presidente propôs um novo ordenamento mundial e pediu respeito ao Protocolo de Kyoto, não ratificado pelos Estados Unidos, e que visa à defesa do meio ambiente.

O Presidente falou que a França une os valores universais e o pluralismo que tanto nós, liberais, defendemos no Brasil para respeitar, como cidadãos que somos, os nossos direitos e os do próximo. Mostrou, também, as igualdades do Quay d'Orsay e do nosso Itamaraty, nas suas ações e na sua luta; a importância do Mercosul para nós, do Brasil, e da União Européia, para eles, da França, além da necessidade da conjugação desses valores. Falou da eqüidade e do seu espanto com relação ao autoritarismo e à barbárie trazidos, tanto pela civilização muçulmana, quanto pela judaico-cristã. Abordou, enfim, aquele período da tolerância e da transigência que sentiu no exílio.

Cito uma frase relatada por todos os jornais do Brasil. É interessante que, às vezes, vemos determinados Parlamentares assomarem à tribuna para estranhar o que, unanimemente, a imprensa brasileira considerou um discurso de peso, típico de um grande estadista.

No que tange às finanças internacionais, ele mostrou que o Brasil já fixou a sua solidariedade ao reduzir, quase anulando, as dívidas de vários países pobres tanto da África quanto da América Latina. Se o Brasil já pôde fazê-lo, por que outros países não têm condições de realizar o mesmo? Essa solidariedade não dispensa a ação dos Estados - antes, exige-a.

Portanto, falou o Presidente como estadista, não como Líder partidário; falou em nome de todos os brasileiros e foi nove vezes aplaudido, para terminar aplaudido de pé pelos representantes autênticos e legítimos do povo da França, da aguerrida França, para quem a igualdade, a liberdade e a fraternidade constituíram e constituem símbolos universais.

Era o que tinha a dizer.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/11/2001 - Página 26968