Discurso durante a 148ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a rejeição pelo Senado de projetos de sua S.Exa., que instituía o financiamento público de campanhas e que permitia apenas programas eleitorais gratuitos ao vivo. Avaliação do papel das agências publicitárias nas campanhas eleitorais.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLAÇÃO ELEITORAL. ELEIÇÕES.:
  • Comentários sobre a rejeição pelo Senado de projetos de sua S.Exa., que instituía o financiamento público de campanhas e que permitia apenas programas eleitorais gratuitos ao vivo. Avaliação do papel das agências publicitárias nas campanhas eleitorais.
Aparteantes
Alvaro Dias, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 06/11/2001 - Página 27640
Assunto
Outros > LEGISLAÇÃO ELEITORAL. ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, DESAPROVAÇÃO, SENADO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, DEFESA, UTILIZAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL, RESTRIÇÃO, VIDEO, CAMPANHA, TELEVISÃO, HORARIO GRATUITO.
  • CRITICA, PUBLICIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, ALIENAÇÃO, POPULAÇÃO, INFLUENCIA, VOTO, COMENTARIO, PESQUISA, ELEIÇÕES, REJEIÇÃO, CANDIDATURA, ORADOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • CRITICA, SISTEMA, CAMPANHA ELEITORAL, PREJUIZO, CANDIDATO, FALTA, RECURSOS, DISPUTA, ELEIÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, defendi com fanatismo dois projetos desta tribuna. O primeiro era o gasto público em campanha. Como na Alemanha, no Brasil só se poderia gastar o dinheiro público. Os cálculos feitos davam R$7,00 por eleitor. Presidente da República, Governador, Prefeito, Deputado, rico, pobre, todos poderiam gastar exatamente a mesma quantia, e as campanhas seriam absolutamente iguais. Lamentavelmente, ele não foi aprovado. Nem o PT viu com simpatia o meu projeto.

            Outro projeto que apresentei foi de que os programas de televisão gratuitos na campanha eleitoral só poderiam ser feitos ao vivo: o candidato, o microfone e o assistente da televisão. Até o PT foi contra, dizendo que os programas ficariam muito cansativos, muito chatos, que muitos desligariam seus aparelhos de TV por falta de interesse. Eu disse: “Mas o programa gratuito de televisão não é feito para ser campeão de audiência; ele é feito para que o candidato fale com o seu eleitorado, para que o povo fique conhecendo o candidato. E a fórmula de o povo conhecer o candidato é o candidato falando ao vivo”. Também ele não foi aprovado.

            Então, estamos hoje vendo as campanhas presidenciais e as pesquisas feitas. Hoje saiu mais uma. Tenho visto nessas últimas pesquisas a verdadeira concorrência, o grande embate. Os candidatos não importam; o que importa é a disputa entre o Sr. Duda Mendonça e o Sr. Nizan Guanaes. O Sr. Duda Mendonça, que até ontem era o homem do Maluf, hoje é o homem do PT e o Sr. Nizan Guanaes, que era o homem do Fernando Henrique, agora faz a campanha da Srª Roseana.

            A que se assiste? Tenho o maior respeito por nossa querida amiga Governadora Roseana Sarney, mas, de repente, com dois programas de televisão, vai para 19%. O Sr. Duda muda o enfoque do PT. Este Partido, com seus propagandistas anteriores, gente do próprio PT, quando focava uma cena do menor passando fome, sofrendo, miserável, dizia: “Esse é o Brasil, você tem que lutar, o PT vai lutar para mudar isso, derrubar esse regime de fome e de miséria e não sei mais o quê.” Hoje, na mesma cena da criança sofrida passando fome, há uma música lenta, suave e o locutor dizendo: “Se você se comoveu com essa cena, você já é um pouco PT.”

            Falo isso para mostrar como eles jogam com a publicidade, algo realmente espetacular. Somos fruto do mercado de consumo, onde consumimos o que a propaganda nos mostra.

            Quando vejo o que está acontecendo no Rio Grande do Sul, relacionando o jogo do bicho ao Governo Estadual, quando vejo fatos que vêm acontecendo em vários lugares, eu me dou conta do mal que fez esta Casa em não votar, em não dar importância aos meus dois projetos.

            Vejo os nomes que estão nas pesquisas: Lula, com 33%, Roseana Sarney, com 19%, Ciro Gomes, com 12,8%, Itamar Franco, com 8,2%, Anthony Garotinho, com 9%, e o Ministro José Serra, com 4% das intenções de voto. Eu gostaria de ver se o Ministro José Serra, contando com o Nizan Guanaes para fazer a sua propaganda, não melhoraria sua posição nas pesquisas. Aliás, uma propaganda como a feita pela minha amiga Roseana, o Guanaes poderia fazer com uma série de pessoas e obteria, talvez, resultados iguais.

            Eu fico me perguntando por que não estou nas pesquisas. Sou candidato do PMDB, agora registrado oficialmente, juntamente com o Sr. Itamar, para concorrer nas prévias do dia 20 de setembro. Os jornalistas mais importantes e os institutos de pesquisa ignoram a minha pessoa. Chega a tal ponto que a pesquisa Vox Populi fez um levantamento de vários itens. Em uma pesquisa estão o Itamar, o Ciro, o Lula, a Roseana, o Garotinho, o Serra e outros. Na segunda pesquisa, tiraram o Itamar e não colocaram ninguém do PMDB. Fizeram uma terceira pesquisa, com índice de rejeição: em primeiro lugar, Senador Pedro Simon, com 80%. Não apareci em nenhuma pesquisa da Vox Populi, eu não existo na pesquisa. No entanto, na hora de registrar a rejeição, publicaram Pedro Simon com 80%.

            Escrevi uma carta em que dizia ter muito respeito pelo Sr. Coimbra, um homem que expõe seus argumentos com competência e inteligência. Escrevi uma longa carta expondo meus motivos e perguntando a respeito. Escrevi a segunda. Não recebi resposta de nenhuma das duas.

            Acho normal o Lula ser manchete de jornal. É a quarta vez que ele é candidato, é um direito garantido. E é a quarta vez que ele, do início até a véspera das eleições, está em primeiro lugar. Mas há outros nomes. O Sr. Ciro Gomes, por exemplo, não é presidente, não é governador, não é senador, não é ministro, não é nada; é um ilustre cidadão que foi ministro. O que esse homem aparece em manchete nos jornais é uma coisa impressionante. São páginas inteiras com seu nome. O Sr. Tasso lançou-se candidato de repente. Verdade que é Governador. Mas bastou lançar-se candidato para ter seu nome estampado em páginas e mais páginas. Acho normal aparecer o nome do Itamar Franco. É Governador de Minas Gerais, foi Presidente da República, vem batendo no Sr. Fernando Henrique. Agora, o Pedro Simon não aparece. Ele não aparece na mídia e não aparece nas pesquisas.

            Eu gostaria que me dissessem em que outro país do mundo uma campanha presidencial é feita como no Brasil? Em que país da Europa, da América, de onde quiserem, as grandes empresas de comunicação e duas ou três agências de publicidade ou de marketing político controlam toda a mídia, todo o debate, todos os nomes em torno da decisão sucessória? Queiramos ou não, o Brasil hoje fala no Lula, fala na Roseana, fala no Ciro, nos nomes que estão nas pesquisas, nomes que estão nos jornais.

            Nos Estados Unidos, hoje, sabe-se que o próprio Bush, se não fracassar - e talvez fracasse -, será candidato a Presidente dos Estados Unidos na próxima eleição. Sabe-se que o candidato do Partido Democrata a Presidente dos Estados Unidos, em tese, é o Presidente do Partido Democrata. Sabe-se que, na Inglaterra, o atual Primeiro-Ministro é candidato a continuar no cargo e que o chefe do Partido Conservador é quem vai concorrer com ele. Isso acontece em todos os lugares, os candidatos são naturais. No Brasil é que eles são artificiais, “feitos” pela grande imprensa, em conluio com as agências que publicam as pesquisas. E, às vezes, eles obtêm resultados espetaculares, como aconteceu na derrota do Lula para o Collor. O Lula tinha a vitória garantida, mas a Rede Globo, em duas edições do Jornal Nacional, veiculando, de maneira parcial e irreal, os momentos duvidosos do Lula e os grandes momentos do Collor no debate eleitoral, reverteram o resultado, dando a vitória para Collor.

            Será que vamos levar adiante este Brasil de fantasias? Até aonde vamos levar a disputa entre Duda Mendonça e Nizan Guanaes? Quem é o melhor, o mais competente? A competição que hoje existe é esta: Nizan Guanaes contra Duda Mendonça. São os dois que estão competindo. O PT não tem; Itamar Franco não tem; eu, coitado de mim! Será que é isso uma campanha eleitoral? Será que é por aí que uma eleição deve ser feita? Será que é por aí que o esclarecimento da opinião pública deve ser levado adiante? Eu não sei. Eu só tenho esta tribuna e pretendo usá-la mais vezes daqui por diante. Pretendo usá-la para que, pelo menos, conste dos Anais e para que o telespectador que assiste à TV Senado procure verificar e se adonar desta realidade. Eles recebem parte da verdade.

            Sabemos que se pode fazer pesquisa como e quando se quer. Já vi tantos resultados de pesquisa dramáticos que nunca dei grande importância a eles. Vi, outro dia, um jornal publicar, em foto de página inteira, os dois frente a frente, com os seguintes dizeres: “Duelo de titãs”. E segue mostrando o esquema de cada um, o de Duda Mendonça fazendo as áreas radicais do PT serem colocadas em um lugar e as áreas light em outro.

            Anteontem, ainda ouvi o nosso querido Deputado José Genoíno, candidato a Governador de São Paulo, dizer: “Com o discurso que o Presidente Fernando Henrique fez, na Europa, até o Fernando é meio PT.” É a linguagem do Duda que está sendo aceita.

            O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não.

            O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Senador, a coisa é mais grave do que expõe V. Exª. Amanhã, provavelmente, os jornais nacionais abordarão a eleição municipal em Curitiba, que foi vencida pelo PFL. Lembra V. Exª das declarações do nosso Senador Jorge Bornhausen? “A eleição ainda não está perdida. Vamos ganhá-la”, quando o PT estava à frente do Cássio Taniguchi, do PFL. Pois muito bem, pelo que sei, nessa campanha municipal de Curitiba, a GW cobrou R$5milhões; a Loduca, R$3milhões; e um estúdio de rádio, chamado Nosso Estúdio, R$2,5 milhões. Foram R$10,5 milhões gastos em comunicação. Montaram uma cidade cênica, com casas, vilas, construções. Dali, o material saía para iludir, para divertir - do italiano divertere -, desviar do que importa. E o japonês trabalhador - era assim que ele se intitulava - era vendido como um sabonete, sem nenhuma ligação com a realidade. Somas incríveis foram pagas a institutos de propaganda. E alguns estranhos institutos, que, provavelmente, amanhã, o Paraná e o Brasil conhecerão, receberam pelos resultados que divulgavam e não pela pesquisa que faziam, porque pesquisa não fizeram. Então, estamos vivendo uma situação sui generis. V. Exª fala no financiamento público de campanha e eu contraponho a isso o poder da televisão. Desde que cheguei ao Senado, Senador Pedro Simon, e que assumi esse vezo nacionalista, defendendo empresas nacionais e emprego de brasileiros, nunca mais fui honrado com uma imagem na Rede Globo de Televisão, local e nacional. Outro dia, de uma forma absolutamente indevida e equivocada, tentaram me transformar num Senador intervindo num acidente de automóvel, o que realmente não ocorreu. Mas V. Exª, Senador Pedro Simon, não tem defesa. Publicam num jornal que V. Exª, Senador, tem 80% de rejeição. E V. Exª não tem acesso às pesquisas. E de pouco adianta reclamar na tribuna do Senado, porque a barbaridade não será corrigida, uma vez que essa gente toda funciona a peso de ouro. É a grande manipulação da eleição pela mídia! Some-se a isso essa brincadeira da legislação eleitoral, em que o TSE pode escolher o Presidente da República à revelia do povo, se mal-intencionado for. Não estou dizendo que seja. Mas garantiu essa possibilidade, manobrando para que o Congresso Nacional não votasse uma lei que desse credibilidade ao sistema. Fico aqui me perguntando o que estão fazendo os candidatos, numa eleição dirigida por grandes empresas de propaganda, opinião pública conduzida por pesquisas de opinião, das quais não temos a menor certeza da legitimidade. E assim podendo ser escolhido o Presidente, por uma violação do padrão dos softwares do sistema eleitoral profundamente viciado, comprometido e pouco verdadeiro, autêntico, sem nenhuma credibilidade. V. Exª está enfrentando um desafio pesado. Mas não se esqueça também dos inimigos internos. De repente surge, contrapondo-se à candidatura de V. Exª e de Itamar Franco, a não-candidatura do Presidente do Partido, Michel Temer, partidário claro da coligação dos Partidos da base do Governo, que se coloca como não-candidato do Partido, ou seja, o candidato para eliminar os outros candidatos, apresentar no esquema da escolha uma terceira opção: a da submissão, da coligação com os Partidos do Governo. Desejo-lhe sucesso, mas a empreitada não é das menores.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Respondo o seu aparte começando pelo fim. V. Exª não pode dar crédito a esse noticiário da imprensa, que está querendo fazer essa grosseria com o Presidente do PMDB. Querer imaginar que o Presidente do PMDB foi a Paris e conversou com os Presidentes dos Partidos e com o Presidente da República e voltou candidato à prévia do PMDB é não respeitar o Presidente do PMDB. Garanto a V. Exª que ele não é candidato. Ele assumiu a Presidência - nós o apoiamos como candidato a Presidente do Partido - com a responsabilidade de garantir a prévia - ele garantiu -, marcar a data da prévia - ele marcou -, regulamentar a prévia - ele regulamentou -, e presidir a prévia - ele vai presidir. Acho que uma figura como a do nosso amigo Temer, respeitável, digna, correta, que tem a missão - e eu lhe disse isso, Senador - de ocupar um vazio, que existe desde que o Dr. Ulysses Guimarães deixou a Presidência, lamentavelmente. A Presidência do PMDB tem sido uma tragédia. É um lugar vazio à espera de um nome. O Presidente do PMDB, Deputado Temer, tem condições de ser esse homem: presidir a prévia com imparcialidade.

            A imprensa e alguns jornalistas, em suas colunas, insistem nesse assunto. E há alguém por quem tenho respeito, amizade e que conheço: o ex-Governador do Rio de Janeiro, hoje assessor do Presidente da República. Esse jovem se porta muito mais como assessor do que como Líder partidário. Como assessor, ele está no seu papel de defender Fernando Henrique e de fazer tudo o que pode dentro do PMDB a favor do Presidente, que é o homem que lhe dá a função gratificada. Porque assessoria não é como Ministro. O Ministro é Ministro, é convocado pelo Governo, é Ministro nomeado pelo Presidente, mas ele representa o Partido, está ali representando o seu Partido. O assessor especial é o homem da confiança absoluta de quem o convoca. Tenho um assessor no meu gabinete que é o homem da minha confiança. V. Exª tem no seu gabinete um assessor que é o homem da sua confiança. O nosso querido ex-Governador do Rio de Janeiro é assessor da confiança do Senhor Fernando Henrique. Tudo bem. Mas aí a ele dar e a imprensa atribuir permanentemente a ele essas notícias a que V. Exª se refere, ele, divulgando, e permanentemente dizendo o que pensa, deveria ter um pouco mais de seriedade e entender que como assessor do Presidente tem que medir as palavras. No entanto, é um homem que quer ditar normas e um homem que está dizendo agora para a imprensa que o Sr. Temer vai ser candidato e vai disputar as prévias, o que não é verdade. Seria uma página muito triste, seria horrível para o PMDB. Pode haver vários candidatos, mas se há um que não pode ser candidato é o Temer, porque foi escolhido numa disputa acirrada com o Senador Maguito Vilela. O Rio do Grande do Sul ficou com ele; ele foi lá no Rio Grande do Sul garantir a realização da prévia e que ele agiria como magistrado na condição, garantindo que teria prévia e que teríamos candidato próprio e que o PMDB sairia do Governo. Portanto, seria uma tragédia se, de repente, o Presidente do Partido rasgasse tudo.

            O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Senador Pedro Simon, e se de repente o nosso colega Michel Temer grita Vive la France !, muda o discurso e sai candidato? Como é que vamos nos comportar dentro PMDB, diante dos compromissos por ele assumidos até agora? Porque esta é a palavra mágica: Vivre la France ! - e o discurso se inverte. É a ironia. A ironia é a inversão de uma realidade esperada e o sinal, o código é Vive la France !.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Respondo a V. Exª: se ele for candidato, será uma página triste. A bases não vão aceitar, as lideranças não vão aceitar, e ele será uma página virada da nossa história partidária. Mas ele não fará isso. Ele tem a capacidade e a dignidade suficientes para desempenhar o seu papel, que é o de conduzir o processo.

            O Sr. Álvaro Dias (Bloco/PDT - PR) - Senador Pedro Simon, V. Exª me permite um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concedo o aparte a V. Exª.

            O Sr. Álvaro Dias (Bloco/PDT - PR) - Não é difícil compreender a indignação de V. Exª. Queria, neste aparte, manifestar a minha solidariedade e o meu respeito à sua trajetória política e à sua competência. Poucas pessoas têm o currículo, principalmente no que diz respeito à ética, e a capacidade de análise política de V. Exª: desenha um cenário que é a razão da indignação da população, da descrença do povo em relação às instituições públicas, aos Partidos políticos e aos políticos de uma forma geral. V. Exª desenha esse espectro de descrença generalizada com muita competência. Somos responsáveis no parlamento porque não conseguimos ainda concluir a reforma política e conferir ao País um modelo político compatível com as aspirações da nossa sociedade. Ouvi, no início do seu pronunciamento, referência a projetos apresentados, alguns não aprovados, mas há aqueles aprovados aqui, inclusive referente a financiamento público de campanha, o qual tive a satisfação de relatar e que, remetidos à Câmara dos Deputados, dormem nas gavetas por longo tempo. Aliás, a Câmara tem desprezado projetos aprovados de origem do Senado Federal, e tomado outras iniciativas como o da imunidade parlamentar. Há quanto tempo o projeto de V. Exª alterando o instituto da imunidade parlamentar, também aprovado no Senado Federal e remetido à Câmara, aguardava deliberação? A Câmara agora apresenta uma outra proposta e toma a iniciativa que acaba depois retornando ao Senado Federal. Enfim, para concluir, creio que sem um modelo político compatível com a realidade que vivemos, a insatisfação estará sempre se generalizando, não só a de V. Exª, que repercute dessa tribuna, a minha daqui, porém a de toda a população brasileira, que repercute em pesquisas de opinião pública e, principalmente, no ato do voto: o eleitor está se afastando das urnas - há uma grande abstenção, com um percentual elevado a cada eleição -, ou protestando pelos votos branco e nulo. Essa é a realidade. Temos que ter competência para promover uma profunda reforma estrutural, a fim de que um novo modelo político possa conferir maior credibilidade às nossas ações.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço o importante aparte de V. Exª. Mas tenho a dizer que sou hoje mais pessimista do que ontem com relação ao trabalho desta Casa. Jogava tudo nos dois projetos: só dinheiro público em campanha e os programas de televisão ao vivo. Creio que eram duas fórmulas por meio das quais não havia mídia, não havia dinheiro, não havia vigarice que fizesse dar errado. Só dinheiro público na campanha! O meu projeto foi nesse sentido e o que V. Exª aprovou, também, nesse sentido. E o que está guardado na gaveta da Câmara é nesse sentido. Terminaria com “Pedro Simon candidato à Presidência da República e Antônio Ermírio de Moraes”, o homem mais rico do Brasil. A propaganda tinha que ser igual, como é na Alemanha.

            O ex-Primeiro-Ministro da Alemanha, considerado o herói do fim do século pela unificação da Alemanha, hoje, é uma figura que caminha pelos corredores do parlamento como um fantasma. Por quê? Porque provaram que ele deu seis telefonemas a seis empresários, para pedir dinheiro e dar a seis parlamentares de uma determinada região, onde ele precisava garantir maioria no colégio eleitoral, que escolhe o primeiro-ministro. Seis telefonemas foram o suficiente para que o Sr. Helmut Kohl desaparecesse como líder político.

            No Brasil, no momento em que soubéssemos que a Nação estaria fiscalizando, que o gasto de cada candidato teria que ser absolutamente igual, não haveria dúvida nenhuma de que ela transcorreria num outro ambiente.

            Como é que o Pedro Simon chega em um aeroporto, desce de um avião de carreira e fica duas horas esperando um outro avião, e vem um outro candidato pega um jatinho aqui, outro jatinho ali, três jatinhos mais e não sei o quê? Isso teria que ser explicado!

            E a campanha ao vivo, que o PT também não quis? A campanha ao vivo é para o candidato aparecer como ele é. Para eu votar em fulano porque é o fulano, e não votar no Duda Mendonça ou no Nizan Guanaes, na imagem que eles criam, como criaram a do Pitta. O Sr. Duda e os técnicos que realizaram a campanha do ex-presidente americano vieram e fizeram um estudo, porque o Maluf não tinha candidato, mas estava em grande ascensão, com grande prestígio. Então, relacionaram dez nomes. Esses técnicos olharam, selecionaram, fizeram teste de televisão e não sei mais o quê e escolheram o Pitta, porque era o mais vazio, era o que não tinha passado, era o que não tinha história, era o que não tinha biografia: “em torno do Pitta, a gente faz o que a gente quer”! E assim fizeram. Transformaram-no em estadista, em economista, em gênio... e deu no que deu!

            Não vejo nos Estados Unidos e na Europa um grande jornal, uma grande rede de televisão se meter na questão da escolha dos candidatos presidenciais. Aqui, no Brasil, é o normal. É o normal. Quem está vendo, quem está fazendo diariamente é a mídia, que dá páginas inteiras para quem ela quer. E será que isso é liberdade de imprensa? Eles dizem: “O jornal é meu, então eu faço o que quero”! Mas será que é isso o que se quer na busca do bem comum de uma sociedade?

            Em segundo lugar, vêm as pesquisas, que publicam o que querem. Eu estou vendo ali ilustres jornalistas, comentaristas da maior importância, pelos quais tenho o maior respeito. É claro que eles sabem. O Drumond e o Sebastião sabem que, no final da eleição, se acomodam os números. “Muitas vezes, ela joga tudo em fulano; vai, vai, vai, e deixa o beltrano lá em baixo. Mas quando a eleição começa a se aproximar, o beltrano tem que subir, porque tem que dar uma resposta, e o fulano tem que baixar”.

            Uma vez, perguntaram a um desses homens de mídia: “Vem cá, mas como é que se explica essa loucura? Como é que eu tinha 30% a mais e agora já estou com 12% a mais, e você está me dizendo que, na próxima, será 100%? Na verdade, você sempre teve 30% a menos. Você está voltando para a realidade. Nós estamos dando a você agora a realidade dos números, porque eleição é eleição”.

            Então, eu fico a me perguntar: Aonde nós vamos chegar, quando a hora mais importante, que é a escolha de um Presidente da República, deve ser precedida de um debate entre as pessoas, entre os grupos partidários, em torno de idéias, de filosofias e de pensamentos? Aonde chegaremos?

            Está lá o Ciro Gomes, candidato do Partido Comunista, dizendo que ele é o candidato mais simpático da Direita.

            Outro dia, no Ceará, em uma reunião, ele disse que político está embaixo de cocô de galinha e, depois, disse que não falou isso. Está lá a nossa realidade a perguntar: não deveria haver um pouco mais de seriedade nessa questão? Não deveria a imprensa publicar, debater, sim, mas não querer fazer, adonar-se: esse pode ser, aquele não pode ser?

            Agora, meu Senador Álvaro Dias, o Congresso é o grande culpado, porque não votou as leis que consolidavam os partidos políticos; não votou as leis que consolidam a vida partidária no nosso País. Estamos aqui fazendo uma lei eleitoral para vigorar por dois anos, atendendo aos interesses dos que têm maioria no Congresso naquela eleição. E despreocupados. Uma lei que seja séria, que seja responsável e que seja permanente em termos de futuro. Qual a razão de, a cada dois anos, sempre votarmos uma nova lei eleitoral, mudando a anterior? É que são feitos arreglos e acordos de última hora.

            Estou aqui, Sr. Presidente, primeiro felicitando o Duda Mendonça, porque penso que ele está ganhando do Nizan Guanaes, porque a Dona Roseane com zero e, em questão de um mês, a colocou em dezenove. E o Duda Mendonça não consiga tirar o Lula da área dos 100 pontos percentuais. Com relação a meu amigo Itamar Franco, cujo percentual de intenções de voto baixou, se não empregar alguém dessa competência para entrar no jogo, ficará à margem. Com relação a mim, só fico na expectativa da prévia do MDB.

            Tenho uma certa vaidade de afirmar que, se ganhasse essa prévia e tivesse direito a 7 minutos de televisão durante 60 dias, teria condições de dizer algumas verdades, de esclarecer alguns pontos e dados, falando a este País, a começar pela televisão, pelo rádio e jornal, por candidaturas e por partido. Não imagino o resultado, mas sei que faria um bom trabalho para o meu País.

            Pasqualini, meu mestre, duas vezes candidato a Governador do Rio Grande do Sul e duas vezes derrotado porque era ético demais, dizia que uma campanha é o momento de pregar idéias e pensamentos, de esclarecer, de instruir e, até mais, de educar o povo. Acho que é por aí.

            A mim me disseram: “Simon, tu és candidato. Para vires aqui, ao Estado, tens de pegar um avião; para ires ao Mato Grosso, tens de pegar um avião; em São Paulo, tens de esperar duas horas para chegar em Campo Bom e fazer a palestra, a fim de, no dia seguinte, voltares, pelo mesmo percurso, a Brasília. Assim não vais ganhar. Onde está teu esquema de publicidade e teus agentes? Onde estão as pessoas para conversar com a Globo?” Não as tenho. Se para ser candidato é preciso entrar nesse esquema não será fácil para mim. Já recebi ofertas de avião, de locais, de verbas e as agradeci. Agradeci publicamente o oferecimento por gente importante de verbas razoáveis. Não seria mais o Pedro Simon se fizesse o que fazem aqueles dos quais discordo.

            Neste fim de tarde de segunda-feira, em que a pesquisa CNT/Sensus lançou seus últimos números, venho dizer que dependem do Congresso Nacional as reformas de que precisamos. Lamentavelmente, o Congresso ainda não está ciente de sua missão. Valsamos ao sabor dos acontecimentos, até a Oposição. Os meus dois projetos - sobre o dinheiro público e a campanha e sobre propaganda ao vivo na TV - foram vistos com antipatia até pela Oposição. São dois projetos que realmente mexem com a estrutura vivenciada por nós aqui.

            Encerro, Sr. Presidente, felicitando a minha amiga Roseana Sarney, mas de modo muito especial, parabenizando o Sr. Nizan Guanaes e reconhecendo sua competência. E me dirijo ao meu amigo Duda Mendonça, perguntando qual vai ser o ato dele, qual vai ser a fórmula do contra-ataque para responder à última do Nizan Guanaes.

            E ficamos nós para o próximo round da eleição brasileira. Assistam na Rede Globo de Televisão e nas outras que a resposta virá, e via televisão, via empresas de publicidade, via pesquisas, nós saberemos o resultado. Por enquanto, sabemos que há um confronto, um duelo total entre Duda Mendonça e Nizan Guanaes. Com Duda, o Lula continua em primeiro. Nizan tirou a sua candidata do zero, e, agora, ela alcançou os dezenove pontos percentuais. Veremos a que ponto isso vai chegar.

            Mantenho meu nome porque acho que além dessas pessoas, além dessa força e além desse poderio, existe o povo brasileiro e a nossa responsabilidade de respeitá-lo.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


            Modelo111/25/241:48



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