Discurso durante a 148ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise dos dados divulgados pelo IBGE relativamente à redução do rendimento médio dos trabalhadores.

Autor
Ademir Andrade (PSB - Partido Socialista Brasileiro/PA)
Nome completo: Ademir Galvão Andrade
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Análise dos dados divulgados pelo IBGE relativamente à redução do rendimento médio dos trabalhadores.
Publicação
Publicação no DSF de 06/11/2001 - Página 27647
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPROMETIMENTO, DESENVOLVIMENTO, BRASIL.
  • ANALISE, DADOS, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), REDUÇÃO, RENDIMENTO, TRABALHADOR.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, UTILIZAÇÃO, RENDA, TRABALHADOR, PAGAMENTO, DIVIDA EXTERNA, AUMENTO, DESEMPREGO, REDUÇÃO, CONSUMO, PRODUÇÃO, PREJUIZO, CRESCIMENTO ECONOMICO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ADEMIR ANDRADE (PSB - PA) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, tenho, com freqüência, ocupado esta tribuna para questionar a política econômica adotada pelo Governo Fernando Henrique Cardoso. Sou convencido de que as bases dessa orientação econômica são frágeis e não se sustentam por muito tempo. O artifício dos juros altos como mecanismo de reduzir os índices inflacionarios, entre outros mecanismos, tem comprometido o desenvolvimento econômico do País e punido demasiadamente a classe trabalhadora.

            Os jornais dos últimos dias divulgaram dados do IBGE que dão conta de redução no rendimento médio dos trabalhadores. Considerando os dados referentes ao mês de agosto de 2001, a renda do trabalhador brasileiro teve uma queda real de 4,6% em relação ao mesmo mês do ano passado. Se considerarmos apenas aqueles que possuem carteira assinada, a queda no rendimento foi ainda maior, atingindo 4,8%.

            Em valores monetários, o rendimento médio do trabalhador, que era de R$784,98 em agosto de 2000, passou a ser de R$749,53 no mesmo mês de 2001. Somente entre julho e agosto desse ano de 2001 a perda real foi de 1,9%. Ou seja, de um mês para o outro, o trabalhador que ganhava R$1.000,00, passou a ter R$19,00 a menos do seu poder compra.

            Entendo que essa queda no rendimento dos trabalhadores brasileiros é decorrente de um modelo de gestão econômica que prioriza remessas vultuosas para pagar juros à banqueiros internacionais, em detrimento de investimentos que possibilitariam o crescimento da nossa economia. São cerca de 4 bilhões de reais, sugados todos os meses, na forma de superávit primário, para pagar parte dos juros da dívida.

            A queda no rendimento do trabalhador está diretamente ligada ao nível de desemprego, que, por sua vez, se relaciona com o pífio crescimento da nossa economia. Precisaríamos crescer acima de 5% ao ano para oferecer emprego aos novos trabalhadores que entram no mercado, a chamada população em idade ativa. Mas com o baixo desempenho da nossa economia, a tendência é que o trabalhador seja ainda mais sacrificado.

            Contudo, se considerarmos a Pesquisa Mensal de Emprego divulgado pelo IBGE, abrangendo as seis maiores regiões metropolitanas do País, veremos que houve uma queda brutal no número de pessoas ocupadas. Em setembro de 2000, o número de pessoas economicamente ativas - PEA que era de 18.599.845, nessas seis regiões metropolitanas, caiu para 18.380.544 em setembro de 2001.

            Vejam Sras. e Srs. Senadores, a gravidade do atual cenário do mercado de trabalho no nosso País. No último ano, tivemos piora nos níveis de renda do trabalhador e também queda no número de trabalhadores ocupados, ainda que os índices de desemprego divulgados pelo governo se mantenham estáveis, já que a pesquisa não considera aqueles trabalhadores que desistiram de procurar emprego.

            Vivemos, na verdade, um momento de desânimo da nossa classe trabalhadora. Além disso, o aumento no número da população em idade ativa, sem que esta entre para o mercado de trabalho, também contribui para a queda no rendimento médio dos trabalhadores, já que o crescimento do desemprego aumenta o poder do patrão nas negociações salariais.

            Portanto, é de vital importância essa reflexão sobre o desemprego e sobre a queda no rendimento dos trabalhadores. Prevalecendo a atual política econômica, esse quadro recessivo tende a se acentuar. Com a queda da renda e conseqüentemente do consumo, teremos redução ainda maior nos níveis de produção. Entraremos num circulo vicioso. Nem mesmo na época de fim de ano, em que o comércio tem seu melhor desempenho, é esperado grande crescimento nas vendas.

            Sr. Presidente, popularmente se diz que a corda arrebenta do lado mais fraco. O empresariado brasileiro, com o vai-e-vem da economia, tem procurado se defender. A queda nos níveis salariais, sobretudo no trabalho formal, não deixa de ser um modo de passar adiante o aperto. O trabalhador, por sua vez, vê-se impelido ao empobrecimento, engrossando a fila dos subempregados, até chegar à indigência.

            A sociedade como um todo perde. O desânimo do trabalhador, o aumento da violência e da mendicância são conseqüência direta de tudo isso.

            Vejam, Srªs. e Srs. Senadores, é um efeito em cadeia. A renda dos trabalhadores é vital para o crescimento da economia e da nossa produção doméstica. Gerando trabalho e aumentando nossas riqueza, estaríamos também melhorando a distribuição de renda.

            Outra questão a ser abordada é a que trata dos diferentes níveis de rendimento por região. Enquanto em São Paulo o rendimento médio dos trabalhadores, verificado em junho de 2001, foi de R$898,47 - segundo dados do IBGE, o rendimento verificado nas regiões de Salvador, Recife e Belém do Pará foi, respectivamente, R$443,77, R$479,07 e R$616,40, ou seja, entre 49% a 69% menor do que em São Paulo. Sendo que este último, o dado relativo a Belém, se à coleta feita pelo DIEESE.

            Achei oportunas essas reflexões, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, porque estamos em processo final de discussão do Orçamento Geral da União, para o ano de 2002. E essa proposta orçamentária, que tem a cara do último acordo que o Brasil assinou com o Fundo Monetário Internacional, acentua ainda mais essa tendência de recessão e de sacrifício do País e da classe trabalhadora, na medida em que o texto que deverá ser aprovado, em poucas semanas, prevê um superávit primário de 3,5% do nosso PIB, em detrimento de investimentos que seriam fundamentais para impulsionar o crescimento de nossa economia.

            Era o que tinha a dizer.


            Modelo15/15/245:13



Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/11/2001 - Página 27647