Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Referências à reportagem do jornal Folha de S.Paulo de hoje, com denúncias sobre irregularidades na contabilidade da campanha do prefeito de Curitiba, Sr. Cássio Taniguchi.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Referências à reportagem do jornal Folha de S.Paulo de hoje, com denúncias sobre irregularidades na contabilidade da campanha do prefeito de Curitiba, Sr. Cássio Taniguchi.
Publicação
Publicação no DSF de 07/11/2001 - Página 27776
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, IRREGULARIDADE, CAMPANHA ELEITORAL, CASSIO TANIGUCHI, PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO PARANA (PR), CONLUIO, JAIME LERNER, GOVERNADOR.
  • ANALISE, DADOS, IRREGULARIDADE, VERBA, CAMPANHA, ELEIÇÃO MUNICIPAL, ESTADO DO PARANA (PR), PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), AUSENCIA, DECLARAÇÃO, TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL (TRE), SUSPEIÇÃO, CORRUPÇÃO, RECURSOS, PRIVATIZAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, EMPREITEIRO, SUBORNO, DEPUTADOS, VEREADOR.
  • EXPECTATIVA, INVESTIGAÇÃO, CONDENAÇÃO, RESPONSAVEL, CORRUPÇÃO, ELEIÇÕES.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna para trazer algumas denúncias muito sérias.

            Inicialmente, quero pedir a transcrição da matéria de hoje da Folha de S.Paulo sobre o caixa de campanha de Taniguchi, no Paraná. A Folha de S.Paulo revela que o candidato Taniguchi, do grupo do Governador Jaime Lerner, omitiu a declaração de aproximadamente R$29,8 milhões ao TRE do Paraná.

            Pergunto, Sr. Presidente: de onde saiu esse dinheiro que foi contabilizado no caixa de campanha e não foi entregue ao TRE? Seguramente, uma campanha municipal, Senador Iris Rezende, não é alimentada por Jeová. Os candidatos não recebem dos céus o maná, o que alimentou o povo de Deus na fuga do Egito. Esse dinheiro não contabilizado teve origem espúria. E esses recursos do PFL do Paraná - estou dizendo do PFL do Paraná, porque não posso confundir o PFL de Cássio Taniguchi e de Jaime Lerner com o PFL do Maranhão de Roseana Sarney, por exemplo - vieram de manobras feitas com dinheiro público. Cerca de R$32.911.043,41 foram gastos na campanha.

            Sr. Presidente, retirei da Internet a íntegra da matéria de Fernando Rodrigues e requeiro à Mesa que ela seja incluída nos Anais do Senado Federal.

            No entanto, tenho aqui alguns dados interessantes dessa extraordinária campanha eleitoral.

            Esse caixa, que foi o caixa central da campanha, gastou esses R$32,911 milhões e declarou cerca de R$2,8 milhões; o resto foi dinheiro roubado do Erário, dinheiro sem origem, dinheiro criminoso. Mas há um outro caixa também para ser investigado: é o caixa do tal Comitê Sindical, também conhecido como Comitê Empresarial. É sindical por quê? São sindicatos de transporte coletivo, esses que gostam tanto de influir em eleições de cidades médias e grandes para conseguir aumentos abusivos de tarifa posteriormente. São mais R$20 milhões! São R$32.901.083,47, para ser mais preciso. Foram justificados no TER R$2.887.457,23; e não justificados, saldo a pagar, havia R$224.884,75. O total de recursos apresentados ao TER foi de R$3,112 milhões.

            De onde esse dinheiro surgiu? Não foi maná. Provavelmente, surgiu da grande corrupção das privatizações, dos dinheiros indevidamente pagos a grandes empreiteiros de hidrelétricas. Não é isso, Senador Álvaro Dias? Os 96 milhões que foram pagos pela construção da usina de Segredo, que foi feita por administração direta do Estado, de forma absolutamente injustificada e pouco transparente, podem ter alimentado, segundo rumores, com R$36 milhões, a contabilidade da campanha municipal.

            Havia um esquema extremamente interessante, Senador Edison Lobão. Não faltava dinheiro, porque ele caía do céu. Pedia-se a empresários um cheque. O empresário dava o cheque - como deram, por exemplo, a Companhia de Petróleo Ipiranga; a Digidata Processamento de Dados; a Tengel Tec. e Empreendimentos; a Rendran Const. de Obras; a Esteio Engenharia Aerofoto; a Cirama Park Administ. de Transportes; a Casc - Administradora de Shoppingcenter; a Êxitos Consultores Associados; a Paraná Equipamentos; a Tucumann Eng. Empreendimentos; a Risotolândia Ind. e Comércio; a Rumos Engenharia; a Revepar; a Construtora Castilho; a Empo Eng. e Saneamento; a Emadel Engenharia; a Keron Empreendimentos; a Stone Com. e Pavimentação; a Brasmem Empreendimentos; a Pavema; a Cimapar Const. Obras; a Wohnhaus Eng. Civil e o Consórcio Engeomec) -, que era contabilizado como doação, mas, imediatamente, a empresa recebia em dinheiro contado, em espécie, o mesmo valor. Tão natural era a operação, tão grande a certeza da impunidade, que eles assinaram o recibo da devolução do dinheiro em espécie. Era só uma forma para esquentar os recursos. E um número enorme de empresas aparece nesse livro Caixa, manualmente escrito com a letra do tesoureiro da campanha, Francisco Paladino, que caiu em nossas mãos depois de uma dissidência interna do PFL do Paraná.

            Lembro que, no segundo turno, apresentando as pesquisas o PT à frente, com 58%, li nos jornais declarações do Presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen: “A eleição não está perdida. Nós ainda vamos ganhar”. Se eu associar essa declaração às declarações do Governador Jaime Lerner, de que “eleição não se ganha; eleição se compra”, chego à conclusão do que aconteceu no meu Estado.

            Mas o resumo que estou dando, o espelho dessa contabilidade, traz também a compra de Deputados e Vereadores: Fabiano Braga Cortes, R$159 mil; Kielse Cirsóstomo, não sei se o filho ou o pai, que é Conselheiro do Tribunal de Contas, R$120 mil; Carlos Simões, Deputado Estadual, R$335 mil; Paulo Cordeiro; Luiz Ernesto; Sandoval; J. P.; Luiz Fabiano Braga Cortes; Custódio; Dinorah/Derosso; Severino Araújo; Deputado Federal Pastor Oliveira Filho, remunerado com um “duzentão” em espécie - R$200 mil em notas sonantes; Mauro Moraes; PTN - Nelson Freitas; PSD - Carlos Roberto; Luciano Pizatto; Emerson Palmieri, Presidente do PTB, agraciado com a gentil soma, a propina, o mimo de R$580 mil; Benoni Manfrim, hoje Chefe de Gabinete do Prefeito, R$365 mil.

            Mas - pasmem V. Exªs! - há algumas novidades sobre custo de campanha realmente impressionantes: G.W. Comunicações recebeu, em espécie, R$4,039 milhões, e a campanha ficou a lhe dever R$852 mil; Lowe Loducca, R$1.601.200,00, e a campanha ficou a lhe dever R$1,478 milhão; Nosso Estúdio, R$1,538 milhão, com um crédito, ainda, na contabilidade real, de R$1 milhão.

            O Instituto Vox Populi saiu-se muito bem nessa campanha: recebeu, sem que figurasse no livro entregue ao Tribunal Regional Eleitoral, a simpática quantia de R$560.934,00. O Instituto Bonilha recebeu R$56 mil, e a Brasmarket, sem ter feito pesquisas, recebeu a graciosa soma de R$104 mil. Se não fez pesquisa e recebeu, seguramente foi para publicar na revista IstoÉ resultados favoráveis de interesse do PFL e do Governo do Estado. Consultado pela Folha de S.Paulo, o responsável pela Brasmarket declarou que tinha prestado serviços à campanha. O representante do Paraná declarou que não tinha prestado serviço algum, mas a grana saiu do caixa.

            Ainda constam desta lista, entre outros: Serilon Com. de Tintas; Ivan Bonés; Fábio Campana, jornalista da Gazeta do Povo; Rionegro e Solimões. Enfim, tenho aqui um extrato dessa loucura toda!

            Essa denúncia da Folha de S.Paulo vai mexer com o financiamento de campanha no Brasil. Não é maná, não cai do céu, mas apareceram R$33 milhões, aproximadamente, e R$20 milhões num caixa do qual não tenho a contabilidade.

            Requeiro à Mesa a transcrição, como parte do meu discurso, nos Anais do Senado da República, do livro Caixa verdadeiro da campanha, manuscrito pelo Sr. Francisco Paladino, que deverá ser entrevistado pelos jornais interessados na matéria para dizer se reconhece a letra como dele e como verdadeira ou não essa fotocópia. Ele reconhecerá, não tem como evitar o reconhecimento. Quero pedir a transcrição dessas noventa e duas páginas, para que o Brasil inteiro saiba, definitivamente, como se fazem as campanhas dos grupos poderosos no Brasil.

            Eleição, no Paraná, o PFL não disputa; o PFL compra, como diz o nosso Governador Jaime Lerner, que, aliás, nem sequer era do PFL. Ele era do PDT, de Brizola, enquanto isso lhe convinha. Não faço uma acusação frontal ao PFL do Paraná, mas à quadrilha que tomou conta desse Partido. Quero ver, ainda, Taniguchi, Jaime Lerner, todos eles na penitenciária do Ahú, depois de processados pelo Ministério Público e condenados pela Justiça!

            Passo à Mesa os documentos.

 

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            SEGUE DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ROBERTO REQUIÃO EM SEU PRONUNCIAMENTO, INSERIDO NOS TERMOS DO ART. 210 DO REGIMENTO INTERNO.

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            Modelo13/28/242:31



Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/11/2001 - Página 27776