Discurso durante a 150ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 25 anos de inauguração da Fundação Dom Cabral, centro de desenvolvimento de executivos e empresas no Estado de Minas Gerais.

Autor
Francelino Pereira (PFL - Partido da Frente Liberal/MG)
Nome completo: Francelino Pereira dos Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 25 anos de inauguração da Fundação Dom Cabral, centro de desenvolvimento de executivos e empresas no Estado de Minas Gerais.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2001 - Página 27966
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, ENTIDADE, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, ATUAÇÃO, AUXILIO, IMPLEMENTAÇÃO, MELHORIA, EDUCAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, GESTÃO, EMPRESA.
  • ELOGIO, SERAFIM FERNANDES ARAUJO, CARDEAL, DESENVOLVIMENTO, TRABALHO, CRIAÇÃO, ENTIDADE, EXTENSÃO UNIVERSITARIA, PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA (PUC), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG).

O SR. FRANCELINO PEREIRA (PFL - MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aos mineiros e aos brasileiros que me ouvem um abraço fraternal.

A homenagem que o Senado da República tributa, nesta tarde, à Fundação Dom Cabral nas comemorações do seu primeiro quarto de século de existência, é, também, uma homenagem ao conhecimento, no seu sentido mais abrangente.

Ao falar em conhecimento, hoje mais do que nunca essencial ao mundo em transformação, desde logo a imagem de uma figura venerável de educador, que conheci: Dom Antonio dos Santos Cabral.

Sergipano - conterrâneo da Senadora Maria do Carmo Alves, que me ouve atentamente - ele veio de longe, saindo de Propriá, no encantador Sergipe. Era o ano de 1922. Ele veio de lá para semear a fé, em sua missão na nova diocese que se criava, em Belo Horizonte, então considerada a mais nova noiva da República, desmembrada da Arquidiocese de Mariana, hoje presente na palavra, no amor, na cultura e na preocupação pela inclusão social de Dom Luciano Mendes de Almeida.

Mineiro do nosso convívio, Dom Cabral foi o primeiro bispo diocesano da Capital mineira e, dois anos depois, também o seu primeiro arcebispo. Sua atividade pastoral de 36 anos destaca-se pelo pioneirismo na implantação de programas de fundo social na jovem Capital de Minas Gerais.

Dele partiram iniciativas ainda hoje relembradas, como o desenvolvimento da Ação Católica, visando à participação de leigos no apostolado da Igreja.

Dom Cabral atuou também em outra ação vanguardeira da Igreja, presente que esteve à reunião da qual nasceu, em 1952, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - a CNBB -, que tanto contribuiu, ao meu lado e de Petrônio Portella - o Sr. Presidente, Edison Lobão, há de lembrar - para o restabelecimento da democracia no Brasil, depois do regime de exceção.

Autêntico plantador de escolas, foi da idéia e do trabalho desse precursor do ensino que viriam a ser criados, em Belo Horizonte, vários educandários, além de diversas faculdades de ensino superior.

De sua visão de educador, veio a se implantar em Minas o Colégio Arquidiocesano, mais tarde transformado em Instituto Arquidiocesano de Educação, o atual sistema arquidiocesano de ensino que conheço na intimidade.

A esse sistema vinculam-se os colégios dos bairros Floresta, Planalto, a Cidade Jardim, Barreiro de Baixo, Nova Suíça, na Capital mineira, além de educandários em Timóteo, no Vale do Aço, e em Nova Lima e Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte.

É, pois, com justeza que o nome hoje evocado serve de emblema para a denominação da Fundação Dom Cabral. Com isso, o reconhecimento a um dedicado precursor do ensino em Minas, sem dúvida o marco que serviu de base para a criação da nossa Faculdade Católica de Minas Gerais.

Essa visão de futuro orientou os sucessores de Dom Antonio dos Santos Cabral na transformação dessas escolas superiores na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC-MG - e o mineiro gosta de dizer: a PUC Minas Gerais. E, mais tarde, na concretização da idéia de implantação de um centro de maior significação no campo do ensino: a Fundação Dom Cabral.

Essa instituição, que nasceu para servir à comunidade empresarial, com a visão social, adota como linha a busca do conhecimento através da parceria, isto é, a cooperação mútua, no caso entre os mestres e técnicos da Dom Cabral e as empresas e empresários, que são o objeto dos seus estudos.

Graças a uma moderna concepção de ensino, a Dom Cabral superou-se a si mesma, ao escutar as necessidade das empresas e, assim, encontrar soluções em conjunto. Em outras palavras, um sistema interativo realizado com e não simplesmente para as empresas. Foi por isso que ela se tornou um dos mais respeitáveis núcleos de altos estudos e de ensino em nível de aperfeiçoamento profissional, à altura das exigências dos atuais tempos de mudança.

A atuação da Dom Cabral dirige-se sobretudo ao mundo empresarial, para mostrar que, ante a velocidade das mudanças, “é inevitável acompanhar essas mudanças”. Portanto, “é preciso aprender sempre”.

Na antigüidade, Sócrates, o extraordinário filósofo grego, costumava dizer que ele próprio nada sabia, apesar de reconhecidamente ter sido um dos mais sábios homens de todos os tempos. Na verdade, era a grandeza de sua sabedoria que o colocava na condição de eterno aprendiz, como hoje sugere a Dom Cabral.

Mais do que um centro nacional de excelência em ensino, a Fundação Dom Cabral já se encaminha para alcançar o seu reconhecimento também como um pólo educacional de referência internacional. Seu foco, inicialmente, será a América Latina.

Mesmo com o olhar voltado para o futuro - como na orientação da Dom Cabral - não será possível dissociar ou desagregar a idéia inicial de que resultou a sua criação, em agosto de 1976.

Agrada-nos, pela emoção e pelo interesse histórico, voltar o olhar para os breves anos passados da Dom Cabral, para um tempo de construção de uma idéia que antecipava, há dois decênios e meio, a nova visão do chamado desenvolvimento em administração.

            Assistimos de perto o seu caminhar. Quando fui Governador do Estado, vislumbrávamos, de Minas, o despontar de um novo modelo de escola. Hoje, estamos convencidos da atualidade dessa idéia.

Voltemos ao ponto onde tudo começou, evocando uma figura que, como Dom Cabral, vem dedicando toda a sua existência ao ensino, portanto ao conhecimento: Dom Serafim Fernandes de Araújo.

Esse mineiro de Minas Novas foi sagrado bispo com apenas 34 anos, tendo sido o mais novo religioso a assumir tal dignidade no Brasil. Foi ele quem teve a visão e a sensibilidade para acolher a idéia da criação da Dom Cabral, que então brotava na intimidade do cotidiano do Centro de Extensão da então Universidade Católica de Minas Gerais, a nossa atual PUC-MG.

Além de religioso, Dom Serafim é um professor nato. Em suas mãos, a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, da qual foi Reitor e seu mais entusiasta professor, passou, em 17 anos, de 650 para 40 mil alunos, 1800 professores e 800 funcionários, distribuídos em 45 cursos de graduação, não apenas em Belo Horizonte, mas também no interior: Betim, Contagem, Poços de Caldas e Arco, que é a cidade do nosso amor e da nossa estima.

            Ao trazer a este plenário o nome do ilustre prelado de Minas Gerais, a emoção nos bate forte pela lembrança da solenidade em que, no Vaticano, Dom Serafim recebia a investidura cardinalícia das mãos de Sua Santidade, o Papa João Paulo II, em fevereiro de 1998.

Ao lado de minha esposa, Latifinha, e de meus familiares ali estive como representante oficial do Senado da República, para nunca mais esquecer essa tocante cerimônia de fé e religiosidade que guardamos no nosso melhor aconchego.

            Foi uma emoção que renovava a alegria que sentimos, sete anos antes, em 1º de julho de 1980, quando, como Governador de Minas Gerais, tive a honra de receber João Paulo II em sua visita a Belo Horizonte. Lembramo-nos, com a mais comovida afetividade, do momento em que recepcionamos Sua Santidade no aeroporto de Belo Horizonte.

            Com ele, percorremos, sob a apoteótica manifestação de carinho da população de Belo Horizonte, as Avenidas Antonio Carlos, Afonso Pena, João Pinheiro e a Praça da Liberdade até à Praça Israel Pinheiro, no Alto das Mangabeiras.

Desde então, e em uma demonstração de apreço e de saudades, a Praça Israel Pinheiro é chamada pelo povo de Praça do Papa. Lá está o monumento que mandamos erigir para perenizar a visita de João Paulo II a Minas.

Ainda na semana passada, fui à Praça Israel Pinheiro, na intimidade, a Praça do Papa, para ver o monumento que lá construímos e inauguramos por ocasião da visita de Sua Santidade quando se dirigia a nossa Belo Horizonte, mais que belo horizonte.

Não há também como esquecer o instante em que, na mesma data, visitamos o Papa no Palácio Cristo Rei, a edificação que de certa forma compõe o conjunto do centro cívico e cultural de Belo Horizonte da Praça da Liberdade.

Hoje, Dom Serafim, ainda o nosso Cardeal-arcebispo de Belo Horizonte, conduz o Conselho Curador da Fundação que ajudou a construir e pela qual mantém o mesmo desvelo de sempre, acompanhando e estimulando os seus dirigentes, todos sob o comando do Professor Emerson de Almeida, que aqui está com seus cabelos brilhantes.

A homenagem desta tarde é um tributo a um trabalho de apenas 25 anos, do qual todos nós, mineiros e brasileiros, podemos nos orgulhar diante do País e do mundo.

Ainda há pouco, em agosto último, estivemos em Minas e pudemos testemunhar mais um passo dessa instituição, ao inaugurar seu novo campus em Alphaville, no Município de Nova Lima, onde são promovidos os programas em nível mundial.

Falo do Centro Alfa, como é denominado o Campus Aloysio Faria, localizado na região do chamado Lago dos Ingleses. Trata-se de obra que nada fica a dever aos melhores centros congêneres de outras nações do mundo.

Essa é outra homenagem justa, que lembra uma expressiva família mineira sempre dedicada ao meio empresarial. Aloysio Faria é descendente de uma ilustre família, mas também um empresário e figura humana que faz comover o coração da gente.

Nesses 25 anos, dirigentes, professores e técnicos da Dom Cabral seguiram um lema que nos ajuda a entender, passo a passo, essa gigantesca obra educacional erguida em Minas: “O caminho é tão mais importante quanto maior for o objetivo a alcançar.”

            Quando a Fundação Dom Cabral foi criada, em 1976, os idealizadores, todos do Centro de Extensão da Universidade Católica de Minas Gerais, já vinham atuando como uma espécie de ponte de ligação entre aquela instituição acadêmica e a comunidade. Esse o testemunho que obtive do atual Presidente da instituição, o Professor Emerson de Almeida.

Aquelas foram as bases para um relacionamento diante das naturais demandas do empresariado, colocado ante um cenário novo, em que “a capacidade de escuta e interpretação” é uma de suas exigências.

            Tais exigências sugerem o constante aperfeiçoamento e o olhar voltado para o futuro. A visão de futuro é o grande desafio da Fundação Dom Cabral. Seu trabalho, seus cursos e treinamentos voltam-se para a geração de modelos eficientes de tecnologia de gestão, para tornar as empresas competitivas e ensejar a sua inserção no novo ambiente sem fronteiras.

A fase que o mundo atravessa, ainda mal efeito do grande susto de 11 de setembro, sugere profundas mudanças de comportamento empresarial e governamental rumo à competitividade. E tudo isso precisa ser enfrentado com urgência.

Menciono aqui, bem a propósito, o pensamento predominante na Dom Cabral: “A revolução da tecnologia de gestão não comporta modelos prontos e acabados”. Eram esses os modelos aos quais tinham de sujeitar-se os países em fase de desenvolvimento.

Agora, quando a realidade é outra, o Brasil vem adotando passos vigorosos para um salto em busca de mercados externos. Essa é, sabemos, uma postura irreversível. Há pouco, o Governo entendeu que era preciso modernizar os mecanismos de exportação, a partir de uma nova versão na estrutura do Ministério do Desenvolvimento.

O novo contexto socioeconômico mundial e a situação do Brasil reforçam a necessidade de uma presença mais efetiva das instituições capazes e, ao mesmo tempo, com vocação para influir no desempenho do nosso País no mundo e, principalmente, para apoiar o seu desenvolvimento empresarial.

É, pois, com redobrada fé no futuro que registramos a nova dimensão da Fundação Dom Cabral, entidade sem fins lucrativos, nascida em Minas há 25 anos.

Sempre propugnamos pela redução das desigualdades sociais em todos os planos. Acalentamos, sobretudo, a melhoria das nossas condições internas, de sorte a resgatar a imensa parcela de excluídos que, no Brasil, nos humilha e entristece.

            Se temos o diagnóstico, não podemos nos esquecer de que o aprimoramento empresarial representa provavelmente o esforço mais adequado para superarmos o nosso atraso e a nossa dívida diante dos oprimidos. E esse aprimoramento não se pode distanciar do fato de que vivemos em plena era do conhecimento e da informação.

Esse é, também, o pensamento da Fundação Dom Cabral que, hoje homenageamos. Para ela, a construção de uma sociedade justa só é possível com empresas mais competitivas e empresários mais competentes, com uma visão do futuro e à altura do momento vivido pelo mundo, do qual o Brasil é parte não dissociada.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de repente, um raio!

O desafio deve ser entendido como uma constante no cotidiano da vida de uma nação e de seu povo, até para valorizar a conquista de um ideal, sobretudo quando buscamos a ascensão e o posicionamento justo de nossas populações, em sua maioria ainda excluídas, portanto, distanciadas das conquistas da modernidade.

Os exemplos são diários, a todo instante, convidando-nos a manter a perseverança como força maior, a exemplo do que prega a Dom Cabral, hoje homenageada pelo Senado da República.

Como o de Daniele, a menina de Santo André, a segunda ginasta do mundo, medalha de prata na Bélgica, só conquistada pela sua tenacidade e seu esforço.

Daniele tem em desfavor sua imensa dificuldade financeira até para a própria sobrevivência; ela que integra a imensa legião de brasileiros excluídos. Esse é o nosso cenário cotidiano.

Neste instante, pensamos em Minas e no Brasil, de milhões de desassistidos. Mas, também, na vitória da nossa menina ginasta. Só assim entendemos com maior clareza a missão a que vem se dedicando a Fundação Dom Cabral em sua linha de perseverança e desafio.

Sr. Presidente, agradeço a todos os que me ouvem, transmitindo os nossos votos de prosperidade, agora e sempre.

Muito obrigado. (Palmas!)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2001 - Página 27966