Pronunciamento de Sebastião Bala Rocha em 07/11/2001
Discurso durante a 150ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Críticas à matéria publicada pela revista Veja sobre o Presidente Nacional do PDT, Leonel Brizola.
- Autor
- Sebastião Bala Rocha (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AP)
- Nome completo: Sebastião Ferreira da Rocha
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
IMPRENSA.:
- Críticas à matéria publicada pela revista Veja sobre o Presidente Nacional do PDT, Leonel Brizola.
- Aparteantes
- Ademir Andrade, Alvaro Dias, Antonio Carlos Valadares, Carlos Wilson, Casildo Maldaner, Eduardo Suplicy, Geraldo Cândido, Iris Rezende, Jefferson Peres, José Alencar, José Eduardo Dutra, Maguito Vilela, Mauro Miranda, Osmar Dias, Pedro Simon, Renan Calheiros, Ricardo Santos.
- Publicação
- Publicação no DSF de 08/11/2001 - Página 28012
- Assunto
- Outros > IMPRENSA.
- Indexação
-
- REPUDIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), NOTICIA FALSA, CORRUPÇÃO, ENRIQUECIMENTO ILICITO, DESRESPEITO, LEONEL BRIZOLA, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT).
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP. Pronuncia o seguinte discurso como Líder. Sem revisão do orador.) -Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na tarde de hoje, desta tribuna, desejo em meu nome, em nome do Partido Democrático Trabalhista no Senado, que represento na condição de Líder, e com o apoio do Bloco de Oposição, manifestar o nosso desagrado e o nosso desagravo; desagrado à matéria da revista Veja, publicada na última edição, que faz referências injuriosas, maldosas, tentando atingir a honra do Presidente Nacional do PDT, Leonel Brizola. E o desagravo exatamente em função de ser o Presidente Nacional do PDT, Leonel Brizola, um homem público que sempre atuou na sua vida administrativa e parlamentar com muita transparência e lealdade aos princípios que devem nortear a atuação de qualquer homem público, tendo sempre como prioridade máxima de sua atuação o interesse coletivo.
Essa matéria publicada pela revista Veja, portanto, é capciosa, e por isso tenho o dever de censurá-la em nome do meu Partido e em nome da Liderança do PDT no Senado.
A manifestação de solidariedade a Brizola seria naturalmente desnecessária por tudo que se conhece da história de vida, da história política, da atuação administrativa sempre límpida do nosso Presidente do PDT.
Não quero aqui, de forma alguma, fazer qualquer alusão a quem está por trás, responsabilizar quem quer que seja que esteja por trás dessa matéria nem vim à tribuna fazer insinuações de qualquer natureza.
O que quero, neste momento, é demonstrar que esse tipo de matéria não contribui para o aprimoramento da democracia, não ajuda na moralização do País. Embora ontem, na Câmara, a maioria dos pronunciamentos tenha sido no sentido de demonstrar que não houve nenhuma acusação direta à pessoa de Leonel Brizola, com o que estou plenamente de acordo, não há como negar que houve, sem dúvida nenhuma, inúmeras insinuações e ilações a respeito da vida pessoal do Presidente Nacional do PDT, Leonel Brizola. A revista Veja, ao publicar essa matéria, certamente o fez com o interesse maior de denegrir a imagem e de mutilar a honra do Presidente Nacional do PDT. Não há dúvida quanto a isso.
Leonel Brizola é um marco na história política do Brasil. A vida pública de Leonel Brizola serve de referencial, não só para nós que estamos hoje aqui no Senado, mas também para o Brasil, para a juventude brasileira. Trata-se de um homem que lutou, com todas as suas forças, para que neste País não se instalasse a ditadura, um homem que disputou eleições e sempre foi vencedor. Claro que, no limiar dos 80 anos de idade, torna-se mais difícil a trajetória política de qualquer um de nós. No entanto, não há como negar a grande contribuição que Leonel Brizola trouxe ao nosso País.
Por isso, nossa Bancada não concorda, não apóia, contesta e censura esse tipo de matéria. E temos credibilidade para fazê-lo. Quando surgiu o Dossiê Cayman, trazido não se sabe por quem - até hoje especulam-se vários nomes -, a Oposição demonstrou maturidade, responsabilidade e interesse público. Não entrando no jogo daqueles que queriam atribuir ao Presidente da República, ao Governador Mário Covas, ao ex-Ministro Sérgio Motta, já falecido, e ao Ministro José Serra a culpa, nós da Oposição não entramos nesse jogo. Da mesma forma, agora defendemos a honra e a vida pública do nosso Líder maior que é, no caso do PDT, o Sr. Leonel Brizola.
O Sr. Jefferson Péres (Bloco/PDT - AM) - V. Exª me concede um aparte?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Concedo um aparte ao Senador Jefferson Péres. Posteriormente, ouvirei os Senadores Roberto Saturnino e José Alencar.
O Sr. Jefferson Péres (Bloco/PDT - AM) - Senador Sebastião Rocha, lamento muito que uma revista conceituada como a Veja tenha sido tão infeliz. Como V. Exª frisou, não há na matéria jornalística uma acusação explícita a Leonel Brizola, não se apontam indícios de qualquer ilícito que Leonel Brizola tenha praticado. Toda a matéria é uma perversa insinuação de que teria havido enriquecimento ilícito. Em primeiro lugar, nada há de estranhável que alguém que recebeu considerável patrimônio imobiliário como herança de sua esposa o tenha, ao longo de quinze ou vinte anos, quadruplicado, principalmente em se tratando de terras, que poderiam ter experimentado uma valorização natural, ainda mais se forem bem administradas. Por outro lado, um homem com o passado e a biografia de Leonel de Moura Brizola não merece isso. Não que um homem público esteja acima de suspeitas de investigação. Se houver qualquer indício, acusação, que seja apurado. Mas uma suspeita infamante dessas, apenas porque ele soube aumentar o patrimônio, realmente, um homem com a trajetória de vida de Leonel Brizola não a merece. Pode ser acusado de muitas coisas. Mas, de ladrão de dinheiro público, ou pior, insinuar isso, é profundamente lamentável que a revista tenha agido dessa forma. V. Exª, ao assomar à tribuna, expressa a minha indignação e a de todos os companheiros do PDT no Senado.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Senador Jefferson Péres, é muito importante a voz de V. Exª neste momento. No Senado e no Brasil, V. Exª se transformou em referência ética. O acolhimento de V. Exª, compreendendo que a matéria de fato é injuriosa, sem dúvida nenhuma beneficia a democracia brasileira, no sentido de que a opinião pública possa diferenciar matérias que têm por objetivo examinar e esclarecer indícios de malversação de recursos públicos de denúncias que tenham outras finalidades, que não quero aqui debater e não é meu interesse aqui mencioná-las.
Obrigado pelo aparte de V. Exª.
Ouço com atenção o eminente Senador Roberto Saturnino.
O Sr. Roberto Saturnino (PSB - RJ) - Nobre Senador Sebastião Rocha, quero somar a minha voz ao pronunciamento que V. Exª faz de repúdio frontal à matéria publicada na revista Veja. A matéria é maldosa, sim, Senador. V. Exª tem razão ao dizer que tudo foi muito bem analisado e pesado pela revista antes da publicação. Não há referência explícita de acusação, mas a matéria é cheia de maldade; é venenosa, peçonhenta. Pretende, com insinuações, nas entrelinhas, levar o leitor a acreditar nas acusações que, supostamente, não seriam da revista, mas estariam passando pelo ar e pela boca do próprio filho de Leonel Brizola. Essa matéria em mim produziu indignação, e eu queria manifestar essa indignação aqui, porque conheço bem Leonel Brizola, com ele convivi por muito tempo. Estou de acordo com V. Exª: Leonel Brizola é uma referência neste País em muitas lutas patrióticas desenvolvidas no campo da política no processo de redemocratização e na defesa de interesses nacionais, da economia e do povo trabalhador brasileiro. As posições de coerência de Leonel Brizola em relação a seus compromissos fundamentais são uma referência que o povo brasileiro tem com segurança na vida política do País. Ele é uma referência também, Senador, de honradez pessoal, pois contra um homem que ocupou tantos cargos públicos nunca se levantou nenhuma acusação e nunca se desconfiou de aproveitamento pessoal no exercício dessas funções. Claro que oposicionistas atacaram muito alguns setores de seu Governo no Estado do Rio de Janeiro, mas nunca envolveram a pessoa de Leonel Brizola no aproveitamento pessoal de qualquer exercício de poder. Leonel Brizola é uma referência de honradez pessoal na vida pública do Brasil e não pode estar sujeito a insinuações dessa natureza, à maldade contida na publicação da revista Veja, que merece o nosso repúdio. Falo em meu nome pessoal, mas creio que posso falar em nome da Bancada do Partido Socialista Brasileiro, somando nossa voz à manifestação de V. Exª, cumprimentando-o pelo seu discurso.
O Sr. Ademir Andrade (PSB - PA) - Senador Sebastião Rocha, V. Exª me concede um aparte?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Pois não. Agradeço o aparte do Senador Roberto Saturnino. Vou me eximir, inclusive, de comentar os apartes, para dar oportunidade a que os Srs. Senadores possam apartear. Mas eu gostaria apenas de fazer um pequeno comentário. Eu consideraria a matéria da revista Veja séria se ela apresentasse a evolução patrimonial de vários homens públicos que estão no Poder ou que já o ocuparam no Brasil.
Se a revista Veja exibisse uma relação de dez, doze ou quinze homens públicos, ex-Governadores, ex-Presidentes da República, realizando um comparativo, acredito que ela estaria fazendo uma matéria isenta. Mas a matéria realmente é tendenciosa e tem por objetivo apenas prejudicar, enlamear o nome do nome do ex-Governador Brizola.
O Senador José Alencar solicitou um aparte anteriormente. Mas o Senador Ademir Andrade solicita a antecipação do seu aparte, pois terá de se ausentar do plenário. Consulto do Senador José Alencar se posso conceder o aparte, em primeiro lugar, ao Senador Ademir Andrade (Pausa.).
Concedo o aparte ao nobre Senador Ademir Andrade.
O Sr. Ademir Andrade (PSB - PA) - Agradeço a V. Exª, Senador José Alencar, pela cessão. Realmente, o nosso Partido está reunido neste momento e tenho de me retirar. Quero dizer a V. Exª, Senador Sebastião Rocha, que V. Exª tem toda razão. A revista Veja deveria ser pelo menos ampla, ao mostrar ao povo brasileiro as maiores lideranças políticas. Não sei por que o faz com um, e não faz com todos. Também quero me somar às palavras de V. Exª e do Senador Roberto Saturnino. Tenho, Senador Sebastião Rocha, pelo Dr. Leonel Brizola uma admiração muito grande. Entendo que ele é dos políticos deste País que tem maior compreensão, em relação à grande maioria, do que representa o domínio dos Países ricos sobre países como o nosso. Não sei se outros políticos têm essa compreensão. Tenho uma admiração profunda pela sua luta, pela sua história, pela sua coerência, pela sua determinação política, pela sua maneira teimosa e corajosa de ser. Sou um admirador profundo de Leonel Brizola. Lamento que ele tenha sofrido uma perseguição tenaz ao longo de sua vida, principalmente pela Rede Globo de Televisão. Agora, surgem publicações como essa. Como todo ser humano tem os seus próprios defeitos, talvez o único defeito do ex-Governador Leonel Brizola seja o de ser impositivo, de não ter uma abertura maior de discussão dentro do próprio Partido e, por isso, ser chamado de caudilho. Talvez seja uma questão de teimosia, de determinação, uma característica pessoal de ser. Mas as suas qualidades são tão grandes, que superam esse pequeno defeito que ele tem. Sou um profundo admirador do ex-Governador Leonel Brizola e lamento que um homem de tanto valor, de tanto conhecimento, de uma vida inteira dedicada ao povo brasileiro, à defesa do Brasil, não tenha o reconhecimento nacional que merece. Ele ainda é um homem admirado, mas que está um pouco afastado do processo político, sem grande força, sem grande poder, quando, na verdade, é um dos homens, dos políticos mais valorosos que o Brasil tem hoje. De forma que me solidarizo com o discurso de V. Exª. Deixo aqui o meu abraço, presto a minha solidariedade ao ex-Governador Leonel Brizola e repudio matérias tendenciosas como essa da revista Veja.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AC) - Agradeço a V. Exª, Senador Ademir Andrade. Eu gostaria de pedir aos Senadores que estão com o microfones levantados e que vão me apartear - é importante ouvir as considerações de todos - que sejam breves para que possamos dar a todos a oportunidade de se manifestar.
Ouço, agora, o Senador José Alencar e, em seguida, o Senador Pedro Simon.
O Sr. José Alencar (PL - MG) - Eminente Senador Sebastião Rocha, pedi este aparte a V. Exª porque acompanho, há muitos anos, a vida política do eminente Governador Leonel Brizola. Desde os tempos em que o Brasil assistiu à renúncia do Presidente Jânio Quadros, o País inteiro pôde acompanhar a sua luta. Para que o Vice-Presidente João Goulart voltasse ao País, teve que voltar pelo Estado do Rio Grande do Sul. Naquela ocasião, o Governador Leonel Brizola foi quem lhe garantiu a volta ao seu País. Sua posse na Presidência foi de certa forma esbulhada pela implantação do regime parlamentar de forma casuística. Depois assistimos também à luta vitoriosa de Leonel Brizola pelo “não” ao Parlamentarismo. Leonel Brizola é um cidadão que tem constantemente primado pela probidade no trato da coisa pública, o que é uma de suas características mais marcantes, além de seu sentimento nacional arraigado, que deve ser um exemplo para todos os brasileiros: a defesa das cores do Brasil. Leonel Brizola é Brasil com “s”, é Brasil verde-amarelo. Eminente Senador Sebastião Rocha, trago uma palavra de solidariedade, de apreço ao pronunciamento de V. Exª, mesmo porque a matéria veiculada pela revista Veja mostra uma variação patrimonial nos últimos vinte anos que representa um crescimento patrimonial nominal da ordem de 7% ao ano. Isso significa que, se Leonel Brizola tivesse alienado seus bens naquele primeiro momento retratado pela Veja e tivesse aplicado seu dinheiro em papéis da dívida pública brasileira, rolada a custos de juros básicos Selic, os mais baratos do mercado, provavelmente teria hoje um patrimônio dez ou vinte vezes superior àquele demonstrado pela Veja. Também nesse interregno, segundo a citada revista, houve, se não me falha a memória, o falecimento de sua esposa, Dona Neuza Brizola, de quem ele era meeiro. Essa foi outra prova que também não ficou clara na reportagem. Realmente, foi uma pena que a revista tenha feito aquilo com um cidadão da probidade, do sentimento nacional, da brasilidade e da dedicação à coisa pública, como tem sido o Governador Leonel Brizola em toda a sua vida que conhecemos. Meus parabéns pelo pronunciamento de V. Exª.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Obrigado, Senador José Alencar.
Concedo o aparte ao Senador Osmar Dias e, posteriormente, ao Senador Pedro Simon.
O Sr. Osmar Dias (Bloco/PDT - PR) - Senador Sebastião Rocha, primeiramente, cumprimento V. Exª que, como Líder do PDT, traz o assunto ao plenário do Senado Federal para que possamos nos manifestar. Ingressei no PDT no dia 22 de setembro; portanto, estou há pouco tempo no Partido. Mas não foi neste pouco tempo em que estou no Partido que conheci a história do ex-Governador Leonel Brizola. Assim, tomo a iniciativa de registrar, com absoluta convicção e tranqüilidade, que a matéria publicada no domingo pela revista Veja não é verdadeira; ao contrário, ela insinua o crescimento patrimonial do ex-Governador Leonal Brizola sem fazer nenhuma análise técnica a respeito do que ocorreu. É claro que o ex-Governador Brizola vai esclarecer o assunto. E todos nós que o admiramos continuaremos a admirá-lo, sobretudo em uma questão que é levantada por todos. Em toda a vida pública do ex-Governador Leonel Brizola, nem os adversários fizeram qualquer acusação de ordem ética e moral sobre a sua participação na vida pública brasileira. Ao contrário. Todos reconhecem que ele é um homem ético e honesto. Podem até discordar do estilo: muitos discordam da forma como ele conduz o Partido, centralizando as decisões; outros discordam do tempo dos seus discursos, mas nunca vi ninguém fazer qualquer contestação à sua conduta ética, que sempre foi, aliás, a referência do Brizola para todos nós. Então, solidarizo-me com a manifestação de V. Exª e quero dizer que confio que o Presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, continua e continuará sendo uma referência ética para todos nós. Queremos protestar contra a forma como a revista Veja publicou a matéria na sua edição de domingo.
O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet. Faz soar a campainha.)
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Sr. Presidente, eu gostaria de contar com a compreensão de V. Exª. Eu gostaria de ouvir brevemente, pelo menos, os cinco Senadores que já sinalizaram pedindo um aparte, sobre os quais me eximo de fazer qualquer comentário. Pela ordem, seriam os Senadores Pedro Simon, Álvaro Dias, José Eduardo Dutra, Casildo Maldaner e Maguito Vilela.
O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) - Vamos conceder um minuto para cada aparte. Está prorrogado o seu tempo, a fim de garantir a presença de V. Exª na tribuna.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) - Peço aos aparteantes a maior brevidade possível.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Concedo um aparte ao Senador Pedro Simon.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Tendo um minuto para o aparte, faço questão, neste minuto, de dizer que, indubitavelmente, aqui, a pessoa que conhece há mais tempo o Dr. Brizola se chama Pedro Simon. Conheço Brizola desde as suas origens. Ele mais velho que eu, enquanto eu estava na ala jovem do PTB ele já se elegia Deputado Estadual. De lá para cá, acompanhei a vida do Dr. Brizola. Nós éramos do Partido Trabalhista Brasileiro, Partido em que ficamos até a sua extinção. Nunca vi nenhuma referência que tocasse na dignidade do Brizola. Todo mundo sabe que o Brizola é um ser político. Ele é apaixonado por política: ele come, bebe e veste política. Mas nunca se ouviu, nunca se falou que Leonel Brizola estivesse interessado em qualquer fórmula outra de buscar dinheiro. No Rio Grande do Sul foi assim. E a própria análise que faz essa revista Veja dá uma demonstração de que, no máximo, o que aconteceu com ele foi aumentar suas terras no Uruguai. Mas é uma demonstração de que ele não saiu à cata de oportunidades de empresas aqui e ali, de aplicar em fundos diversos. Ele foi exilado, confinado no Uruguai, vendeu a fazenda, os bens que tinha, de propriedade da Dª Neuza Brizola, que herdou da sua família, porque os pais de João Goulart eram muito ricos e todos os seus irmãos ganharam muito da herança. Brizola foi o único que até então, praticamente, não tinha aplicado. Ele pegou esses bens, venderam aqui e levaram para o Uruguai. Mas sou obrigado a reconhecer: um homem sério, um homem digno, um homem correto, um homem apaixonado pela coisa pública, esse foi o Brizola. Não fica bem, não cabe no figurino do Brizola o que agora querem fazer dele. Nessa altura, aos setenta e poucos anos de idade, o Dr. Brizola não alteraria toda a sua biografia, toda a sua história. Infelizmente, no Brasil, muitas vezes, busca-se o lado feio da vida dos homens públicos. Recentemente, publicaram uma biografia de D. Pedro II mostrando apenas as coisas erradas que fez. Também publicaram uma biografia do Dr. Juscelino Kubitschek falando sobre uma possível amante que teria tido, como se esse fato fosse importante. Infelizmente, no Brasil, quando o homem público se destaca, quando ele avança, quando atinge um patamar elevado, está sujeito a isso. Senador Sebastião Rocha, o pronunciamento de V. Exª e o apoio da unanimidade dos Senadores demonstram a credibilidade que tem entre nós o Dr. Leonel Brizola.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Agradeço ao Senador Pedro Simon o aparte. Concedo um aparte ao Senador Álvaro Dias.
O Sr. Álvaro Dias (Bloco/PDT - PR) - Senador Sebastião Rocha, quando eu ainda era um jovem Deputado Federal, fui a Lisboa conhecer Leonel Brizola no exílio. Foi o primeiro contato que tive com um líder que merecia meu respeito e minha admiração. Obviamente, como todos os seres humanos, possui defeitos, e muitos. No entanto, há virtudes indiscutíveis que salientam sua personalidade de grande líder nacional, reconhecido até por seus adversários. Mas eu não poderia deixar de destacar que a maior de suas virtudes é a postura ética. Brizola é referência ética na política nacional queiram ou não os seus adversários e inimigos. Com uma longa trajetória política, figura polêmica, participou de conflitos incontáveis, mas jamais alguém pôde, pelo menos de forma responsável, imputar a ele qualquer ato que pudesse macular sua honradez, sua decência e sua dignidade. Nas prateleiras da política nacional, a ética é um produto realmente em falta, mas, certamente, no currículo do Sr. Leonel Brizola, a ética ocupa um lugar de destaque. As minhas homenagens ao Governador Brizola.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Obrigado, Senador Álvaro Dias, pelo seu aparte. E concedo um aparte ao Senador José Eduardo Dutra. Posteriormente, falará o Senador Casildo Maldaner.
O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Senador Sebastião Rocha, se há um político na história deste País que teve a sua vida escarafunchada pelo regime militar para tentar encontrar qualquer fato que contribuísse para desmoralizá-lo politicamente, esse político é Leonel Brizola. O principal problema, a principal injustiça desse tipo de reportagem é não fazer acusações. Faz insinuações e levanta dados, não os correlacionando adequadamente, para deixar no ar a impressão de algum ilícito. Solidarizo-me com o pronunciamento de V. Exª, inclusive relevando as acusações - porque tenho certeza de que o próprio Governador Leonel Brizola deve reconhecer que são injustas - ao nosso Partido em relação a esse episódio, atribuindo a nós possíveis responsabilidades. Mas, decerto, como disse, o próprio Governador Leonel Brizola, atualmente, pensando bem no que afirmou, verá que cometeu uma injustiça com o PT. Tivemos divergências históricas nesse período. Mas, em relação à questão da ética, por ocasião da votação na Assembléia do Rio de Janeiro, quando se tentava, por meio de artifícios, cassar os direitos políticos do Sr. Leonel Brizola, o Partido dos Trabalhadores, mesmo tendo desentendimentos com o Governo, somou-se à Bancada que o defendia exatamente por entender que, por mais polêmico que ele seja e ainda que discordemos das suas visões políticas nesse campo, goza ele de todo o nosso respeito e credibilidade. Então, relevamos as acusações de que fomos vítimas nesse episódio. De forma nenhuma o PT contribuiria para levantar essas questões contra Leonel Brizola, até porque outra pessoa, o Governador Olívio Dutra, também com a trajetória, o perfil e o caráter do primeiro, está sendo, neste momento, objeto de calúnia desse tipo. Nunca nos utilizaríamos dessa arma para desviar a acusação contra nós. Certamente, o Dr. Leonel Brizola deve reconhecer que foi injusto naquilo que afirmou em relação ao PT. Solidarizo-me com V. Exª pelo seu pronunciamento e também com o Governador Leonel Brizola. Muito obrigado.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Agradeço a V. Exª, Senador José Eduardo Dutra. Tenho a certeza de que V. Exª fala em nome de seu Partido, o PT. Certamente, o tempo demonstrará ao próprio Governador Brizola que, de fato, podemos, nesse episódio, contar com todo o apoio e a solidariedade do Partido dos Trabalhadores, embora divergências políticas possam nos dividir em alguns momentos.
O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Concede-me V. Ex.ª um aparte?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Concedo o aparte ao Senador Casildo Maldaner e, em seguida, ouvirei os apartes da ala esquerda, que está reivindicando espaço.
O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Senador Sebastião Rocha, três pontos rápidos: primeiro, na época da renúncia de Jânio Quadros, havia alguma resistência a que assumisse constitucionalmente o Vice-Presidente da República João Goulart. Brizola criou a Rede da Legalidade , e eu estava servindo o Exército naquela época, em Santo Ângelo das Missões. No quartel, o comandante se indispunha com o Brizola. Então, nós, soldados e cabos, prendemos o comandante, sintonizados com a Rede da Legalidade de Brizola, que falava: “Nós, da Terceira Região Militar do Rio Grande, vamos enfrentar e levar João Goulart a assumir a Presidência da República. Se sozinhos não tivermos condições, vamos chamar os civis”. E o pessoal vinha dos campos, de todos os lugares, com espingarda, com taquari, com qualquer coisa: “Vamos, vamos dar posse a Goulart, fazer cumprir a Constituição”.
O segundo ocorreu quando eu, Deputado Estadual, em 1975, na Assembléia Legislativa do meu Estado, em Santa Catarina, pedi a volta de Brizola ao Brasil, a sua anistia. Não esqueço esse meu posicionamento, tomado, principalmente, em nome dos simpatizantes do oeste catarinense, localidade que eu representava na Assembléia Legislativa.
O terceiro, é com relação ao meu velho pai, com quase 83 anos - completa agora no dia 12. Se o Dr. Leonel Brizola aparecer no oeste catarinense ou em qualquer outro lugar, o velho Andréas Maldaner, com essa idade, não deixa de ir lá para assistir ao velho Dr. Leonel Brizola. O homem é homem pela ética, pela luta, pela persistência. Eu tinha que dar esse depoimento.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Muito obrigado, Senador Casildo Maldaner.
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Senador Sebastião Rocha, V. Exª me concede um aparte?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Ouço V. Exª, Senador Maguito Vilela.
O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Gostaria de, incialmente, parabenizá-lo pela brilhante defesa do ex-Governador Leonel Brizola. Confesso que não o conheço, nunca tive o prazer de estar com o ex-Governador Leonel Brizola e nunca tive a honra de apertar a sua mão, mas tenho acompanhado a sua trajetória política. Um homem que não tem medo, que tem coragem de falar a verdade, de enfrentar o próprio Presidente da República, teve a coragem de enfrentar a ditadura militar, um homem nacionalista, que sempre demonstrou muito ideal, muito amor a este País. Não podemos concordar que um homem com essa trajetória e coragem cívica possa ter cometido qualquer ato que deslustre a sua pessoa. Na realidade, vi e acompanhei atentamente o que a revista Veja quis mostrar com relação ao seu patrimônio. O importante é que sempre permanecem os dois apartamentos e a casa. O que evoluiu foi apenas a quantidade de hectares de terra. Todos nós sabemos que quem é proprietário de terra e a administra bem, só o aumento do rebanho bovino faz crescer seu patrimônio, como cresceu, desde o início até este último ano, sua fazenda no Uruguai. E cresceu cinco mil hectares de terra em vinte anos. Somente um fazendeiro muito incompetente não aumentaria, em vinte anos, quatro vezes o número de hectares de terra que teve no início. Só mesmo muito incompetente. E ele, que foi Governador do Rio de Janeiro por duas vezes, candidato à Presidência da República, demonstrou que não é incompetente. Então, a sua evolução patrimonial é perfeitamente normal. Tive a oportunidade de analisar friamente aqueles dados, e constatamos que houve maldade. Quiseram macular a história política de um homem que não merece essa mácula. Volto a repetir: não o conheço, nunca conversei com ele, nunca tive o prazer de apertar a sua mão, mas não posso, como homem público sério, aceitar também passivamente essa reportagem da revista Veja. Ela é insinuante no sentido de que ele tenha cometido qualquer irregularidade. Quero cumprimentá-lo e partir para a defesa do ex-Governador Leonel Brizola por uma questão de justiça.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Agradeço Senador Maguito Vilela, lembrando que o dólar, nesse período, foi multiplicado por oito, enquanto que paira, nessas insinuações, que o ex-Governador Leonel Brizola multiplicou seu patrimônio por quatro.
O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Senador Sebastião Rocha, V. Exª me concede um aparte?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Concedo o aparte ao Senador Renan Calheiros e, em seguida, aos Senadores Carlos Wilson, Iris Rezende e Eduardo Suplicy.
O Sr. Renan Calheiros (PMDB - AL) - Senador Sebastião Rocha, V. Ex.ª tem absoluta razão. O Governador Leonel Brizola, quer queiramos, quer não, é uma legenda neste País, um homem respeitabilíssimo, um político correto, sério, no melhor testemunho que poderíamos ter nesta Casa, que é o de seu conterrâneo, Senador Pedro Simon. Daí a solidariedade, digamos, suprapartidária. Parabenizo V. Exª pela oportuna solidariedade, e as nossas homenagens ao Sr. Leonel Brizola.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Muito obrigado, Senador Renan Calheiros. Tenho certeza de que V. Exª faz isso também em nome de seu partido, o PMDB.
O Sr. Carlos Wilson (PTB - PE) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Sebastião Rocha?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Pois não, nobre Senador Carlos Wilson.
O Sr. Carlos Wilson (PTB - PE) - Senador Sebastião Rocha, já havia expressado ontem minha indignação em relação à reportagem da revista Veja por meio de um fax que enviei ao ex-Governador Leonel Brizola. E hoje, V. Exª, com muita propriedade e sempre com muito brilho, ocupa a tribuna e sente, como disse o Senador Pedro Simon, a unanimidade do Plenário demonstrando a indignação com a matéria publicada. Pois todos sabemos, até os adversários, que, se existe uma pessoa no País que ninguém conseguiu atacar em sua honra, por mais duro que tenha sido o passado, a ditadura militar, foi o ex-Governador Leonel Brizola. Nem seu mais ferrenho adversário conseguiu atacá-lo naquilo que, com certeza, é seu maior patrimônio: a dignidade e a honradez. Ouvia também o aparte do Senador José Alencar, um empresário bem sucedido, um homem vitorioso. S. Exª fazia rapidamente uma conta financeira em que demonstrava que não houve crescimento no patrimônio do ex-Governador Leonel Brizola. O que houve foi uma tentativa de nivelar o ex-Governador Leonel Brizola com esses casos de corrupção que acontecem dentro do nosso País, que hoje são quase que casos corriqueiros na vida do nosso País. Então, nivelar Brizola por baixo, ninguém vai conseguir; nem os seus adversários mais poderosos conseguiram na ditadura militar. Então, eu quero parabenizar V. Exª, quero ficar solidário com o Governador Leonel Brizola e dizer que jamais alguém de bom senso e que tenha dignidade desconfiará da honradez do ex-Governador Leonel Brizola.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Eu agradeço a V. Exª.
Ouço o Senador Iris Rezende. Temos ainda os Senadores Eduardo Suplicy, Geraldo Cândido e Mauro Miranda.
O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Senador Sebastião Rocha, eu quero cumprimentar V. Exª pela oportuna defesa que faz do grande líder Leonel Brizola. É certo que S. Exª não poderia ficar sem uma defesa nesta Casa política. Naturalmente, como integrante do PDT, V. Exª teve a iniciativa, e, como observa, a Casa quase que unanimemente se associa à posição e à defesa de V. Exª. Eu quero manifestar a minha solidariedade a V. Exª e ao ilustre cidadão brasileiro Leonel Brizola, com quem sempre tive o melhor relacionamento. Líder que faz parte da história do Brasil, pelas suas atuações cívicas corajosas. É um homem dotado de muita coragem cívica e pessoal. Lembro-me bem de que se não fosse a atitude firme de Leonel Brizola, quando Governador pela primeira vez do Rio Grande do Sul, a ditadura teria chegado ao Brasil bem mais cedo, e teríamos sofrido mais. Ele se manteve firme até que João Goulart assumisse a Presidência da República para ser deposto anos depois. De forma que o País deve a Leonel Brizola, como Governador tantas vezes, como Líder, como político que é. Assim, fica aqui expressa a nossa solidariedade ao ilustre Líder e a V. Exª neste pronunciamento tão oportuno que profere nesta tarde.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Obrigado, Senador Iris Rezende.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Concede-me V. Exª um aparte?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Ouço V. Exª com prazer.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Sebastião Rocha, V. Exª expressa o sentimento de muitos Senadores ao dizer que houve da parte da revista Veja um procedimento que não guarda relação com outros homens públicos no Brasil, porque a reportagem é a respeito da trajetória de uma pessoa que, por seu turno, tem se destacado por defender tantas vezes a democracia e a correção no trato da coisa pública. A meu ver, é importante que o Governador Leonel Brizola tenha oportunidade, a mais completa possível, de esclarecer os pontos da trajetória relativa a seu patrimônio público. Dada a relevância de Leonel Brizola como figura pública, pareceu-me que houve apressamento da revista Veja em dizer a S. Exª que, se quisesse, poderia falar por telefone a respeito da história que estavam pensando em publicar. Em vista da maneira como a matéria foi publicada, seria próprio que a revista Veja insistisse mais adequadamente, dando a S. Exa tempo para esclarecer, pessoalmente, todo e qualquer episódio relativo ao seu patrimônio. Qualquer pessoa na vida pública normalmente é instada a esclarecer a história de seu patrimônio. Aqui vivenciamos episódios em que isso se constituiu em preocupação. O Senador Pedro Simon apresentou um projeto, aprovado pelo Senado, objetivando a abertura das contas de toda pessoa pública. Tal idéia tem, como caráter, tornar transparente a vida patrimonial de cada um de nós. O ex-Governador Leonel Brizola teve um valor inestimável na história da democratização do País; S. Exª foi uma das principais lideranças que impediram a instauração do regime militar, da ditadura. A luta por S. Exª empreendida, ao lado de tantos outros, para que tivéssemos novamente eleições diretas em nosso País, liberdade de imprensa e tantas outras liberdades públicas, faz com que expressemos nosso respeito ao Presidente do PDT, Leonel Brizola. Queremos, também, expressar nossa solidariedade à manifestação de V. Exª.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy.
O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti) - Senador Sebastião Rocha, a Presidência alerta V. Exª de que já excedeu seu tempo em mais de 20 minutos. Portanto, solicito aos Senadores que irão fazer apartes que sejam brevíssimos e que o orador conclua o seu pronunciamento, em atenção aos demais inscritos.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Agradeço a V. Exª, Sr. Presidente.
O Sr. Geraldo Cândido (Bloco/PT - RJ) - V. Exª me concede um aparte?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Concedo um aparte ao Senador Geraldo Cândido.
O Sr. Geraldo Cândido (Bloco/PT - RJ) - Senador Sebastião Rocha, solidarizo-me com V. Exª e com o ex-Governador Leonel Brizola. Serei rápido, pois o tempo de V. Exª já se esgotou. Não poderia deixar de manifestar-me, inclusive, porque Leonel Brizola governou, por duas vezes, o Estado do Rio de Janeiro. Apesar de travarmos alguns embates à época em que ele era Governador e eu, Presidente do Sindicato dos Metroviários do Rio de Janeiro e da CUT do Rio de Janeiro, S. Exa nunca reprimiu o movimento grevista. Ele foi um pouco duro, mas sempre tratou com lealdade a questão dos trabalhadores. Além disso, se fôssemos falar sobre Leonel Brizola, ficaríamos horas e horas discorrendo sobre sua trajetória de homem público, correto, decente, nacionalista, uma figura pública que merece nosso maior respeito. Por isso, Senador Sebastião Rocha, parabenizo V. Exª pela defesa que faz do ex-Governador. Estou, como os demais, solidário com Leonel Brizola, por quem tenho admiração e respeito. Parabéns.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Obrigado, Senador Geraldo Cândido.
O Sr. Antonio Carlos Valadares (PSB - SE) - V. Exª me concede um aparte?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Tem V. Exª a palavra.
O Sr. Antonio Carlos Valadares (PSB - SE) - Senador Sebastião Rocha, nós que conhecemos a história do Brasil, principalmente a mais recente da República brasileira, não poderíamos contá-la sem a participação e integração do nome do ex-Governador Leonel Brizola. É uma figura histórica, polêmica e corajosa, que, ao longo da sua vida, deixou uma marca de honradez, de exemplo, de modelo como homem público e como aliado. Conheço o Sr. Leonel Brizola pessoalmente. Tive a oportunidade de visitar a sua residência com um companheiro nosso do PSB, ocasião em que cumpriu rigorosamente todos os compromissos assumidos com o nosso Partido no Estado de Sergipe. Num momento difícil da nacionalidade, quando tantas denúncias pipocam em todo o Brasil, de norte a sul, de leste a oeste, justamente num momento como este, tão delicado, dever-se-ia preservar a figura histórica de S. Exª, que tem uma folha de serviços prestados ao nosso País, à nossa democracia, já tendo sido evidenciada a sua participação decisiva para que se evitasse a derrubada do regime democrático. S. Exª, com coragem cívica, destemor, num momento de crise institucional, enfrentou a força militar, enfrentou a força militar, enfrentou a possibilidade de perder o Governo do Rio Grande do Sul em nome da democracia. Foi exilado do Brasil e ao voltar foi eleito Governador, por maioria expressiva, duas vezes. Apesar de ter ocupado tantos cargos na sua vida política e de ter tido o prestígio de ter um cunhado na Presidência da República, o Sr. João Goulart, jamais pesou sobre S. Exª qualquer acusação de malversação de dinheiro público. Portanto, manifesto solidariedade a esse grande homem público e político. Por maiores e injustas que sejam as acusações perpetradas contra S. Exª, sua história jamais será excluída da História do Brasil.
O Sr. Mauro Miranda (PMDB - GO) - V. Exª me concede um aparte?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Concedo o aparte a V. Exª.
O Sr. Mauro Miranda (PMDB - GO) - Senador Sebastião Rocha, quero solidarizar-me com o discurso de V. Exª e dizer que a figura do ex-Governador Brizola é marcada sobretudo pela coragem, a maior de todas as suas virtudes. S. Exª tem coragem de homem público destemido que luta pela democracia e tem outra grande qualidade que um político deve ter, que é o amor ao seu povo e à sua terra. Isso ninguém tira de Leonel Brizola. A revista Veja deve dar-lhe imediatamente a oportunidade, abrir suas páginas nos mesmos espaços, com os mesmos caracteres ou até maiores para que Leonel Brizola faça sua defesa clara e explícita para toda a Nação brasileira. A história, a luta, os conflitos que teve - e ele os gerou todos - são muito fortes para a Nação brasileira e não podem ser destruídos em duas ou três páginas da revista Veja. Tenho certeza de que o semanário acolherá essa defesa que o Brasil todo espera e que o grande líder Leonel Brizola merece. Parabéns a V. Exª pelo discurso. Percebemos nesta tarde que toda a Casa é solidária e reconhece a grande liderança de Leonel Brizola e o grande trabalho por ele prestado ao Brasil.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Obrigado, Senador Mauro Miranda.
O Sr. Ricardo Santos (Bloco/PSDB - ES) - Concede-me V. Exª um aparte, Senador Sebastião Rocha?
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Ouço o aparte, Senador Ricardo Santos.
O Sr. Ricardo Santos (Bloco/PSDB - ES) - Senador Sebastião Rocha, o pronunciamento de V. Exª hoje expressa, como se vê, o sentimento de todo o Senado brasileiro. Ninguém em sã consciência pode levantar qualquer mácula na vida pública do Governador Leonel Brizola - talvez o façam por desinformação. O grande líder Leonel Brizola, nos últimos 50 anos, confunde-se com a história da democratização do Brasil. Todos se lembram da famosa campanha pela liberdade, dirigida por ele no Rio Grande do Sul, em defesa da posse de Jango; da sua luta pela anistia; da sua luta na campanha das Diretas Já; do reconhecimento do povo do Rio de Janeiro ao elegê-lo Governador em 1982, logo após o seu retorno do exílio. E a sua marca, como foi dito, sempre foi a coragem, o civismo, o idealismo e a sua luta pela implantação do trabalhismo no Brasil. A minha homenagem ao ex-Governador Leonel Brizola e congratulações a V. Exª que, em seu pronunciamento, defendeu-lhe a honra e expressou, como eu disse, todo o sentimento do Senado Federal.
O SR. SEBASTIÃO ROCHA (Bloco/PDT - AP) - Obrigado, Senador Ricardo Santos.
Sr. Presidente, como eu disse, quero afirmar com convicção que essa matéria da revista Veja, além de extremamente vil - porque procura, por meio de linhas tortuosas, desvirtuar a imagem e embotar a honra do ex-Governador Leonel Brizola -, é sórdida porque se utiliza de alguns desentendimentos, desacertos familiares, fatos de natureza extra, alheios à política, para transformá-los em fatos políticos para macular a imagem de um homem da qualidade do Sr. Brizola.
Para finalizar, digo mais: que do consenso expressado pelo Senado na tarde de hoje pelos apartes de quase todos os Senadores presentes à sessão, devemos tirar algumas lições: que vale a pena investir, levar uma vida de honradez, de retidão, de probidade administrativa na política; que o Parlamento brasileiro sabe distinguir os episódios em que a imprensa se dignifica - ao ajudar, motivar, mover a opinião pública na busca de análises, de investigações, de esclarecimentos de fatos concretos que envolvem os políticos - dos episódios em que ela se desqualifica. A revista Veja sempre contribuiu nos grandes momentos em que o Brasil precisou da imprensa para esclarecer fatos que levaram a denúncias graves que provocaram e promoveram renúncias, cassações, etc., mas nesse episódio do Sr. Leonel Brizola ela se desqualificou e, portanto, desqualificou a imprensa brasileira.
Muito obrigado, Sr. Presidente.