Discurso durante a 150ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Posicionamento contrário à privatização da Companhia Energética de Goiás - CELG.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE GOIAS (GO), GOVERNO ESTADUAL. PRIVATIZAÇÃO.:
  • Posicionamento contrário à privatização da Companhia Energética de Goiás - CELG.
Aparteantes
Casildo Maldaner.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2001 - Página 28022
Assunto
Outros > ESTADO DE GOIAS (GO), GOVERNO ESTADUAL. PRIVATIZAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE GOIAS (GO), TENTATIVA, PRIVATIZAÇÃO, CENTRAIS ELETRICAS DE GOIAS S/A (CELG), REDUÇÃO, PREÇO MINIMO, LEILÃO, PREJUIZO, FAMILIA, TRABALHADOR, INADMISSIBILIDADE, MOTIVO, CRISE, ENERGIA ELETRICA.
  • APOIO, DECISÃO, JUSTIÇA FEDERAL, DISTRITO FEDERAL (DF), ACEITAÇÃO, INICIATIVA, SINDICATO, TRABALHADOR, INDUSTRIA, ESTADO DE GOIAS (GO), DETERMINAÇÃO, SUSPENSÃO, PROCESSO, PRIVATIZAÇÃO, CENTRAIS ELETRICAS DE GOIAS S/A (CELG).

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem me conhece sabe que não sou radical de ideologia alguma e que só julgo fatos ou opiniões dentro de seus méritos e contextos específicos, sem preconceitos ou apriorismos.

É exatamente o que passo a fazer agora com referência a uma questão que está angustiando a consciência da sociedade goiana. A proposta de privatização da Companhia Energética de Goiás (Celg) é inoportuna, antiética e altamente prejudicial aos interesses do povo goiano.

Inoportuna, porque a dura crise energética ora vivida pelo Brasil evidenciou as lacunas, deficiências e contradições de um marco regulatório que precisa ser repensado com seriedade e urgência para que o setor elétrico garanta o abastecimento em bases suficientes e acessíveis às necessidades atuais e futuras de crescimento econômico e bem-estar social do País.

Antiética, porque o açodamento, a insensibilidade e a falta de transparência marcam o estilo com que o governo estadual vem conduzindo o processo, deixando patente sua obsessão em fazer caixa em ano pré-eleitoral, sem a mínima consideração pelas enormes perdas que essa decisão precipitada trará para os três mil empregados da Celg, para as famílias deles, para a população goiana e para o próprio futuro do nosso Estado.

Prejudicial ao interesse público, porque o baixíssimo preço de venda fixado pelo Governo de Goiás (R$1,41 bilhão), está muito aquém do valor socioeconômico dessa companhia, que gera, transmite e distribui energia elétrica, com honestidade, eficiência e agilidade para cerca de 3,7 milhões de habitantes, em um universo de 1,25 milhão de consumidores, atendendo a 233 municípios.

Apenas para dar uma rápida idéia dessa gritante defasagem, lembro que aquele questionável preço mínimo dividido pelo número total de consumidores é igual a R$1.133,60 por consumidor.

Ora, Sr. Presidente, trata-se de valor substancialmente inferior aos obtidos em processos de privatização de outras empresas elétricas. É só compará-lo com o preço mínimo por consumidor fixado para a igualmente polêmica venda da Companhia Paranaense de Energia (Copel), combatida com tanta bravura e lucidez pelos nossos ilustres colegas Senadores Álvaro Dias, Osmar Dias e Roberto Requião. Os R$5 bilhões, fixados para a privatização da Copel, divididos por seus 2,89 milhões de consumidores, representam R$1.763,48 por consumidor, um valor 56% mais alto do que o da Celg.

Mesmo assim - pasmem as senhoras e os senhores -, há empresas interessadas em comprar a Celg e a Copel, na “bacia das almas”, que ainda conspiram para diminuir esses preços mínimos. Quem assim subestima os consumidores só pode estar mesmo interessado em impingir-lhes um serviço de péssima qualidade a preços extorsivos. Não é à-toa que 80% da população goiana tem se manifestado contra a privatização em todas as recentes sondagens de opinião pública.

Ante essas preocupantes razões, penso que a Justiça Federal do Distrito Federal agiu bem ao acatar a iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no Estado de Goiás, determinando a suspensão do processo de privatização da Celg - seja pelo errôneo modo de sua condução, seja pelas inúmeras irregularidades cometidas em sua sistemática de avaliação.

Numa quadra como a presente, cheia de ameaças e incertezas econômicas para o Brasil e para o mundo, é indesejável que Goiás renuncie à capacidade de utilizar a Celg como alavanca de um grande projeto de desenvolvimento, apoiado nos trunfos econômicos, na sua base de alta tecnologia e na sua superior credibilidade para atrair parcerias com a iniciativa privada - tudo isso em benefício da população do nosso Estado.

            Para tanto, do que a Celg precisa é transformar-se em uma empresa cada vez mais moderna, flexível, capaz de responder e antecipar as necessidades e aspirações de seus consumidores, sob um regime democrático e transparente de governança corporativa.

            Subtrair a companhia ao controle do Estado e, assim, malbaratar o patrimônio da sociedade é uma falsa solução para esses desafios e um sério obstáculo para o salto rumo ao futuro melhor tão sonhado e merecido pelo povo goiano.

            Sr. Presidente, essas palavras vêm do coração de um Senador que ama a sua terra, que é grato à generosidade de seu povo. Salvar a Celg da privatização é uma manifestação de amor a Goiás.

            O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Concede-me V. Ex.ª um aparte?

            O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Com todo prazer, Senador Casildo Maldaner.

O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) -- Eu gostaria de emprestar minha solidariedade a V. Exª e dizer, Senador Mauro Miranda, que, em Goiás, querem privatizar as Centrais Elétricas e, em Santa Catarina, estão privatizando aquilo que é uma preciosidade para a gente catarinense, o Banco do Estado. Vão entregar o nosso banco, privatizar aquilo que Celso Ramos, há 40 anos, instituiu no nosso Estado para atuar como agente de desenvolvimento dos pequenos negócios catarinenses e promover a integração. Agora, no meu Estado, Senador Mauro Miranda, querem dividir as Centrais Elétricas em três partes, para, a partir daí, entregarem uma parte ou outra, porque, no conjunto, na sua integridade, não conseguem privatizar. Não há força para isso; há uma resistência. Então, querem dividi-la para, dessa forma, entregá-la. Esse é o movimento que está acontecendo também no meu Estado. Vamos acabar ficando sem nada. Do banco, vamos ficar apenas com a dívida. Quanto às Centrais Elétricas, querem também decidir pelo mesmo caminho em relação a Santa Catarina. Por isso, presto minha solidariedade a V. Exª, que defende os goianos.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª, Senador Casildo Maldaner. Percebo também que V. Exª assinala muito bem a inoportunidade que é privatizar as Centrais Elétricas de Goiás, que são uma força, uma alavanca para o desenvolvimento econômico de Goiás, tenho certeza, como o de Santa Catarina também. A inoportunidade é porque não há nem o produto, que é a energia, para vender, devido à escassez que estamos tendo de administrar neste momento.

Lamentamos profundamente que se insista nesse processo, num momento tão inadequado como este.

Muito obrigado, Senador Casildo Maldaner.

Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2001 - Página 28022