Discurso durante a 150ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Justificativas a ofício a ser encaminhado ao Presidente da República sobre apoio à criação de um estado palestino.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA. :
  • Justificativas a ofício a ser encaminhado ao Presidente da República sobre apoio à criação de um estado palestino.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2001 - Página 28026
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • ENCAMINHAMENTO, OFICIO, AUTORIA, ORADOR, DESTINAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VIAGEM, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ENCONTRO, GEORGE W BUSH.
  • BUSH, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, ASSEMBLEIA GERAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), DEFESA, OPORTUNIDADE, REPETIÇÃO, DISCURSO, AUSENCIA, GUERRA, CRIAÇÃO, ESTADO, PALESTINA, SOLUÇÃO, PAZ.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Senador Luiz Otávio, Sras e Srs. Senadores, o Presidente Fernando Henrique Cardoso fará amanhã uma visita aos Estados Unidos da América, onde estará com o Presidente George W. Bush e fará um pronunciamento perante a Assembléia Geral das Nações Unidas. A propósito relembro o importante pronunciamento que fez na semana passada perante a Assembléia Nacional Francesa, do qual muitas de suas palavras mereceram nosso apoio, ainda que nem sempre, na avaliação que temos, aquilo que pregou o Presidente Fernando Henrique Cardoso seja o que está realizando internamente.

Em vista dos importantes encontros que terá nos Estados Unidos da América amanhã, resolvi, Sr. Presidente, encaminhar agora o seguinte ofício ao Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso, que estará seguindo nesses instantes por fax para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Portanto, estarei encaminhando-o ao Embaixador Rubens Barbosa, para que S. Exª o entregue ao Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Brasília, 07 de novembro de 2001.

Senhor Presidente,

Em sintonia com o desejo do povo brasileiro, nesse incluído de forma harmoniosa o grande número de árabes, palestinos, judeus e seus descendentes, V. Exª reafirmou perante a Assembléia Nacional Francesa a importância da criação e do reconhecimento de um Estado Palestino. Assim como o Brasil teve um papel relevante na construção do Estado de Israel, suas palavras perante os parlamentares franceses, destacando a necessidade de paz para o Oriente Médio e principalmente para o resto do planeta, tiveram grande repercussão.

Por ocasião de sua viagem aos Estados Unidos, quando se encontrará com o Presidente George W. Bush, creio que será a oportunidade para repetir as palavras que Vossa Excelência pronunciou na Assembléia Francesa. Pois, quando se é “amigo de alguém, devo ser capaz de deter sua mão e contradizê-lo quando ele faz algo de errado. Algo diferente disso seria a solidariedade cega, que limita o poder do pensamento” como disse Günter Grass, escritor alemão vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1999, no Jornal do Brasil do último dia 5.

É importante que Vossa Excelência, ao mesmo tempo que expresse ao Presidente Bush e ao povo americano a solidariedade do povo brasileiro por causa dos atentados de 11 de setembro último que causaram a morte de quase 6 mil pessoas, relembre as lições deixadas por Martin Luther King Júnior, uma das personalidades que os Estados Unidos resolveram homenagear com um feriado, por estar sempre insistindo que a resolução dos mais graves problemas deveria seguir o caminho da não-violência, como expôs em 28 de agosto de 1963:

“Nós também viemos a esse lugar sagrado para recordar a América da intensa urgência do momento. Este não é o tempo de nos darmos ao luxo de nos acalmar ou de tomarmos a droga tranqüilizadora do gradualismo. Agora é a hora de tornarmos reais as promessas da democracia; agora é a hora de nos levantarmos do vale escuro e desolado da segregação para o caminho iluminado de sol [...]

Mas há algo que eu preciso falar para o meu povo, que está no limiar caloroso que nos leva para o Palácio da Justiça. No processo de ganhar nosso lugar de direito, nós não podemos ser culpados de ações erradas.

Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo do cálice da amargura e do ódio. Precisamos sempre conduzir nossa luta no plano alto da dignidade e da disciplina. Não podemos deixar nosso protesto criativo degenerar-se em violência física. Todas as vezes, e a cada vez, nós precisamos alcançar as alturas majestosas de confrontar a força física com a força da alma”.

Também será de grande relevância para a paz mundial que Vossa Excelência repita, na Sessão da ONU, as palavras que com tanta ênfase pronunciou na França:

“Contra o medo e o irracionalismo, façamos prosperar o diálogo e a cooperação, valores que sabemos inscritos em todas as civilizações. (...)

Não podemos mais suportar a carga de sofrimento, violência e intolerância que há muito impede que se chegue a uma solução justa e duradoura para o conflito entre israelenses e palestinos. (...)

Assim como apoiou, em 1948, a criação do Estado de Israel, o Brasil hoje reclama passos concretos para a constituição de um Estado Palestino democrático, coeso e economicamente viável. (...)

O direito à autodeterminação do povo palestino e o respeito à existência de Israel como Estado soberano, livre e seguro são essenciais para que o Oriente Médio possa reconstruir seu futuro em paz. (...)”

Quando Günter Grass adverte que:

“A situação é complexa e a resposta também deve ser complexa. Bombardeios não são uma solução e resultarão apenas em mais vítimas e ódios.”

Ele está relembrando uma das composições de BoB Dylan mais amadas e cantadas pelo povo americano.

            E V. Exª, Senador Paulo Souto, muitas vezes deve ter ouvido e apreciado Bob Dylan ou Joan Baez ou tantos outros cantores dizerem o poema da música Blowing in the Wind:

“Quantas vezes um homem deve olhar para cima antes de ver o céu?

Quantos ouvidos um homem precisa ter antes de conseguir ouvir o choro das pessoas?

Quantas mortes precisam ocorrer antes que ele perceba que muitas pessoas morreram?

A resposta, meu amigo, está sendo trazida pelo vento, trazida pelo vento”.

Está sendo muito difícil admitir que os Estados Unidos lancem bombas de toda a natureza sobre o Afeganistão seguidas de pacotes de alimentos e remédios.

As condições de paz no mundo efetivamente só ocorrerão quando os seres humanos compreenderem as razões que têm levado outros povos a se sentirem tão ofendidos a ponto de serem instados a usarem da violência contra seu próximo.

Cordialmente, Senador Eduardo Matarazzo Suplicy.”

            Esse é o ofício que encaminho ao Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso, nestes próximos instantes, em virtude da viagem que realiza nesta noite para os Estados Unidos da América.

            Muito obrigado.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2001 - Página 28026