O SR. GERALDO CÂNDIDO (Bloco/PT - RJ) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, todos os jornais do Brasil estamparam uma imagem de rara beleza nessa segunda-feira: Daniele Hypólito, que conquistou uma medalha inédita para a ginástica olímpica brasileira, durante o Campeonato Mundial de Ginástica Artística, na Bélgica. Com 17 anos, Daniele, tornou-se vice-campeã mundial, melhor resultado da história da ginástica artística do Brasil. Além disso, ajudou a colocar o país entre os onze primeiros e conseguiu o quarto lugar individual geral na competição. Essa foi a melhor colocação de uma equipe brasileira em campeonatos mundiais.

Outra brasileira também se destacou na Bélgica, foi a gaúcha Daine Santos, que ficou em quinto lugar. A imprensa destaca que a evolução das duas deve-se principalmente ao trabalho desenvolvido pelo técnico ucraniano Oleg Ostapenko, que já treinou algumas campeãs olímpicas.

É, portanto, um feito que merece destaque porque a ginástica não está entre as modalidades esportivas de tradição no Brasil e, também, porque essa modalidade não recebe muito apoio no país.

Daniele e Daiane competiram com atletas igualmente disciplinadas e aplicadas e talvez tecnicamente no mesmo patamar de desenvolvimento, mas suas concorrentes certamente não enfrentaram em seus países as mesmas dificuldades que elas enfrentam no Brasil para chegar a uma competição dessa importância.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, Daniele, a melhor ginasta do país, e que dá títulos Brasil desde 98, sem nenhum apoio, muitas vezes vai para o treino de ônibus e sua mãe vai ao encontro dela algumas horas depois, para levar-lhe o almoço. Quem sustenta a casa é o pai, seu Wagner, que é manobrista e Ronaldinho, nosso craque de futebol, ajuda a atleta com dinheiro para alimentação nas viagens.

Como se vê, Sr. Presidente, Daniele, além de competir com a romena Andrea Raducan, a russa Svetlana Jorkina, medalha de bronze, teve também como adversárias as condições materiais precárias que cerceiam o desenvolvimento de atletas brasileiras como Daniele e Daine.

Uma frase de dona Geni Matias, mãe de Daniele, emociona a todos nós brasileiros que só vimos a foto nos jornais: "Todo dia eu faço a marmitinha dela, tomo ônibus, levo o almoço para ela ir para a escola. Ela é muito guerreira".

Portanto, Daniele dá ao Brasil um resultado inédito na nossa história, mas não se pode dizer que isso se deveu ao incentivo do Estado ou de um clube pois ela não recebe mais salário do Flamengo desde agosto, mas ao sacrifício da família, dos técnicos que acreditam e persistem e à sua determinação.

Por isso, se é hora de comemorar, é hora também de cobrar das autoridades ligadas aos esportes, de alertar os clubes e as instituições brasileiras de atletismo para que o ufanismo não nos desvie das responsabilidades que devemos assumir sobre os brasileiros que, como a Daniele, trazem consigo a determinação e a vontade, porque para que tudo isso transforme um potencial em medalha são necessárias políticas e investimentos e isso ao longo de anos e não apenas às vésperas das Olimpíadas.

Daniele, ao mesmo tempo em que dá uma medalha inédita ao Brasil, nos ensina que está fazendo a sua parte e o seu gesto deve servir como desafio para que o país faça a sua.

Muito obrigado