Pronunciamento de Gilvam Borges em 13/11/2001
Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Comemoração ao "Dia do Aviador"
- Autor
- Gilvam Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
- Nome completo: Gilvam Pinheiro Borges
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Comemoração ao "Dia do Aviador"
- Publicação
- Publicação no DSF de 14/11/2001 - Página 28430
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, DIA, AVIADOR, REGISTRO, HISTORIA, AVIAÇÃO, BRASIL, ELOGIO, ATUAÇÃO, FORÇA AEREA BRASILEIRA (FAB), EXPECTATIVA, AUMENTO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, COMANDO, AERONAUTICA.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o ser humano já sonhava em voar desde os mais remotos tempos, embora o sonho de alçar aos ares só tenha sido alcançado há poucos anos, após inúmeras tentativas de copiar os movimentos dos pássaros e dos múltiplos outros revezes inspirados em anjos, em lendas e em outras fontes de inspiração.
Foi uma obra de milênios, portanto, que forjou as adaptações e os aperfeiçoamentos que levaram o homem para além de suas mais audaciosas conjecturas, rumo ao céu e aos espaços interplanetários que sempre lhe instigaram a imaginação, e que hoje lhe estão mais próximos do que nunca.
Infelizmente, a saga dessa grande vitória não se escreve em passagens fáceis e sempre felizes; pelo contrário, ela foi pontuada por inúmeros enganos e práticas empíricas que requereram esforço, determinação e perseverança de homens especiais, superdotados em inteligência, em visão prospectiva e em compromisso com a evolução.
Na lista dessas personalidades, alguns compatriotas figuram com destacado brilho, como o Padre Bartolomeu de Gusmão, que, no ano de 1709, mostrou a D. João V, Rei de Portugal, que um engenho mais leve que o ar poderia erguer-se sozinho no espaço. Foi uma bolha de sabão elevando-se ao se aproximar do ar quente ao redor da chama de uma vela que acendeu o intelecto de Gusmão para a diferença entre as densidades do ar. Sua “máquina de voar” impressionou todos os presentes, que testemunharam o balão subir cerca de 20 palmos. O invento do Padre Gusmão chamou-se Passarola, em razão de ter a forma de um pássaro. A concepção e a construção do aeróstato foi um passo gigantesco para a história aeronáutica, que corretamente registra o seu criador como o Pai da Aerostação.
Mas a conquista do ar foi além, transformando-se no objetivo de vida de um outro brasileiro - Alberto Santos Dumont, possuidor de uma tenacidade ilimitada. Santos Dumont, de 1898 a 1909, planejou, construiu e experimentou mais de duas dezenas de invenções, entre balões livres, balões dirigíveis e o próprio avião.
Santos Dumont fez justiça à surpreendente saga da história da aviação, superando, um a um, os obstáculos que lhe surgiam. Inicialmente, surpreendeu o mundo com o balão dirigível, impulsionado por um motor à gasolina. É oportuno lembrar que, na época, os motores à eletricidade e a vapor eram os mais conhecidos e empregados em balões dirigíveis, contudo, não ofereciam resultados práticos. Coube-lhe, assim, a primazia de adaptar um conjunto moto-propulsor leve e suficientemente potente, o que viabilizaria, pelas suas mãos, a maior invenção do século.
Logo depois, Santos Dumont iniciou suas primeiras experiências com o 14 Bis, com o objetivo de conquistar o espaço com um aparelho mais pesado que o ar. Dessa vez, estava disposto a se elevar do solo contando somente com o seu aparelho. Essa invenção, que o deixou famoso em todo o mundo, possuía 12 metros de envergadura e 10 metros de comprimento. A superfície total era de 80m². Os lemes de direção e profundidade foram colocados à frente da aeronave, numa concepção contrária à de hoje, isto é, as asas do 14 Bis ficavam atrás, juntamente com o motor, enquanto que a cauda situava-se à frente. Todo o conjunto pesava, com o aviador, cerca de 210Kg. As superfícies eram de seda japonesa, com armações de bambu e junturas de alumínio. Os cabos dos comandos dos lemes eram de aço de primeira qualidade, do tipo usado por relojoeiros nos grandes relógios das igrejas, para que se aquilate a engenhosidade e a minúcia do inventor.
Foram vários os problemas que tiveram que ser superados: falta de tecnologia, falta de apetrechos, desânimo, acidentes, perdas materiais consideráveis, ações políticas... Mas, entre o pessimismo e o fatalismo, Santos Dumont optou pelo pragmatismo, fiel ao estilo de aproveitar as janelas de oportunidades para promover a inserção de uma idéia sempre original e factível.
Tanto que o glorioso dia não demoraria. No campo de Bagatelle, em Paris, à vista de grande multidão, após percorrer cerca de 200 metros, o 14 Bis conseguiu deslocar-se em pleno ar, a uma altura de dois a três metros, e voar 61 metros de distância. Foi naquela terça-feira, 23 de outubro de 1906, que o homem conseguiu voar, pela primeira vez, com um aparelho mais pesado que o ar - o avião -, conforme ele é entendido e utilizado até hoje. Não há proeza similar em qualquer registro da história da aviação mundial que se iguale à façanha de sair do chão por seus próprios meios, deslizar no ar de forma controlada e pousar sem nenhuma avaria ao piloto ou ao aparelho.
Por essa razão, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Aeronáutica regulamentou o dia 23 de outubro como sendo o “Dia do Aviador”, aludindo ao célebre acontecimento protagonizado por seu patrono, Alberto Santos Dumont, uma homenagem que fala por si ao avocar a orgulhosa responsabilidade compartilhada por todos os brasileiros oriundos da Pátria do Pai da Aviação.
Uma homenagem, aliás, que guarda um sentido diferente quando é acompanhada da consciência de que a Aeronáutica, enquanto instituição permanente, gera efeitos na sociedade que, por decorrência, adota as práticas positivas inspiradas em seu patrono, ainda que, para podermos identificar a verdadeira importância disso, não obstante, seja preciso refletir sobre sua destinação específica, sobre o papel bem determinado e insubstituível de uma instituição militar do nosso tempo, para sabermos sustentar e ampliar as tendências atuais que nos consolidará como potência estável externamente e saudável internamente, amparada por forças armadas equipadas e preparadas para cumprir o seu papel constitucional.
Ao completar, também nesta data, 60 anos de existência, é importante notar que a Força Aérea Brasileira sofreu alterações, mas nunca mudou seus princípios fundamentais, que a acompanham desde o início de sua história, em especial o de buscar, mediante muito planejamento e rigoroso trabalho, a afirmação dos valores nacionais. A Força Aérea que temos hoje é fruto desse modelo, ao concorrer para a preservação da unidade e da inteireza deste País, em uma visão que vem do fundo da nossa história e que todos devemos manter ativa, como a nos assinalar permanentemente as singularidades do homem brasileiro, o precioso patrimônio geográfico do Brasil...
...e o futuro, que insiste em mostrar seu lado mais difícil, mas para o qual sempre voltamos a face da esperança, como forma de resgatar o passado traduzido nessa justa homenagem aos aviadores de todo o mundo, que alçam vôos cada vez mais sofisticados e confortáveis, mas que jamais prescindirão da simplicidade, da genialidade e da “brasilidade” já estampadas nos esboços visionários de Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação.
Sr. Presidente, eminentes membros do Senado Federal, representantes dessa laboriosa e respeitável Força Aérea Brasileira, homenagens, sim, louvar este dia para fazer com que a história se perpetue na lembrança da luta, do compromisso dessa corporação de prestígio ímpar no País, a nossa querida Força Aérea Brasileira. Homenagear, sim, mas também queremos registrar o nosso pesar, Sr. Presidente, pela falta de investimentos, pela falta de um melhor soldo.
O País deve, todos sabemos que devemos muito, mas haveremos de melhorar, Sr. Presidente, haveremos de trabalhar junto ao Orçamento da União para melhorar a situação das nossas Forças Armadas.
Para nós, brasileiros, independentemente de posições ou de cargos que assumimos, é um orgulho ter a Força Aérea Brasileira com as suas cabeças, a sua corporação, trabalhando assiduamente em todo o território nacional, não só patrulhando, mas investindo maciçamente em pesquisa e assessorando os destinos deste País.
Portanto, a todos vocês, militares da Força Aérea Brasileira, fica registrado o nosso reconhecimento e, ao mesmo tempo, o nosso pesar de não poder fazer jus aos soldos, aos investimentos que essa Força tanto necessita para melhor desempenhar o seu papel, tão importante, no nosso País.
Felicidades! Parabéns! Contem conosco e com a nossa admiração.
Obrigado, Sr. Presidente.
(Palmas)
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