Discurso durante a 155ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Estarrecimento com o pronunciamento do Senador Mozarildo Cavalcanti, que faz referências à exploração estrangeira da biodiversidade brasileira.

Autor
Edison Lobão (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Edison Lobão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
  • Estarrecimento com o pronunciamento do Senador Mozarildo Cavalcanti, que faz referências à exploração estrangeira da biodiversidade brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 15/11/2001 - Página 28525
Assunto
Outros > POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
Indexação
  • COMENTARIO, DISCURSO, MOZARILDO CAVALCANTI, SENADOR, GRAVIDADE, CONTRABANDO, BIODIVERSIDADE, BRASIL, PATENTE DE REGISTRO, PAIS ESTRANGEIRO.
  • CRITICA, NEGLIGENCIA, GOVERNO, PROTEÇÃO, RECURSOS NATURAIS, NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, DEFESA, PESQUISA CIENTIFICA.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu desejava falar sobre a agricultura do meu Estado, porém, ouvindo o pronunciamento do Senador Mozarildo Cavalcanti, devo dizer que fiquei estarrecido com as revelações que S. Exª fez, muitas das quais não são novas, mas novas são aquelas que nos traz com a ênfase que emprestou ao seu depoimento nesta Casa.

Na verdade, as nossas florestas, sobretudo a Floresta Amazônica, ou têm sido devastadas sem os menores cuidados, ou têm sido neglicenciadas. O Senador Mozarildo Cavalcanti nos diz que 97% das plantas medicinais brasileiras foram patenteadas por laboratórios estrangeiros. Essa é uma notícia que há de nos deixar estupefatos.

Não somos um País de irresponsáveis - claro que não somos! -, mas talvez sejamos um País de descuidados. Não se pode admitir uma situação dessa natureza, em que um verdadeiro repositório de plantas medicinais, que podem servir para curar a Humanidade dos seus principais males, seja pura e simplesmente abandonado e entregue aos estrangeiros com a facilidade que conhecemos.

Sr. Presidente, houve um tempo em que o País chegou até a financiar a devastação de florestas na Amazônia, no Centro Oeste e no Norte, a pretexto de fazer o reflorestamento. Primeiro, devastava-se a floresta e, depois, duvidosamente, reflorestava-se aquele local, financiado pelo Governo.

Esse é um tempo que precisa desaparecer definitivamente da consciência do povo brasileiro e dos hábitos dos nossos governantes. Devemo-nos dar conta de que somos um grande País e de que haveremos de ter responsabilidade na condução dos interesses nacionais. Se não quisermos olhar para o presente, temos, pelo menos, a obrigação de olhar para o futuro, para os nossos descendentes. Caso contrário, deixaremos de ser a oitava Nação do mundo e não chegaremos a ser a terceira ou quarta, como está previsto, e acabaremos retrocedendo, o que para nós, e sobretudo para as futuras gerações, será uma decepção profunda.

Senador Mozarildo Cavalcanti, V. Exª, como médico que é e como amazônida, deve voltar à tribuna para insistir nesse tema, que não pode ser neglicenciado. Se V. Exª fizer isso, bem como tantos outros Senadores e Deputados, homens públicos dotados de responsabilidade para com o seu povo e a sua gente, não tenho dúvida de que, um dia, haveremos de formar uma consciência nacional, voltada para os melhores e mais legítimos interesses do povo brasileiro.

O que V. Exª nos diz, exibindo essa revista, é realmente de estarrecer. É preciso que todos os brasileiros leiam isso, mas eles só o farão estimulados pelos políticos e pelos agentes do Governo.

Ouvindo as palavras de V. Exª, desde logo nos damos conta de duas coisas. A primeira delas é que a negligência do nosso Poder Público - não estou a acusar quem quer que seja individualmente e, sim, a todos, a todas as gerações de administradores públicos - precisa, definitivamente, desaparecer do cenário político brasileiro. A segunda é que cabe a cada qual de nós, com a responsabilidade que temos ou possamos ter, cuidar para que, pelo menos, retomemos o tempo perdido e não deixemos mais as nossas florestas serem devastadas e usadas pelos estrangeiros, quando podemos fazê-lo.

Se não tivéssemos inteligências, capacidade e laboratórios para desenvolver essas pesquisas, também não deveríamos sonegar aos estrangeiros a possibilidade de fazê-lo. Sucede que temos e, se querem um exemplo, eu o darei: estive, recentemente, na capital do Estado de Maryland e fui a um grande laboratório de pesquisas que fica em frente à Fundação John Hopkins. Lá, encontrei um hospital que realiza pesquisas profundas e especiais, examinando plantas e outras fontes para o desenvolvimento de remédios os mais avançados que a Humanidade conhece. Sabem V. Exªs quem dirigia aquele grande laboratório de pesquisas? Um brasileiro, formado em Pernambuco, que, por falta de condições e de estímulo em nosso País, foi para os Estados Unidos, onde dirige esse grande centro de pesquisa para o povo americano. Isto é, para o mundo, para a sociedade, é verdade. Mas poderia esse pesquisador estar aqui, em São Paulo, ou mesmo no Amazonas, dirigindo a mesma equipe que hoje dirige, em benefício e para honra do povo brasileiro.

Ouvindo V. Exª, senti necessidade de vir a esta tribuna para dar o meu apoio, para dizer a minha palavra modesta em socorro do grito patriótico de V. Exª. É o que estou fazendo neste momento, na esperança de que possamos retomar o nosso caminho, na esperança de que, sendo já um País rico, possamos nos dar conta de que essas pesquisas podem aqui ser feitas, e que, aqui mesmo produzidas, gerarão os remédios a serem exportados para o mundo, produzindo riquezas e emprego para o nosso povo - ao invés de exportarmos apenas as nossas plantas, as nossas árvores, que nada valem na origem, mas que muito valem na ponta. 

Senador Mozarildo Cavalcanti, V. Exª tem os meus cumprimentos, o meu apoio e, seguramente, a minha solidariedade.

Eram estas as palavras que desejava pronunciar.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/11/2001 - Página 28525