Discurso durante a 157ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Satisfação com o recebimento da camisa do jogador de origem alagoana, Aloísio, do time francês Paris Saint - Germain. Críticas às ações dos Estados Unidos no Afeganistão, a pretexto do combate ao terrorismo.

Autor
Heloísa Helena (PT - Partido dos Trabalhadores/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • Satisfação com o recebimento da camisa do jogador de origem alagoana, Aloísio, do time francês Paris Saint - Germain. Críticas às ações dos Estados Unidos no Afeganistão, a pretexto do combate ao terrorismo.
Aparteantes
Amir Lando, Maguito Vilela.
Publicação
Publicação no DSF de 20/11/2001 - Página 28735
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, MAGUITO VILELA, SENADOR, ENTREGA, VESTUARIO, ATLETA PROFISSIONAL, TIME, FUTEBOL, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, DESTINAÇÃO, ORADOR.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, ATLETA PROFISSIONAL, AUXILIO, POPULAÇÃO CARENTE, ESTADO DE ALAGOAS (AL).
  • CRITICA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ANTERIORIDADE, FOMENTO, FINANCIAMENTO, GUERRA, SEITA RELIGIOSA, ORIENTE MEDIO, COMBATE, COMUNISMO, DOAÇÃO, DINHEIRO, TRAFICO INTERNACIONAL.
  • CRITICA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), AUSENCIA, COMBATE, TRAFICO, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, IMPLANTAÇÃO, OPERAÇÃO MILITAR, OBJETIVO, EXPLORAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA.
  • DEFESA, POLITICA EXTERNA, BRASIL, INCENTIVO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DESTRUIÇÃO, LAVOURA, PRODUÇÃO, DROGA, PAIS ESTRANGEIRO, AFEGANISTÃO, PAQUISTÃO, COMBATE, TRAFICO INTERNACIONAL, TERRORISMO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Senador Maguito Vilela, antes de tratar do tema que hoje me traz à tribuna, gostaria de fazer-lhe um agradecimento muito especial pela esplêndida camisa que me trouxe do Paris Saint-Germain, de um menino pobre do interior de Alagoas, o Aloísio, hoje reconhecido nacionalmente como um dos grandes jogadores do referido time, filho dos filhos da pobreza do interior de Alagoas, de uma cidade da Zona da Mata, Atalaia.

            Acompanhei, inclusive, a sua vinda à CPI da Nike, o vi com o Senador Maguito Vilela, e sei de um belíssimo projeto que sustenta pela sua sensibilidade de criança pobre do interior de Alagoas. É um desses meninos filhos da pobreza. Era um cortador de cana e acabou sendo visto pelo seu talento como um jogador de futebol. Certamente, ganhou o vigor físico pela dor e pelo sofrimento, cortando cana no interior de Alagoas, e as pessoas que já tiveram a oportunidade de vivenciar o dia-a-dia no corte da cana sabem o quanto isso leva à exaustão física principalmente se feito por uma criança ou por um adolescente. Esse menino, do interior de Alagoas é, hoje, uma das grandes personalidades do Paris Saint-Germain. Portanto, agradeço ao Senador Maguito Vilela, que me deu esta oportunidade. Estarei lá, em Alagoas, demonstrando que o brilho de uma dessas crianças, cujo talento não acabou sendo roubado pela incompetência e pela insensibilidade da elite política e econômica brasileira.

            O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte?

            A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Pois, não, Senador Maguito Vilela.

            O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - O Aloísio, hoje, é o maior ídolo do campeonato francês. É o artilheiro do Paris Saint-Germain. Em Atalaia, mantém uma creche que é totalmente financiada por ele. Todas as crianças dessa creche vivem, se alimentam e recebem tudo gratuitamente, em função do salário dele.

            A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Eu sei disso. Inclusive, a primeira vez em que eu o vi, prestando depoimento na CPI da Nike, eu já sabia disso, porque algumas pessoas que fazem parte do Movimento de Igreja de Atalaia já haviam feito considerações sobre a sensibilidade e o espírito de solidariedade humana do Aloísio junto aos seus irmãos, filhos da pobreza, na cidade de Atalaia.

            Eu gostaria, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de falar um pouco sobre um outro tema, até de uma forma rápida. Já nos últimos dias da semana passada, o Plenário da Casa voltou a fazer algumas considerações sobre a relação dos Estados Unidos com os chamados terroristas do Talibã.

            Eu gostaria que também ficasse registrado - o que já tive oportunidade de dizer também na semana passada - o desafio que deve ser enfrentado por todos os povos do mundo, diante da cantilena norte-americana contra o terrorismo, que não combate terrorismo algum. Pelo contrário: todas essas atitudes terroristas sempre foram fomentadas pelo terrorismo de Estado. Qualquer pessoa de bom-senso sabe exatamente o que a CIA fez para fomentar a Jihad, a chamada guerra santa, incentivando grupos muçulmanos. Foram mais de quarenta países islâmicos que se uniram, financiados pela CIA e pelo Governo norte-americano, especialmente entre 1982 e 1992, para possibilitar o combate aos comunistas da União Soviética.

            É muito importante fazer esse registro, porque, às vezes, no imaginário popular, ficam determinadas questões, como as escolas chamadas Madrassas que foram criadas e financiadas pelo Governo norte-americano. Precisamos dizer isso, porque, senão, as pessoas começam a pensar que o fanatismo religioso surge absolutamente do nada. Não foi assim. As Madrassas paquistanesas, para onde mais de cem mil muçulmanos foram levados para estudar, foram criadas e financiadas pelo Governo norte-americano. Eles foram treinados pela CIA. É importante que deixemos isso absolutamente claro, para que não acabe sendo escondido do imaginário popular.

            Os Estados Unidos, na sua pose de delegado do mundo, também têm outra mania de dizer que fazem várias ações na América Latina para combater o narcotráfico. São mentirosos, porque o combate ao narcotráfico - nunca vi - é uma das bandeiras mais mentirosas que os governos estabelecem. O Governo brasileiro também mente porque não combate, em absolutamente, o narcotráfico.

            Existem várias pesquisas financiadas pelos próprios organismos oficiais, como o CNPq, que mostram rotas por onde passa o narcotráfico. Mas é evidente que quem vive do narcotráfico no Brasil não são os pobres angolanos pegos com alguns montinhos de cocaína no intestino, nem os pobres favelados. Quem ganha do narcotráfico são justamente setores importantes, que certamente passeiam pelo Congresso Nacional, pelo Judiciário, pelo aparato de segurança pública, porque para andar com toneladas de pasta-base de cocaína e de solventes tem que ter iates e grandes aviões. Evidentemente não são os pobres e favelados que têm essa estrutura que realmente marca o céu azul do Brasil, circulando com pasta-base de cocaína, porque o Governo brasileiro não faz nada para enfrentar o narcotráfico. E o Governo americano do mesmo jeito.

            Para quem conhece um pouco da história, não tem nada que irrite mais do que essa cantilena enfadonha e enganosa do Governo americano dizendo que combate o narcotráfico. Mentirosos! Primeiro que não combatem o narcotráfico na Colômbia. Estão viabilizando essas ações na Colômbia de olho na nossa Amazônia e para fomentar o enfrentamento em relação à resistência armada, assim como as operações militares que estão fazendo na Argentina, tomando conta de pontos estratégicos, porque, como sempre foram, querem ser os donos do mundo. É importante lembrar o papel da CIA em relação ao comércio de drogas - temos de ficar relembrando isso.

            Como disse anteriormente, a Jihad islâmica foi apoiada pelos Estados Unidos com significativas doações obtidas do comércio de drogas. Todos sabemos que, naquele crescente dourado - zona montanhosa que se estende pelo Irã, Afeganistão e Paquistão -, cultiva-se ópio há muito tempo. Mas antigamente a quantidade cultivada, antes da ação da CIA, que gerava dinheiro para fomentar inclusive o fanatismo islâmico, era de pouco mais de 30% para a demanda regional. Não plantavam o que passaram a plantar posteriormente.

            A história do comércio de drogas na Ásia Central está estreitamente relacionada às operações encobertas da CIA, ou seja, do Governo americano. Antes da guerra soviético-afegã, a produção de ópio no Afeganistão e no Paquistão estava dirigida aos chamados pequenos mercados regionais. Não havia produção regional de heroína. A respeito disso, vários estudos foram feitos, inclusive com autoria assumida pelos dirigentes da CIA e do Governo americano, que participaram diretamente dessas ações. As plantações nas terras fronteiriças entre o Afeganistão e o Paquistão transformaram esses países em primeiros produtores mundiais, provendo 60% da demanda dos Estados Unidos.

            No Paquistão, a população dependente de heroína passou de quase zero a mais de 1 milhão, apenas em 1985. O incremento foi mais acelerado do que o verificado em qualquer outra Nação. Quem controlava o comércio de heroína nesse país? Os agentes da CIA sempre o fizeram. Vários guerrilheiros pagos, financiados pelo Governo americano, que faziam todo tipo de fomento ao terrorismo, a uma suposta guerra santa contra os comunistas da União Soviética, ordenavam aos camponeses que destruíssem a plantação existente e a substituíssem por ópio, a fim de pagarem o imposto para fomentar a guerra.

            É importante recordarmos que, em 1995, o próprio Charles Cogan, ex-diretor da operação afegã da CIA, admitiu que a agência havia sacrificado a guerra contra as drogas para lutar a guerra fria. Disse ainda: “Nossa missão era fazer o maior dano possível aos soviéticos. Não tínhamos os recursos nem o tempo para fazer uma investigação sobre o comércio de drogas.” Mentirosos! Assumiram a produção do narcotráfico internacional, uma produção gigantesca de ópio e de heroína.

            Evidentemente, todos nós, Senadores, sabemos que não está em jogo o combate ao terrorismo. Trata-se de uma nova operação geopolítica de fundamental importância. São lucros multimilionários em drogas diretamente vinculados ao ópio e à heroína: US$500 bilhões do narcotráfico no Brasil e no mundo.

            Sr. Presidente, solicito o registro de algumas considerações nos Anais desta Casa, para que possamos, de fato, exigir que o governo americano, que faz cantilena em relação ao combate ao narcotráfico, realmente o combata. Por que não queimam as gigantescas plantações existentes em toda a região onde trabalham agora politicamente, dizendo que estão lutando contra o terrorismo? Por que não acabam com todas as plantações de ópio e heroína que estão lá? Pronto. Não dizem que querem combater o narcotráfico? Não dizem que querem combater o terrorismo? Então, que façam isso! Que façam esse gesto pela humanidade!

            Não digo isso com nenhum falso moralismo. Acho que, em todas as famílias, existem pessoas que, infelizmente, perdem a alegria, a juventude ou até mesmo a vida, metendo-se nas drogas. Não tenho falso moralismo contra o consumidor individual. Trato dessas pessoas e tenho uma relação de ternura com elas. Mas narcotráfico é outra coisa. Narcotráfico é lavagem de dinheiro e de muito dinheiro - US$500 bilhões circulam pelas bolsas de valores. Dinheiro sujo do narcotráfico é lavado pela elite política e econômica, pelos capitalistas ou cínicos enamorados da terceira via espalhados pelo mundo.

            O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Senadora Heloísa Helena, V. Exª me permite um aparte?

            A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Concedo o aparte a V. Exª, Senador Amir Lando.

            O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Nobre Senadora Heloísa Helena, V. Exª, mais uma vez, com a veemência e o vigor da indignação, brinda este Senado com uma reflexão aparentemente radical, mas verdadeira. É o strip-tease da verdade; é a verdade sem os merengues que a enfeitam e muitas vezes a escondem. Exatamente é isso! Temos de ver o que ocorre à luz dos fatos, o que acontece por trás desse arcabouço da hipocrisia. Se V. Exª observar os mecanismos de dominação das nações mais desenvolvidas, verificará que não tiveram nenhum pudor ético para usar o ópio na China ou na Índia décadas atrás; não tiveram pudor ético em usar mecanismos de dominação, em buscar todos os métodos da eficiência, sobretudo debilitando a parte contrária. E assim o fazem, porque não interessa criar nações independentes, que construam sua economia sobre bases sólidas da divisão da riqueza, da dignidade humana, da qualidade de vida. Não! Não interessa! A África é um continente devastado; o Oriente Médio também. A antiga União Soviética, que era ao menos auto-sustentável, hoje é um problema. Não se aperceberam de que há um lixo atômico perigoso ali. E não cuidaram de velar o destino desses equipamentos que podem destruir o mundo e que estão em mãos de ninguém, porque qualquer um tem acesso a eles. Trata-se de um arsenal atômico fragmentado, jogado ao léu, e qualquer aventureiro pode usar dele e causar um dano brutal à humanidade. De repente, o custo da destruição da União Soviética foi pior, porque, atualmente, vive-se um clima de instabilidade, sobretudo os países da União Européia e os Estados Unidos. As nações mais desenvolvidas estão ameaçadas, porque não têm uma visão de mundo correta; não têm uma visão cósmica. Não têm uma visão humanizada e humanista do mundo. Não olham a espécie humana como um todo. Não há espaço para alguns apenas no planeta Terra: ou sobreviveremos todos como espécie ou desapareceremos em conjunto. Esse é o drama, e por causa dele tiveram que chamar os filósofos para repensarem o destino do mundo e para uma reflexão sobre o destino do homem, sobre a perspectiva do homem como um ser que veio para realizar o bem de si próprio. Todos estamos aqui para realizar a felicidade de todos. Os que pensavam construir o mundo apenas para si estão equivocados, pois surge o terrorismo, que é o mecanismo do desespero, que é a última cartada de quem não tem mais nada a perder e levará outros para a morte, cujo decreto vem sendo executado dia-a-dia. Morre-se um pouco a cada dia, como diria João Cabral de Melo Neto de nossos irmãos nordestinos. Grupos, nações e etnias são ameaçados. E qual será a saída? A saída é a legítima defesa do desespero. É preciso compreender o fenômeno, como V. Exª observa, a fim de acabar com o arcabouço da mentira. Vamos tirar a máscara e dizer que ninguém quer construir uma humanidade à imagem e semelhança do Senhor. Quem acredita, poderá encontrar essa visão teísta na Bíblia. Se não, há a visão de Michelangelo, na Capela Sistina, de Adão encostando em Deus, ou seja, aproximando-se da imagem e semelhança do Criador. É isto que temos: a dignidade dos deuses como ser humano na Terra. E a Terra toda foi colocada a seus pés para que dela pudesse utilizar todos os recursos e engrandecer-se, crescer e aperfeiçoar-se. E não é isso o que querem. Querem a exclusão. E a exclusão não é viável. Tudo que se concebeu em termos de globalização foi definitivamente fulminado pela figura esquálida, essa figura do desespero que concebeu um plano terrorista, plano esse que nós condenamos, mas que mostrou que não é esse o caminho. Esse é o caminho da desgraça, não apenas de uma nação, mas da desgraça do planeta Terra e, por que não dizer, da espécie humana. Ou vamos sobreviver como espécie ou vamos perecer todos.

            A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Amir Lando. É evidente que nenhum de nós tem dúvida de que é uma forma imprópria de combater o sistema cruel e perverso da prática de ações terroristas. A ação terrorista do dia 11 de setembro, além de ter vitimado pessoas inocentes, que não compartilhavam sequer dos interesses econômicos, das novas definições geopolíticas do governo americano, ainda acabou possibilitando um oxigênio ao neoliberalismo. Estava havendo um enfrentamento ao neoliberalismo no mundo inteiro. Imediatamente, várias nações acabaram oxigenando esse mesmo sistema, possibilitando uma nova discussão. Se o impacto gigantesco, por um lado, poderia levar as nações a acordarem no dia 12 pensando diferente, pensando de forma mais clara que não se encontra a paz sem justiça social e que é impossível encontrar a paz na favela ou no interior dos nossos Estados ou em qualquer nação sem justiça social, por outro lado, acabou possibilitando mais oxigênio ao debate do neoliberalismo do mundo todo.

            O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - Senadora Heloísa Helena, V. Exª me permite outro aparte?

            A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Pois não, Senador.

            O Sr. Amir Lando (PMDB - RO) - O tema é frutuoso e me empertiga sobremodo. É evidente que, num primeiro momento, houve essa tentativa de união e essa solidariedade dos fortes. Mas eles não vão sobreviver, não terão mais condições. Abriu-se um precedente, como muitos dizem, uma jurisprudência nova, e se criou a instabilidade absoluta, a insegurança absoluta, um inferno para essas pessoas, que nunca mais vão sentir essa tranqüilidade, a harmonia, a concórdia, aquele conforto psicológico de dizer: como estamos aqui, lado a lado, sem temer um ao outro. É assim que a humanidade tem que viver, sem temer um ao outro, e não nessa possibilidade de um ato terrorista, que realmente estremece e fere e que repudiamos. Como diz V. Exª, ninguém pode concordar com esse método; mas é um método de desespero, é essa a idéia, a última cartada. Quer dizer, é o sujeito encantoado, que não tem mais o que fazer. Morrer, ele vai morrer, e ele vai escolher como. Talvez no meio dos outros, levando consigo outras pessoas. A humanidade vai ter que repensar o seu destino e as suas perspectivas como espécie humana. E é essa solidariedade da espécie que temos que buscar como último argumento. É doloroso ver, por exemplo, um Primeiro-Ministro como Tony Blair prestar-se ao papel ridículo, que não está à altura de um Primeiro-Ministro que se apresentou ao mundo com brilho, com pertinácia, com uma perspectiva de avanço nas relações internacionais, de transformar-se num garoto de recado, de recado muito pequeno, de ser o pioneiro de uma solidariedade ficta, pois não foi assim a construção de uma nação como a Inglaterra, que tem uma responsabilidade até pela hegemonia que sempre a distinguiu no mundo. De repente, uma nação daquele tamanho, daquela grandeza, com essa história, prestar-se a um papel tão servil... Não é o caminho do servilismo ao mais forte, mas, sim, o da generosidade, como diz V. Exª, da paz, da tranqüilidade, que temos que buscar na solidariedade da espécie.

            A SR.ª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL) - Concordo inteiramente com V. Exª. Espero que a diplomacia da vassalagem possa ser superada nas relações de vários países com os Estados Unidos e que, agora, o Senado possa sensibilizar o Governo brasileiro a buscar mecanismos junto ao Governo americano para que possamos fazer aquilo que o Governo americano diz o tempo todo que faz e nunca fez, que é realmente combater o narcotráfico.

            Estão lá, onde os Estados Unidos dizem que estão viabilizando novos e melhores caminhos para o mundo, mais de 40% da produção de drogas, grande parte dela, inclusive, financiada pelo Governo americano, nas ações que a CIA sempre fez, fomentando o radicalismo religioso, fomentando grupos extremistas e fomentando, também, o plantio maldito das drogas.

            Espero que o Governo brasileiro sensibilize o “delegado do mundo” a estabelecer alguns caminhos em relação ao combate ao narcotráfico. Sei que o combate ao narcotráfico sempre foi uma bandeira quando convém ao Governo americano. Mas espero que agora, realmente, os Estados Unidos destruam os mais de 40% da produção de drogas do mundo, que estão lá, onde os Estados Unidos dizem que estão trabalhando e buscando novos e melhores caminhos para o mundo.


            Modelo15/7/248:37



Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/11/2001 - Página 28735