Discurso durante a 159ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à decisão da Comissão Executiva Nacional do PMDB, que limita o número de votantes no colégio eleitoral das prévias para escolha do candidato à Presidência da República.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA.:
  • Repúdio à decisão da Comissão Executiva Nacional do PMDB, que limita o número de votantes no colégio eleitoral das prévias para escolha do candidato à Presidência da República.
Aparteantes
Carlos Bezerra, Casildo Maldaner, Eduardo Suplicy, Iris Rezende, José Eduardo Dutra, Mauro Miranda, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 22/11/2001 - Página 29052
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • ANALISE, GRAVIDADE, RESULTADO, REUNIÃO, COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), REDUÇÃO, NUMERO, PARTICIPANTE, VOTAÇÃO, COLEGIO ELEITORAL, PESQUISA, ANTERIORIDADE, ELEIÇÕES, ESCOLHA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • SOLICITAÇÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), REVISÃO, DECISÃO, EXCLUSÃO, VEREADOR, MEMBROS, DIRETORIO MUNICIPAL, ESCOLHA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, BENEFICIO, DEMOCRACIA, REFORÇO, CANDIDATURA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho hoje a esta tribuna tomado por um sentimento de tristeza política, motivada pelo resultado da reunião da Executiva Nacional do PMDB ocorrida na tarde de ontem. Uma vez mais, comandado por um grupo de pessoas que parece mais sintonizado com os interesses do Palácio do Planalto do que com a sociedade e com o Partido a que pertencem, o PMDB caminha na contramão, relegando uma tradição histórica de democracia e respeito à sua militância e ao povo brasileiro.

            A definição da realização de prévias com apenas 3.870 votantes é um golpe mortal nas pretensões do Partido de ter um candidato competitivo nas eleições presidenciais de 2002, se não for o prenúncio de algo ainda pior: o sepultamento definitivo da tese da candidatura própria.

            Quando da campanha para a eleição do novo diretório nacional, fizemos o alerta para a importância de se eleger uma direção que estivesse desatrelada do Governo Federal e comprometida com o anseio das bases de ter candidato próprio à Presidência da República. Na época, recebemos críticas internas por isso. Eu, pessoalmente, fui acusado de estar enfraquecendo o Partido ao expor publicamente suas divergências. Lamentavelmente, tudo que estávamos prevendo começa a acontecer.

            Uma vez mais, o grupo dos que se autodenominam governistas tenta tolher a participação da militância peemedebista, excluindo das prévias os mais importantes agentes políticos do Partido, que são os vereadores e os membros dos diretórios municipais. São essas pessoas, 12 mil vereadores e 80 mil membros de diretórios municipais Brasil afora, que carregam a campanha do Partido, cada um em sua cidade, no contato direto com o eleitor, no trabalho anônimo e obstinado que, ao longo dos anos, fez do PMDB o maior e o melhor Partido político do Brasil.

            Excluir os vereadores e os membros dos diretórios municipais das prévias é como excluí-los da campanha, é abrir mão do maior patrimônio político do PMDB, que é a sua presença em todas as regiões do Brasil. Como é que o Partido pode exigir trabalho e fidelidade dessas pessoas a um candidato que não ajudaram a escolher, que não foi legitimado por seus companheiros de Partido? Isso não é possível. A persistir nesse caminho, o PMDB corre o sério risco de novamente ter um candidato fora de sintonia com o Partido e com o País e de ver repetido o fiasco eleitoral dos últimos pleitos presidenciais que disputou.*

            Será que a Executiva do Partido, integrada por Senadores e Deputados Federais, dispensará o trabalho dos Vereadores nas suas próprias eleições o ano que vem? Será que os Deputados Federais e Senadores integrantes da Executiva do PMDB dispensarão o apoio dos diretórios municipais na campanha eleitoral do ano que vem?

            Ora, a mudança de regras para as prévias representa um golpe na própria Convenção, que deveria ser soberana e estar acima de qualquer outra instância partidária. A Convenção definiu por prévias amplas com todos os filiados. O próprio Presidente eleito do PMDB, o Deputado Michel Temer, divulgou documento em que falava em mais de 150 mil votantes nas prévias do PMDB. Mudar as regras agora é rasgar a própria Convenção e levar o PMDB para um processo passível de vícios e de manipulação.

            O Sr. Mauro Miranda (PMDB - GO) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Com prazer, ouço V. Exª.

            O Sr. Mauro Miranda (PMDB - GO) - Senador Maguito Vilela, V. Exª vem a esta tribuna para manifestar o descontentamento, mais do que isso, a preocupação da cúpula do PMDB, da Executiva Nacional do Partido, que desdiz o que disse, retira o que escreveu e vem com uma nova postura para tentar barrar uma candidatura natural à Presidência da República do nosso Partido. Lamento profundamente, repudio essa ação nefasta à democracia brasileira e me pergunto por que tanto medo de uma candidatura à Presidência da República do PMDB, da candidatura de Itamar Franco à Presidência da República se Itamar Franco, que foi Presidente da República, deixou o Governo com 82% de aceitação popular, se é Governador de Minas Gerais e é respeitado por 65% dos mineiros. Por que o Palácio do Planalto prepara uma ação tão forte contra o nosso Partido, ceifando o nosso direito de ter candidato à Presidência da República, se foi Itamar Franco quem nomeou o atual Presidente Fernando Henrique Cardoso, primeiramente como Ministro das Relações Exteriores e posteriormente como Ministro da Fazenda, o que possibilitou a criação do Plano Real? Por que temer tanto Itamar Franco se a pesquisa não lhe é tão favorável? Por que montar esse esquema no nosso Partido para dilacerá-lo? Não merecemos, pela história em favor da democracia neste País, uma insânia tão forte em cima do nosso Partido. Queremos ter o direito de escolher um candidato à Presidência da República sem manipulações, sem mecanismos de proteção e sem compra de votos na nossa Convenção. Meu querido Senador Maguito Vilela, V. Exª tem o nosso apoio, o nosso desejo, a nossa luta em prol da ampliação do Colégio Eleitoral, para democratizar essa pesquisa interna dentro do nosso Partido, a fim de escolher um candidato, seja Itamar Franco ou Pedro Simon, os dois nomes apresentados neste momento. O PMDB precisa ter um candidato à Presidência da República. Merecemos esse direito, porque somos o maior Partido deste País, com o maior número de Senadores, um grande número de Deputados Federais, Estaduais, Prefeitos e milhares de Vereadores. V. Exª colocou muito bem: será que nós, Deputados e Senadores, vamos dispensar os Vereadores, para pedir votos, de casa em casa, em todas as cidades deste País? Por que o PMDB, o Partido que fez essa democracia no Brasil, vai deixar de lado os seus Vereadores espalhados numa consulta popular nesse universo do nosso Partido? Meu querido Senador Maguito Vilela, V. Exª, que nos liderou, porém ficou sozinho, sendo colocado de lado na Convenção e na Executiva do Partido, tinha o direito de ter 37% da Executiva do Partido, mas foi marginalizado também por esquemas do Palácio do Planalto. Mas V. Exª está de pé, lutando para que reine a democracia dentro do PMDB. Ela reinará, e o PMDB terá candidato próprio à Presidência da República, se Deus quiser.

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço o aparte de V. Exª e informo que o PMDB tem exatamente 11.373 Vereadores neste País que estão sendo excluídos e que não participarão da prévia da escolha do Presidente da República. Agora quero saber se aqueles que estão excluindo os Vereadores vão dispensar o seu apoio e o seu voto lá em seus Municípios na eleição do ano que vem.

            O PMDB, Senador Mauro Miranda, tem 11.373 Vereadores, 1.263 Prefeitos espalhados por este País, 159 Deputados Estaduais, 88 Deputados Federais, 24 Senadores da República, 5 Governadores de Estado, 27 Diretórios Estaduais e 2.614 Diretórios Municipais espalhados por este País. É este Partido gigantesco que quer escolher o candidato a Presidente da República com apenas três mil e poucos eleitores.

            Olha, quem quer ser candidato à Presidência da República do Brasil não pode temer as suas próprias bases, não pode temer um disputa interna. Quem quer ser candidato à Presidência da República e enfrentar 70 milhões de eleitores Brasil afora tem que enfrentar as bases do seu Partido, passar por elas, receber o apoio deste Partido para depois se credenciar candidato à Presidência da República.

            A eleição presidencial não é colegiada. Trata-se de um pleito direto e popular, em que tem direito a voto mais de 70 milhões de brasileiros. Não adianta vencer prévias viciadas e não ter o apoio do conjunto partidário depois. Um candidato que foge de uma disputa democrática dentro do próprio partido certamente não terá condições de disputar nenhuma eleição, muito menos a de Presidente da República.

            Quem se julga incompetente para convencer 100 mil pessoas dentro do seu próprio partido não tem a menor condição de enfrentar uma eleição democrática para Presidente. Se esse candidato não tem elementos para convencer os membros de seu partido, como é que vai convencer o conjunto da sociedade brasileira?

            Na eleição presidencial não vale a barganha e nem a pressão, mas o debate das idéias e das propostas. Vale o trabalho entusiasmado da militância. Vale a união do partido. Militância e união que só se conquistam em um jogo limpo, de onde surge um candidato comprometido com um projeto de mudanças para o Brasil, um nome competitivo, desatrelado deste Governo que não consegue mais atender aos anseios da sociedade brasileira. Um candidato de proveta ungido pela troca de favores políticos não terá legitimidade na disputa, não terá legitimidade sequer para exigir do próprio partido apoio e trabalho.

            Mas ainda temos tempo de mudar o rumo das coisas. A decisão tomada ontem pela Executiva Nacional precisa ainda ser referendada pelo Conselho Político. Ainda é possível corrigir esse equívoco, para que tenhamos condições de construir uma candidatura presidencial legítima, sintonizada com as bases partidárias e com a sociedade brasileira. Caso contrário, as dissidências internas serão inevitáveis. O Partido entrará para as eleições presidenciais do ano que vem totalmente dividido, com muitos de seus líderes importantes apoiando outros candidatos, com a militância desunida e totalmente desmotivada. O candidato do maior Partido do Brasil correrá o risco de ficar sem palanque e sem aliados em muitos Estados.

            Faço este alerta, agora, porque temos tempo de refazer as coisas. Mais do que um alerta, faço um apelo ao Presidente Michel Temer. Apelo para sua responsabilidade de Presidente do maior, melhor e mais querido Partido deste País.

            O PMDB é um Partido forte e aguerrido. Sua história confunde-se com a própria história recente do Brasil. Não há um fato importante no País nos últimos anos em que o PMDB não tenha tido participação decisiva. Todas as pesquisas feitas no Brasil comprovam que o PMDB é o Partido de maior capilaridade em todos os Estados.

            Mas não há fortaleza que resista a sucessivos golpes. Temos cometido equívocos nos últimos pleitos presidenciais, que nos custaram perdas enormes. Se persistirmos errando, corremos o risco de esfacelar de vez o PMDB como Partido nacional. Temos que aprender com os erros do passado e não insistir no caminho que tem transformado nosso Partido em uma instituição fragmentada.

            A chance que temos é agora. Façamos as prévias amplas, com a participação da militância do PMDB em todo o País. Respeitando a vontade da maioria, teremos um candidato forte, com legitimidade para sair pelo Brasil em busca do apoio necessário para realizar as transformações sociais e econômicas que o País tanto anseia.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes que os patrulhadores de plantão venham, uma vez mais, censurar-me pela franqueza e pela transparência com que acredito que as coisas devam ser tratadas, quero dizer que essas palavras estão sendo proferidas com a melhor das intenções. Trata-se, antes de tudo, de um alerta à direção do Partido. São observações construtivas que faço em tempo para que possa haver uma mudança de rumos.

            O que peço à Direção Nacional, em especial ao Presidente Michel Temer, é uma reflexão sincera sobre a importância e a gravidade do momento vivido pelo País e pelo PMDB. Vamos deixar de lado os interesses do Planalto e pensar grande, pensar nesse nosso Partido fantástico, pensar no Brasil, acima de tudo.

            Não podemos nos acovardar nem nos omitir nesta hora. Dos grandes homens públicos e das grandes agremiações partidárias esperam-se coragem, trabalho e muita dedicação pela Nação nos momentos mais difíceis. É isto que a sociedade brasileira espera de todos nós: coragem para declararmos nossa independência e lançarmos um candidato forte à sucessão presidencial; dedicação na construção e na execução de um projeto novo para o Brasil, que priorize o social sobre o econômico, o interesse nacional sobre o interesse estrangeiro, e trabalho incessante e obstinado em favor das camadas mais pobres da população brasileira, com as quais sempre estivemos em sintonia e a qual, realmente, necessita do amparo de programas governamentais.

            Confio na responsabilidade e na sensibilidade política do Presidente Michel Temer e do Conselho Político, para mudar a decisão de ontem da Executiva do Partido. Ainda há tempo. Será bom para o PMDB. Será bom para o Brasil.

            O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Concedo o aparte ao ilustre Senador Iris Rezende.

            O Sr. Iris Rezende (PMDB - GO) - Muito obrigado, Senador Maguito Vilela. Acompanho com muita atenção o pronunciamento de V. Exª, que denota um fundo de decepção e de revolta, plenamente justificáveis. Muitos poderão censurá-lo por trazer ao plenário do Senado uma questão interna do PMDB, mas, de antemão, manifesto o meu irrestrito apoio ao pronunciamento de V. Exª, que não poderia ser mais oportuno. Afinal esta Casa é constituída de políticos, e políticas, e seu discurso trata de uma questão absolutamente política a respeito de um dos maiores Partidos de nosso País. Endosso as manifestações de V. Exª, porque o que está acontecendo no PMDB é, sob todos os aspectos, inconcebível. Num determinado momento, quando buscávamos a disputa do Diretório - e V. Exª encabeçava uma chapa, contrariando visivelmente os interesses do Palácio do Planalto -, tivemos a hombridade de devolver ao Presidente da República as funções destacadas para indicação dos companheiros do PMDB de Goiás. E o fizemos por entender que, naquele momento, o PMDB precisava assumir uma posição de independência, para atender aos interesses maiores de nosso País. Estou certo de que o nosso companheiro Michel Temer - pessoa que sempre respeitei e com quem sempre mantive um relacionamento fraterno, amigável e respeitoso -, ao disputar com V. Exª e sentir o clamor das bases por uma candidatura própria, não demorou a colocar nas mãos de cada companheiro uma carta-compromisso onde, dentre alguns itens, ele falava na prévia, da qual deveriam participar em torno de 150 mil peemedebistas. Ontem, ao ouvir o noticiário de que as coisas estavam tomando um rumo diferente, tomei a liberdade de telefonar ao Presidente Nacional do meu Partido, companheiro Michel Temer e fazer as minhas ponderações a respeito. Fiz a ele um alerta: “Presidente, companheiro, não jogue por terra todo um passado de respeito e consideração que V. Exª construiu na vida pública. Não faça isso. Em um Partido da dimensão do PMDB não se pode fazer o que os estudantes fazem nas disputas políticas estudantis”. Não quero aqui fazer um discurso paralelo ao de V. Exª, que faz um grande discurso, um grande pronunciamento, mas prometo vir a esta tribuna manifestar o meu repúdio caso a Executiva Nacional do PMDB e o Conselho do Partido não reparem essa agressão política que se pratica contra as bases do PMDB. Tenho autoridade para fazê-lo, Senador Maguito Vilela, como o têm todos os companheiros do Partido. Tenho talvez mais um pouco, porque o PMDB se fortaleceu a cada momento em que a ditadura cassava o mandato de um companheiro, prendia outro ou mandava um outro para o exílio. O Partido se agigantava na alma do povo. Fui cassado justamente por não ceder à pressão da ditadura e não atender ao imperativo de um general comandante que, no comando do Planalto, eu prefeito, era categórico: “Ou entra na arena ou não terá água”. Preferi ser cassado, perder os meus direitos políticos, a fraquejar com um partido que representava o sentimento de um povo, sobretudo o dos mais oprimidos. Não se pode brincar com um Partido dessa natureza, que, sofrendo muitas vezes inconseqüências de dirigentes, continua forte, continua o maior Partido deste País. Voltarei à tribuna caso o Conselho do Partido não corrija essa selvageria política que tenta praticar contra aqueles que se movem por um ideal. Virei aqui fazer denúncias e fazer com que aqueles que irresponsavelmente dirigem o nosso Partido tenham, diante dos companheiros, o tratamento que realmente passariam a merecer. Não quero condená-los por esses erros, porque errar é humano, mas o que não é admissível é que persistam no erro, brincando de fazer política, brincando com a honorabilidade política dos outros, brincando com uma população que ainda se esforça para acreditar nos políticos do nosso País. Meus parabéns pelo pronunciamento oportuno de V. Exª.

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Muito obrigado, Senador Iris Rezende. Incorporo o seu aparte ao meu pronunciamento.

            Peço a tolerância do Sr. Presidente para que eu possa ouvir os nobres Senadores Roberto Requião e Casildo Maldaner, dos Estados do Paraná e de Santa Catarina, respectivamente, que me solicitaram um aparte.

            O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) - Senador Maguito Vilela, peço tanto a V. Exª quanto aos aparteantes a maior brevidade possível, uma vez que o tempo de V. Exª já está esgotado e a pauta é grande.

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Pois não, Sr. Presidente.

            Concedo um aparte ao Senador Roberto Requião.

            O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Senador Maguito Vilela, todas as pesquisas de opinião de todos os institutos, dos mais sérios aos menos sérios, demonstram que hoje existem dois partidos com prestígio no Brasil: em primeiro lugar, o PT; em segundo lugar, o nosso velho MDB. A direção do nosso Partido conseguiu ganhar a convenção com uma equação extraordinariamente interessante: prometia a possibilidade da candidatura própria sem parar de “lamber a rapadura”. Pretendia lamber a rapadura até que a língua sangrasse. “Continuaremos no Governo, liberando emendas, viabilizando favores e garantindo nomeações.” Mas, na última hora, Michel Temer, travestido de Robin Hood, com o seu arco e a sua flecha, combateria o Governo, garantindo candidatura própria. Ledo engano de quem acreditou nessa proposta. E, hoje, o PMDB está desmontado. Culpa de quem? Culpa nossa. O uso do cachimbo entorta a boca. Essa adesão fisiológica vem sendo mantida há mais de sete anos, desde que nós, que disputamos com Fernando Henrique, passamos a concordar com o Governo em troca de uma adesão fisiológica. Estamos pagando o preço. Mas eu me entusiasmo com o discurso empolgado do Senador Iris Rezende e quero fazer aqui uma sugestão a V. Exª, ao Senador Iris Rezende e ao Senador Mauro Miranda: vamos assumir nós, que, de certa forma, representamos a cepa original do velho MDB de guerra, um compromisso, o de que não deixaremos o PMDB na mão dessa gente que pretende aderir ao Governo Federal. Vamos assumir o compromisso de, se os candidatos que se lançarem na disputa, por alguma circunstância, desistirem, conversar e lançar um candidato à Presidência da República por esse Partido, que teve excepcionais governadores e que não pode furtar-se à responsabilidade que tem com relação à expectativa popular. Não vamos deixar um Temer solitário ser um não-candidato, ser o candidato da adesão e da negociação com um Governo completamente desgastado, que é o Governo Fernando Henrique Cardoso. O meu sonho, Senador Maguito Vilela, era que as Oposições tivessem um candidato único; era PDT, PT e PMDB enfrentando, num primeiro e definitivo turno, essa proposta neoliberal que vem desgraçando o País, marginalizando populações e causando desastres na nossa economia. No entanto, se isso não for possível, Senadores Iris Rezende, Mauro Miranda e Maguito Vilela -- que hoje se pronunciaram --, assumamos o compromisso de garantir ao Partido candidatura própria, seja a do Pedro Simon, seja a do Itamar Franco, seja a candidatura de um ex-governador do Partido, que garantirá a posição e a postulação de uma proposta diferenciada nas próximas eleições. Apresento esta proposta e espero a adesão dos companheiros. Muito obrigado.

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço as palavras de V. Exª.

            Quanto à sua proposta, já concordamos com ela há muito tempo.

            Concedo um aparte ao Senador Casildo Maldaner.

            O Sr. Casildo Maldaner (PMDB - SC) - Senador Maguito Vilela, primeiramente quero dizer que a decisão de ontem da Executiva não tem poderes para alterar uma resolução do Conselho Político Nacional. Já há uma resolução nacional - e inclusive havia na época em que presidia o Partido o companheiro catarinense Luiz Henrique da Silveira, quando o fórum e o universo eram outros, e não o que a Executiva tentou estipular ontem. Portanto, a Executiva não tem competência para dizer qual é o universo que votará nas prévias do dia 20 de janeiro. Ela tem a função de cumprir decisões que já estão estabelecidas. A do Conselho de Política Nacional é outro universo. Em segundo lugar - nesse caso, falo como Presidente da secção do nosso Partido, em Santa Catarina -, estamos convocando uma reunião da Executiva para segunda-feira, quando tiraremos uma moção, do nosso Estado, dirigida ao Conselho Político Nacional, de que nós, catarinenses, não aceitamos a alteração desse quórum. Não aceitamos. E que se cumpra aquilo que foi decidido na Convenção Nacional do último dia 9 de setembro, ou seja, que as prévias serão realizadas no dia 20 de janeiro e, acima de tudo, a candidatura própria à Presidência da República. Por isso, Senador Maguito Vilela, receba a homenagem e a solidariedade dos catarinenses.

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço a V. Exª, Senador Casildo Maldaner.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Pois não, Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Maguito Vilela, quero solidarizar-me com o pronunciamento de V. Exª. Considero da maior importância essa batalha de Parlamentares e Senadores do PMDB para o processo de escolha de um candidato do Partido à Presidência da República, que, juntamente com o Partido dos Trabalhadores, lutou para que fosse extinto o Colégio Eleitoral. Estivemos juntos na batalha das “Diretas já!”. Portanto, considero próprio que cada um de nossos Partidos esteja, a esta altura, aperfeiçoando o processo democrático de escolha dos candidatos à Presidência da República. Da mesma maneira, no âmbito do meu Partido, o Partido dos Trabalhadores, tenho propugnado para que haja a realização de prévia, precedida de debates, a fim de que todos os mais de novecentos mil filiados possam estar conscientes e participem da escolha do candidato à Presidência da República. Senador Maguito Vilela, eu também estranhei a decisão da Executiva do PMDB, porque ela afeta a democracia. Nós estivemos lado a lado na campanha das Diretas Já!, em 1984, e restringir o colégio eleitoral agora, restringir o número de pessoas que terá direito de escolher o candidato a Presidente da República é algo que afeta toda a Nação. Ainda que, portanto, V. Exª esteja discutindo algo afeito ao seu Partido, o PMDB, eu aqui resolvo dar-lhe o aparte porque, no âmbito do Partido dos Trabalhadores, estou dizendo aos meus companheiros para darmos o exemplo, com a realização de prévias. Eu estou inscrito, Luiz Inácio Lula da Silva deverá se inscrever, e é a expectativa. O Prefeito Edimilson Rodrigues, de Belém do Pará, estará no Senado amanhã e combinou dialogar comigo, porque queremos que haja um procedimento exemplar para a democracia. Eu tenho conversado com a Senadora Heloísa Helena, com os Senadores Tião Viana e José Eduardo Dutra, bem como com todos os meus companheiros sobre a importância de aperfeiçoarmos a democracia. Por essa razão, congratulo-me com as palavras de V. Exª.

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Muito obrigado. Realmente, esse não é um problema apenas do PMDB, mas do Brasil, da democracia no nosso País.

            Agradeço muito.

            O Sr. Carlos Bezerra (PMDB - MT) - Permite-me V. Exª um brevíssimo aparte?

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - O último aparte, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) - Peço a compreensão de V. Exª, por gentileza, para que seja realmente o último aparte e solicito ao ilustre aparteante a maior brevidade possível, porque já estamos em muito extrapolando o tempo e temos que entrar na Ordem do Dia.

            O Sr. Carlos Bezerra (PMDB - MT) - Senador Maguito Vilela, não podemos exacerbar na questão da decisão do nosso Partido sobre o candidato à Presidência da República, até porque a convenção decidiu que vamos ter candidato próprio. Essa decisão é inarredável, é irreversível. Eu votei contra a decisão da Executiva, votei pela prévia ampla, como membro da Executiva, e acho que podemos avançar mais, incluindo os Vereadores e os Vice-Prefeitos.

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - É a minha proposta.

            O Sr. Carlos Bezerra (PMDB - MT) - Essa tese é simpática à maioria do Partido. Dessa forma, vamos ficar com um colégio razoável, que dá para definir bem internamente no Partido. Desse modo, o que precisamos fazer é dialogar e o nosso Partido sairá vitorioso dessa prévia, com uma candidatura muito forte e com condições de ganhar a Presidência da República. Precisamos conversar muito, articular muito e unificar o máximo possível o nosso Partido.

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - É justamente por isso, Senador, que estou provocando o PMDB nacional: para que os Vereadores participem. Se os excluirmos agora, eles não vão se sentir na obrigação de trabalhar pelo candidato a Presidente, a Governador, a Senador ou a Deputado.

            O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Senador Maguito Vilela, V. Exª me permite um aparte?

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Pois não.

            O Sr. José Eduardo Dutra (Bloco/PT - SE) - Eu concordo com V. Exª quando diz que esse é um assunto que interessa a todo o Brasil. O aparte do Senador Eduardo Suplicy - tenho certeza de que não foi a intenção de S. Exª - poderá gerar um mal entendido, por isso gostaria de fazer um registro. As prévias, no PT, são estatutárias - fazem parte do Estatuto do Partido, aprovado no Congresso do PT, que só poderá ser modificado em outro Congresso - e todos os filiados participam delas. Portanto, no caso do PT, se houver mais de um candidato, vai haver prévias. Essa é uma questão estatutária no PT. Muito obrigado a V. Exª.

            O SR. MAGUITO VILELA (PMDB - GO) - Agradeço muito as Srªs e os Srs. Senadores, bem como o nosso Presidente, hoje a figura maior do nosso Partido, líder incontestável, que, tenho certeza absoluta, marchará com a nossa idéia de reunir um colégio eleitoral amplo para a escolha do nosso candidato a Presidente da República.

            Muito obrigado.


            Modelo15/21/243:19



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