Pronunciamento de Pedro Simon em 23/11/2001
Discurso durante a 161ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
REFLEXÃO SOBRE A IMPORTANCIA DO PMDB NO CONTEXTO DA SUCESSÃO PRESIDENCIAL. INDIGNAÇÃO PELO POUCO DESTAQUE, DA IMPRENSA, A SUA PRE-CANDIDATURA A PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA PARTIDARIA.
ELEIÇÕES.
IMPRENSA.:
- REFLEXÃO SOBRE A IMPORTANCIA DO PMDB NO CONTEXTO DA SUCESSÃO PRESIDENCIAL. INDIGNAÇÃO PELO POUCO DESTAQUE, DA IMPRENSA, A SUA PRE-CANDIDATURA A PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/11/2001 - Página 29460
- Assunto
- Outros > POLITICA PARTIDARIA. ELEIÇÕES. IMPRENSA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), APRESENTAÇÃO, DADOS, MEMBROS, IMPORTANCIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).
- DEFESA, AMPLIAÇÃO, COLEGIO ELEITORAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ESCOLHA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
- IMPORTANCIA, CANDIDATURA, ORADOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, REPRESENTAÇÃO, INTERESSE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), MELHORIA, POLITICA SOCIAL, EDUCAÇÃO, SAUDE, INFRAESTRUTURA, COMBATE, CORRUPÇÃO.
- ANALISE, CRESCIMENTO, OPINIÃO PUBLICA, CANDIDATURA, ROSEANA SARNEY, GOVERNADOR, ESTADO DO MARANHÃO (MA), PRESIDENCIA DA REPUBLICA, MOTIVO, UTILIZAÇÃO, PUBLICIDADE, TELEVISÃO.
- DEFESA, IGUALDADE, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, CAMPANHA ELEITORAL.
- CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, COMBATE, CORRUPÇÃO, EXCESSO, AUXILIO, BANCOS, REPUDIO, ATUAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INTERVENÇÃO, BANCO DO ESTADO DE SÃO PAULO S/A (BANESPA), AUSENCIA, CONSULTA, MARIO COVAS, EX GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
- CRITICA, IMPRENSA, AUSENCIA, INCLUSÃO, ORADOR, PESQUISA, VOTAÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, DEFESA, VALORIZAÇÃO, DEBATE, DESNECESSIDADE, UTILIZAÇÃO, EMPRESA DE PUBLICIDADE.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Em primeiro lugar, meu agradecimento a V. Exª, pela oportunidade de falar.
Volto, Sr. Presidente, a um tema sobre o qual falei na semana passada: o meu Partido, o PMDB. Falo numa semana em que a imprensa foi dura e ríspida com o meu Partido. Uma ilustre cronista - brilhante, diga-se de passagem -, Eliane Catanhede, fez uma publicação na sua coluna, que, confesso, deixou-me gelado ao ler.
A grande verdade é que o PMDB está vivendo o momento mais importante e significativo de sua história. Não discursarei novamente a respeito da biografia, do passado do PMDB, pois já o fiz inúmeras vezes. Quero apenas mostrar o importante significado que o PMDB tem para o nosso País.
A revista Veja publicou os números do PMDB, o que representa o Partido, ainda hoje, nacionalmente, com todas as dificuldades que atravessa. São seis milhões de filiados - o segundo partido tem dois milhões -, 11.373 Vereadores - longe do que está em segundo lugar -, 1.263 Prefeitos, 159 Deputados Estaduais, 88 Deputados Federais, 24 Senadores, 5 Governadores, 27 Diretórios Estaduais e 2.614 Diretórios Municipais. Esse é o PMDB, que vive o seu momento mais importante, repito, em termos de decisão.
A mim parece que a última reunião da Executiva Nacional do PMDB pode não ter sido feliz, mas é importante esclarecer que não foi definitiva. Não compete à Executiva decidir o quorum das prévias do Partido, mas ao Conselho Político. Não tenho nenhuma dúvida, malgrado o discurso radical de um colega que criticou duramente o PMDB, de que o Conselho Político terá o equilíbrio e o bom senso de ampliar o colégio eleitoral dos que escolherão nosso candidato, pois é importante o comparecimento do maior número possível de eleitores.
No Rio Grande do Sul, fizemos uma eleição com dois candidatos para escolher o Presidente do PMDB. Votaram mais de 50 mil eleitores. Para demonstrar a importância desse fato, informo que, em uma prévia, quando o PT escolheu quem deveria concorrer ao Governo do Rio Grande do Sul, entre o Olívio Dutra e o Tarso Genro, votaram 22 mil pessoas. Para escolher o candidato a Presidente do PMDB, votaram mais de 50 mil.
Penso que a ampliação do colégio eleitoral do PMDB de fato ocorrerá, em especial com a inclusão dos vereadores, pois não há lógica em não incluí-los. Não há raciocínio lógico que nos dê condição de dizer por que eles não fazem parte.
A decisão, o pensamento de alguns membros da Executiva é tremendamente equivocado, fora da realidade. Quem ganha em uma prévia em que votam todos os presidentes do partido, todos os governadores, deputados federais, deputados estaduais, senadores, membros do diretório, prefeitos, ou seja, vota todo o pensamento do Partido, quem ganha com esse colégio ganha também com o colégio ampliado. Na minha opinião, quem ganha com cinco mil ganha com 60 mil. Não vejo, portanto, nenhum significado nessa decisão. Penso que o Conselho Político haverá de dar força à decisão, e a pesquisa e a prévia sairão. Com isso, o PMDB conseguirá se sair bem desse episódio.
Também considerei importante que o Governador Itamar Franco permanecesse. Havia notícias de que ele se retiraria, o que seria muito ruim, pois se isso acontecesse e restasse apenas um candidato, no caso eu, não haveria prévia, e a questão seria resolvida na Convenção, no mês de junho. E não sei o que poderia acontecer até o mês de junho. Por isso, foi importante a permanência do Governador Itamar Franco. Aliás, tempos atrás, quando a imprensa fustigava o meu nome, dizendo que eu havia de retirar a minha candidatura, eu disse: “Não, eu não retiro”. E disse que não retirava pelo mesmo motivo, pois se eu retirasse a minha candidatura, ficaria apenas o Governador Itamar Franco, e, tendo um só candidato, não haveria a prévia.
Portanto, estando equacionada essa questão, o PMDB tem que saber o que vai fazer nesta campanha: a sua reapresentação, ou seja, o PMDB vai se reapresentar com sua cara, o seu programa, as suas idéias e o seu pensamento. O PMDB estava em uma “geladeira” desde a morte do Dr. Tancredo Neves, enfrentou os problemas do Governo José Sarney, os equívocos da candidatura do Dr. Ulysses, os equívocos da candidatura do Quércia, os equívocos de não ter apoiado o Itamar quando da vitória do Fernando Henrique na última eleição, os equívocos de não ter um candidato para suceder Itamar, que apoiaria um candidato do PMDB, e o Partido não quis.
Essas são coisas que passaram. É claro que isso trouxe um desgaste enorme ao nosso Partido, mas a verdade é que agora chegou o momento da decisão final: o PMDB vai cumprir seu destino e se apresentar perante a Nação dizendo qual é o seu programa, como fez na década de 70, quando o Brasil vivia a noite negra de uma ditadura que parecia não ter fim. Foi o PMDB, junto com o povo brasileiro, que apresentou as cinco propostas de salvação nacional: a anistia, as eleições diretas, a Assembléia Nacional Constituinte, o fim da tortura e o fim da censura à imprensa.
É o que temos que fazer agora, quando os níveis sociais atingem determinados patamares, quando vemos o tom da linguagem do Presidente da República e do Governo Federal com relação ao Judiciário, quando vemos decisões que nos deixam boquiabertos pela coragem do Governo em adotá-las. O PMDB tem que dizer a que veio. Somos um Partido que defende a tese da representação de toda a sociedade brasileira. Somos um Partido que defende a idéia de melhores condições de vida, de trabalho e de dignidade ao povo brasileiro. Somos um Partido que entende a importância do crescimento do País, que deve vir com uma justa distribuição de renda. Temos que caminhar para exterminar a miséria e criar a estabilidade, dando importância e prioridade às questões sociais: emprego, saúde, educação, agricultura, infra-estrutura, transporte, energia e comunicações.
Sei que o PMDB reúne essas condições. Quando me apresento ao meu Partido com a minha candidatura pretendo representar isso. E apresento como credencial o meu passado e a minha história, desde o início lutando para tirar o PMDB do zero e levá-lo, juntamente com Tancredo, Ulysses, Teotônio e tantas figuras que fizeram a glória do Partido, a viver novamente os momentos históricos da década de 70.
Temos que mostrar o que queremos. Os marqueteiros e as pesquisas de opinião influenciam, de certa forma, as eleições. Conforme a Srª Tereza Cruvinel disse na sua coluna, os marqueteiros não se contentam em fazer apenas a publicidade do partido, como antigamente. Hoje, querem dizer quem é o candidato. E é a primeira vez que isso acontece na História do Brasil. No passado, conhecíamos os candidatos escolhidos pelo partido e depois uma empresa de publicidade vinha e fazia a sua propaganda. Mas não é isso o que ocorre atualmente. Estamos vendo, em todos os partidos, até no PT, grupos de publicidade tentando vender o seu produto. Como disse Cony, em seu importante artigo “Sabonetes de Candidatos”, eles vendem o candidato como se fosse sabonete. São importantes, portanto, a colocação de Cony e a análise de Tereza Cruvinel: a publicidade influi diretamente na escolha do candidato.
O Brasil é o único País do mundo em que isto acontece: o debate não é feito dentro do partido - com a sociedade, é claro -, ou seja, não há uma exposição, um debate, uma preocupação para que cada partido busque aquele que considera o melhor candidato. O que se quer saber, no Brasil, é como está o candidato na mídia.
Tivemos, agora, esse fenômeno fantástico que é a Governadora Roseana Sarney. Uma grande Governadora, diga-se de passagem. Trata-se de uma ação muito competente de colocar uma mulher, Governadora pela segunda vez, como candidata. Essa é uma demonstração evidente do que a mídia pode fazer. Apenas duas apresentações de S. Exª num programa de televisão já a colocam, tranqüilamente, em segundo lugar nas pesquisas. E dizem até que a Globo está realizando pesquisas em que S. Exª ultrapassa o Lula. Daqui a pouco, Roseana Sarney será a candidata do PFL e o Serra terá de procurar o seu marqueteiro, porque alguns dizem que o que está faltando ao Serra e ao Tasso são marqueteiros - por isso eles estariam bem abaixo e aquém de onde poderiam chegar nas pesquisas.
Mas penso que esse não é o problema dos partidos políticos. À margem disso, o partido político tem de debater, discutir internamente e apresentar o seu candidato. Tenho dito que não tenho nenhuma dúvida de que o que irá decidir e definir as eleições serão os debates nas emissoras de rádio e televisão durante os 60 dias anteriores à campanha. Por que eu digo isso? Porque, até lá, a mídia reina como quer: coloca apenas quem quer na televisão, no rádio, nos jornais e nas revistas e, quanto a isso, não precisa dar explicação.
Mas chegará a hora da verdade, e a hora da verdade será aquela em que os partidos, escolhendo os seus candidatos, vão ter que se apresentar perante a sociedade com as suas idéias e com os seus pensamentos.
Nos Estados Unidos, a eleição é definida não pela mídia, apesar do que podem gastar o candidato democrata e o candidato republicano, depois de escolhidos candidatos. Quem decide a eleição nos Estados Unidos são os debates feitos entre os dois candidatos, transmitidos por cadeia de televisão, de costa a costa, e nos quais eles ficam em pé e um jornalista faz-lhes perguntas. É baseado nesse desempenho que o candidato acaba saindo vitorioso e ganhando as eleições. Não vemos nos Estados Unidos, Alemanha, Itália, Argentina ou Uruguai, dois anos antes das eleições, um conluio entre a mídia das revistas, dos grandes jornais e das estações de televisão com institutos de pesquisa, que ninguém sabe que verbas manuseiam, para determinar a informação que o povo recebe.
É verdade que o nosso projeto, que conseguiu ser aprovado aqui, mas não será aprovado na Câmara dos Deputados, defende a tese de que a propaganda gratuita na televisão deveria ser feita ao vivo, com o candidato olhando no olho do eleitor.
Até o PT entendeu que o programa ficaria muito monótono, muito chato. Permitiu então que Duda Mendonça, que os que baianos se reunissem e fizessem um programa espetacularmente bem feito, mostrando uma série de coisas, menos o candidato. O candidato só aparece na frase final. O seu perfil, a sua biografia, a sua história, o seu passado e o seu futuro, os marqueteiros fazem como bem entendem, de forma linda, romântica, tipo novela, para esconder a verdade.
Esses programas fazem exatamente tudo para esconder o candidato, como fez Duda Mendonça quando escolheu Pitta e levou o povo de São Paulo a considerá-lo um gênio da competência e da sabedoria quando, na verdade, ele era o que era. A mídia o elevou às nuvens. Por isso digo que é uma pena não ter sido aprovada a publicidade feita ao vivo pelo candidato.
Também defendi que só se pudesse gastar dinheiro público na campanha, como ocorre na Alemanha, onde cada candidato tem a mesma importância. Pode ser Antônio Ermínio, pode ser Pedro Simon, um sem um tostão e o outro o homem mais rico do Brasil. Eles só poderiam gastar a mesma importância, como acontece na Alemanha. Mas isso não foi aprovado.
Vejam como, no Rio Grande do Sul, o nosso querido PT está com graves problemas originários da campanha. Quando buscava fundos para a campanha, aconteceram fatos sobre os quais não quero me aprofundar, mas que demonstram que gasto público em campanha seria fundamental. Apesar disso, temos que ir em frente.
Disputo com Itamar a prévia do PMDB. Tenho o maior respeito pelo Governador Itamar Franco. Ele foi um Presidente competente, capaz, é uma pessoa digna e de bem. Mas acredito que, apresentando-me como candidato, estou cumprindo, de certa forma, uma destinação, a destinação de alguém da minha geração, que viveu todos os dias do PMDB, que sempre esteve no PMDB, que, ao lado do comando, dos chefes do PMDB, que, ao lado de Ulysses Guimarães, dirigiu o Partido, tendo amor pelo Partido. E não quero ser eu, Pedro Simon, o Presidente, mas sim representar a nossa gente, a nossa idéia, o conjunto, as nossas pessoas. Tenho muito medo do individualismo. Collor foi individualista e deu no que deu; Jânio também, e deu no que deu.
Tenho alguns princípios, isso sim, no campo da ética, no campo da moral. Tenho o desejo de acabar com a impunidade neste País. Não tenho nenhuma dúvida de que, sendo Presidente, eu tomaria as medidas necessárias, porque começaria de cima o exemplo para que não ocorresse o que acontece hoje. Os jornais de hoje publicam que a corregedora-geral - não sei qual é o nome dessa senhora -, que ocupa cargo criado pela Presidência da República, mandou arquivar as denúncias contra Eduardo Jorge. Engraçado é que ela mandou arquivar tudo sob o argumento de que não há nada consistente. Ela decidiu, deu a sentença. E o seu papel é, havendo problemas, questões, dúvidas, aquela montanha de dúvidas, apurar, mandar abrir inquérito. Depois do inquérito, ela poderia dizer que não tem nada. Entretanto, ela recebeu, olhou, entendeu que não havia nada de consistente e mandou arquivar.
Nós, no Governo, não faremos isso; nós apuraremos denúncias até contra o próprio Presidente da República. Entendemos que um Governo deve ter ética e moral, combater a impunidade, colocando na cadeia não apenas ladrões de galinha, mas qualquer um, mesmo que esteja no governo, seja pessoa importante ou não, seja empresário, parlamentar, enfim, seja quem for, e fazer uma definição clara, objetiva e concreta pelo social, por aqueles que mais necessitam e precisam. Por outro lado, creio que temos condições de crescer e de nos desenvolver.
O Governo deveria ser mais ousado. E me parece que o nosso Ministro da Fazenda é homem da copa e da cozinha do Banco Mundial, do Bird, e tem um tom respeitoso, quase fidalgal com essa gente. Entretanto, penso que o Brasil deveria iniciar um grande movimento, já que não é justo que a fantástica dívida brasileira seja rolada a juros insuportáveis, enquanto as dívidas americana, européia e japonesa são roladas a juros insignificantes. Se conseguíssemos baixar os juros, faríamos até um acordo com o mundo, com as nações importantes, desenvolvidas e ricas, faríamos um projeto para dez anos abrangendo educação, saúde, moradia, agricultura e infra-estrutura social, e abateríamos nos juros. Esses juros poderiam ser pagos depois, lá adiante, após o término do pagamento da dívida.
Essa importância, que poderia chegar a US$10 bilhões, seria aplicada num plano de urgência, de emergência - que poderia ter fiscalização internacional -, no combate à fome, à miséria, no desenvolvimento da agricultura e na habitação popular.
Creio, Sr. Presidente, que temos que ter coragem de fazer algumas reformas, como a reforma tributária e a administrativa, que não saem porque o Governo Federal não quer abrir mão do poder de mando, da mão de ferro que tem sobre os Prefeitos e Governadores, que não podem se rebelar, não podem falar, não podem gritar, não podem reivindicar, porque comem na mão do Governo Federal. Qualquer Prefeito que se preze, para fazer uma boa administração, tem que, dos quatro anos que dura o seu mandato, perder um ano entre Brasília e a capital do seu Estado - perdendo mais tempo em Brasília.
Vejo que os Prefeitos que vêm aqui, que me procuram e estão felizes porque tiveram um despacho com o Ministro “x”, com o Ministro “y”, que lhes dão aquilo que é obrigação dar, não precisariam nem vir aqui buscar. Permitir a autonomia do Município para que tenha verba e possa participar dos debates, isso o Governo não quer. O Governo quer os Municípios no chão, dependendo permanentemente do “beija a mão”. O Presidente quer os Governadores no chão, dependendo permanentemente do “beija a mão”.
Mário Covas morreu falando da mágoa que tinha, como integrante do PSDB, do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Quando ele foi eleito Governador pela primeira vez, um dia antes de assumir o mandato, o Banco Central determinou a intervenção no Banco do Estado de São Paulo. Dizia-me ele: “Por que isso? Como Governador eleito, por que não me deram a chance de debater e analisar o caso?” Ele foi pego de surpresa. Nem o Presidente da República nem o Ministro da Fazenda, ninguém conversou com ele sobre a intervenção no Banespa. E a intervenção foi feita.
O Sr. Covas era um líder extraordinário, fantástico, que poderia exercer no Governo uma pressão positiva para o lado social. Mas, com a intervenção no Banespa, ele perdeu essa condição, porque tinha que vir de São Paulo e ir aos gabinetes do Presidente do Banco Central, do Ministro da Fazenda, do Presidente da República para equacionar o problema do banco. O Presidente Fernando Henrique Cardoso levou todo o tempo do mandato do Covas para resolver o problema do Banespa.
Sr. Presidente, teremos um momento muito importante nas próximas eleições. O meu medo é de que, pela grande imprensa e por algumas candidaturas, apresentem-se frases e publicidade de conteúdo forte dizendo que tudo vai mudar para deixar tudo igual. Haverá idéias, discursos, publicidade, esse marketing fantástico.
Já disse e vou repetir o exemplo, porque é interessante: o que está acontecendo agora é o debate entre o Duda e o Nizan. Duda ganhou o primeiro round. Ele deixou o Maluf e pegou o PT. E, como homem do PT, está dando uma nova fisionomia ao Partido: mais light, mais simpática, mais agradável, menos radical. Antigamente, o PT mostrava na televisão uma criança miserável, faminta e depauperada, com uma música fúnebre, e o locutor dizia: “Isso tem que mudar! Fim desse capitalismo, dessa violência, dessa miséria, dessa fome. Vote no PT para mudar!” Hoje, aparece a criança, mas a música é clássica, leve, lenta e, quando ela termina, o locutor diz: “Você, telespectador, se comoveu com o drama dessa criança? Então, você já é um pouco PT.” Vejam a mensagem subliminar. É a competência da campanha do PT, que está mudando toda a sua filosofia, apresentando-se segundo as propostas de marketing do Sr. Duda Mendonça.
A resposta de Nizan Guanaes veio com a campanha da Srª Roseana Sarney. Ela tinha zero por cento nas pesquisas. É uma mulher bonita, boa Governadora, capaz. Ele fez três programas de televisão com ela e, agora, ela está quase alcançando o Lula nas pesquisas. Será que a eleição vai ser assim? Será que vamos até o fim nesse duelo entre o baiano e o Duda? Ou será que vamos ter condições de ficar acima da mídia - revistas, rádios, jornais, televisão -, que já quer determinar quem é o candidato? Fizeram isso com o Collor. O Collor perderia aquela eleição, não há dúvida nenhuma. Mas a mídia, os esquemas finais e o Jornal Nacional alteraram o processo e fizeram com que o Sr. Collor ganhasse.
E eu pergunto, com muito amor e muito carinho, ao povo brasileiro: “De que maneira podemos evitar isso? De que maneira o povo, a gente simples e modesta, poderá se afastar da lavagem cerebral, da grande mídia da televisão, e buscar a verdade?”
Desde que se falou na minha candidatura, fui procurado por vários esquemas. Diziam que eu precisava ter jatinhos, uns dois ou três; uma sede de campanha em Brasília e outra em São Paulo; gente na mídia, para fazer com que jornalistas furassem o bloqueio que existe com relação a mim; fazer uma mala direta, ter um jornal para ir diretamente aos membros que vão votar. Muita gente, diante da minha resposta, espantou-se, porque eu não aceitei.
Venho dizendo no Senado que toda corrupção começa na campanha eleitoral, como aconteceu com o Collor, com o Fernando Henrique, como está se vendo agora no PT do Rio Grande do Sul, com os anões do Orçamento. Se digo isso e se o que eu tenho é a minha moral, a minha dignidade, a minha seriedade, a minha biografia, a minha coerência, não posso mudar agora. Sempre viajei pelo Brasil, desde criança, de avião de carreira, mesmo quando fui Ministro e Governador. Agora, não posso andar de jatinho por aí afora. Não posso aparecer em Brasília com uma sede, uma casa onde funcione o meu comitê, se eu não sei quem é o dono dessa casa, porque não tenho dinheiro. Não sei quem é o dono dessa casa nem o que ele quer.
Muita gente se desiludiu comigo e disse que, desse jeito, eu não vou ganhar as eleições. Mas eu pretendo, Sr. Presidente - parece mentira -, continuar assim. Em primeiro lugar, eu não vou mudar. O Pedro Simon que entrou nessa caminhada é o Pedro Simon que vai sair dessa caminhada. Sem dinheiro? Sem dinheiro. Viajando de avião de carreira? De avião de carreira. Debatendo, discutindo, ocupando esta tribuna, procurando falar com as pessoas? Sim.
Sim, mas não posso fazer nada se a mídia não vai com a minha cara; não posso fazer nada se os homens de propaganda, os homens que fazem as pesquisas, não utilizam o meu nome.
É via Internet. É claro que não é oficial, não é garantido, mas houve um fato interessante. A IstoÉ abriu um espaço, durante vários dias, para que as pessoas votassem no candidato que gostariam de eleger. Fiquei, de longe, em primeiro lugar. Lá atrás estava o Lula, em segundo lugar. Foi interessante porque eu não tinha idéia de que era esclarecido o eleitorado da Internet. Foi a única chance que tive de aparecer.
O Ibope citou o meu nome em dezembro do ano passado, quando a pesquisa estava começando. Fiquei com 4%. O meu nome nunca mais apareceu naquela pesquisa.
Já contei aqui -- e é bom que se repita - que o Vox Populi, quando faz as pesquisas, cita como candidato do PMDB o Itamar Franco. Em outra pesquisa, menciona o Ciro Gomes ou o Itamar Franco, mas não cita o Pedro Simon. No final, listou os mais impopulares, os que têm maior índice de rejeição por parte do eleitorado. Em primeiro lugar, estava Pedro Simon -- aí colocaram o meu nome. Não sei de onde tiraram essa rejeição. Isso é tão fictício, tão irreal! Escrevi duas cartas para esse cidadão, pelo qual tenho o maior respeito, e ele não teve a mínima gentileza de responder.
Mas vou adiante. Sigo, já agora, tranqüilo, primeiramente porque a prévia do PMDB vai ocorrer. Essa foi uma grande vitória, e creio que fui um dos artífices desse trabalho. Desde o início, defendi essa tese. Trabalhei junto aos membros do PMDB, dizendo que era importante que nos afastássemos do Governo. Conseguimos a saída do Ministro dos Transportes, Eliseu Padilha. Mas se dirá: “O Senador Ney Suassuna entrou”. Entrou na quota pessoal do Presidente, que o convidou, e ele aceitou. Porém, não há nenhum representante oficial do PMDB.
Também não sou daqueles que querem partir para a guerra - reconheço. Vamos agora fazer da nossa caminhada o desmonte do Senhor Fernando Henrique? Nunca fui disso, Sr. Presidente. Sou candidato não porque tenho mágoa do Fernando Henrique, porque quero falar mal do Fernando Henrique, porque não gosto do Fernando Henrique. Não. Sou candidato para o futuro. O meu Partido e eu pretendemos apresentar uma proposta ao povo brasileiro. É claro que, no decorrer da campanha, vamos analisar as diferenças entre nós e o Governo do Senhor Fernando Henrique, no campo da ética, por exemplo.
No início do Governo, fui convidado para ser Líder do Governo Fernando Henrique e não aceitei. Que bom para ele e para mim que não aceitei o convite, porque eu teria saído muito cedo! E o motivo de eu não ter aceitado foi porque considerei que a frente do Presidente tinha sido ampla demais. Era uma geléia geral! Mas, no início do Governo, colhi as assinaturas para criar a CPI dos corruptores. Sua Excelência a vetou, obrigou o PSDB e o PFL a retirarem as assinaturas.
Meu Governo vai ser diferente. No meu Governo, vou querer que se apure tudo. Essa diferença vai haver. Vai haver diferenças também no campo social.
Ontem, os jornais publicaram que os grandes bancos brasileiros duplicaram os seus lucros durante o período do Senhor Fernando Henrique Cardoso. Ao mesmo tempo em que saiu essa manchete, foi publicada a notícia de que o Presidente não pagaria os salários do mês de novembro aos professores universitários enquanto eles não voltassem às aulas, descumprindo uma decisão do Superior Tribunal Justiça, numa medida inédita. E o que Sua Excelência fez? Quem determina o pagamento é o Ministro - sempre foi o Ministro que o fez na História do Brasil -, mas o Senhor Fernando Henrique baixou uma portaria dizendo que o pagamento dos funcionários não seria mais da competência do Ministro e, sim, dele, do Presidente da República. Essa é uma agressão ao Tribunal, à Justiça brasileira.
Terei o maior respeito com o nosso Judiciário. Há emendas que estão sendo apreciadas, às quais votarei de forma favorável. Que os Ministros do Supremo Tribunal Federal não sejam mais escolhidos exclusivamente pelo Presidente da República! Trata-se de uma emenda muito positiva, e eu, como candidato, vou votar favoravelmente. Segundo a emenda, não poderá ser candidato parente de um determinado grau do Presidente, nem quem tenha sido, nos dois últimos anos de seu Governo, Ministro, Procurador, Governador, enfim, quem tenha exercido algum cargo de confiança ou mesmo quem tenha sido Parlamentar. Aí, sim, se votarmos essa matéria, faremos uma escolha concreta, objetiva. Será escolhido um Ministro dos mais capazes e não dos mais amigos.
Por isso, Sr. Presidente, sigo na minha caminhada. Alguns, a começar pela grande imprensa, olham-me com deboche. Não consegui obter até agora da Srª Eliane Catanhede, da Srª Tereza Cruvinel e de outros comentaristas importantes uma palavra de respeito. Não. São palavras de descaso, de deboche: “É uma candidatura de mentirinha. Não vai prosseguir, não tem condições”. E muitos dizem: “Mas, Simon, é tão fácil mudar! Por que não se reúne, por que não chama, por que não vai jantar, por que não telefona, por que não vai lá?”. Não vou porque ou imponho o ritmo de uma linha ou, então, prefiro não ser candidato.
Espero que, agora, definida a prévia -- sabendo-se que os candidatos são o Itamar e o Pedro Simon e que não há a candidatura Temer --, a imprensa me dê o respeito que mereço. Espero que os institutos de pesquisa, com os dois candidatos registrados e a prévia marcada, citem o meu nome. Caso contrário, terei que entrar na Justiça Eleitoral, aí, sim, explicando que a pesquisa é parcial, porque cita nomes de pessoas que não são candidatos. O próprio Lula não se apresentou, não se registrou como candidato; no PSDB, não se registraram candidatos. Hoje, os candidatos oficiais registrados são Itamar Franco e Pedro Simon, que fizeram o registro por escrito das suas candidaturas para concorrer na prévia.
Sr. Presidente, pergunto-me: por que estou fazendo isso? O meu estilo é o de um homem simples, modesto, singelo. Participei de todos os grandes movimentos na História deste País, desde 1964, mas nunca busquei as manchetes, nunca fui vedete, nunca busquei posições. Aceitei ser Ministro de Tancredo Neves, porque ele me convidou e insistiu para que eu fosse Ministro. Quando ele morreu, a primeira coisa que fiz foi entrar com um pedido de demissão, que o Sarney não aceitou. Mesmo assim, eu ia me demitir quando a Executiva do PMDB se reuniu, mas se verificou que o Sarney não tinha nenhum apoio da sociedade. Havia sido o último Presidente da Arena, era vice do Tancredo, mas todo o ideal de luta havia sido construído por causa de Tancredo. O Dr. Ulysses Guimarães dizia que era importante que todo o Ministério escolhido por Tancredo Neves permanecesse até a consolidação do Sr. José Sarney. Fiquei e mantive um relacionamento respeitoso com o então Presidente, mas, logo que foi possível, deixei o Ministério.
Tenho até hoje, em meu gabinete, a portaria de nomeação assinada pelo Dr. Tancredo Neves, que iria assumir a Presidência da República no dia seguinte, às 9 horas. No entanto, ele foi para o hospital às 22 horas do dia anterior. Até às 19 horas, ele estava trabalhando. Ele assinou todas as portarias de nomeação de seus Ministros. Uma delas era a minha, que tenho pendurada em meu gabinete, com muita honra. Mas nunca fui, nunca tive preocupação em subir adiante.
Na ocasião da eleição do Dr. Ulysses, numa fundação aqui, em Brasília, houve uma reunião final com todos os Governadores do PMDB - éramos 25 -, que foram unânimes em dizer que o candidato a Presidente da República deveria ser o Pedro Simon. Gente diversa o disse: Waldir Pires, hoje do PT; o Arraes, atual Presidente do PSB; o Quércia; o Newton Cardoso; o Álvaro Dias; o Iris Rezende; o Tasso Jereissati, que era Governador do nosso Partido. Não aceitei porque, como amigo pessoal do Dr. Ulysses e tendo ido dizer-lhe, em nome dos Governadores, que não deveria ser o candidato, achei que ficaria muito feio, para mim, dizer-lhe de repente: “Sou eu”. Não aceitei.
No término do Governo de Itamar Franco, Fernando Henrique era dos menos cotados para ser candidato. Meu nome saía nos jornais. Itamar e a sociedade achavam que eu deveria ser candidato. No entanto, em vez do meu nome, levei o nome de Antonio Britto, pois pensava que ele poderia ser o candidato - não o foi porque não quis, porque teve medo de enfrentar o Quércia na Convenção. Essa foi outra oportunidade que tive.
Tenho mais quatro anos de mandato no Senado e não estou em busca de satisfazer vaidade pessoal, mas creio que devemos fazer uma revolução nos costumes deste País. Temos de buscar a brasilidade, a cidadania; temos que conversar com o povo, dar-lhe condições de crédito, de competência, de esperança, porque ele tem o direito de ter esperança de que um dia haja um Brasil voltado para todos, não com uma imensa maioria à margem do que se passa no País.
Essa é a minha proposta, Sr. Presidente. Para isso, estou aqui. Para isso, não uso a linguagem mais radical, mais dura, mais agressiva, embora essa some mais. Os filiados do PMDB, talvez, gostem mais desse tipo de linguagem, mas não é por aí que vou. Vou pelo sonho de mudar o Brasil, de transformá-lo, e, se Deus, nos seus desígnios, houver por bem que eu possa chegar lá, eu chegarei.
Eu digo apenas uma coisa aos meus amigos de mídia e de televisão: saindo candidato do PMDB e dispondo dos oito minutos de televisão durante dois meses - que eu usarei ao vivo, olho no olho, sem nenhuma empresa de publicidade e de marketing atrás de mim -, não terei medo do debate. Não tenho medo dos marqueteiros. Se, em dois programas, os marqueteiros fizeram com que a Governadora do Maranhão tivesse cerca de 20% dos votos, em dois meses, podendo debater, expor e analisar, eu acho que posso competir. Acredito que tenho condições de competir.
Mas que bom será se conseguirmos que esse pensamento que me domina seja aquele que se estenda a outros Partidos e a outros candidatos, para que entendam que há necessidade de reflexão e de pureza de pensamento e não apenas de números, críticas ou elogios fáceis e nem sempre verdadeiros.
Por isso, Sr. Presidente, mais uma vez, deixo esta tribuna, agradecendo a tolerância de V. Exª, dizendo que me sinto tranqüilo e em paz, porque faço o que acho que devo fazer. A minha consciência me diz que esse é o caminho pelo qual devo seguir.
Não tenho campanha, não tenho nada, mas, nas várias vezes em que estive no interior conversando com a população - e já percorri todo o Brasil por diversas vezes -, pediram-me um slogan para a minha campanha. Eu digo: “Eu não tenho slogan”. E dizem: “Mas nos dê um”. Digo, com muita simplicidade, que meu slogan é profundo: eu gostaria que, no meu Governo, pudéssemos dar pão a todos os que tivessem fome e fome de justiça a todos os que tivessem pão.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Modelo112/26/247:10