Discurso durante a 162ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solidariedade ao Ministério Público do Paraná, notificado pelo Governo Estadual, pela não divulgação de informações sobre a existência de corrupção nas últimas eleições para a prefeitura de Curitiba.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Solidariedade ao Ministério Público do Paraná, notificado pelo Governo Estadual, pela não divulgação de informações sobre a existência de corrupção nas últimas eleições para a prefeitura de Curitiba.
Publicação
Publicação no DSF de 27/11/2001 - Página 29568
Assunto
Outros > ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNADOR, PREFEITO DE CAPITAL, ESTADO DO PARANA (PR), INTIMIDAÇÃO, PROCURADOR, MINISTERIO PUBLICO, OBJETIVO, OCULTAÇÃO, CORRUPÇÃO, ELEIÇÃO, CAPITAL DE ESTADO.
  • REITERAÇÃO, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, FINANCIAMENTO, ELEIÇÃO, PREFEITO, MUNICIPIO, CURITIBA (PR), ESTADO DO PARANA (PR), PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL).
  • SOLIDARIEDADE, MINISTERIO PUBLICO, ESTADO DO PARANA (PR), MUNIR GAZAL, PROCURADOR DE JUSTIÇA, CONTINUAÇÃO, INQUERITO JUDICIAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Para uma comunicação inadiável.) - Sr. Presidente, no caso do Senador Osmar Dias, a ordem dos fatores não altera a soma. Nossos discursos são semelhantes, não são idênticos, mas tratam de temas homogêneos.

            Assomo à tribuna, Sr. Presidente, para trazer minha solidariedade ao Ministério Público do Paraná, que está sendo pressionado pelo Governador do Estado e pelo PFL. Os procuradores de Justiça, nesta semana, receberam uma estranhíssima notificação do advogado do PFL, do Governador e do Prefeito Cássio Taniguchi. Eles foram notificados para não darem informações a respeito do processo de corrupção ocorrida na última eleição em Curitiba. Inclusive, uma das acusações era a de que os procuradores teriam repassado documentos ao PMDB.

            Ledo engano do Sr. Governador e do Prefeito Cássio Taniguchi. Ocorreu exatamente o contrário. Os documentos foram repassados pelo PMDB ao Ministério Público. Aliás, esse é o destino que queremos dar a todos os documentos que comprovem a corrupção ocorrida na eleição à Prefeitura de Curitiba. Vamos encaminhá-los ao Ministério Público Estadual e ao Ministério Público Federal. Esses documentos foram encaminhados ao Procurador Geraldo Brindeiro, ao procurador eleitoral do Paraná e à Receita Federal.

            A eleição para a Prefeitura de Curitiba foi estranhíssima, Sr. Presidente. Eles apresentaram uma contabilidade de pouco mais de R$2,9 milhões. Mas de repente, não mais que de repente, surgiu, depois de uma cisão interna do grupo governista, uma contabilidade paralela de R$32 milhões e notícias de que outros comitês financeiros teriam mobilizado mais R$20 milhões. São R$50 milhões gastos numa eleição municipal.

            Lembro-me de que, à época, o Presidente do PFL, Senador Jorge Bornhausen, foi à Curitiba garantindo que a eleição não estava perdida, embora as pesquisas dissessem que o candidato do PT, no início do segundo turno, tinha 56% das intenções de voto.

            Venceram a eleição. Compraram a eleição. O livro-caixa foi autenticado pelo tesoureiro da campanha, Sr. Francisco Paladino, que, diante do Ministério Público, disse simplesmente: “Este livro-caixa fui eu que redigi, os documentos que o acompanham são verdadeiros e comprovam R$32 milhões de despesas”.

            O Ministério Público, embora pressionado, age com coragem. Aliás, esse escândalo que deságua em Curitiba não começou em Curitiba. Onde o Governador Jayme Lerner põe a mão há um escândalo eleitoral. Começou em Londrina, com a eleição do prefeito Belinatti, que tem hoje os bens indisponíveis, foi deposto da prefeitura e preso já algumas vezes. Depois teve prosseguimento em Maringá, onde o Prefeito Jairo Gianotto foi deposto, preso e teve os bens indisponíveis. É a tal composição do PFL e das suas alianças.

            Aliás, o PMDB tem documentos também do processo político de Maringá, relativos à eleição ao governo do Estado que disputei. Em alguns documentos, há uma saída, um desencaixe de US$6 milhões do Consórcio Dominó, que comprou a Companhia de Saneamento do Paraná. Esse desencaixe deu-se pelas mãos da Andrade Gutierrez - de US$6 milhões - para a consolidação de uma aliança política, de uma coligação partidária.

            Recebemos esses documentos e essas gravações. Como o PMDB não é irresponsável, antes de enviá-los ao Ministério Público, mandamos fazer uma auditoria das fitas gravadas e da documentação, para identificar os participantes, os interlocutores do processo.

            Mas, de qualquer forma, nesta breve comunicação, deixo a minha mais absoluta e irrestrita solidariedade ao Ministério Público do Paraná e ao Procurador de Justiça Munir Gazal, que está levando com coragem e firmeza o inquérito para frente.

            Nessa semana, uma perícia feita pelo Departamento de Perícia da Polícia Civil do Paraná legitimou os documentos e mostrou, com uma precisão de 100%, que os documentos apresentados paralelamente ao livro-caixa dois teriam sido, sim, redigidos pelo Sr. Mário Lopes Filho, tesoureiro-geral da campanha do PFL.

            A autenticação feita por um dos tesoureiros, Sr. Francisco Paladino, é muito interessante, porque ele autentica o caixa dois dizendo que é verdadeiro, e ao mesmo tempo, foi o tesoureiro do acordo branco da campanha do Governador Jaime Lerner contra o PMDB, da campanha que derrotou o Luiz Carlos Hauly, do PSDB, em Londrina, e da campanha do Jairo Gianoto, em Maringá. Teremos muitas surpresas!

            Farei a indagação que fez o Boris Casoy no Jornal da Record. E o PFL? O que diz o PFL da corrupção no Paraná? Que providências tomará, uma vez que a comprovação já é absoluta e que, realmente, o PFL trabalhou com o caixa de magnitude inesperada? Dinheiro de campanha não é maná; maná é o que Deus provia ao povo eleito quando fugia do Egito, sob o comando de José. Dinheiro de campanha vem dos cofres públicos, dos acordos, das vendas das estatais. Hoje já sabemos que o dinheiro da corrupção foi usado. Só não sabemos de onde saiu, e essa é agora a tarefa enfrentada com decisão por Munir Gazal e pelos procuradores de Justiça do meu Estado.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


            Modelo14/20/2412:59



Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/11/2001 - Página 29568