Discurso durante a 165ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Protesto contra o projeto de lei que altera a CLT. Estranheza pela falta de empenho do Presidente Fernando Henrique Cardoso em promover a reforma tributária.

Autor
Heloísa Helena (PT - Partido dos Trabalhadores/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. LEGISLATIVO.:
  • Protesto contra o projeto de lei que altera a CLT. Estranheza pela falta de empenho do Presidente Fernando Henrique Cardoso em promover a reforma tributária.
Publicação
Publicação no DSF de 30/11/2001 - Página 29885
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. LEGISLATIVO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, INCOERENCIA, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, PROMOÇÃO, REFORMA TRIBUTARIA, IMPOSIÇÃO, REGIME DE URGENCIA, VOTAÇÃO, PROJETO DE LEI, AMEAÇA, EXTINÇÃO, DIREITOS E GARANTIAS TRABALHISTAS, TRABALHADOR, CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO (CLT), ATENDIMENTO, INTERESSE, EMPRESARIO.
  • PROTESTO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DESRESPEITO, PRINCIPIO CONSTITUCIONAL, SEPARAÇÃO, PODERES CONSTITUCIONAIS, TENTATIVA, APROVAÇÃO, PROJETO DE LEI, CONGRESSO NACIONAL, MANIPULAÇÃO, CONGRESSISTA, VINCULAÇÃO, VOTO FAVORAVEL, LIBERAÇÃO, RECURSOS, EMENDA INDIVIDUAL, EMENDA COLETIVA, IMPEDIMENTO, LIBERDADE, EXERCICIO, FUNÇÃO LEGISLATIVA.

A SRª HELOÍSA HELENA (Bloco/PT - AL. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores e, de forma especial, Senador Roberto Requião, embora o tema já tenha sido tratado, ad nauseam, nesta Casa, eu não poderia de deixar de protestar contra as últimas declarações do Presidente da República. Mas não o faço da forma desqualificada como ele tem, ao longo da sua história política, tratado os aposentados e os professores. Desse assunto não vou tratar porque, no início da sessão, o Senador Antônio Carlos Valadares já o fez.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mais uma vez, o Presidente da República age da forma mais desqualificada possível, rasgando a Constituição perante o olhar - espero eu - estarrecido do Congresso Nacional e da população brasileira. Ao longo de seu Governo, o Presidente da República não tem tido a coragem de tratar da reforma tributária, não tem tido a coragem de tratar de um tema extremamente importante para a dinamização da economia local, para a geração de emprego e de renda. O Congresso Nacional, que se tem comportado como mero anexo arquitetônico do Palácio do Planalto, também não tem tido a coragem de fazê-lo. E, agora, para de alguma forma responder ao setor empresarial, o Governo trata de “tratorar” o pouco que foi conquistado pelos trabalhadores ao longo da sua história em relação à CLT.

Como se não bastasse o fato de o Presidente da República, por não ter a coragem de enfrentar o problema de fato, acabar prejudicando o elo mais fraco da relação capital-trabalho - que qualquer pessoa de bom senso neste País, independentemente de convicções ideológicas ou concepção partidária, sabe que é justamente o trabalho, representado pelos trabalhadores -, Sua Excelência tenta fazer isso em regime de urgência.

Hoje de manhã, eu conversava com o Senador Jefferson Peres sobre a necessidade fundamental de preservarmos o Congresso Nacional em relação ao art. 64 da Constituição, que trata do regime de urgência. Caso contrário, daqui a pouco o Presidente da República vai querer substituir as medidas provisórias pelo regime de urgência constitucional, combalindo mais ainda o pouco que resta para o Congresso Nacional em sua atividade legiferante.

Ainda como se nada disso bastasse, são lastimáveis as últimas declarações dos Líderes da Base Governista, dos Ministros e do próprio Presidente da República em relação ao Congresso Nacional: “Só hoje o Presidente conseguiu retirar pelo menos 21 votos dissidentes da Base contra o projeto do Governo; mandou suspender do Diário Oficial a nomeação de indicados do PMDB; telefonou para Ministros, comandantes do Partido e Governadores, afirmando, inclusive, que não mais nomeará dirigentes do DNER”. Disseram também que a eleição do Presidente do Senado e do Congresso Nacional foi feita em função da intenção do Presidente da República.

Sr. Presidente, o Governo, mais uma vez, está rasgando a Constituição, apesar de sabermos que a separação dos Poderes é cláusula pétrea constitucional. Sei que a Constituição vem sendo rasgada ao longo da história, com a omissão e cumplicidade do Congresso Nacional, mas o art. 60, § 4º, inciso III, da Constituição diz que não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir a separação dos Poderes. Tanto essa é uma cláusula pétrea, que o art. 85 diz que constitui crime de responsabilidade não permitir o livre exercício do Poder Legislativo.

Portanto, gostaria de deixar registrado o meu protesto em relação ao que vem sendo reiteradamente patrocinado pelo Governo Federal: o desrespeito à independência entre os Poderes e à Constituição do País, ao fazer de sua intenção de aprovar determinadas medidas no Congresso Nacional um verdadeiro balcão de negócios, vinculando a liberação de recursos de emendas individuais ou de bancadas ao tipo de comportamento do Parlamentar no Congresso Nacional.

Isso é crime de responsabilidade! Não vê o problema quem efetivamente não quer vê-lo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/11/2001 - Página 29885