Discurso durante a 167ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a gravidade da violência no campo, lamentando a morte do trabalhador rural Cleodini de Almeida, no município de Buritis-RO.

Autor
Amir Lando (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Amir Francisco Lando
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
REFORMA AGRARIA.:
  • Reflexão sobre a gravidade da violência no campo, lamentando a morte do trabalhador rural Cleodini de Almeida, no município de Buritis-RO.
Publicação
Publicação no DSF de 05/12/2001 - Página 30187
Assunto
Outros > REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • CRITICA, OMISSÃO, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), CONTENÇÃO, VIOLENCIA, CAMPO, CONFLITO, SEM-TERRA, FAZENDEIRO, REFERENCIA, HOMICIDIO, CLEODINI DE ALMEIDA, TRABALHADOR RURAL, MUNICIPIO, BURITIS (RO), ESTADO DE RONDONIA (RO).

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            O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, venho à tribuna, no apagar das luzes desta sessão, para trazer ao conhecimento da Nação um fato gravíssimo, que envolve perda de vida humana, um fato que se constitui um símbolo do que representa a violência no campo, no Brasil; um fato realmente dramático, com contornos de perversidade, de como um cidadão, um pai de família, um trabalhador rural foi eliminado brutalmente no Município de Buritis. Segundo informações obtidas junto ao Comando da PM, onde consta do registro que o trabalhador rural Cleodini de Almeida, de apenas 28 anos, foi jogado no rio Jacy, no PA rio Jacy - Projeto de Assentamento do rio Jacy -, com braços amputados, além da perna, orelha e os órgãos sexuais. Crime esse, pela brutalidade, indica vingança, indica execução de homens desalmados, de facínoras que estão a serviço da pistolagem. Não há dúvida, Sr. Presidente - e está aqui o Deputado Confúcio Moura, nesta sessão da Câmara Alta do Legislativo brasileiro. E estivemos, nesse fim de semana, percorrendo aquela região. Esse fato nos foi denunciado. Inclusive, fomos ao pai da vítima, que é filho de Benedito Pereira de Almeida e de Terezinha Aparecida de Almeida, residente à Linha União, Km 29, do Município de Buritis.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, talvez devêssemos render à morte um silêncio, o silêncio eterno a que esse ser humano foi condenado antes de realizar a sua missão na terra, na flor da juventude, aos 28 anos, quando tinha pela frente a esperança, a perspectiva de morar em terra própria como foi seu pai e sua família, de produzir não apenas o grão, mas sobretudo a expectativa de uma vida melhor para seus filhos.

            Semear e colher é o trabalho dessa gente que antevê nos abrolhos o fruto e que tem nas mãos o poder do Criador, porque quem semeia e colhe produz, cria e reproduz, gerando a riqueza nacional. E esse homem, representado aqui apenas por uma figura, como um emblema da violência! Não faz muito tempo - cerca de três ou quatro meses - oito vidas humanas foram ceifadas de uma só vez, em Jacilândia. A imprensa nacional não registrou, e o que não está na mídia não existe, o que a telinha não mostra diante das consciências deste País não existe. Carajás foi filmada e, conseqüentemente, foi objeto de comiseração nacional, de protestos de todos os calibres, mas quando se morre no silêncio, sob o manto e o cobertor da floresta, muitos deles, Sr. Presidente, desaparecem. Não há sequer uma tumba para indicar-lhes a última morada. É assim que se vão eliminando brasileiros que querem plantar e que querem um pedaço de terra - e de terras públicas, Sr. Presidente, em que a União, através do Ministério da Reforma Agrária - que faz da mídia o seu patamar de exercício -- se omite, se esconde. E o Incra, que deveria estar à frente, alheio permanece, conivente pela omissão.

            Enumerarei outro fato do qual não trouxe o registro, mas fá-lo-ei e encaminharei essas matérias à Presidência da República, ao Ministério da Reforma Agrária - do Desenvolvimento Agrário, como se fala e se diz, porque, quando não se faz muita coisa, é preciso mudar o nome para ver se, com a mudança de nome, se ganha mais a mídia - e para a Presidência do Incra.

            Recentemente, mais um cidadão brasileiro, naquelas regiões ínvias, foi morto, esquartejado, ensacado e, depois, pendurado ao longo da vereda, por onde adentravam outros sem-terra como ele. Aquele desfigurado, esquartejado, foi escondido diante dessa tela brutal da insensibilidade, e nós nada faremos. E ninguém diz nada. Por isso, denuncio diante da Nação, para responsabilizar o Incra, o “Ministério do Anti-Agrário”, em razão do que vem acontecendo, dessa violência que vem ceifando vidas inocentes. E por que não estão na mídia? Não estão e não existem na realidade. Digo isso, Sr. Presidente, em nome daquela gente sem vez, sem voz; digo isso em nome dos que são condenados à morte por uma decisão unilateral dos facínoras, que ainda se reservam requintes de perversidade e de maldade extrema!

            Aqui estou para defender a gente de Rondônia e do Brasil, pois tanto tenho feito pelo Brasil e agora tenho de olhar mais de perto por aquele contingente de brasileiros esquecidos e abandonados ao descaso, à própria sorte e à desgraça.

            Por isso, mais uma vez, enfatizo que não vamos permanecer alheios. O Brasil há de se comover também, não apenas diante dos acontecimentos de Carajás ou de Corumbiara, mas também diante dessas mortes violentas de pessoas que queriam nada mais que produzir para comer, para progredir e para gerar a riqueza de que o País tanto necessita.


            Modelo15/2/249:27



Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/12/2001 - Página 30187