Discurso durante a 169ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre os ataques israelenses a alvos palestinos e a guerra do Afeganistão. Transcrição do poema de Carlos Drummond de Andrade intitulado "A bomba".

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. HOMENAGEM.:
  • Reflexão sobre os ataques israelenses a alvos palestinos e a guerra do Afeganistão. Transcrição do poema de Carlos Drummond de Andrade intitulado "A bomba".
Aparteantes
Heloísa Helena, Lauro Campos.
Publicação
Publicação no DSF de 07/12/2001 - Página 30383
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, GUERRA, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, PALESTINA.
  • CRITICA, GEORGE W BUSH, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), EXCESSO, INVESTIMENTO, AERONAVE, BOMBA, COMBATE, PAIS ESTRANGEIRO, AFEGANISTÃO, REPRESSÃO, ATENTADO, TERRORISMO.
  • LEITURA, TEXTO, AUTORIA, CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, POETA, ANALISE, EFEITO, BOMBA, DESNECESSIDADE, UTILIZAÇÃO.
  • SOLICITAÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO, AMBITO INTERNACIONAL, DESNECESSIDADE, GUERRA, DESTRUIÇÃO, INCENTIVO, PAZ.
  • COMENTARIO, CARTA, AUTORIA, MARIA CELIA VARGAS, CIDADÃO, AGRADECIMENTO, LEONEL JOSPIN, PRIMEIRO-MINISTRO, FRANÇA, ESFORÇO, LOCALIZAÇÃO, FILHO.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, HELOISA HELENA, SENADOR, INCENTIVO, JUSTIÇA SOCIAL, PAZ, CONGRATULAÇÕES, LIDERANÇA, PESQUISA, ELEIÇÕES, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DE ALAGOAS (AL).

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Lauro Campos, Srªs e Srs. Senadores, é muito difícil hoje pensar na resolução de problemas que possa conduzir o Brasil e o planeta Terra a uma sociedade melhor quando percebemos a insensatez grave da guerra.

Eis as manchetes de hoje:

“Bomba inteligente mata três americanos”, “Estados Unidos erram ataque e matam três americanos”.

Anteontem, o Governo de Israel atacou o quartel-general de Yasser Arafat com mísseis. Vimos pela televisão crianças saindo correndo das escolas destruídas pelos mísseis. Crianças foram feridas, e Yasser Arafat, por enquanto, está conseguindo proteger-se.

No Afeganistão, não param de morrer civis bombardeados pelos métodos mais modernos, bombas vêm de bombardeiros B-52, são lançados mísseis de toda ordem, e o Governo dos Estados Unidos ainda abre licitação para comprar aviões de guerra, que custam, nada mais nada menos, que US$200 bilhões.

Onde vamos parar, Sr. Presidente?

Resolvi trazer ao Senado a palavra do poeta. Vou ler este poema para ver se conseguimos trazer um pouco de sensatez ao mundo, ao planeta Terra, à humanidade. Quero fazer uma reflexão na forma de um dos poemas mais bonitos de Carlos Drummond de Andrade chamado “A bomba”. Esse é um dos poemas favoritos da nossa guerreira Heloísa Helena, que costumava guardá-lo aqui.

            Estava folheando as obras completas de Carlos Drummond de Andrade que a Bradesco Seguros teve a gentileza de ofertar a mim - penso que a todos os Senadores -, e deparei-me com esse poema com o qual gostaria de brindar o Senado Federal.

A bomba

é uma flor de pânico apavorando os floricultores

A bomba

é o produto quintessente de um laboratório falido

A bomba

é miséria confederando milhões de misérias

A bomba

é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles

A bomba

é grotesca de tão metuenda coça a perna

A bomba

dorme no domingo até que os morcegos esvoacem

A bomba

não tem preço não tem lunar não tem domicílio

A bomba

amanhã promete ser melhorzinha mas esquece

A bomba

não está no fundo do cofre, está principalmente onde não está

A bomba

mente e sorri sem dente

A bomba

vai a todas as conferências e senta-se de todos os lados

A bomba

é redonda que nem mesa redonda, e quadrada

A bomba

tem horas que sente falta de outra para cruzar

A bomba

furtou e corrompeu elementos da natureza e mais furtara e corrompera

A bomba

multiplica-se em ações ao portador e em portadores sem ação

A bomba

Chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés

A bomba

faz week-end na Semana Santa

A bomba

brinca bem brincado o carnaval

A bomba

tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia

A bomba

industrializou as térmites convertendo-as em balísticos interplanetários

A bomba

sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose, de verborréia

A bomba

não é séria, é conspicuamente tediosa

A bomba

envenena as crianças antes que comecem a nascer

A bomba

continua a envenená-las no curso da vida

A bomba

respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais

A bomba

pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba

A bomba

é um cisco no olho da vida, e não sai

A bomba

é uma inflamação no ventre da primavera

A bomba

tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro, cobalto

e ferro além da comparsaria

A bomba

tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.

A bomba

não admite que ninguém a acorde sem motivo grave

A bomba

quer é manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos

A bomba

mata só de pensarem que vem aí para matar

A bomba

dobra todas as línguas à sua turva sintaxe

A bomba

saboreia a morte com marshmallow

A bomba

Arrota impostura e prosopopéia política

A bomba

cria leopardos no quintal, eventualmente no living

A bomba

é podre

A bomba

gostaria de ter remorso para justificar-se mas isso lhe é vedado

A bomba

pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo

A bomba

declara-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade

A bomba

tem um clube fechadíssimo

A bomba

pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel

A bomba

é russamericanenglish mas agradam-lhe eflúvios de Paris

A bomba

oferece na bandeja de urâneo puro, a título de bonificação, átomos de paz

A bomba

não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas

A bomba

desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger velhos e criancinhas

A bomba

não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de câncer

A bomba

é câncer

A bomba

vai à Lua, assovia e volta

A bomba

reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação em cadeia

A bomba

está abusando da glória de ser bomba

A bomba

não sabe quando, onde e por que vai explodir, mas preliba o instante

[inefável

A bomba

fede

A bomba

é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina

A bomba

com ser uma besta confusa dá tempo ao homem para que se salve

A bomba

não destruirá a vida

O homem (tenho esperança) liquidará a bomba.

Senador Lauro Campos, precisamos destruir as bombas. Quantas pessoas precisarão ser mortas até que o ser humano descubra que não precisa resolver os problemas por meio da destruição do outro? Quantas crianças, palestinas ou judias, precisarão ser mortas em Israel, em Gaza, no Oriente Médio, até que se descubra que essa não é a melhor forma? Se Osama bin Laden atacou o World Trade Center e matou 3.600 pessoas e outras tantas no Pentágono, será que os Estados Unidos precisam usar da mesma forma de atacar e destruir tantas pessoas? Até seus próprios cidadãos norte-americanos são mortos por bombas inteligentíssimas que os bombardeiros caríssimos B-52 lançam. São bombas inteligentes teleguiadas por satélites, e as formas tecnologicamente mais avançadas para atingir exatamente o alvo. E o alvo acabou sendo os próprios norte-americanos.

Senadora Heloísa Helena, V. Exª tem instrução para ser uma guerreira, para construir justiça neste País; V Exª. se indigna com tanta veemência e é discípula dos grandes samurais, cujas instruções é capaz de seguir, inclusive daqueles que sempre usam da espada. O Senador Romeu Tuma sabe que a Senadora Heloísa Helena age como os samurais que nunca tiram da bainha ou de sua mão a espada e, por vezes, sentem a necessidade de molhá-la com sangue. Tão disciplinados são esses samurais, Senador Romeu Tuma, que se não acharem um adversário para ensangüentar e banhar a espada, usam-na no próprio braço. É o espírito de quem foi treinado para ser guerreiro.

Ainda ontem, encontramos o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua Excelência foi conversar com a Senadora Heloísa Helena para saber quão guerreira ela é. S. Exª explicou que, por vezes, os Senadores Líderes do Governo Romero Jucá, Artur da Távola, Romeu Tuma e outros recebem primeiro a espada, antes que o Presidente a receba - até que se sente protegido por ter outros guerreiros na frente. Minha função, aqui, é a de tentar transformar o sangue em flores. Creio, Senador Lauro Campos, que precisamos dizer ao Presidente George W. Bush, aos Primeiros-Ministros Tony Blair, Lionel Jospin e Gerard Schröeder e outros que estão solidários nessa busca a Bin Laden, com formas cada vez mais sofisticadas de destruição, que, quem sabe, possa haver outro caminho. Não aprenderam os norte-americanos a cantar com Bob Dylan? Quantas pessoas precisarão ser mortas até que o homem perceba que é outro o caminho?

O Sr. Lauro Campos (Bloco/PDT - DF) - Concede-me V. Exª um aparte, Senador Eduardo Suplicy?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Concedo com muita honra o aparte a V. Exª, Senador Lauro Campos, que tantas vezes tem nos brindado com o seu extraordinário conhecimento da História da humanidade.

O Sr. Lauro Campos (Bloco/PDT - DF) - Nobre Senador Eduardo Suplicy, talvez o seu pronunciamento de hoje seja o mais rico, o mais oportuno e o mais necessário que tenho ouvido neste plenário. Realmente, a construção de escudos antimísseis nos Estados Unidos foi a promessa do Presidente Bush, logo depois de sua posse. Por coincidência, os maiores contribuintes para a campanha do Presidente Bush foram as indústrias bélicas. Coincidência. Triste coincidência. Suspeita coincidência. Escudo antimíssel que iria custar, de acordo com alguns cálculos, mais de US$200 bilhões. Esses US$200 bilhões, por acaso, a que V. Exª se referiu, agora o Governo americano encomendou em aviões bélicos. E o Presidente Bush, ao assumir, disse: “Eu não sabia que os Estados Unidos tinham tantas armas. Para que tantas?” E agora encomenda mais. E ainda está aí com escudo antimíssil que, de acordo com alguns estudiosos, ultrapassará US$1 trilhão em seu custo final. De modo que, Senador Eduardo Suplicy, essa leitura de Carlos Drummond de Andrade realmente nos comove. Será que teremos de fazer um escudo antimíssil de amor, de fraternidade, de responsabilidade, de paz? Esse é o escudo antimíssil que a humanidade quer e deseja, não é bala contra bala, obviamente. Se me perguntarem qual foi a minha maior preocupação, durante a minha vida, direi, sem dúvida alguma, que foi a economia de guerra, a necessidade da guerra para a economia. Por que 344 guerras mundiais entre 1740 e 1974? Por que 87 guerras internacionais em cem anos, entre 1840 e 1940? Por que, só nas duas guerras mundiais, 80 milhões de mortos? Quero saber por quê? E a minha vida modesta, que não vale nada, dediquei-a quase toda a tentar entender por que e ver se eu conseguia, pelo menos, dar um passo no sentido de que, ao invés dessa agressividade incontida, uma agressividade lucrativa, uma agressividade que não é apenas a das bombas, a agressividade do cinismo; depois das bombas mandam-se alimentos para as crianças sobreviventes. E antes das bombas fazem bombas de dívida externa, de juros elevados, condenando à morte uma parte muito significativa da humanidade.

Chaque année, 30 millions de personnes meurent de faim. Et 800 millions souffrent de sous-alimentation chronique. Vive la France!

Cada ano, 30 milhões de pessoas morrem de fome e 800 milhões sofrem de subalimentação crônica. O meu francês é para isto, é para aprender essas coisas, para repetir essas coisas, indignado. De modo que, então, são guerras também silenciosas, guerras quase poéticas que esses cérebros doentios conseguem evitar. Do meu ponto de vista, só para terminar, para que meu aparte não seja muito prolongado, creio até que o capitalismo, no seu início, foi bastante erótico, a sua tecnologia revolucionou o mundo e ela, em certo sentido, foi favorável à vida humana. Mas, a partir dos anos 30, havia a necessidade de se continuar a produzir, mas não se podia produzir mais carros, alimentos, nada mais para o homem. A produção se voltou contra o homem, em vez de erótica, passou a ser tanática, destruidora, bélica. É por isso que, como exemplo, vou ler a evolução das despesas militares da Otan: Estados Unidos, 1987, US$311 bilhões; 1994, US$254 bilhões em armas; 1995, US$238 bilhões. A Otan, em 1987, gastou US$529 bilhões em armas; em 1990, US$504 bilhões e, em 1996 US$394 bilhões. E a humanidade passa fome. “Para que tanta arma?” Perguntou o Presidente Bush, logo depois de assumir e tomar consciência desse fato, que realmente entristece a humanidade. Assim, não é ser civilizado saber matar com mais eficiência; não é ser civilizado fazer um tapete de bombas no deserto do Afeganistão. Se Carlos Drummond de Andrade ainda estivesse vivo para a alegria e satisfação de nossa emoção, naturalmente ele não deixaria de lado esse tapete de bombas, esse tecido que a humanidade desumana, agora, usa para tecer mortes. Muito obrigado. Desculpe-me o aparte ter sido longo.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eu que agradeço, Senador Lauro Campos. Para mim é uma honra ter as palavras de V. Exª em meio ao meu pronunciamento, porque tão enriquecido está sendo pelo seu conhecimento.

Fico imaginando que no ano 2001 os números de gastos com armas, com despesas militares, é tão maior, agravando a situação, a insensatez da humanidade. Mas nós precisamos estar aqui alertando.

E seria próprio que o Presidente Fernando Henrique Cardoso, que o Governo Brasileiro estivesse nos foros internacionais explicitando também que é necessário encontrar outros caminhos que não o da insensatez destruidora.

Sr. Presidente, peço que seja registrado, como parte de meu pronunciamento, o ofício que encaminhei ao Primeiro Ministro Lionel Jospin, anexando uma carta da Srª Maria Célia Vargas, de agradecimento pela atenção de seu Governo para que pudesse ser encontrado o jovem Hugo Vargas Rozner, depois de 15 anos de busca. Finalmente, a felicidade foi proporcionada neste encontro. Assim, requeiro seja transcrito.

            A Srª Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Senador Eduardo Suplicy, permite V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senadora Heloísa Helena, com muita honra concedo o aparte a V. Exª.

A Srª. Heloísa Helena (Bloco/PT - AL) - Quero saudar o pronunciamento de V. Exª, Senador Eduardo Suplicy, que, com absoluta certeza, sabe que não se constrói a paz sem justiça social. E não acredito em nenhuma possibilidade de se construir a paz sem justiça social; nem na favela de uma grande cidade, nem na periferia de uma cidade do interior ou em qualquer lugar do mundo. Toda essa monstruosidade que tem acontecido nos últimos dias, em função da Meca do capitalismo ter sido atacado diretamente, talvez esse fato tenha ocupado muito mais as páginas dos jornais no mundo, nos meios de comunicação de um forma em geral. Há duas coisas, entretanto, que nos deixa em estado de profunda indignação: uma, é a velha e conhecida diplomacia da avassalagem tanto do Brasil como de vários outros países. É inadmissível a posição de subserviência, a covardia nas relações diplomáticas internacionais de vários países, fomentando e possibilitando que os Estados Unidos continuem numa guerra absolutamente suja como essa, se é que existe alguma guerra que não seja. E, segundo, porque toda a cantinela que sempre foi feita pelos Estados Unidos com relação ao combate ao narcotráfico, existiria uma grande possibilidade de fazê-lo agora. Pois, como todos nós sabemos, a CIA ao longo da sua história, na perspectiva de influenciar os povos do Oriente contra os comunistas da União Soviética e viabilizar uma produção de drogas gigantescas naquela região - não é à-toa que são mais de US$500 bilhões ao ano de dinheiro que é sugado, que transita por muitos espaços, inclusive na high society no Brasil e no mundo todo, em relação às drogas. Praticamente 40% da produção de drogas está justamente no Golden Crescent (Crescente Dourado) que abrange Irã, Afeganistão e Paquistão. E ninguém faz absolutamente nada em relação a isso. O governo americano - que se diz delegado do mundo, que usa da arrogância, da truculência e da intolerância, que impede a autodeterminação dos povos e faz tantos discursos demagógicos em relação ao combate ao narcotráfico - poderia estar atento a isso. Sei que ganham muito dinheiro com o narcotráfico. Não é à toa que a CIA, ao longo da sua história, fechou os olhos a algo gravíssimo, que faz a população do Paquistão, que tem 90% de pobres, ser altamente dependente de heroína. Que façam algo! Não estão lá influenciando tão diretamente, matando crianças e pobres afegãos?! Por que não fazem alguma coisa em relação às drogas - praticamente 40% das drogas do mundo estão naquela região -, que tiram a alegria e a juventude de milhares de crianças daquele país? Se quisessem fazer alguma coisa, poderiam fazer, mas não fazem porque se beneficiam disso. Foram eles que ensinaram muitos afegãos a lavar dinheiro de drogas nas Bolsas, inclusive na de Nova York. O que existe é essa política vergonhosa do míssil e pão. Como diz o Senador Lauro Campos, aqui também tem essa política vergonhosa do míssil e pão. É o míssil que desestrutura o parque produtivo e destrói milhares de postos de trabalho e, depois, é o pão da bolsa-escola, do vale não sei o quê. É isso o que o Governo Federal tem feito. É a mesma política do míssil e pão dos Estados Unidos. Será que somente pensaremos nisso daqui a dez anos? Já tive oportunidade de falar aqui sobre aquela foto histórica de uma menina correndo de uma bomba no Vietnã, a sua pele se soltando em função das queimaduras gigantescas. Muitas pessoas olham para aquela foto e se sensibilizam. Mas ninguém se sensibiliza com a situação gravíssima que está ocorrendo. Uns comemoram a vitória da Aliança do Norte, que segue estuprando e matando pessoas. Sinceramente, pensar que este é um mundo civilizado é um questionamento permanente em mentes e corações espalhados pelo nosso País. Saúdo V. Exª pelo pronunciamento.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senadora Heloísa Helena, há poucos dias, assisti a um filme maravilhoso chamado “No Caminho de Kandahar”. Trata-se da história verdadeira, ocorrida há dois anos, de uma afegã que foi estudar no Canadá, onde tornou-se jornalista. Ela recebeu uma comunicação de sua irmã, angustiada, dizendo que iria suicidar-se antes do próximo eclipse. Desesperadamente, ela segue do Canadá em direção ao Afeganistão, procurando chegar em Kandahar. É uma história muito bonita. Nesse filme, tão bem feito, temos uma idéia da modesta economia do Afeganistão. Podemos ter idéia da sua paisagem. Vemos pessoas caminhando no deserto, nas montanhas e em regiões onde foram colocadas minas que ceifaram as pernas de milhares de pessoas. Isso ocorreu na guerra anterior a esta. Há tantas pessoas sem pernas ou com uma perna só, que, quando os helicópteros lançam pernas mecânicas, muitas delas, andando sobre uma perna só e com ajuda de muletas, movem-se para onde estejam caindo as pernas mecânicas. É uma cena impressionante! Por que falo disso? Porque fico pensando como pode a nação mais poderosa do mundo estar juntando tantos recursos para destruir ainda mais uma nação de recursos tão parcos.

Senadora Heloísa Helena, na conclusão de meu pronunciamento, quero dizer que a batalha V. Exª pela paz, baseada na realização de justiça, tem conquistado todos os seus Pares, que aqui a conhecem mais e melhor a cada dia em que têm a oportunidade de interagir com V. Exª. E gostaria ainda de dizer que fiquei feliz ao ler, esta semana, que o povo de Alagoas está, como nós, sendo conquistado a cada dia. Fiquei feliz em saber que V. Exª hoje lidera as pesquisas de opinião do povo de Alagoas, que deseja torná-la governadora do Estado. E isso é justo, porque, tornando-a Governadora do Estado de Alagoas, o povo estará sendo governado por uma pessoa que contribuirá para que lá seja realizada a justiça que pode proporcionar a paz, que não é a paz dos cemitérios, mas a paz de seres humanos que sabem conviver com respeito.

Saúdo minha guerreira Heloísa Helena, com seu jeito especial de usar a espada na luta pela realização da justiça. V. Exª faz a guerra com flores, encantando e conquistando as pessoas, como a mim próprio. Muito obrigado pelo seu aparte.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/12/2001 - Página 30383