Discurso durante a 170ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Resultados da pesquisa realizada pela Organização pela Cooperação e Desenvolvimento Econômico, sobre o desempenho acadêmico de estudantes de 15 anos de idade.

Autor
Carlos Wilson (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/PE)
Nome completo: Carlos Wilson Rocha de Queiroz Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Resultados da pesquisa realizada pela Organização pela Cooperação e Desenvolvimento Econômico, sobre o desempenho acadêmico de estudantes de 15 anos de idade.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2001 - Página 30521
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, RESULTADO, PESQUISA, ORGANIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, AVALIAÇÃO, ESTUDANTE, INFERIORIDADE, ALUNO, BRASIL.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), AUSENCIA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, CRISE, POLITICA ESTUDANTIL.
  • COMENTARIO, RESULTADO, EXAME, AMBITO NACIONAL, ENSINO MEDIO, INSUFICIENCIA, NOTA ESCOLAR, DEMONSTRAÇÃO, CRISE, ENSINO PUBLICO.

O SR. CARLOS WILSON (PTB - PE) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, há algum tempo sabemos que as coisas não vão muito bem na Educação brasileira, nem poderia ser diferente. A despeito da propaganda abundante produzida pelo governo, mais especificamente pelo Ministério da Educação, seria muito otimismo crer que professores mal remunerados, escolas obsoletas e pouco equipadas pudessem transmitir aos jovens um ensino de qualidade.

Portanto, não chega a se constituir uma grande surpresa a constatação de que o Brasil ficou em último lugar em uma pesquisa sobre o desempenho de estudantes de 15 anos de idade, promovida pela Organização pela Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

Desse trabalho participaram 265 mil estudantes dos 28 países membros da Organização, a maioria composta por países desenvolvidos, mais Brasil, Letônia, Liechtenstein e Rússia.

A pesquisa foi realizada no decorrer do ano 2000 e avaliou a compreensão dos estudantes e sua habilidade em aplicar conhecimentos em leitura, matemática e ciências.

Estudantes da Finlândia, Japão e Coréia estavam entre os melhores colocados. Jovens mexicanos - os únicos latino-americanos incluídos - ficaram um pouco acima do Brasil.

Esse é o resultado de tantas e tantas experiências que se promovem no sistema de ensino brasileiro. É o resultado de se condicionar as prioridades na área de Educação às prioridades políticas de cada governante. Cá entre nós, desde quando Educação foi prioridade de um governo brasileiro, qualquer que tenha sido esse governo ?

O ministro Paulo Renato Souza, aquele mesmo que endureceu o quanto pôde com os professores universitários em grave, e que parecia não se incomodar com a extensão do movimento, que, na prática, superou os 100 dias, atribuiu o desempenho dos estudantes brasileiros ao alto índice de repetência e à evasão escolar, ainda registrados no País. Quer dizer: aquela conversa toda de resultados na área de educação é mais uma ação virtual do governo Fernando Henrique Cardoso. A verdade é que os estudantes brasileiros estão defasados em relação a estudantes de outros países. Ou seja, a maioria dos jovens brasileiros de 15 anos estava cursando séries mais básicas que seus pares em países mais evoluídos.

Dói essa constatação, mas, apesar da publicidade e do marketing do governo, o índice de repetência nos estudantes de ensino fundamental está em 41,7% e, no ensino médio, em 59,9%.

Para corroborar a sensação de que as coisas realmente vão muito mal na Educação brasileira, o Ministério da Educação divulgou recentemente os resultados do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). A nota média foi de 40,6 numa escala de zero a cem. Mais baixa do que a do ano passado, que foi de 51,85.

As justificativas do Ministério da Educação se limitam a dizer que o número de participantes do exame aumentou de 352 mil no ano passado para 1,2 milhão de estudantes este ano. Crescimento provocado, sobretudo, porque aos formandos do ensino médio, oriundos das escolas públicas, foi permitida a inscrição gratuita.

A constatação do ministro Paulo Renato Souza é preciosa; abro aspas, “o Enem está botando a nu a realidade estudantil que reflete a realidade social brasileira”, fecho aspas.

Traduzindo para o português, isso quer dizer que apenas agora, quando a maioria dos estudantes brasileiros, e não apenas os bem nutridos filhos da classe média, chegam ao ENEM, é que se constata a verdade: a de que a renda familiar e a escolaridade dos pais interferem no desempenho escolar, e que a fome e o desemprego são preponderantes na formação dos jovens.

Colocamos o ovo em pé.

Um governo formado por professores, por educadores, fracassa justamente na administração do seu metier. Em vez de se locupletar com a própria vaidade, o que se espera desses senhores é que revertam essa tendência cruel, marca registrada do ensino no Brasil, desde os tempos do Império: apenas a elite consegue ter acesso de fato à educação.

            Não dá para imaginar um cenário diferente. Sabemos que os nossos jovens são premidos a ingressar precocemente no mercado de trabalho, diante da realidade da fome e das necessidades de seus pais e irmãos. E sabemos, também, que o único instrumento de que esses jovens dispõem para modificar essa triste realidade é a sua força de trabalho desqualificada.

Estabelece-se, então, uma cadeia nefasta: o filho não pode estudar porque o pai não pôde; o filho do filho socorre o pai que também não pôde e assim sucessivamente.

Romper essa cadeia é uma tarefa que exige mais do que marketing e publicidade. Exige determinação e vontade. Exige menos vaidade e mais resultados. Exige a construção de um novo Brasil, o que, infelizmente, ficará para os próximos governos.

Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2001 - Página 30521