Discurso durante a 174ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Importância do fortalecimento do Mercosul no momento em que os Estados Unidos aprovam novas restrições a produtos brasileiros.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Importância do fortalecimento do Mercosul no momento em que os Estados Unidos aprovam novas restrições a produtos brasileiros.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2001 - Página 31173
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, POLITICA EXTERNA, BRASIL, CONFIANÇA, REVOGAÇÃO, PROJETO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ESTABELECIMENTO, SUBSIDIOS, AGRICULTURA, RESTRIÇÃO, ENTRADA, PRODUTO NACIONAL.
  • ANALISE, DIFICULDADE, IMPLANTAÇÃO, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA), IMPORTANCIA, INCENTIVO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), NECESSIDADE, SOLIDARIEDADE, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI, PARAGUAI, ARGENTINA, AMPLIAÇÃO, INTERCAMBIO, COMERCIO, INDUSTRIA, CIDADANIA, AMERICA LATINA.
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, AECIO NEVES, PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, ENCAMINHAMENTO, MOÇÃO DE CENSURA, APROVAÇÃO, PARLAMENTO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REPUDIO, AREA DE LIVRE COMERCIO DAS AMERICAS (ALCA), RESTRIÇÃO, IMPORTAÇÃO, PRODUTO NACIONAL.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Para uma comunicação inadiável.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a aventura da Alca está encerrada. O Projeto da Alca morreu com a decisão da Comissão Especial do Senado norte-americano de radicalizar as restrições a produtos brasileiros já estabelecidas anteriormente pela Câmara Federal.

Não sei por que alguém teria acreditado que os Estados Unidos fariam concessões ao Brasil. O Presidente W. Bush*, filho do Presidente Bush, jamais incorreria no erro do seu pai, que se preocupou excessivamente com a política comercial externa e esqueceu a importância dos lobbies internos, vindo a perder a eleição para o Presidente Bill Clinton. O Presidente W. Bush, hoje, é um presidente condicionado à pressão decisiva dos lobbies internos dos Estados Unidos.

O Governo brasileiro continuava a insistir no discurso da Alca, tendo a esperança de abertura dos Estados Unidos, enquanto, por exemplo, uma siderúrgica falida do Oregon tinha uma proposta dos grandes grupos siderúrgicos americanos de absorção, com uma condicionante: que os Estados Unidos não importassem mais do Brasil e do mundo ferro e aço.

Os Estados Unidos votaram recentemente no Congresso Nacional uma lei agrícola que estabeleceu um subsídio de US$171 bilhões para a agricultura. Só a ingenuidade da política externa brasileira imaginaria que esse projeto seria revogado para viabilizar um acordo de abertura.

Afinal, Sr. Presidente, o que era a Alca? A Alca nada mais era do que a redução a zero das alíquotas de importação brasileiras em relação aos produtos do Nafta - Estados Unidos, Canadá e México. Redução a zero, por meio de um convênio, significa que o Brasil estaria abrindo mão da sua política comercial, porque não poderia, de um momento para outro, alterar aquilo que fosse pactuado entre os dois mercados. E os Estados Unidos não abririam mão de nada. Tudo o que nos interessava era remetido pelos Estados Unidos à discussão da Organização Mundial do Comércio. Deu no que deu.

A Alca morreu e renasce, com força, a idéia de estimularmos o Mercosul. A solidariedade entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai é importantíssima, principalmente neste momento em que a Argentina passa por uma crise terrível. Tendo trilhado os mesmos caminhos que o Brasil tem trilhado, a Argentina se me afigura como uma espécie de Brasil amanhã, a não ser que nós modifiquemos os rumos da nossa economia.

No passado, a tensão entre o Brasil e a Argentina era tão grande que nós concentramos tropas na fronteira do Rio Grande do Sul. Hoje, no momento em que esta tensão diminui, fundamentalmente, depois da Guerra das Malvinas e pela democratização dos dois países - Brasil e Argentina -, a tensão diminui e quase desaparece, nós não podemos aproveitar essa ocasião para favorecer alguns grupos empresariais nacionais, que ganhariam, seguramente, algum dinheiro, mas restabelecer-se-ia a tensão. Precisamos estimular o comércio fraterno e solidário, numa visão clara de cidadania latino-americana. Em vez de concentrarmos, novamente, os batalhões da selva na fronteira da Argentina com o Brasil, precisamos do intercâmbio de estudantes, de argentinos trabalhando na indústria e no comércio brasileiros e de brasileiros trabalhando no comércio e na indústria argentinas. E precisamos dar a mão e demonstrar com clareza a nossa solidariedade.

Qual é a contrapartida dessa manifestação de solidariedade e cidadania latino-americanas? A contrapartida que queremos é a contrapartida natural de uma atitude dessas: a formação da Argentina no Bloco do Mercosul para que, juntos, possamos defender os interesses desse nosso Cone Sul Latino-americano diante dos grandes mercados do mundo.

Sr. Presidente, morreu a Alca, renasce o Mercosul.

Para finalizar, apenas uma crítica, uma observação crítica em relação à moção que a Câmara dos Deputados votou ontem, de repúdio à Alca, e que o Presidente Aécio Neves declarou pretender levar pessoalmente à Câmara Federal dos Estados Unidos. Os Estados Unidos votaram matérias de defesa da sua economia interna, do seu mercado e dos seus trabalhadores. Que diríamos nós se, de repente, recebêssemos uma missão de americanos querendo fazer no Congresso Nacional um protesto pelo fato de o Brasil ter votado uma lei de defesa dos interesses do povo e do empresariado nacional?

Quero chamar a atenção previamente do Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Aécio Neves, para que evite o ridículo de ser rechaçado ou objeto de ironias quando pretender levar uma censura ao Congresso dos Estados Unidos por ter o Congresso americano feito o que deveria fazer sempre o Congresso e o governo brasileiros: defendido os interesses nosso país.

Morreu a Alca e que renasça o Mercosul!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2001 - Página 31173