Discurso durante a 174ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração, no próximo dia 14 de dezembro, dos 41 anos de existência da Universidade Federal de Goiás.

Autor
Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Iris Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR.:
  • Comemoração, no próximo dia 14 de dezembro, dos 41 anos de existência da Universidade Federal de Goiás.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2001 - Página 31236
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • COMENTARIO, MOVIMENTO ESTUDANTIL, LIDERANÇA, COLEMAR NATAL E SILVA, FUNDADOR, UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS (UFGO), HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ELOGIO, APRESENTAÇÃO, DADOS, SITUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, ENSINO SUPERIOR, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, FALTA, INVESTIMENTO, UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS (UFGO), NECESSIDADE, CONTRATAÇÃO, PROFESSOR, APOIO, AUMENTO, SALARIO.

            O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Universidade Federal de Goiás completa 41 anos de existência no próximo dia 14 de dezembro. Trata-se de uma das instituições de ensino superior mais respeitáveis do país, com uma notável história de realizações acadêmicas e uma exemplar ficha de serviços prestados ao povo do Estado de Goiás e do Brasil.

            A UFG nasceu como o resultado de um amplo movimento popular, coroando uma luta de mais de 100 anos, que buscava transformar um velho sonho em realidade. Na verdade, a implantação do ensino superior em Goiás começou lá pelos idos de 1832, quando o Presidente da Província de Goiás determinou que houvesse, no arraial de Cavalcante, um especialista aprovado em Medicina e Cirurgia que ensinasse suas artes a quem se interessasse por esses estudos. Foi o primeiro passo na direção de se instalar o ensino superior na região Centro-Oeste.

            Lançada a semente, floresceu naturalmente entre as famílias goianas a vontade de livrar os seus jovens estudantes da necessidade de viajar para fora do Estado, quer fosse ao Rio de Janeiro, quer fosse a Salvador, por exemplo, para poder desenvolver seu talento aprendendo um ofício de nível superior em uma instituição pública e gratuita.

            A realização desse anseios veio finalmente em 14 de dezembro de 1960. Nessa data, o Projeto de Lei de número 2.357, que criava a Universidade Federal de Goiás (UFG) e que fora enviado ao Congresso Nacional em outubro daquele ano pelo presidente Juscelino Kubitschek, foi aprovado e convertido na Lei n° 3834-C. Quatro dias mais tarde, na praça Cívica, centro de Goiânia, o próprio JK assinava a sanção. Terminava vitorioso o esforço de décadas pela implantação de uma universidade federal em Goiás e começava, naquele instante, a trajetória da UFG como instituição de ensino superior comprometida com Goiás, voltada para a discussão dos problemas nacionais e para a difusão do conhecimento científico.

            A Universidade Federal de Goiás resultou da reunião de cinco escolas de ensino superior então existentes: a Faculdade de Direito, a Faculdade de Farmácia e Odontologia -- que, posteriormente, se dividiria em duas unidades distintas --, a Escola de Engenharia, o Conservatório de Música e a Faculdade de Medicina. A Faculdade de Direito, vale lembrar, é centenária: foi fundada em 1898, na cidade de Goiás, sendo transferida depois para Goiânia. Porém, a UFG voltou a oferecer na velha capital o curso de Direito, no nível de graduação.

            A Faculdade de Farmácia, que data de 1947, e a Escola de Engenharia, de 1954, testemunham a vitalidade do movimento pela criação da UFG, nas décadas imediatamente anteriores a 1960.

            Em especial, esse movimento teve nos estudantes goianos sua força dinâmica e impulsionadora. Estudantes que, mobilizados em torno da União Estadual dos Estudantes (UEE), promoveram diversas manifestações em favor da criação de uma universidade pública no Estado.

            A luta pela criação da UFG teve o seu maior líder em Colemar Natal e Silva, talvez o mais destacado herói dessa verdadeira epopéia. Diretor da Faculdade de Direito em 1959, quando foi procurado por um grupo daqueles estudantes que militavam na luta pela criação da UFG, Colemar resolveu que era tempo e hora de assumir a função de comandante do movimento. Reuniu os diretores das outras quatro escolas superiores que constituiriam o núcleo original da universidade na Comissão Permanente para a Criação da Universidade do Brasil Central. Foi essa Comissão que elaborou a forma original do Projeto de Lei da criação de nossa Universidade.

            Cabe esclarecer que esse nome -- Universidade do Brasil Central -- era aquele que inicialmente se pretendia dar à primeira instituição pública de ensino superior que viesse a ser fundada em Goiás. O nome existia desde a aprovação, em 1948, de um Projeto de Lei estadual, de autoria do ex-Governador Coimbra Bueno.

            Hoje, não podemos disfarçar o orgulho quando contemplamos o que se tornou esse produto do movimento liderado pelo professor Colemar, que foi escolhido para ser o seu primeiro reitor. Sim, pois a UFG é fiel a sua razão original de ser, que é a concretização do sonho da interiorização do ensino superior público no Brasil. Por isso, hoje, a UFG está estruturada em seis campi: dois na capital, Goiânia, três em cidades do interior de Goiás -- Catalão, Jataí e Firminópolis --, e um na cidade de Porto Nacional, no Estado do Tocantins. Além desses campi, ela mantém o curso de Licenciatura em Matemática em Rialma e o de graduação em Direito na bela e tradicional cidade de Goiás, antiga capital do Estado.

            O Campus I, de Goiânia, que recebeu, com toda a justiça, o nome de Colemar Natal e Silva, situa-se no Setor Universitário, área bem próxima ao centro de nossa Capital. Ali estão sediadas seis unidades da área de Estudos da Saúde -- a Faculdade de Enfermagem, a Faculdade de Nutrição, a Faculdade de Medicina, a Faculdade de Odontologia, a Faculdade de Farmácia e o Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública --, duas unidades da área tecnológica -- a Escola de Engenharia Civil e a Escola de Engenharia Elétrica --, além da Faculdade de Educação e da Faculdade de Direito.

            Ainda no Campus Colemar Natal e Silva localizam-se o Museu Antropológico, o Hospital das Clínicas, o Laboratório Rômulo Rocha e o Espaço Cultural, além de seções da Biblioteca Central, da Escola de Música e da Escola de Artes Visuais.

            O Campus II, denominado Campus Samambaia, também está situado em Goiânia, mas na região Norte da cidade, a 12 quilômetros do centro. Em uma área de aproximadamente 5 milhões de metros quadrados, ele sedia o Instituto de Matemática e Estatística, o Instituto de Física, o Instituto de Informática, o Instituto de Ciências Biológicas, o Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, o Instituto de Química, a Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia, a Faculdade de Letras, a Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia, a Faculdade de Artes Visuais, a Escola de Música, a Escola de Agronomia, a Escola de Veterinária, a Faculdade de Educação Física e o Centro de Ensino e Pesquisas Aplicados à Educação.

            A Reitoria e a maioria dos órgãos administrativos da UFG também estão sediados no Campus Samambaia, assim como a Biblioteca Central, o Centro Editorial e Gráfico, a Fundação de Apoio à Pesquisa, o Hospital Veterinário e o Restaurante Universitário. Além de oferecer espaço para a expansão das atividades acadêmicas existentes e para a criação de eventuais novas unidades, o Campus II oferece, pela beleza da paisagem natural em que está situado, um ambiente calmo e aprazível, muito propício, portanto, à reflexão e à compenetração acadêmicas.

            Nos campi de Catalão e Jataí são oferecidos, no total, quinze cursos de graduação, nas áreas de Ciência da Computação, Matemática, Geografia, Ciências Biológicas, Agronomia, Medicina Veterinária, Pedagogia, Letras, Educação Física e História. Em Firminópolis e em Porto Nacional, para encerrar este breve relato, a UFG desenvolve atividades de estágio na área da Saúde.

            A UFG possui ainda a Rádio Universitária, o Planetário, Centros de Convivência situados nos campi da Capital e a Casa do Professor Visitante.

            O quadro docente da UFG é composto por 1 mil 130 professores efetivos, dos quais 70% são de dedicação exclusiva. Desse total, 29% são portadores do título de Doutor, e 40% do título de Mestre. Mais de 200 docentes estão, neste ano de 2001, cursando Mestrado ou Doutorado, fato que confere à UFG a perspectiva de, muito em breve, ver ainda mais elevados esses percentuais de titulação em pós-graduação de seus docentes. É parte desse compromisso da Universidade em fornecer um ensino sempre melhor.

            A UFG, em toda a sua profícua história de quatro décadas, buscou continuamente servir a um público mais amplo que o de sua clientela de estudantes universitários. De fato, as atividades de extensão sempre tiveram, para a UFG, uma importância fundamental, pois a instituição cumpre também um papel social na melhoria da vida de toda a população.

            Os dois objetivos das atividades de extensão, assim, são a integração do ensino e da pesquisa na busca de soluções para problemas e aspirações da comunidade e a organização, o apoio e o acompanhamento de ações que integrem a Universidade à sociedade, com benefícios para todos.

            Foi nesse espírito que, por exemplo, de 1972 a 1984, a UFG manteve um campus avançado na cidade de Picos, Estado do Piauí, em uma das microrregiões mais miseráveis do Nordeste e do País. Ali os estudantes da UFG prestaram serviços médicos à população e forneceram cursos de atualização e capacitação profissional, especialmente aos professores da rede pública municipal de Picos e cidades circunvizinhas. A presença da UFG em Picos foi determinante para que o único hospital público existente na região, que se encontrava em estado precário de conservação e operação, se tornasse um dos melhores do Nordeste.

            A UFG também mantém, no nível de pós-graduação, 18 cursos de Mestrado e 1 de Doutorado, além de 45 de especialização. Há, ainda, os cursos interinstitucionais, oferecidos pela UFG em associação com outras universidades. Assim, temos os mestrados interinstitucionais em Educação Física, em conjunto com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); em Pediatria, em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); em Geografia, em conjunto com a Universidade Estadual de Goiás (UEG); e em Educação, em conjunto com a Universidade do Tocantins (Unitins).

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a cada exame vestibular, a UFG oferece mais de três mil vagas para ingresso em seus cursos. No total, mais de 12 mil estudantes freqüentam os cursos de graduação; cerca de 700, os cursos de Mestrado; 20, o curso de Doutorado, além dos cerca de 700 alunos matriculados no ensino fundamental e no ensino médio oferecidos pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicados à Educação. Se contabilizarmos, ainda, os inscritos na pré-graduação da Escola de Música e os freqüentadores dos cursos de línguas estrangeiras oferecidos pelo Centro de Línguas da Faculdade de Letras, chegaremos ao expressivo número de 16 mil estudantes atendidos.

            No comando dessa instituição modelar está hoje a professora Milca Severino, recém reeleita para as funções de Reitora depois de cumprido mandato de grandes conquistas e transformações na vida da universidade. Ela desempenha suas relevantes atividades com competência, zelo e elevado espírito público. Realiza uma gestão democrática, participativa e procura, sempre, sintonizar a UFG com as grandes conquistas acadêmicas, científicas e culturais do Século XXI.

            Ali está, Sr. Presidente, o sonho realizado. Uma universidade pública no Centro-Oeste, ciente de seu compromisso com o desenvolvimento econômico e humano da região. Sobre a pedra fundamental que Colemar Natal e Silva implantou, ergueu-se uma instituição que é hoje, passados quarenta e um anos, um orgulho para toda a população do Estado.

            Lamentavelmente, a UFG, no momento, encontra-se submetida às restrições que o Governo Federal vem impondo às nossas Universidades Federais. Exemplo disso foi a greve dos professores universitários por salários mais justos, que durou mais de 100 dias e esbarrou na intransigência do Ministério da Educação, que deu mostras de falta de sensibilidade e se recusou a atender a plenitude das reivindicações dos grevistas.

            Há anos que a UFG reclama mais investimentos para expandir as suas atividades acadêmicas, inclusive para a contratação de mais professores e especialistas para os seus quadros. Mas o Governo infelizmente não permite, dando a impressão de que realmente assumiu a visão neoliberal que prega a privatização a qualquer custo do ensino superior e o encolhimento da presença do Estado na vida da sociedade.

            O meu deve, como goiano e como brasileiro, é lutar pelo fortalecimento e pela continuidade da UFG como instituição pública de ensino superior, convicto da sua enorme contribuição para o desenvolvimento do Estado de Goiás e do próprio país nestes seus 41 anos de existência. Cumpro assim a obrigação que me cabe, relembrando essa história de realizações da gente goiana, que enfrentou todo tipo de dificuldade para ter a sua universidade pública. Uma epopéia, como já a designei, que não pode jamais cair no esquecimento das novas gerações que colhem os frutos do trabalho daqueles pioneiros.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2001 - Página 31236