Discurso durante a 177ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

REGOZIJO PELA VITORIA DO CLUBE ATLETICO PARANAENSE EM PARTIDA CONTRA O SÃO CAETANO, ONTEM, NO PARANA. DEFESA DE PROJETO DE LEI DE SUA AUTORIA, QUE AUMENTA A FISCALIZAÇÃO SOBRE OS VOTOS ELETRONICOS, E DA PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO QUE PERMITE AO SENADO DELIBERAR SOBRE ACORDOS INTERNACIONAIS, ANTES DE SEREM FIRMADOS. REPUDIO A MATERIA VEICULADA PELA REDE CNT, ATRIBUINDO A S.EXA. A TENTATIVA DE DESMORALIZAÇÃO DO CLUBE ATLETICO PARANAENSE.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), FUTEBOL. :
  • REGOZIJO PELA VITORIA DO CLUBE ATLETICO PARANAENSE EM PARTIDA CONTRA O SÃO CAETANO, ONTEM, NO PARANA. DEFESA DE PROJETO DE LEI DE SUA AUTORIA, QUE AUMENTA A FISCALIZAÇÃO SOBRE OS VOTOS ELETRONICOS, E DA PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO QUE PERMITE AO SENADO DELIBERAR SOBRE ACORDOS INTERNACIONAIS, ANTES DE SEREM FIRMADOS. REPUDIO A MATERIA VEICULADA PELA REDE CNT, ATRIBUINDO A S.EXA. A TENTATIVA DE DESMORALIZAÇÃO DO CLUBE ATLETICO PARANAENSE.
Publicação
Publicação no DSF de 18/12/2001 - Página 31573
Assunto
Outros > SENADO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), FUTEBOL.
Indexação
  • ELOGIO, VITORIA, CLUBE, TIME, FUTEBOL, ESTADO DO PARANA (PR).
  • DEFESA, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, AUMENTO, FISCALIZAÇÃO, PROCESSO ELETRONICO, SISTEMA ELEITORAL, IMPEDIMENTO, OCORRENCIA, FRAUDE, ELEIÇÕES.
  • COMENTARIO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, AUTORIZAÇÃO, SENADO, DELIBERAÇÃO, ACORDO INTERNACIONAL, PREVALENCIA, DEMOCRACIA.
  • CRITICA, PROGRAMA, EMISSORA, TELEVISÃO VIA CABO, DENUNCIA, ORADOR, TENTATIVA, DEPRECIAÇÃO, CLUBE, TIME, FUTEBOL, ESTADO DO PARANA (PR).
  • SOLICITAÇÃO, GERALDO ALTHOFF, RELATOR, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, EXISTENCIA, IRREGULARIDADE, CONTABILIDADE, CLUBE, TIME, FUTEBOL, ESTADO DO PARANA (PR).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como paranaense, venho à tribuna hoje exprimir o contentamento do meu Estado com a vitória do nosso Atlético Paranaense sobre o excepcional time do São Caetano. A vitória do Atlético por quatro a dois foi impressionante, porque a qualidade do São Caetano em campo é também extraordinária.

            Preocupa-nos a decisão que ocorrerá em São Paulo. O campo do São Caetano tem sofrido censuras do Corpo de Bombeiros e, aparentemente, não apresenta soluções para uma lotação maior. O prefeito reduziu a lotação de 31 mil para 25 mil pessoas, mas fica a nossa preocupação. Nós, paranaenses e atleticanos, preferimos que o jogo ocorra num estádio maior, talvez no Morumbi, em São Paulo. Mas essa partida será, sem sombra de dúvida, o resgate do futebol nacional: dois times, que até então não apareciam no cenário esportivo, surgem com excepcional qualidade, um jogo bonito e um confronto extraordinário. É o futebol que ressurge das bases do futebol do Estado do Paraná e do interior de São Paulo.

            Sr. Presidente, ando preocupado com dois projetos de minha lavra: o Projeto de Emenda Constitucional que pretende introduzir com mais força o Parlamento na discussão de acordos comerciais do Brasil parte do pressuposto de que não pode haver política exterior democrática, nacional e participativa sem uma presença maior do Senado da República; e o projeto, aprovado pela Câmara - não exatamente como eu gostaria -, que determina a impressão dos votos nas eleições. É um bom projeto. Se todos os votos fossem impressos, os defeitos do projeto no que diz respeito ao software do computador desapareceriam, porque poderíamos sempre auditar o resultado da votação. E qualquer vício que o software conduzisse seria facilmente verificado.

            No entanto, o TSE jogou pesado para que o projeto não valesse neste ano. Temos, então, um bom projeto e, ao mesmo tempo, uma péssima eleição, porque o sistema atual de votação pode ser viciado. Poderemos ter, se pessoas inescrupulosas tiverem acesso aos softwares - que não têm sigilo aberto sequer para o TSE -, uma eleição que escolherá um Presidente à revelia do povo brasileiro. Esses dois projetos têm ocupado o meu tempo.

            No entanto, na semana passada, fui procurado por um grupo de pessoas ligadas ao futebol do Paraná, que me trouxeram algumas informações sérias e que pretendi verificar. Eles me disseram: “Senador, se V. Exª tiver em mãos a contabilidade do Clube Atlético Paranaense, poderemos mostrar algumas ligações com o caixa dois de campanha eleitoral e de lavagem de dinheiro”.

            Isso me preocupou, Sr. Presidente, porque a minha família é ligada ao Atlético. Durante muito tempo, durante décadas, Requião e Clube Atlético Paranaense eram praticamente sinônimos. Os Requiões que foram dirigentes do Atlético foram enterrados enleados na bandeira do clube de futebol. Empresas familiares foram comprometidas no financiamento do clube por décadas. Temos um apego especial ao clube, e as informações preocuparam-me.

            Procurei, então, o Senador Geraldo Althoff e trouxe essa minha preocupação a V. Exª. Solicitei-lhe que, por ter sido S. Exª Relator da CPI do Futebol, me conseguisse um exemplar das informações prestadas pelo clube àquela Comissão. Denúncias surgem, Sr. Presidente, nos nossos Gabinetes dia e noite, e, antes de divulgá-las, temos de verificar a sua procedência. Sem esse material em mãos e sem coligi-lo com as informações que me seriam prestadas, nada poderia dizer de concreto a respeito disso.

            O Senador Geraldo Althoff imediatamente se dispôs a me colocar em mão a contabilidade do Clube Atlético Paranaense. Na sexta-feira, pedi a minha assessoria que procurasse essa contabilidade e verificasse em que caixas elas estavam colocadas, porque a CPI já acabou.

            No momento em que a CPI entrega o relatório, que é aprovado ou rejeitado, ela se encerra e os documentos passam a fazer parte do acervo de documentos do Senado da República. Mas para minha surpresa, na sexta-feira, o Senador Álvaro Dias teve a mesma idéia que eu. Pedi para selecionar algumas caixas e quando procurei esses volumes, elas estavam no gabinete do Senador Álvaro Dias, que tinha viajado para Curitiba. Provavelmente S. Exª libera esse material hoje, e eu poderei dar uma olhada.

            Sr. Presidente, ontem, num programa da CNT, essa televisão do José Carlos Martinez, aquele Deputado amigo do Collor, conhecido como Batatinha, fui duramente agredido: “Senador Requião quer desmoralizar o Clube Atlético”, o que evidentemente não é verdade. Espero que não tenha havido desvio algum na contabilidade, mas se desvio houve, o clube não tem, rigorosamente, nada com isso. Com isso terão, se houve desvio, os autores ou autor do desvio. Fui duramente atingido, criticado por um comentarista esportivo que por acaso é funcionário da Secretaria de Esporte e Turismo da Prefeitura de Curitiba.

            Senador Gilberto Mestrinho, trata-se daquela Prefeitura que está sendo investigada em função do caixa dois, a Prefeitura do Cássio Taniguchi.

            Conforme me informaram os denunciantes, há uma conexão entre o caixa dois, lavagem de dinheiro de campanha eleitoral, e a contabilidade - ainda não tive em mãos essa documentação, por isso não posso fazer nenhuma afirmação.

            Bateram duramente em mim em rede nacional, na tentativa de colocar a esfuziante torcida do Atlético Paranaense, o time da minha família há décadas, contra o político, o Senador Roberto Requião. Tentaram intimidar-me, embora eu estivesse apenas dando seqüência à minha obrigação de fiscalizar denúncias que me foram feitas. Não se trata assim a um Senador do Paraná. A intimidação não terá conseqüência alguma. Se houver algo fora da linha na contabilidade e isso chegar a ser do meu conhecimento, é evidente que examinarei o problema.

            Relembro o caso ocorrido no Paraná do Onaireves Moura, que passou uma temporada na penitenciária. Gostaria, sim, de ver aprofundada essa investigação, até para poder dizer que nada encontrei - como fez o Senador Álvaro Dias, que afirmou não haver nada ou que, pelo menos, não havia visto nada. Só poderei fazer essa afirmação tendo essa documentação em mãos.

            Senador Edison Lobão, nosso Presidente em exercício neste momento, peço a V. Exª que leve em consideração esse meu requerimento. Gostaria que entregassem, em meu gabinete, hoje, toda a documentação enviada pelo clube à CPI, para que eu possa examiná-la. Provavelmente, terei a oportunidade de fazer considerações mais aprofundadas durante o recesso. Terminando esse período, talvez eu possa assomar à tribuna para dizer que as denúncias eram vazias, que a intenção do Senador Álvaro Dias em pedir carga ao mesmo tempo em que eu foi uma mera coincidência e que tudo está bem no futebol do Paraná.

            No entanto, para essas pessoas que acreditam poder aterrorizar um Senador da República em programas da CNT em rede nacional - Senador Lauro Campos, V. Exª deve lembrar-se da rede colorida, montada no esquema Martinez e Collor de Mello, com dinheiro do BNH, da Caixa Econômica Federal e da construção de casas populares -, trouxe ao plenário do Senado, nesta intervenção brevíssima, um roteiro de vida que tenho seguido há muito tempo, que não foi escrito por mim, mas pelo militante português Sidónio Muralha, um poeta extraordinário, que saiu de Portugal na época do Salazar e morreu em Curitiba em 8 de dezembro de 1982.

            Passo a ler o seu poema intitulado Roteiro, que, por impressionar-me tanto, se tornou para mim uma linha de conduta:

      Parar. Parar não páro.

      Esquecer. Esquecer não esqueço.

      Se caráter custa caro

      Pago o preço.

      Pago embora seja raro.

      Mas homem não tem avesso

      E o peso da pedra eu comparo

      À força do arremesso.

      Um rio, só se for claro.

      Correr, sim, mas sem tropeço.

      Mas se tropeçar não paro.

      - Não paro nem mereço.

      E que ninguém me dê amparo

      Nem me pergunte se padeço.

      Não sou nem serei avaro.

      Se caráter custa caro

      - Pago o preço.

            Não é pelo fato de estar vibrando com a vitória do Atlético, como vibra o Paraná inteiro, independentemente da adesão à torcida de qualquer clube esportivo no período anterior a esse campeonato, que deixarei de prestar atenção e investigar patifarias.

            Fica, para os canalhas da imprensa esportiva que tentaram amedrontar-me, conter o meu ímpeto investigativo, a minha receita de vida: o Roteiro de Sidónio Muralha.

            Obrigado, Sr. Presidente.


            Modelo13/28/248:22



Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/12/2001 - Página 31573