Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o Ano Internacional do Voluntariado, instituído pela Organização das Nações Unidas - ONU.

Autor
João Alberto Souza (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MA)
Nome completo: João Alberto de Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Considerações sobre o Ano Internacional do Voluntariado, instituído pela Organização das Nações Unidas - ONU.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2001 - Página 31858
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, TRABALHO, VOLUNTARIO, MELHORIA, SITUAÇÃO, POBREZA, MISERIA, PAIS.
  • ELOGIO, PROJETO, ENTIDADE, ASSISTENCIA SOCIAL, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), INICIATIVA, ELZA ARNS NEUMANN, MEDICO SANITARISTA, IMPLANTAÇÃO, MUNICIPIO, FLORIANOPOLIS (SC), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ATENDIMENTO, COMUNIDADE, POPULAÇÃO CARENTE, ESPECIFICAÇÃO, CRIANÇA CARENTE, PERIFERIA URBANA, REDUÇÃO, FOME, MORTALIDADE INFANTIL, PAIS.
  • IMPORTANCIA, EFICACIA, PROGRAMA, VOLUNTARIO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), BRASIL, PROPAGAÇÃO, CONTINENTE, AMERICA LATINA, AFRICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JOÃO ALBERTO SOUZA (PMDB - MA) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o ano 2001 foi escolhido pela Organização das Nações Unidas como o Ano Internacional do Voluntariado. Em decorrência, o assunto foi debatido ao longo do ano que finda, e numerosos países comprometeram-se com a opção da ONU planejando e executando campanhas. No Brasil, a iniciativa daquela instituição levou à formalização de um Comitê Brasileiro para analisar o tema e elaborar um programa de atividades.

            A proposta chama a atenção pelo fato de o serviço voluntário, de forma geral, ser ainda visto como paternalista, resultado da prática de uma caridade muito pouco eficiente para o despertar de atitudes de cidadania criativa e transformadora.

            Não há dúvida de que esse gênero de trabalho pode contribuir para o amortecimento da vontade de mudar situações sociais de pobreza e desconforto; pode favorecer a manutenção de um estado de embotamento da inteligência e da capacidade de leitura da realidade pelas pessoas mais necessitadas, machucadas, bloqueadas pelas duras conseqüências da miséria. Por outro lado, se conduzido com a intenção aberta no sentido de esclarecer e de mostrar os mecanismos que impulsionam socialmente a criatividade humana, constitui-se campo fértil de idéias e iniciativas libertadoras.

            Numa economia de competição inquestionável, o voluntariado torna-se, sem dúvida, paternalista e reforça a competição cega. No entanto, a passagem de uma economia competitiva que exacerba a desigualdade para uma economia solidária e cooperativa só se efetivará concretamente mediante a participação do maior número possível de cidadãos. Em um país emergente, a participação é fundamental para encaminhar as transformações e acelerar o desenvolvimento.

            No caso brasileiro, quero lembrar o fantástico trabalho realizado pela Pastoral da Criança, um programa de voluntariado nascido na cidade de Florianópolis, criado e orientado pela médica sanitarista Zilda Arns há dezoito anos.

            Iniciada com meia dúzia de voluntários, atualmente a Pastoral da Criança está presente em 22 mil comunidades brasileiras pobres, em 3 mil e 277 Municípios. Aproximadamente 76 mil gestantes são acompanhadas mensalmente por 150 mil voluntários. Os resultados? A taxa de mortalidade infantil, cuja média nacional gira em torno de 34,6 por mil nascimentos, nas localidades atendidas pela Pastoral, caiu para treze por mil nascimentos. Um milhão e seiscentas mil crianças carentes, de zero a seis anos de idade, têm seu desenvolvimento acompanhado mês por mês pelos agentes da Pastoral. São agentes treinados para acompanhar, detectar problemas, encaminhar soluções, orientar e instruir.

            O drama crônico da fome, vivido pela grande maioria das crianças assistidas, foi superado pelo que o povo apelidou de “farinha milagrosa” - uma multimistura feita de arroz, farinha de milho, casca de ovo, folha de mandioca e outros produtos que variam de região para região. O soro caseiro foi popularizado e, graças a esse soro, milhares de crianças foram e são salvas da morte por diarréia e desidratação.

            O sucesso desse programa já ultrapassou as fronteiras nacionais. Está presente hoje em doze países, distribuídos na América Latina e na África. Chile, Equador, Bolívia, Peru, Paraguai, Venezuela, Argentina e Uruguai; Guiné-Bissau, África do Sul e Angola são alguns dos que implantaram o seu sistema de atendimento às crianças inspirados na Pastoral da Criança do Brasil. 

            A história e o êxito desse movimento alicerçam-se numa só realidade: o esforço coletivo. Um esforço que é o responsável pela quebra dessa espécie de couraça que faz com que as pessoas percam a sensibilidade diante dos dramas dos outros. Um esforço que se torna fator decisivo pela implantação de uma “cultura da solidariedade”. Uma dedicação pessoal que, em primeiro lugar, muda interiormente a própria pessoa e, em segundo, resgata os valores da co-responsabilidade e da participação, com certeza, valores fundamentais para a construção de um mundo melhor.

            Não há dúvida de que a Organização das Nações Unidas, no Ano Internacional do Voluntariado, criou espaço para importante reflexão, avaliação e incentivo ao serviço voluntário. A situação de cada país emergente será melhor quanto maior for o crescimento do voluntariado, serviço para o qual os jovens demonstram particular sensibilidade e onde se engajam com entusiasmo e idealismo.

            Graças aos jovens, o Brasil já ocupa o quinto lugar no mundo em número de voluntários. Vinte e dois por cento dos brasileiros adultos ocupam-se voluntariamente de projetos sociais. O percentual da França é de 23%. Nos Estados Unidos, 48 % dos habitantes dedicam-se a serviços voluntários durante no mínimo cinco horas por semana. Os dados foram levantados por pesquisa realizada pelo Instituto Superior de Estudos Religiosos - ISER - e pelo IBOPE.

            Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a violência hoje tornou-se uma calamidade pública. Passar fome é violência; não ter acesso à educação é violência; não dispor de serviços de saúde é violência; não possuir habitação adequada, com um mínimo de conforto humano é violência. É violência que gesta violência, porque dessensibiliza e embrutece. Vencer essa violência é fundamental. Nenhum país, no entanto, poderá vencer se a solidariedade não for universalizada e valorizada como postura humana digna e transformadora. Os que prestam serviços voluntários estão plantando as sementes para um País mais justo e consciente, estão descortinando o horizonte para um Brasil mais feliz.

            Muito obrigado.

 

            


            Modelo15/3/243:40



Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2001 - Página 31858