Discurso durante a 12ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem a memória do Governador, ex-Senador, ex-Deputado Federal e ex-Constituinte Mário Covas, falecido no dia 6 de março de 2001.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória do Governador, ex-Senador, ex-Deputado Federal e ex-Constituinte Mário Covas, falecido no dia 6 de março de 2001.
Publicação
Publicação no DSF de 06/03/2002 - Página 1421
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, MARIO COVAS, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EX SENADOR, EX-DEPUTADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Ramez Tebet; Sr. Governador Geraldo Alckmin; senhoras e senhores representantes do PSDB, do Governo Geraldo Alckmin, da Liderança; seus amigos; Srªs e Srs. Senadores, quero aqui dar meu testemunho, como Senador de São Paulo, do Bloco da Oposição e do Partido dos Trabalhadores, do respeito que sempre tivemos pela extraordinária figura que foi Mário Covas. Desde quando jovem, destacou-se na luta pela democracia, pela liberdade, nos movimentos estudantis, mas sobretudo aqui, quando, um dos mais jovens Parlamentares do Congresso Nacional, ele se tornou o Líder da Oposição diante daquilo que era o regime militar, a máquina quase avassaladora que dificultava tanto que as pessoas pudessem, neste País, expressar sua voz. E Mário Covas tornou-se uma voz gigantesca, ainda que tão moço, o que acabou lhe custando um período de afastamento das atividades políticas.

            Mas, novamente, ele voltou como um dos principais líderes, primeiro, do seu Partido, ao qual também pertenci, o MDB, justamente em 1977 e 1978, época em que eu havia considerado participar pela primeira vez da vida política como candidato a deputado estadual, colega que fui do hoje Secretário da Casa Civil, Sr. Antônio Rubens de Lara, aqui presente. Naquela oportunidade, com Mário Covas muitas vezes conversei para me aconselhar sobre o que era participar da vida política e o que era ser um deputado. Com ele aprendi muitas lições, sobretudo por causa do seu exemplo.

            No Senado Federal, mais uma vez, dele me aproximei. Com ele convivi quatro anos. De 1991 a 1994, esta Casa viveu, como ressaltou o Senador Pedro Simon, momentos de extraordinária importância para a história do País e do Parlamento. Na década de 90, sem dúvida, duas CPIs foram as mais importantes: a CPI sobre as atividades de Paulo César Farias, que acabou levando à memorável campanha por ética na política, e a CPI do Orçamento. Naquelas duas CPIs, pudemos observar a extraordinária perspicácia, inteligência e capacidade de argüir que o Senador Mário Covas foi capaz de desenvolver. Quando ele começava a perguntar a qualquer das testemunhas, inclusive a alguns de seus colegas no Parlamento, sobretudo na CPI do Orçamento, ele, aos poucos, conseguia destrinchar e desvendar a verdade, muitas vezes até pelos gestos e formas desconcertantes de alguns dos seus colegas de Parlamento que haviam realizado ações impróprias. Não houve escapatória para eles, que acabaram sendo pegos, porque o Senador Mário Covas estava a exigir de cada um a transparência devida e o desvendar completo da verdade.

            Como Governador, ele teve momentos importantes na vida política brasileira e, dentre eles, destaco a sua posição contrária ao direito de reeleição do Presidente da República. Mais tarde, ele veio a se colocar, também, como um candidato à reeleição. Mas lembro-me muito bem de como o Governador Mário Covas advertiu que o direito de reeleição não iria fazer bem à vida política da Nação. Eu, em especial, ainda penso que teria sido melhor para o nosso País se não tivéssemos o direito de reeleição. Avalio que a história ainda estará por mostrar isso e, quem sabe, possam os membros do Congresso Nacional, em algum momento mais tarde, reavaliar o que foi a decisão aqui tomada, mas isso demandará mais algum tempo.

            Em diversas ocasiões, tive com o Governador Mário Covas algumas divergências. Ressalto, no entanto, que sempre mantivemos um diálogo eivado de seriedade do diálogo que mantivemos. O Governador Geraldo Alckmin pôde testemunhar esse fato, sobretudo quando o Governador Mário Covas enfrentou, no segundo turno, um adversário comum ao PSDB e ao Partido dos Trabalhadores. Nesse episódio, o que impressionou os paulistas foi a capacidade do Governador Mário Covas em mostrar, no debate, o que era o caráter, a transparência e a coragem de enfrentar a verdade diante de um adversário poderoso, no que se refere à forma como utilizou recursos públicos ao longo de sua vida, à forma como utilizou recursos de grupos econômicos, os mais diversos, o que lhe deu tanta força como um adversário político. Foi impressionante o diálogo, centrado, sobretudo na questão do caráter na vida política.

            Registro o extraordinário carinho do povo de São Paulo, manifestado como poucas vezes se viu na história do Estado, no momento do enterro de Mário Covas, ali, em Santos. Quero também aqui dar o meu testemunho do diálogo que tivemos - a hoje Prefeita Marta Suplicy, o Governador Mário Covas e eu - durante os seus momentos decisivos do primeiro turno da eleição para Governador, que inclusive contaram com a participação do Governador Geraldo Alckmin. Naquele momento, ambos dissemos que seria muito importante para o destino de São Paulo que fosse ele o eleito, depois de a então candidata ao Governo Marta Suplicy não ter conseguido ir para o segundo turno por uma ligeira diferença de votos em 1998. Assim, concluo dizendo que nós, do Partido dos Trabalhadores, sempre tivemos em Mário Covas um exemplo de seriedade em defesa do interesse da causa pública e, sobretudo, um gigante em defesa da democracia.

            Meus cumprimentos a Srª Lila Covas, aos seus filhos e ao Governador Geraldo Alckmin, em cuja pessoa aqui cumprimento todos os amigos de Mário Covas.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

            


            Modelo14/26/247:17



Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/03/2002 - Página 1421