Discurso durante a 12ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem a memória do Governador, ex-Senador, ex-Deputado Federal e ex-Constituinte Mário Covas, falecido no dia 6 de março de 2001.

Autor
Teotonio Vilela Filho (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: Teotonio Brandão Vilela Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória do Governador, ex-Senador, ex-Deputado Federal e ex-Constituinte Mário Covas, falecido no dia 6 de março de 2001.
Publicação
Publicação no DSF de 06/03/2002 - Página 1432
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, MARIO COVAS, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EX SENADOR, EX-DEPUTADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, COMPROMISSO, JUSTIÇA SOCIAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. TEOTONIO VILELA FILHO (Bloco/PSDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr. Governador Geraldo Alckmin, Sr. Ministro Pimenta da Veiga, meu Líder, nobre Senador Geraldo Mello, Srªs e Srs. Senadores, minhas senhoras e senhores, nesta sessão solene do Senado em homenagem a um de seus Parlamentares mais brilhantes e marcantes saudamos em Mário Covas também a saga pessoal de quem resistiu à fatalidade da doença com o mesmo heroísmo revelado na luta pelo soerguimento da ordem democrática.

            Em Mário Covas tivemos a vitória da ética sobre a truculência, da seriedade sobre a corrupção e da transparência sobre o subterfúgio, essa especialmente marcante no seu drama pessoal. Por isso, esta sessão vai além de uma homenagem ao líder e constitui-se na exaltação aos valores de uma história exemplar.

            Saudamos Mário Covas, o engenheiro, o administrador e o político que renovou o patriotismo do povo brasileiro, não apenas pelas leis que aprovou - e elas continuam decisivas; não apenas pelas obras que construiu - e foram muitas -; mas, sobretudo, pelos exemplos que legou. São exemplos, Sr. Presidente, da mais legítima bravura cívica e cidadã. Em dezembro de 1968, ninguém duvidava da fúria da exceção, ávida por um pretexto para endurecer e violentar este Congresso. Covas estava consciente disso, mas a acovardar o seu mandato, preferiu agigantar-se. E pronunciou, na Câmara dos Deputados, uma das mais candentes defesas da inviolabilidade deste Parlamento. A represália lhe custou o mandato, mas, se ali consumava-se um dos mais duros golpes do arbítrio, também plantava-se uma das mais férteis sementes de uma nova democracia brasileira, essa que hoje vivemos plenamente.

            Quem tantas vezes enfrentou a intolerância, nas ruas e no Parlamento, jamais negaria a democracia. Por isso a disposição do Governador para também enfrentar manifestantes, se tanto era preciso para defender a honra dos seus atos e segurança das suas convicções.

            Na Constituinte, foi o líder ativo e conciliador. Sua credibilidade possibilitou o entendimento para a aprovação de avanços fundamentais. E a autoridade de sua história já então fazia calar o coro da incompreensão, quando argumentava que os apupos daquela hora eram apenas a prova ruidosa de que valera a pena toda a resistência e a luta para que os ativistas dos anos 80 pudessem reivindicar e protestar sem a ameaça das prisões, das torturas e dos exílios que marcaram um passado ainda tão próximo.

            Covas coragem, munido apenas das mesmas e únicas armas de que dispunha: a palavra, com toda sua inexcedível capacidade de convencimento, e sua própria prática e postura, com todo o peso do respeito que se impunha.

            Covas coerente, de uma coerência afirmativa, que jamais admitia a omissão. Que sempre repeliu o oportunismo eleitoreiro para exercer a mais nobre face da política: a defesa das teses justas até a vitória da justiça.

            Exemplo marcante dessa coerência está na fundamentação do PSDB, quando foi um dos mais determinados líderes que protagonizaram o exemplo raríssimo de políticos que trocam o Governo pela Oposição. E assim distanciou-se do Poder para voltar a buscá-lo com uma causa renovada no sonho da socialdemocracia brasileira.

            Permitam-me, aqui, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, lembrar uma motivação familiar que me reforçou a identificação com Mário Covas, amigo e líder, tanto quanto exemplo. Covas percorreu caminho semelhante ao do meu pai, o velho Teotônio. Em plena ditadura, o velho Teotônio, atendendo aos clamores das ruas e da sua própria consciência, também trocou a comodidade do Governo pelos riscos da Oposição. E saiu por este País, batendo às portas dos presídios para conquistar a anistia, para pregar a esperança e reconstruir a democracia.

            Há exatos quinze anos esta Casa também, solenemente, homenageava a memória do menestrel das Alagoas, quando proclamei que se estivesse vivo, a nova bandeira de Teotônio, patrono da anistia política, seria a anistia social, para resgatar a cidadania de milhões de brasileiros. Então, Covas me disse: “Você falou o que eu gostaria de dizer”. Eu ouvi nessas palavras, Sr. Presidente, mais que um cumprimento. Ouvi um compromisso, um compromisso de luta pela inclusão social, ou na pregação de Teotônio, pelo resgate das dívidas seculares que o Brasil acumulara com seus pobres.

            Depois vi Covas honrar esse compromisso com o legado de Teotônio em muitas oportunidades, desde o curso da Assembléia Nacional Constituinte até as suas ações no Governo de São Paulo. Se parecer pequeno, perdoem-me, mas a fidelidade de Covas ao exemplo de Teotônio me torna particularmente e ainda mais compromissado com o exemplo do próprio Covas.

            Suas idéias não temiam preconceitos. Por isso o líder maior dos avanços sociais da Constituinte não receou propor ao País um choque de capitalismo, marcando a campanha presidencial de 1989, jornada vitoriosa, sim, porque preparou o caminho para a socialdemocracia brasileira afirmar-se e descortinar um novo Brasil, moderno e comprometido com metas até então impensáveis, como o controle da inflação, que tanto penalizava os mais pobres deste País, como levar a cabo o desafio de colocar todas as crianças na escola.

            Covas defendeu a modernização do País, mas sem restringir tal conceito à globalização dos mercados, porque a modernidade mesmo deve se expressar em saltos de qualidade do nível de vida dos brasileiros. O passaporte para nossa integração com o mundo, na visão de Covas, não poderia carregar a mancha da miséria ou da fome, nem do analfabetismo, da mortalidade infantil ou da exclusão social.

            E foi essa a postura e a prática de Covas no Governo de São Paulo. Ele herdou São Paulo em caos para legar um exemplo de ajuste e de responsabilidade fiscal, mas com absoluta sensibilidade social. Depois de Covas, São Paulo é outro Estado e não deve e nem vai retroceder.

            Governador Geraldo Alckmin, todos nós confiamos na sua capacidade de continuar em São Paulo a linha do Governador Mário Covas. Tenho certeza de que o povo do seu Estado também confia nessa capacidade que V. Exª tão bem apreendeu no dia-a-dia ao lado do Governador Mário Covas.

            Seus investimentos na saúde, na educação, nos transportes e na produção compõem uma obra voltada para a qualidade de vida dos paulistas. E nenhum governo terá feito no Brasil o ajuste fiscal que Covas promoveu em São Paulo. Um ajuste bancado pelo Estado, com o controle das despesas, sem o aumento de impostos. Mesmo que isso lhe exigisse a coragem, senão o desgaste de renunciar à tentação das obras fáceis para não mandar para os contribuintes e para os pobres a fatura da crise que herdara.

            Covas foi muito mais que um líder. Para o PSDB, tornou-se a consciência crítica que renovava permanentemente nossos compromissos de socialdemocratas; para a Nação, tornou-se uma referência para uma política com ética e honra. Hoje, todos nós somos herdeiros de seus exemplos. Que Deus nos faça honrá-los.

            O Brasil acompanhou, com dor e emoção, o capítulo final de sua vida, mas, ainda nas ruas irrigadas de lágrimas e plenas de saudade, o País também instaurou, com esperança e fé, a história de um exemplo.

            Covas foi digno até o último suspiro. E porque foi digno na vida, torna-se símbolo de vida, de lealdade e de coerência, de ética e de justiça. E como exemplo, ele será imortal na história do seu País e sempre lembrado na memória do seu povo. Louvável exemplo, bendito Mário Covas!

            Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)

 

            


            Modelo112/3/249:25



Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/03/2002 - Página 1432