Pronunciamento de Romero Jucá em 05/03/2002
Discurso durante a 12ª Sessão Especial, no Senado Federal
Homenagem a memória do Governador, ex-Senador, ex-Deputado Federal e ex-Constituinte Mário Covas, falecido no dia 6 de março de 2001.
- Autor
- Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
- Nome completo: Romero Jucá Filho
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Homenagem a memória do Governador, ex-Senador, ex-Deputado Federal e ex-Constituinte Mário Covas, falecido no dia 6 de março de 2001.
- Publicação
- Publicação no DSF de 06/03/2002 - Página 1434
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, MARIO COVAS, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EX SENADOR, EX-DEPUTADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco/PSDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senado Federal presta, hoje, justa homenagem ao homem público de incontestável carisma, mas sobretudo de incontestável espírito republicano em nossa história política. Sem dúvida, Mário Covas encarnou a figura mitológica de Marte, o mais forte, o mais autêntico entre os combatentes pela honrosa causa chamada Brasil. Mais particularmente, para nós senadores, encarnou o papel de líder do processo de modernização das funções orgânicas da Casa, fazendo prevalecer a modernização real e essencial sobre qualquer outra de inspiração contingente, fundada meramente na aparência.
Em suma, uma justa homenagem àquele que, bravamente, insurgiu-se contra os desmandos e as distorções institucionais às quais o Parlamento, em nossa curta história, esteve com freqüência submetido. Com o desaparecimento irreparável do Governador Mário Covas, desde março do ano passado, não somente os congressistas, mas também os paulistas e todos os brasileiros, se depararam com uma orfandade política de incomensurável comoção.
Mário Covas Júnior, santista de nascimento, ingressou na carreira política ainda muito jovem, chegando a ocupar uma cadeira na Câmara Federal com pouco mais de 30 anos. Seu brilhantismo, bem como sua competência, afloraram de maneira excepcional durante aqueles anos de chumbo, que antecederam e se seguiram ao golpe de 64. Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional n° 2, instaurou-se o bipartidarismo no País, em função do qual o então deputado Mário Covas se definiu pela filiação ao MDB - Movimento Democrático Brasileiro.
Como líder da oposição, não cedeu às excrescências do regime militar. Combateu-o até quando pôde, pois, por força da edição do AI-5, teve seu mandato instantaneamente cassado, bem como seus direitos políticos suspensos. Com a lei da anistia, retomou a atividade política interrompida, aceitando indicação para a presidência do diretório estadual do MDB paulista. Em fevereiro de 82, retornou a Brasília para ocupar nova cadeira na Câmara Federal, mas a permanência na capital não durou muito, pois três meses depois assumiu a Prefeitura de São Paulo.
Em 86, elegeu-se como senador da República, imbuído pela força democrática do voto a imprimir sua marca indelével na confecção da Carta Magna de 88. Na Assembléia Nacional Constituinte, destacou-se como um dos mais influentes integrantes. Como líder do PMDB, que possuía a maior bancada partidária, Covas desempenhou função extraordinária na articulação das forças progressistas, para aprovação de propostas socialmente avançadas. É, nessa ocasião também, que articula a formação de novo partido, o Partido da Social Democracia Brasileira, tornando-se o seu primeiro presidente. Em 94, ingressa no Palácio dos Bandeirantes, na condição de Governador do Estado economicamente mais influente do País.
Lutador, patriota e, acima de tudo, idealista, o ex-Senador Covas era um político e um administrador correto, cuja ilibada postura diante da moralidade pública nunca lhe traiu sua consciência democrática. Pelo contrário, graças a ela, pôde galgar os postos mais cobiçados da estrutura política, ocupando sempre com exemplar retidão e competência as posições de alta responsabilidade. Só não efetivou seu sonho da presidência da República, em 89, por razões que até hoje o eleitorado brasileiro ainda não se sabe explicar.
Mais que um exemplo a seguir, sua trajetória inspira um modelo de pensar e fazer política que transcende em muito o que a história brasileira tem recolhido em seus arquivos. Por isso mesmo, não é de se estranhar que iniciativas públicas e privadas visando à maior difusão desse modelo venham a ganhar espaços mais nobres. Nesse sentido, a instituição da Fundação Mário Covas, de cuja lista de colaboradores participam a própria filha do Governador, Renata Covas, e o empresário Antônio Ermírio, vem ao encontro dos ideais de ética e política postulados pelo homenageado, propondo-se a desenvolver atividade política autônoma, com ênfase na questão social.
A imortalidade de Covas também vai-se consolidando na memória mais visível, mais concreta e cotidiana da população paulista. O agora Governador Geraldo Alckmin sancionou há pouco uma lei que dá nome de Mário Covas ao Rodoanel Metropolitando do Estado de São Paulo, sobre cujas pistas milhares de automóveis circularão diariamente. De fato, que tal homenagem tão aparentemente ordinária venha a corresponder ao alto valor histórico do Governador, disso restam muitas dúvidas. No entanto, o efeito simbólico que dela se extrai sobre a memória e a cultura da população menos informada é, na realidade, de imensurável apreciação. Da mesma maneira, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo anunciou a mudança do nome do prédio da Administração da Faculdade para Mário Covas Júnior, prestando igualmente justa homenagem ao ilustre aluno.
Sr. Presidente, por outro lado, Cândido Mendes, genialmente, nos faz rememorar a falta que a certa interpelação “rabugenta” de Covas diante dos problemas nacionais nos fará - se é que já não nos tem feito em muito. Estilo direto e sempre muito sincero e altivo em suas declarações, não temperava a voz para agradar amigos ou desafetos. Preferia, de fato, o impacto dramático das verdades espinhosas às adocicadas perfídias das mentiras políticas.
Todavia, num outro diapasão, é o próprio Candido Mendes quem compara Covas com o igualmente ex-Governador de São Paulo, Franco Montoro, na medida em que ambos saberiam, certamente, apontar saídas e soluções menos dolorosas para os impasses hoje impostos ao PSDB e ao Governo do Presidente Fernando Henrique. Duas ausências que, indiscutivelmente, estão custando muito caro ao segundo mandato do Presidente.
Cumpre ressaltar, nessa ordem, as palavras de Dom Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, por ocasião da celebração da missa de sétimo dia, que expressavam, de modo muito contundente, a ansiedade do Governador por uma prática mais ética na política brasileira. Nesse tom, reproduziu as célebres palavras pronunciadas, não havia muito tempo, pelo próprio Mário Covas: “A verdade será sempre minha arma política. Asseguro, sem vacilação, que é possível conciliar política e ética, política e honra, política e mudança.”
Por fim, endossando integralmente tanto o gesto de Dom Cláudio Hummes, quanto as sábias palavras do Governador Covas, finalizo essa modesta participação nesse evento, evocando as palavras do cardeal ao final da missa, quando enunciou: “Dizem que ninguém é insubstituível. Não é verdade. Mário Covas é insubstituível, sim”.
Era o que tinha a dizer.
Muito obrigado.
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