Discurso durante a 20ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise do desempenho dos diversos setores da economia voltados à exportação, que possibilitaram o superávit da balança comercial brasileira.

Autor
Romero Jucá (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Análise do desempenho dos diversos setores da economia voltados à exportação, que possibilitaram o superávit da balança comercial brasileira.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2002 - Página 2303
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, RESULTADO, SUPERAVIT, BALANÇA COMERCIAL, IMPORTANCIA, CONTINUAÇÃO, INCENTIVO, EXPORTAÇÃO, BENEFICIO, ESTABILIDADE, ECONOMIA NACIONAL.
  • REGISTRO, PUBLICAÇÃO, MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA E DO COMERCIO EXTERIOR (MDIC), DETALHAMENTO, PAUTA, EXPORTAÇÃO, BRASIL, AUMENTO, DIVERSIDADE, PRODUTO EXPORTADO, ESPECIFICAÇÃO, AREA, INDUSTRIA MECANICA PESADA, INDUSTRIA, PRODUTO DE BASE, BENS DE CONSUMO, INDUSTRIA DE ALIMENTAÇÃO, SOFTWARE, CULTURA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco/PSDB - RR) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, após vários anos em que permaneceu negativa, a balança comercial brasileira dá sinais de que não apenas ficará firme no domínio positivo, mas também de que tende a crescer no futuro próximo. É uma perspectiva decisiva para a consolidação da estabilidade econômica do País, que não pode continuar na dependência somente da entrada de capital estrangeiro para fechar as contas nacionais. Precisamos exportar, e cada vez mais, mas precisamos também assegurar a continuidade dos saldos da balança comercial, e, como não podemos deixar de comprar artigos, sobretudo de alta tecnologia, que não produzimos, isso depende de haver quem compre nossos produtos.

            O que os números finais e consolidados da balança comercial não mostram, no entanto, é a composição qualitativa de nossas exportações. Esse dado, porém, é vital para a compreensão da dinâmica de nossas relações comerciais com o resto do mundo, pois indica a direção que estão tomando -- quero dizer, qualitativamente -- tanto nossa oferta de artigos exportáveis quanto a demanda dos outros países por nossos produtos. Quanto mais diversificada for nossa pauta de exportações, com mais itens de alto valor agregado, mais sólida será nossa posição no mercado globalizado, vez que estaremos menos dependentes do comportamento dos preços de umas poucas commodities.

            Essa relevantíssima informação sobre a variedade de produtos de nossa pauta de exportação no ano de 2001 nos é fornecida por um livro, de edição primorosa, publicado pela Agência de Promoção de Exportações (Apex), da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Trata-se de um catálogo, intitulado Made in Brazil, cuja leitura serve para desmistificar a idéia de que o Brasil é, primordialmente, um exportador de produtos primários.

            São tantas informações, e tão positivas, que a vontade nos vem de discorrer sobre todos os itens do catálogo, conferindo o justo crédito aos esforços dos empreendedores de todos os setores exportadores que ali figuram. Isso, porém, seria fazer uma enumeração enfadonha desta tribuna, o que acabaria por resultar no oposto daquela que é minha intenção: uma viva saudação às empresas brasileiras que conquistaram espaços no disputado mercado internacional.

            Por isso, julguei melhor destacar alguns setores, de modo a, fazendo-os representar todos os outros, trazer ao conhecimento de meus Pares e da opinião pública do País a face positiva e produtiva da economia brasileira. Para fazer com alguma justiça essa escolha, resolvi classificar os diversos setores produtivos em cinco áreas, segundo um critério que julguei conveniente: indústrias pesada, de base, de consumo, alimentar e de bens imateriais. Tenho certeza de que as Senhoras e os Senhores Senadores haverão de relevar o caráter um tanto arbitrário dessa classificação.

            Na área da indústria pesada, incluí as subáreas de maquinaria industrial -- isto é, de bens de capital -- e de veículos. Na subárea de maquinaria, gostaria de destacar o setor de máquinas e motores, integrado por cerca de quatro mil empresas, de 26 segmentos, que exportam para mais de 50 países, incluindo os Estados Unidos, o Canadá, Japão e as principais nações da União Européia. Devem ser mencionadas as indústrias de máquinas agrícolas, para mineração e metalurgia, além de motores de combustão interna, bombas e compressores.

            Já na subárea de veículos, meu destaque vai para os setores de veículos pesados e de aviões. Entre os veículos pesados que exportamos, contam-se os tratores de esteiras, as motoniveladoras, os compactadores de solo e as escavadeiras hidráulicas. Trata-se de setor extremamente competitivo, com marcas tradicionais dos países mais avançados a disputar cada espaço comercial. No entanto, nossa indústria consegue exportar para 120 países, com destaque para os da América Latina e da Europa.

            O caso dos aviões é de conhecimento mais generalizado, dada a enorme competência da Embraer, que a levou, recentemente, a uma disputa nos foros da Organização Mundial de Comércio contra a empresa canadense Bombardier, que, incapaz de levar vantagem nos aspectos técnicos, levantou acusações de dumping. Hoje, a Embraer mantém bases operacionais na Austrália, na China, em Cingapura, nos Estados Unidos e na França, sinal inequívoco de um grande parque de veículos já exportados para essas praças.

            Na área das indústrias de base, por sua vez, incluí as subáreas da indústria mineral, da indústria química e da indústria de materiais de construção. Dentre os setores que operam com mineral bruto como insumo, escolhi a indústria siderúrgica, por ter sido vítima, recentemente, de mais uma barreira alfandegária ad hoc inventada pelo Governo americano, que contrariou sua conversa, tão intensa para uso externo, de livre-mercadismo. Pois o Brasil é o oitavo produtor mundial e o quarto exportador, vendendo principalmente semi-acabados -- isto é, aços planos e perfis, exatamente os produtos visados pela decisão discricionária de George W. Bush.

            Acontece que se trata de uma área, nos Estados Unidos, de elevada demanda por parte das indústrias de transformação situadas na seqüência do processo industrial -- ou downstream --, mas de baixa oferta no mercado interno deles, por questões de custos. Nossa indústria havia entrado nesse espaço de maneira tão sólida que veio a provocar essa violenta reação protecionista da parte da Casa Branca.

            Na subárea da indústria química, o destaque vai para o setor de papel e celulose. Não é para menos: somos pioneiros mundiais na utilização de madeira de fibra curta para a produção de papel e celulose. Além disso, o setor pode hoje responder a qualquer questionamento de militantes ecológicos, pois trabalha exclusivamente com madeira oriunda de florestas plantadas sob rígidos critérios de manejo sustentável. Com mais de um milhão e meio de hectares de floresta plantada, o setor fez do Brasil o maior exportador mundial de celulose de fibra curta de eucalipto, com vendas para Estados Unidos, Japão e Europa.

            Na subárea dos materiais de construção, minha escolha incidiu sobre a indústria de revestimento cerâmico. Nesse setor, o Brasil tem a liderança mundial de certificações da norma ISO 13006, com mais de metade da produção nacional certificada. Produzimos mais de 430 milhões de metros quadrados de azulejos, pisos e pastilhas a cada ano. São produtos de alta qualidade e sofisticação, tanto que metade das exportações segue para mercados exigentes como os da Europa e dos Estados Unidos.

            A área dos produtos de consumo abarca as subáreas de artigos de decoração, artigos femininos, vestuário, utensílios domésticos e eletroeletrônicos. Trata-se da área mais diversificada, e por isso tive de escolher um setor de ponta: o de equipamentos de computador -- hardware --, da subárea dos eletroeletrônicos.

            A razão dessa escolha é simples: o computador é o próprio símbolo da indústria do futuro, e o setor no Brasil vem ganhando competitividade, sobretudo nos subsetores de automação bancária e comercial, cuja produção tem hoje uma parte considerável exportada. Já exportamos também periféricos em geral, como monitores e impressoras, além de placas de memória.

            Na área de alimentos, temos as subáreas de produtos vegetais, produtos animais e a indústria de doces. É uma área com muitos setores que demonstram a pujança da agroindústria brasileira. Gostaria, porém, de destacar um setor que, apesar de quase sinônimo de Brasil, representa, de fato, uma novidade: a produção de cafés especiais.

            Sim, porque a produção brasileira, até alguns anos atrás, não tinha os controles rígidos de origem que fazem um café apreciado pelos consumidores mais sofisticados dos países ricos. A moda de lojas de café gourmet naqueles países criou um público exigente, que busca saber até em que tipo de solo foram cultivadas as plantas das quais se colheram os frutos para fazer a bebida. Pois hoje, além de ser o maior exportador de café em geral, o Brasil oferece também cafés especiais de alta qualidade, oriundos principalmente de Minas Gerais, que têm sido premiados em concursos da tradicional e sofisticada torrefadora italiana Illycafé.

            Outro sucesso do setor cafeeiro é o café orgânico, produzido com técnicas naturais e adubo ecológico, único no mundo a receber o atestado do Greenpeace.

            Quero encerrar este passeio pelos itens da pauta das exportações brasileiras mencionando as mercadorias que representam o máximo em termos de valor agregado: a indústria imaterial. Ela compreende, naquela minha classificação, duas subáreas, a saber: a da produção intelectual utilitária -- isto é, inventos patenteáveis -- e a da indústria cultural.

            Na produção intelectual patenteável, o destaque fica com a criação e exportação de programas de computador -- software. Assim como no hardware, a produção brasileira de programas tem seu ponto mais alto na automação bancária e comercial, além da segurança de redes, o que fez do País um dos dez líderes mundiais no setor.

            Deixei para o fim a indústria cultural, Senhores Senadores, porque talvez seja a subárea em que o nome do País esteja mais fortemente marcado a cada vez que um estrangeiro consome um de nossos produtos. Os destaques vão, em primeiro lugar, para nossa música: desde os tempos das modinhas de Domingos Caldas Barbosa, ainda no século XIX, passando pelo maxixe, pela figura de Carmem Miranda, e pela bossa-nova, ela sempre encontrou receptividade na Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, no Japão. Muitas vezes não temos idéia do quanto nossos músicos e compositores são queridos nessas plagas.

            Hoje, porém, nossa indústria de dramarturgia gravada -- cinema e televisão -- tornou-se um sucesso mundial. O caso do folhetim televisivo Escrava Isaura, por exemplo, tornou-se emblemático: tendo caído no gosto de públicos tão heterogêneos e distantes do Brasil como o da China, o da Indonésia e o do Vietnã, fez da atriz Lucélia Santos uma celebridade mundial. Mais de 130 países já compram telenovelas brasileiras, e elas obtêm elevados índices de teleaudiência em todos eles.

            Bem, Senhoras e Senhores Senadores, esta foi, como disse no início, uma rápida viagem pelos itens de nossa pauta de exportações que têm feito o superávit da balança comercial brasileira. A diversidade de setores mostra o quanto o País pode surpreender as pessoas que ainda acham que somos república bananeira, mera exportadora de commodities baratas. A realidade é bem outra, e o futuro promete ser ainda mais dinâmico.

            Muito obrigado.


            Modelo15/13/246:48



Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2002 - Página 2303