Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

DENUNCIA CONSTANTE DE ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL A TRIBUNA, SOBRE A POLUIÇÃO INDUSTRIAL PROMOVIDA EM VITORIA/ES HA MAIS DE VINTE ANOS, PELAS COMPANHIA SIDERURGICA DE TUBARÃO E COMPANHIA VALE DO RIO DOCE.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • DENUNCIA CONSTANTE DE ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL A TRIBUNA, SOBRE A POLUIÇÃO INDUSTRIAL PROMOVIDA EM VITORIA/ES HA MAIS DE VINTE ANOS, PELAS COMPANHIA SIDERURGICA DE TUBARÃO E COMPANHIA VALE DO RIO DOCE.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2002 - Página 2910
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • DETALHAMENTO, SITUAÇÃO, INDUSTRIA SIDERURGICA, PORTO DE VITORIA, POLUIÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, MUNICIPIO, CARIACICA (ES), VILA VELHA (ES), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), PROVOCAÇÃO, RISCOS, SAUDE, REGISTRO, RELATORIO, HOSPITAL, AUMENTO, PROBLEMA, GRAVIDEZ, DOENÇA, REPRODUÇÃO HUMANA, CANCER.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, A TRIBUNA, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), DENUNCIA, IRREGULARIDADE, COMPANHIA SIDERURGICA DE TUBARÃO (CST), POLUIÇÃO, MEIO AMBIENTE, NEGLIGENCIA, EMPRESA, SOLUÇÃO, PROBLEMA.
  • DENUNCIA, AUMENTO, IRREGULARIDADE, POLUIÇÃO, MEIO AMBIENTE, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), REGIÃO, MUNICIPIO, VITORIA, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, FISCALIZAÇÃO, PUNIÇÃO, EXPECTATIVA, PROVIDENCIA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), AUTORIDADE FEDERAL.

O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei relativamente breve, mas devo cumprir aqui uma obrigação de consciência em favor da população da cidade de Vitória e da região metropolitana da Grande Vitória.

A cidade de Vitória foi fundada em 1540, é uma das mais antigas capitais brasileiras. Situada em uma ilha que os índios chamavam de “A Ilha de Mel”, é reconhecidamente uma das mais belas cidades brasileiras, cercada de praias, ilhas e mares. Hoje, é muito bem administrada pelo Prefeito Luiz Paulo e também o foi pelo Senador Paulo Hartung.

Tivemos a oportunidade de, há pouco tempo, receber a visita do Embaixador do Canadá na Inglaterra, que disse a um jornal, depois da visita, que Vitória é uma cidade mais limpa do que Londres, e tão limpa quanto Montreal.

Mas a cidade vem sofrendo uma cruel ameaça, que foi anunciada há mais de 20 anos pelos ecologistas do Espírito Santo, entre eles o Professor Augusto Ruschi, o primeiro ecologista brasileiro, patrono da ecologia nacional.

Pois bem, em 1960, instalou-se ao norte de Vitória o porto de Tubarão, o maior porto exportador de minério de ferro do mundo, para orgulho do Espírito Santo. Ocorre, Sr. Presidente, que a sua instalação foi feita sem nenhum cuidado ecológico, sem nenhum cuidado com a despoluição, com o controle da poluição. E, atrás desse porto, instalaram-se nove indústrias de pellets de minério. São indústrias que pegam o minério que vem de Minas Gerais, elaboram-no e o transformam em 95% de ferro puro, para que ele então seja levado para as siderúrgicas européias, japonesas e norte-americanas.

Ao lado dessas indústrias, instalou-se outra grande empresa, orgulho do Espírito Santo, que é a Companhia Siderúrgica de Tubarão - todas sem um mínimo cuidado com os tratos da ecologia.

Ocorre que, estando esse complexo portuário industrial situado ao norte da ilha e havendo predominância na região dos ventos nordestes, que chamamos de “nordestão”, todos os efluentes jogados ao ar por essas indústrias são levados para dentro das cidades de Vitória, Cariacica e Vila Velha. Milhões de toneladas de efluentes por mês ou até por dia são jogados em cima da população.

E efluentes químicos perigosos estão misturados ao pó de minério. Há pouco tempo, um hospital infantil do Espírito Santo publicou um relatório dizendo que começaram a nascer crianças descerebradas, fetos apresentando anomalias cerebrais, por problemas, segundo eles, ligados à respiração, por parte das mães, durante o período de gravidez, desses efluentes químicos. Os médicos constataram também um aumento considerável, assustador, do número de doenças pulmonares, inclusive o câncer.

Recebi a cópia de uma reportagem, do dia 20, do jornal A Tribuna - o de maior circulação no Espírito Santo -, que afirma que uma auditoria do Serviço de Proteção ao Meio Ambiente da Prefeitura de Vitória identificou 37 irregularidades na Companhia Siderúrgica de Tubarão - se tivesse registrado uma irregularidade apenas, já seria assombroso. Dezesseis delas, diz o jornal, são “referentes a emissões de pó de minério no ar, 13 aos efluentes líquidos (disposição final de poluentes no processo industrial) e três aos resíduos sólidos perigosos, como óleo e gás”, jogados dentro da Baía de Vitória.

E isto vem acontecendo há mais de 20 anos: verifica-se a irregularidade, a Prefeitura contrata uma empresa de auditoria, que apresenta um relatório, e essas companhias não têm o mínimo interesse em corrigir o problema. Toda auditoria apresenta as mesmas irregularidades, como se nós, do Espírito Santo, fôssemos tolos, fôssemos símios, e estivéssemos obrigados a agüentar os poluentes e a despreocupação dessas empresas com o meio ambiente.

Apresentei um projeto de lei que obriga os órgãos de conservação do meio ambiente a conceder um selo a empresas produtoras de minério de ferro no Brasil. O produto da empresa poluidora sairia para o exterior com o selo “Produto de empresa poluidora”, e os países compradores, já que o Governo brasileiro não consegue dominar essas indústrias, poderiam fazer um boicote, poderiam não comprar aço produzido por elas. Seria uma maneira de obrigá-las a corrigir as irregularidades. Não é possível que, para produzir um produto para exportação, se tenha que emporcalhar uma cidade inteira, colocar em risco um milhão e meio de habitantes da região metropolitana da Grande Vitória.

O projeto ainda está em tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, e espero que, um dia, mereça a atenção da Casa.

Há outro fato interessante: o Secretário do Meio Ambiente da Prefeitura de Vitória fez uma reunião com as ONGs do Espírito Santo, para solicitar que também se mobilizem, a fim de que a Companhia Siderúrgica de Tubarão comece a fazer as correções. Ela anunciou que vai fazê-las até 2010. Quer dizer, ela está poluindo há 20 anos. Disse, em 1980, que corrigiria as irregularidades até 2000 e, agora, afirma que o fará até 2010, quando a maioria da população hoje viva que tem as doenças adquiridas em conseqüência desses problemas já estiver morta, ou a caminho da sepultura, e outros milhares de habitantes tiverem adquirido essas doenças.

E fato mais interessante: a Companhia Vale do Rio Doce, Sr. Presidente, depois de privatizada, transformou-se numa cloaca de sujeira a emporcalhar a cidade de Vitória. Eu esperava que, privatizada, ela melhorasse. Arrependo-me profundamente do meu voto favorável à privatização dessa empresa, pois aí é que ela resolveu perder todos os controles. Ela foi vistoriada em 2001 e apresentou 116 irregularidades, com gases perigosos, enxofre, pó de minério sendo atirados por cima da cidade de Vitória. E até agora nenhuma das 116 irregularidades - um ano e meio depois - foi corrigida.

De que adianta uma prefeitura cuidadosa contratar empresas de auditoria, fazer estudos, pagar para isso, se essas empresas não se atemorizam, não têm medo, não atendem a nenhuma determinação da lei brasileira?

Cito um exemplo interessante. No interior do Espirito Santo, o Prefeito do Município de Pedro Canário resolveu fazer uma barragem para conservação de água para irrigação. Apareceram lá o Ibama, a Seama, tudo quanto é organismo público federal e estadual, a Promotoria Pública, Procuradores, porque ele não tinha tirado uma licença, e embargaram a obra. Era uma represinha minúscula, e para isso apareceu a fiscalização.

Também há pouco tempo, li nos jornais um fato interessante. Há uma maravilhosa reserva florestal no Espírito Santo, em Soretama, ao norte do Estado. Essa reserva florestal é atravessada por uma rodovia, a BR-101, e nela um cidadão atropelou um macaco. Apareceram a Polícia Rodoviária e o Ibama, prenderam o cidadão e o levaram para a delegacia. Ele foi exposto, ridiculamente, a humilhação, porque atropelou um macaquinho que estava atravessando a pista à noite.

Meu Deus do céu, essas empresas atropelam 1,5 milhão de habitantes, dia e noite, com esses efluentes químicos perigosos, e não aparece um procurador, um fiscal, o Ibama, em nenhum momento, durante 20 anos, para verificar isso.

E agora a siderúrgica repete: "Eu ainda vou descumprir a lei durante 10 anos." Está declarado aqui, por um diretor. Há 20 anos, eles descumprem a lei, e ele disse que durante mais 10 anos - só 10 anos! - vai continuar descumprindo a lei. Faço um apelo aos Procuradores, aos Promotores, ao Ibama - talvez uma autoridade federal pudesse impor alguma restrição.

E veja V. Exª o perigo que essas empresas correm. As restrições, há pouco tempo anunciadas pelo Presidente George Bush, ao aço brasileiro, são ameaçadoras, mas os americanos sabem muito bem quando começam a fazer retaliações em circunstâncias que não são o que eles efetivamente querem. De uma hora para outra eles descobrem o problema da poluição e vão dizer: "Os norte-americanos não comprarão mais aço de empresas poluidoras em qualquer parte do mundo." E, aí, as nossas empresas ficarão numa situação muito difícil.

Mas não temos de apelar para o Bush para resolver um problema interno como esse. O Governo brasileiro, o Ibama, os Procuradores têm a lei brasileira a sua disposição para fazer que essas empresas passem a respeitar a população nos locais onde elas estão estabelecidas.

Sr. Presidente, era essa a solicitação, o apelo e a denúncia que eu queria fazer aqui. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2002 - Página 2910