Pronunciamento de Antonio Carlos Valadares em 22/03/2002
Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
HOMENAGEM PELO TRANSCURSO, NO ULTIMO DIA 17 DE MARÇO DE 147 ANOS DA FUNDAÇÃO DA CIDADE DE ARACAJU, CAPITAL DO ESTADO DE SERGIPE.
- Autor
- Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
- Nome completo: Antonio Carlos Valadares
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- HOMENAGEM PELO TRANSCURSO, NO ULTIMO DIA 17 DE MARÇO DE 147 ANOS DA FUNDAÇÃO DA CIDADE DE ARACAJU, CAPITAL DO ESTADO DE SERGIPE.
- Aparteantes
- Carlos Patrocínio.
- Publicação
- Publicação no DSF de 23/03/2002 - Página 2925
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, ARACAJU (SE), ESTADO DE SERGIPE (SE), COMENTARIO, FESTA, COMEMORAÇÃO, INAUGURAÇÃO, TEATRO, FAVORECIMENTO, POLITICA CULTURAL.
O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (PSB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a população de Aracaju, capital do Estado de Sergipe, viveu a festa de aniversário no último domingo, 17 de março. Foi uma festa de 147 anos de história, superando dificuldades, enfrentando desafios naturais, construindo uma cidade moderna, planejada, capaz de ser o lugar ideal para uma vida feliz.
Aracaju nem sempre foi a capital. Desde os primeiros tempos da conquista e até o dia 17 de março de 1855, a capital era a vetusta cidade de São Cristóvão, fundada em 1590 pelo Governador interino do Brasil, Cristóvão de Barros. O nome não foi, como se poderia supor, uma homenagem ao santo, nem mesmo ao conquistador, mas ao Vice-Rei da Espanha em Portugal, Dom Cristóvão de Moura, homem de prestígio durante o domínio espanhol, de 1580 a 1640.
São Cristóvão viveu o Fausto da Capitania de Sergipe, com seu casario colonial, seus templos, monumentos, que ainda hoje dão à paisagem um aspecto artístico inconfundível, comparável ao das cidades históricas de Minas Gerais e de outras partes do Brasil, como documento fiel de uma arquitetura inconfundivelmente luso-brasileira.
São Cristóvão, no entanto, não tinha um porto em condição de escoar a produção açucareira sergipana, nem mesmo estava situada no vale mais fértil da cana-de-açúcar. Tais limitações exigiram do Presidente da Província, à época Inácio Joaquim Barbosa, a definição de erigir uma nova capital para Sergipe.
O então povoado de Aracaju, com seu encapelado de Santo Antônio, mereceu a preferência do Presidente e dos políticos com clara influência na administração local, como o Barão de Maroim. No dia 17 de março de 1855, o Presidente Inácio Barbosa assinou a Resolução I, que transferia a capital sergipana de São Cristóvão para Aracaju. Uma forte reação tomou conta de Sergipe. O território inóspito, cortado de riachos pantanosos, fonte de doenças, como as febres palustres, servia de mote para os adversários da mudança.
O Presidente Inácio Barbosa não recuou: contratou serviços de engenheiros militares e deu seguimento ao seu projeto, planificando uma cidade moderna, riscada na prancheta, com quadras simétricas, ruas com trechos de cem e cento e dez metros, com praças intercaladas, projetadas à margem direita do rio Sergipe, nos demais sentidos. Aracaju, a partir de 1855, repetia a experiência de Terezina, no Piauí, a primeira cidade planejada, para ser capital, em lugar de oeiras.
Desde os primeiros tempos, Aracaju adquiriu uma vocação de cidade de convergências, como caixa de ressonância da população de todo o Estado, abrigando o funcionalismo público, transferido de São Cristóvão, quando os poderes mudaram.
Sanear e embelezar a cidade tem sido a prioridade permanente dos administradores da capital sergipana, desde que o Presidente da Província perdeu a própria vida, vitimado pelas febres que grassavam na nova cidade. Bairros inteiros foram construídos, dilatando o projeto original, executado sob a responsabilidade do capitão dos engenheiros Basílio Pirro.
Sempre bonita, alegre, atraente, Aracaju viu Sergipe crescer, sendo o porto para exportação dos produtos da riqueza sergipana, do mesmo modo como recebeu mercadorias de vários portos do mundo, para o consumo da população sergipana. Navios, trens, caminhões alternaram-se no transporte de bens e de gente, marcando Aracaju como destino, como praça, como porta de contato com Sergipe.
Vivendo episódios marcantes, como os torpedeamentos dos navios mercantes por um submarino alemão, em agosto de 1942, Aracaju superou sua comoção, produzindo uma consciência política, que ainda hoje conserva como elemento identificador de suas posições. O drama da guerra, que mobilizou a partir de Aracaju toda a população do País, teve efeitos imediatos de clara manifestação política: o candidato a Presidente da República pelo Partido Comunista Brasileiro, em 1945, o engenheiro Iêdo Fiuza, foi o mais votado dos candidatos na capital sergipana; Luiz Carlos Prestes venceu; na disputa para o Senado, as mais importantes figuras sergipanas, como Graccho Cardoso, Firmo Freire, Durval Cruz e Augusto Maynard Gomes.
Aracaju jamais perdeu essa consciência política e ideológica, conquistada na adversidade. Aracaju tem decidido eleições e tem dado o exemplo de suas escolhas, diferentemente dos demais Municípios do Estado de Sergipe, com raras e honrosas exceções.
Cidade em ritmo acelerado de crescimento, Aracaju recebe a influência dos grandes centros urbanos, constrói condomínios e bairros inteiros de edifícios de apartamentos, sem, no entanto, comprometer o seu traçado, preservando áreas de mangues, fixando gabarito para os prédios em zonas praianas, conservando os exemplares mais representativos da sua arquitetura eclética.
No último domingo, Sr. Presidente, no meio da festa, a cidade ganhou de presente o Teatro Tobias Barreto - casa de espetáculo para 1,3 mil pessoas, construída de acordo com moderno projeto, iniciado no Governo de João Alves e terminado no Governo atual, de Albano Franco -, que coloca a capital sergipana na lista das mais bem dotadas em equipamentos artísticos e culturais.
Sergipe tem essa característica de proteger a arte e a cultura pelos mais diversos governantes, honrando a tradição de tantos e tão ilustres varões sergipanos, como o próprio Tobias Barreto, escolhido para dar seu nome ao teatro agora inaugurado.
É um belo presente, à altura da aniversariante Aracaju, que dará aos artistas e aos produtores culturais as oportunidades necessárias ao fluxo criativo, que mais e mais elevará Aracaju à condição de uma grande cidade brasileira, para alegria e orgulho de todos os que nasceram ou vivem na capital de Sergipe.
O Sr. Carlos Patrocínio (PTB - TO) - Permite-me V. Exª um aparte?
O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (PSB - SE) - Com muito prazer, concedo o aparte a V. Exª.
O Sr. Carlos Patrocínio (PTB - TO) - Congratulo-me com V. Exª neste momento em que enaltece as qualidades da querida Aracaju, que, segundo V. Exª afirma, ainda será uma grande cidade brasileira. Quero dizer que Aracaju já é uma grande cidade do Brasil, é maior ainda pelo seu clima acolhedor. Enalteço o discurso de V. Exª ao comemorar o 147º aniversário de Aracaju, cidade da qual tenho muitas saudades. A minha querida irmã lá mora já há algum tempo; faz uns cinco ou seis anos em que ela insiste que eu vá lá. Com certeza, haverei de ir para também ajudar a comemorar o aniversário dessa cidade, que é uma das mais acolhedoras de nosso Brasil.
O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (PSB - SE) - Senador Carlos Patrocínio, o aparte de V. Exª muito me emociona, porque todos sabem do acendrado amor que tenho pela capital Aracaju. Nasci em Simão Dias, no semi-árido sergipano, mas, em Aracaju, criei meus filhos, formei-me advogado e químico industrial. Na realidade, tenho grande parte da minha vida dedicada à querida cidade de Aracaju, a nossa capital.
Não poderíamos, Senador Carlos Patrocínio, deixar na omissão o aniversário de uma cidade que hoje é modelo para o Nordeste brasileiro - modelo que, acima de tudo, pontifica pela sobriedade de seus administradores, pelo compromisso que assumiram, perante a comunidade, de bem dotá-la com equipamentos sociais, grandes parques e avenidas. Enfim, é uma cidade pacata, onde, felizmente, a violência não atingiu o nível nem o percentual dos grandes centros urbanos do nosso Brasil.
Peço a Deus que Aracaju, quando completa seus 147 anos, mantenha-se sempre bonita, altaneira, pacífica e acolhedora, como V. Exª se referiu.
Muito obrigado.