Discurso durante a 29ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONTRIBUIÇÃO DA ATRIZ PATRICIA PILLAR NA CAMPANHA DE PREVENÇÃO DO CANCER DE MAMA E MELHORIA DA CONDIÇÃO FEMININA NO BRASIL.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • CONTRIBUIÇÃO DA ATRIZ PATRICIA PILLAR NA CAMPANHA DE PREVENÇÃO DO CANCER DE MAMA E MELHORIA DA CONDIÇÃO FEMININA NO BRASIL.
Publicação
Publicação no DSF de 27/03/2002 - Página 3046
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, PATRICIA PILLAR, ATOR, DIVULGAÇÃO, TELEVISÃO, CAMPANHA, COMBATE, CANCER, MULHER, NECESSIDADE, AUMENTO, PREVENÇÃO, REDUÇÃO, MORTE.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (Bloco/PSDB - CE. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, muito se falou daquelas que, com atitudes contestadoras e ousadas, abriram caminho para a transformação do papel feminino na sociedade moderna.

Ninguém duvida do valor dessas mulheres e de suas conquistas, mas outras existem que, sem discursos nem teorias, também promovem mudanças e contribuem igualmente para a melhoria da condição feminina. Dir-se-ia que essas são mulheres de atitudes. Atitudes que, embora simples, despretensiosas e espontâneas, acabam desenvolvendo valores na sociedade, induzindo mudanças e propiciando o surgimento de uma nova mentalidade.

São mulheres que assumem determinadas atitudes simplesmente na condição de mulher, independentemente de profissão, de notoriedade ou da função que cumprem na sociedade. Ora inovam no campo dos costumes, ora perpetram atos de grande alcance e profundo significado social.

            Um exemplo notável do que acabamos de dizer veio da atriz Patrícia Pillar, a propósito da doença que há poucos meses a surpreendeu na plenitude da vida pessoal e profissional. Pela postura elogiável que manteve diante de circunstâncias tão adversas, o seu exemplo merece registro especial.

            Surpreendida, em dezembro passado, com a notícia de um tumor no seio esquerdo, a atriz enfrentaria, apenas 48 horas depois de diagnosticada a doença, o drama de uma cirurgia que implicou a retirada de parte da mama, posteriormente reconstituída.

            Extraído o nódulo, o exame de patologia comprovou a malignidade do tumor. Insidioso, o câncer de mama costuma esconder outras células malignas - na ocasião, ainda minúsculas e imperceptíveis. Daí por que, para prevenir o surgimento de novos focos, a paciente vem-se submetendo, desde janeiro, a tratamento quimioterápico.

Numa atitude de extremo desprendimento e coragem, a atriz fez de sua própria dor a oportunidade de contribuir efetivamente para a causa da prevenção e do combate ao câncer de mama - doença que, no ano passado, atingiu mais de 30 mil brasileiras e levou à morte quase nove mil delas.

Fruto de decisão corajosa - em especial por ter partido de pessoa habitualmente discreta e reservada no que diz respeito à sua vida pessoal -, este foi definitivamente um ato público de profundo significado social.

Foi assim que, em nota distribuída à imprensa no final do mês de dezembro, a atriz tornou pública a situação que vivia em face do câncer diagnosticado. Uma experiência difícil que, como se sabe, vai do choque inicial e do processo de conscientização para o enfrentamento da doença, até o suplício dos tratamentos e o convívio com os medos e cuidados que impõe às suas vítimas.

À imprensa a atriz declarou que pretendia, com sua iniciativa, conscientizar as mulheres do Brasil sobre os riscos do câncer de mama, reafirmar o valor da prevenção e encorajá-las a buscar tratamento imediato, ao primeiro sintoma da doença.

Os nobres propósitos de Patrícia certamente vão frutificar. Sua mensagem veio plena de ensinamentos. Chamou a atenção das mulheres para a necessidade do auto-exame, para o pronto enfrentamento da moléstia. Uma campanha institucional concebida com idêntico objetivo jamais produziria o mesmo impacto. Lamentavelmente, é como se, de súbito, o drama de uma pessoa famosa aproximasse o perigo, tornando mais real e concreta a ameaça da doença.

No Brasil, o combate ao câncer de mama carece, ainda, de muito esforço em prol da conscientização e da disseminação de informações essenciais paras as mulheres. Afinal de contas, trata-se do tumor mais letal nesse segmento da população. E, em que pesem os avanços conseguidos, as estatísticas são desanimadoras. Nas últimas duas décadas, a taxa de mortalidade por câncer de mama cresceu cerca de 70%. Ao diagnóstico tardio pode-se atribuir a maior parte desse crescimento. Metade das mulheres descobre a doença em estágios avançados, quando já são menores as chances de cura e a mastectomia radical torna-se geralmente inevitável.

Em países como os Estados Unidos e o Canadá, onde a detecção da doença costuma ocorrer mais precocemente, o número de óbitos vêm registrando, há mais de uma década, queda de cerca de 1,5% ao ano.

A quimioterapia levou Patrícia Pillar a cortar os cabelos e depois raspá-los. Com essa imagem, ela reapareceu recentemente, exibindo a simpatia e o sorriso de sempre. Assediada pela imprensa, manifestou-se com a naturalidade que lhe é peculiar: “Sou como sou. A realidade é interessante, assim está, assim que é. Está bom”.

O mesmo tom moderado tem marcado outros pronunciamentos da atriz. Não quer o papel de vítima, tampouco o de heroína. Evitando especulações desnecessárias, Patrícia recusa-se a divulgar detalhes do tratamento. “A particularidade do meu caso não interessa a ninguém”, já declarou.

Com essa postura, a atriz revela perfeita consciência dos delicados limites entre o público e o privado, da distância que separa o que deve ser divulgado - porque contribui para esclarecer questões de interesse geral - daquilo que só a ela diz respeito, propriedade exclusiva do seu mundo interior e que deve, como tal, permanecer nesse domínio.

Nesta guerra, todos esperamos que Patrícia saia vencedora. A primeira vitória já se pode contar entre outras que certamente virão: Patrícia Pillar sinalizou para milhões de mulheres brasileiras que o temido câncer de mama não é invencível. É apenas um inimigo poderoso, cuja ação, se detectada a tempo, pode ser neutralizada com boas chances de sucesso.

Por isso, no mês das mulheres, quero homenageá-las na extraordinária figura de Patrícia Pillar, cuja atitude, a um só tempo brava e serena, lhe valeu o reconhecimento de toda a sociedade brasileira.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/03/2002 - Página 3046