Pronunciamento de Luiz Otavio em 01/04/2002
Discurso durante a 31ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
SUGESTÃO DE ENVIO DE PROPOSTA DE PAZ PARA SOLUCIONAR O CONFLITO NO ORIENTE MEDIO, POR INTERMEDIO DA ONU.
- Autor
- Luiz Otavio (PPB - Partido Progressista Brasileiro/PA)
- Nome completo: Luiz Otavio Oliveira Campos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA EXTERNA.:
- SUGESTÃO DE ENVIO DE PROPOSTA DE PAZ PARA SOLUCIONAR O CONFLITO NO ORIENTE MEDIO, POR INTERMEDIO DA ONU.
- Aparteantes
- Pedro Simon, Roberto Requião.
- Publicação
- Publicação no DSF de 02/04/2002 - Página 3268
- Assunto
- Outros > POLITICA EXTERNA.
- Indexação
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- COMENTARIO, CONFLITO, ORIENTE MEDIO, NECESSIDADE, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ELABORAÇÃO, PROPOSTA, PAZ, SOLUÇÃO, COMBATE.
- CONTESTAÇÃO, DECLARAÇÃO, CELSO LAFER, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), POSSIBILIDADE, BRASIL, REMESSA, TROPA, ORIENTE MEDIO, SUGESTÃO, ATUAÇÃO, DIPLOMACIA, BENEFICIO, PAZ.
O SR. LUIZ OTÁVIO (Bloco/PPB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, assistimos, em todas as redes de televisão, em toda a mídia brasileira, e, com certeza, na mídia internacional, a questão no Oriente Médio.
Essa disputa não terá fim se os países que compõem a ONU, liderados pelos Estados Unidos, pelo Presidente George W. Bush, não conseguirem, encaminhar uma proposta para pacificar judeus e árabes.
Pergunta-se qual será o fim daquele quadro que a televisão, principalmente, mostra a todo momento: o cerco a Yasser Arafat, que está encurralado em duas salas. Aliás, já esteve lá até um representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, entregando uma bandeira e sendo recebido efusivamente pelo líder palestino. As lideranças de Israel continuam o cerco. Fica a grande dúvida: qual será o desfecho e quais repercussões internacionais teremos, enquanto assistimos pela televisão?
No ano passado, houve o atentando aos Estados Unidos, quando ficaram claras para toda a humanidade a insegurança em que o mundo vive hoje e as dificuldades de relacionamento. Até mesmo uma potência mundial, como os Estados Unidos, também se apresenta sem condições de enfrentar os terroristas organizados em países menores e em economias menores, embora também dependentes de um povo que tenha causa própria do trabalho, da sua vida, de discutir saúde, saneamento. E o Brasil, um país em desenvolvimento, segundo os últimos dados do IBGE, necessita de investimentos em infra-estrutura, principalmente para abastecimento de água e rede de esgotos, assim como outros países em desenvolvimento.
Ficamos a nos questionar por que tanta força humana, tanto potencial econômico e financeiro não conseguem estabelecer uma forma de convívio, de relacionamento humano entre esses dois povos. Essas lideranças políticas, que vivem a se digladiar durante tantos anos, são inteligentes para tantas outras coisas mas não conseguem trazer à razão aquilo que é mais importante no ser humano: a sua vida, a sua liberdade, o direito de decidir o seu futuro, o direito de alimentar a sua família e de poder transitar em qualquer lugar com liberdade.
Sr. Presidente, trago aqui a minha insatisfação, o meu desconforto, principalmente como um brasileiro comum, como aquele que mora lá na minha região ribeirinha que, através dos satélites, da tecnologia moderna, assiste pela televisão uma desgraça tão grande, uma luta tão inglória, e fica a se perguntar por que não se encontra solução para isso.
O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - V. Exª me concede um aparte?
O SR. LUIZ OTÁVIO (Bloco/PPB - PA) - Concedo o aparte, com muita satisfação, ao Senador Roberto Requião.
O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) - Senador Luiz Otávio, na mesma linha do seu pronunciamento, causa-me perplexidade o encaminhamento da solução do problema palestino pela violência, principalmente quando as iniciativas violentas são tomadas pelo povo judeu, que já viveu o holocausto. Não acredito na solução violenta da questão palestina. Solidariedade, amor e compreensão seriam absolutamente necessários. A violência pode paralisar por algum tempo o conflito, estabelecendo um desequilíbrio entre as forças, mas será que não se percebe a qualidade do desespero de um jovem, ou de uma jovem, do militante que amarra uma bomba ao corpo e ocasiona a própria morte para ferir um adversário que não deveria ser adversário? As soluções violentas têm sido a regra do imperialismo no mundo. Primeiro foi o Chile, depois, a Nicarágua, os talibãs, no Afeganistão, e agora os palestinos, em Israel. Não tem cabimento a violência. Discordo dos líderes que proclamam a violência como instrumento de pacificação de um conflito profundo por disputa de território, conflito de fácil solução desde que se reconhecesse o Estado Palestino e, também, o direito à paz e à tranqüilidade de Israel. A violência não levará, rigorosamente, a nada. A propaganda da violência, da satanização de determinados credos religiosos e de minorias raciais e políticas no mundo se faz a cada dia, pela temática dos filmes lançados por Hollywood e pelos noticiários da comunicação globalizada. Isso me assusta, Senador Luiz Otávio, principalmente quando lembro que estamos a ponto de votar a participação do capital estrangeiro nas empresas de comunicação brasileiras. Vamos homogeneizando, acabando com a possibilidade do contraditório, tornando oficiais as teses únicas da violência como solução das crises, como no caso palestino. Quando Arafat assinou com o líder israelita um acordo de paz, publiquei um artigo nos jornais do Paraná - à época eu era Governador desse Estado - regozijando-me pelo que estava ocorrendo. Porém, hoje, as pombas são superadas pelos falcões; a irracionalidade supera o amor e a solidariedade necessários para a solução desses conflitos. Devemos ter a coragem de, publicamente, amargar, dizer da nossa tristeza e não falar da omissão dos Estados Unidos. Há uma ação por omissão, uma autorização para o massacre e para a substituição do diálogo pela força militar, o que é terrível. Hoje são os palestinos; amanhã, poderemos ser nós as vítimas da prepotência.
O SR. LUIZ OTÁVIO (Bloco/PPB - PA) - Senador Roberto Requião, insiro no meu pronunciamento o aparte de V. Exª. Reafirmo a condição humana de que tanto israelenses como palestinos podem encontrar essa solução.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Concede-me V. Exª um aparte?
O SR. LUIZ OTÁVIO (Bloco/PPB - PA) - Ouço V. Exª com prazer.
O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Senador Luiz Otávio, o pronunciamento de V. Exª e o aparte do Senador Roberto Requião são muito importantes. Eu também estava preparado para discursar sobre esta matéria, não fora o meu encaminhamento do voto de pesar pelo falecimento do nosso querido amigo Senador Josaphat Marinho, da Bahia. As notícias daquela região são dramáticas. O impressionante é que, mais uma vez, o Conselho de Segurança Nacional, por unanimidade, inclusive com o voto dos Estados Unidos, determinou o fim dos conflitos, que deve começar com a retirada dos israelitas dos territórios ocupados. Sabemos que essa decisão, tomada há muitos anos, nunca foi cumprida, pois os americanos, xerifes do mundo, nunca se preocuparam em cumpri-la. Se analisarmos a situação, perceberemos por que os acontecimentos chegam a esse limite. O Correio Braziliense publicou, na primeira página, a notícia de que o Primeiro-Ministro declarou guerra ao terrorismo, imitando o que o Presidente Bush fez ao iniciar os bombardeios que praticamente destruíram o Afeganistão. O Primeiro-Ministro israelense resolveu imitá-lo, declarando guerra ao terrorismo. Esse ato significa o desaparecimento do território e do avanço ocorrido com o reconhecimento da existência dos palestinos naquela região. Há muito tempo que não vejo humilhação tão grande como a sofrida pelo Sr. Yasser Arafat. Ele está, agora, sem água, luz ou telefonia - enfim, sem nenhuma comunicação para o resto do mundo -, sitiado pelas tropas de Israel, que, a qualquer momento, podem determinar o seu extermínio. Fico impressionado com a passividade dos Estados Unidos. Todos sabemos que as medidas adotadas por Israel têm a cobertura dos Estados Unidos. São os norte-americanos, determinadores do que acontece no mundo, que fazem com que se cumpram ou não as decisões da ONU. Existe a possibilidade de paz desde que se reconheça o direito de israelenses e palestinos terem sua pátria. Assim, reconhecendo os Estados de Israel e da Palestina, haveria uma convivência pacífica e harmônica entre árabes e israelitas. Mas parece que os norte-americanos não têm muito interesse nessa medida. Agora, em meio a esse conflito, os norte-americanos enviaram seus representantes para percorrer todos os países árabes, na tentativa de conseguir apoio para o bombardeio que pretendem fazer ao Iraque. Eles pretendem declarar uma nova guerra: o americano declara guerra ao Iraque, lança bombas e mais bombas em cima do Iraque, como fizeram com o Afeganistão e como Israel está fazendo com a Palestina. É realmente dramática a situação que estamos vivendo. E o que me deixa profundamente abatido é verificar que o mundo inteiro quer ver a paz ali, mas há uma espécie de omissão. Mais do que omissão, há uma espécie de reconhecimento da incapacidade, da impotência. Todo mundo percebe que quem decide é o americano. O americano não quer, e então ficamos assistindo, esperando o que vai acontecer, para ver como vai terminar o conflito. Nós, brasileiros, vemos tudo isso com profundo pesar. O Presidente Fernando Henrique Cardoso, lá de Fernando de Noronha, até deu uma nota muito firme, afirmando que o que está acontecendo ali lembra o nazismo. O povo de Israel é um povo que sofreu. O holocausto é uma das páginas mais dramáticas da História do mundo. Não dá para entender que, de repente, eles estejam fazendo um papel tão diferente daquele que sofreram. Alguém poderia questionar: mas o que dizer dos terroristas e dos ataques? Na verdade, está havendo um massacre violento e quase que um extermínio dos palestinos naquela região. Isso causa a todos nós, que temos respeito pela história, pela biografia de Israel, que defendemos a existência do Estado de Israel e a sua pacificação, uma profunda prostração, porque sentimos quão triste é o momento atual. A nação dona do mundo tem, como Presidente, George Bush, um homem que busca a violência; e o Estado de Israel tem, no seu comando, o papel carbono do Presidente Bush. E os dois querem, emocionados e felizes, este quadro que está aí, porque é o que desejavam: a guerra, a violência, o extermínio.
O SR. LUIZ OTÁVIO (Bloco/PPB - PA) - Senador Pedro Simon, agradeço a V. Exª pelo aparte, que insiro em meu pronunciamento.
Sr. Presidente, o Ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, estará aqui amanhã, às 15 horas, para tratar de matéria relativa à Comissão do Mercosul, presidida pelo Senador Roberto Requião. A presença de S. Exª será importante, porque talvez esclareça sua declaração de ontem de que possivelmente o Brasil, nesta hora dramática, fará parte de um grupo de países da ONU que tentarão intermediar um acordo e enviará tropas para aquela área de conflito.
O Senador Pedro Simon lembrou-nos de que o Presidente George Bush afirmara que Arafat ouviria sua declaração pela televisão. E o repórter até perguntou a Bush por que ele não ligava para o líder palestino para comunicar-lhe sua decisão. Ao que respondeu-lhe o Presidente: “Não, ele vai assistir pela televisão.” Ora, mal sabia Bush que as linhas telefônicas, de energia e de água do local onde se encontrava o líder palestino estavam cortadas. Então, nem pela televisão Arafat pôde assistir à declaração do Presidente americano.
Neste momento, o Brasil poderia fazer parte da campanha de arrefecimento do impasse, buscando uma participação importante num conflito que pode se transformar em guerra - o que, com certeza, traria problemas para o nosso País, para o nosso povo, que já enfrenta tantas dificuldades. Em vez de remetermos tropas, seria melhor contarmos com a nossa diplomacia. Temos experiência nisso, porque, apesar de termos representantes de todos os povos em todas as regiões brasileiras, vivemos em paz e trabalhamos juntos com todos os povos. Em momento algum, um estrangeiro aqui residente ou um brasileiro ameaçam alguém de morte ou tentam invadir a residência de outra pessoa por um problema de raça, de etnia. Encontramos mesmo a forma de conviver em harmonia, em paz, com entendimento. Assim, poderíamos tentar ajudar os países a saírem deste grande conflito, desta grande dificuldade que pode, sim, trazer sérios problemas para a humanidade.
Sr. Presidente, encerro meu discurso agradecendo a V. Exª pela atenção e pela tolerância, pois sei que o meu tempo já se havia excedido em alguns minutos.
Muito obrigado.