Discurso durante a 34ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

INTERPELAÇÃO AO MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, SR. CELSO LAFER.

Autor
Artur da Tavola (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/RJ)
Nome completo: Paulo Alberto Artur da Tavola Moretzsonh Monteiro de Barros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • INTERPELAÇÃO AO MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, SR. CELSO LAFER.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2002 - Página 3827
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, POSSIBILIDADE, ALTERAÇÃO, POLITICA, PAIS ESTRANGEIRO, ISRAEL, SOLICITAÇÃO, ANALISE, POLITICA INTERNACIONAL, ORIENTE MEDIO, MOBILIZAÇÃO, PAISES ARABES.
  • SOLICITAÇÃO, ANALISE, ATUAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REFERENCIA, CONFLITO, ORIENTE MEDIO.
  • SOLICITAÇÃO, ANALISE, ATUAÇÃO, INDUSTRIA, ARMAMENTO, AMBITO INTERNACIONAL, RESPONSABILIDADE, CONFLITO.
  • REGISTRO, APREENSÃO, ANUNCIO, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), FABRICAÇÃO, AERONAVE, GUERRA.

O SR. ARTUR DA TÁVOLA (Bloco/PSDB - RJ. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado. O Senador Pedro conseguiu em sua fala de cinco minutos sintetizar com tanta precisão o seu pensamento, com tanta grandeza de posição que acredito que todos nós ficamos inteiramente satisfeitos com isso. Ele mesmo não sentiu necessidade de uma réplica, até porque a resposta também foi do mesmo nível.

Sr. Ministro, vou fazer algumas perguntas a V. Ex.ª, enumerando-as logo. Talvez V. Ex.ª possa responder a todas, em vez de fazê-lo uma a uma no tempo que me cabe.

É evidente que, dentro da coalizão de governo israelense, uma coalizão estranha, que vai do Shimon Peres ao Ariel Sharon, já há sinais de grande crise, de grande divisão. É evidente que Shimon Peres, que é o Ministro das Relações Exteriores, da defesa, não está favorável a nada disso. Em primeiro lugar, gostaria de saber se V. Ex.ª acredita que, internamente, possa haver uma regeneração da política israelense com o reequilíbrio porque já existe uma série de movimentos internos verberando profundamente essa atitude. Ligado a isso, gostaria de ouvir de V. Ex.ª um alcance sobre as conseqüências para o Brasil e para o mundo da forma pela qual o Primeiro-Ministro Ariel Sharon concebe a ação contra o terrorismo palestino, que é igualmente condenável tanto quanto a violência do outro lado. Sem dúvida há reflexos imediatos no preço do petróleo e uma crise de alta complexidade com o próprio mundo árabe, que se arma. A Síria já mobiliza soldados para a fronteira. Evidentemente, isso tem reflexo nas bolsas. A meu ver, o ponto de vista humano é um dos aspectos mais terríveis, mais dolorosos e o mais injusto com o povo israelense porque significa o recrudescimento do anti-semitismo no plano internacional. O povo judeu não merece o recrudescimento da barbárie anti-semita que ações como a de um primeiro-ministro dessa qualidade acabam por gerar um caldo de cultura favorável a ela. Essa seria a primeira pergunta.

Segunda pergunta: como V. Exª está a examinar a política norte-americana para o Oriente Médio? De fora e de longe, observamos uma certa confusão - não sei se deliberada ou não - entre as autoridades norte-americanas. O Presidente Bush - como definiu o Senador Pedro Simon com perfeição -, no seu delírio de poder só entende os Estados Unidos como fonte de poder armado, mas a fala de Colin Powell é diferente. O negociador que estava no Oriente Médio, por sua vez, tem uma terceira posição. É lógico que aqui somos informados mais pelo noticiário, mas que me parece competente - o Itamaraty tem outras fontes de informação. Então percebe-se na política norte-americana para o setor, não digo posições díspares, mas pequenas fissuras de opinião que evidentemente fazem parte desse contexto.

Terceira pergunta: como V. Exª vê, por trás de todos esses fatos, a presença da indústria armamentista? A meu juízo, ela é a grande responsável por todas essas tragédias no mundo, associada à Direita mundial, que se serve dessa indústria, é eleita com seu dinheiro e que a alimenta nos seus avanços.

Nesse particular, Sr. Ministro, devo dizer-lhe que, com dor, li hoje nos jornais que a nossa Embraer está muito feliz porque fabricará caças Mirage. Esse assunto não diz respeito a V. Exª; é apenas um alcance paralelo. Essa notícia me deixou triste: eu não quero ver o meu País na indústria armamentista por mais que, economicamente, isso signifique valores. Não vejo com prazer essa notícia. A indústria armamentista, a meu ver, é profundamente responsável por tudo que se passa no campo da guerra e da violência mundial. Esse é um parêntese que exprime uma fala pessoal e que não se refere a V. Exª, não quero colocá-lo nessa dificuldade. Mas gostaria de ouvir sua análise sobre a presença da indústria armamentista. Essas são as três questões que faço a V. Exª.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2002 - Página 3827