Discurso durante a 34ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

INTERPELAÇÃO AO MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, SR. CELSO LAFER.

Autor
Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. COMERCIO EXTERIOR. POLITICA INTERNACIONAL.:
  • INTERPELAÇÃO AO MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, SR. CELSO LAFER.
Publicação
Publicação no DSF de 05/04/2002 - Página 3829
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. COMERCIO EXTERIOR. POLITICA INTERNACIONAL.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, INSUFICIENCIA, PROVIDENCIA, ITAMARATI (MRE), PROTEÇÃO, INDUSTRIA SIDERURGICA, SITUAÇÃO, PROTECIONISMO, AÇO, COMERCIO EXTERIOR, ESPECIFICAÇÃO, POSSIBILIDADE, SOBRETAXA, PRODUTO IMPORTADO.
  • QUESTIONAMENTO, INEFICACIA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), CONFLITO, ORIENTE MEDIO, HISTORIA, AUMENTO, GUERRA, AMBITO INTERNACIONAL, APREENSÃO, OMISSÃO, ORGANISMO INTERNACIONAL, HEGEMONIA, PODER, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), INDUSTRIA, ARMAMENTO, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, BRASIL.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em meu nome e no do povo acreano, renovo o apreço e a admiração que tenho pelo Ministro Celso Lafer.

Serei muito objetivo.

Sr. Ministro, em relação a essa política de comércio exterior, gostaria de indagar se o Itamaraty não julga insipiente esse comportamento em relação ao problema do aço e à condução desse assunto.

Estamos diante de uma perda real de U$1 bilhão em três anos, segundo a indústria metalúrgica deste País. Isso é grave! Por outro lado, o México, a Venezuela e países asiáticos estão unidos e com ação determinada já cobram alíquotas, o México, com 35%, como muito bem disse o Senador Pedro Simon.

De outro lado, a União Européia, o Canadá, a Argentina e a Colômbia estão unidos em outra frente, reagindo ao comportamento americano em relação ao aço. Preocupa-me o fato de o Brasil não ousar mais, neste momento, nesse confronto. Talvez o interesse nacional e o comportamento que está tendo o Senado hoje possam estimular o Itamaraty a se sentir mais encorajado e mais à vontade em relação a esse debate.

Sei que V. Exª é lúcido e faz um diagnóstico preciso da realidade dessa multilateralidade que estamos vivendo, mas talvez possamos ousar um pouco mais. Temos a oportunidade de cobrar alíquotas de até 30% neste momento, o que deixaria satisfeito o Senado brasileiro, ou pelo menos grupos de economistas que atuam também na política internacional.

Quanto ao litígio existente no Oriente Médio, lembraria a V. Exª apenas uma questão: a Liga das Nações teve um papel fundamental no séc. XX quando ao tentar intervir favoravelmente à pacificação e à redução dos conflitos violentos que o mundo começava a ver com muito medo a partir da chamada I Guerra Mundial.

Foram poucos anos de calmaria. Surgiu, então, a Organização das Nações Unidas com a finalidade de controle e pacificação da humanidade. Houve mais de 165 guerras após a instalação da ONU no século passado. Meu Deus, quanto se gasta por ano para manter a Organização das Nações Unidas? Por que as guerras aumentaram? Por que o século XX se afirmou como o mais sangrento da humanidade, segundo aponta Eric Hobsbawn? Tal comportamento é muito triste.

O Presidente Fernando Henrique Cardoso, durante o feriado da Semana Santa, expressou suas preocupações em rede nacional, fez contatos internacionais com relação à matéria. Indago: não estaria a ONU com comportamento tíbio? Será que o Governo brasileiro não pode pressionar aquele órgão? Não é perigoso o comportamento tímido da ONU em relação à hegemonia que o poderio americano exerce no momento?

Sr. Ministro, são mais de US$800 bilhões movimentados pela indústria bélica todos os anos. Isso envolve interesses de mercado. O americano olha para a guerra como fonte de lucro. Nós olhamos com medo o sentido de pacificação. É mais do que um problema geopolítico o que estamos vivendo. Mais do que um confronto entre dois povos, estamos diante de uma agressão violenta ao DNA do cristianismo. Ao ver Belém ser destruída, a igreja da Natividade sob ameaça de iminente destruição, o mundo cristão se sente fortemente agredido. Gostaria de saber se pensa V. Exª, com a sobriedade e o compromisso ético em relação à paz mundial, em algo mais que possa ser feito pelo Palácio do Itamaraty e pelo Senado brasileiro.

O SR. TIÃO VIANA (Bloco/PT - AC. Sem revisão do orador.) - Agradeço a V. Exª, apenas deixando 30 segundos de mais um elemento de reflexão, Sr. Ministro.

Tivemos, pelo movimento talibã, a destruição das imagens de Buda e de outros, uma agressão à humanidade. Tivemos um chute e a quebra de uma santa no território nacional, outra agressão à consciência nacional. Agora, estamos tendo a destruição do berço do cristianismo, e isso deve significar muito para a Nação brasileira.

Eu gostaria apenas de deixar para a reflexão de V. Exª que o episódio que envolveu a Iugoslávia, com Slobodan Milosevic, impôs uma reação mais forte, mais enérgica da ONU. Entendo que este momento deveria impor um comportamento semelhante.

No mais, agradeço a V. Exª pela lucidez e profundidade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/04/2002 - Página 3829